Na literatura inglesa, rei do Congo é designado "King of Kongo". Estas eram as suas armas reais, onde se lê Rei de Mani Cõgo:
D. João II sempre se orgulhou de ter conseguido a conversão do primeiro rei do Congo à religião cristã, baptizado em 1491, e que adoptou o mesmo nome, João.
A partir daí todos os reis do Congo usaram nomes portugueses, até hoje.
Franceses, belgas, etc, usam por vezes um nome indígena, para evitarem ter que explicar que os reis do Congo prezavam a sua ligação a Portugal, e o nome português. Mesmo outras casas dinásticas que governaram o Congo usaram o símbolo das Quinas, como a Casa de Coulo (em francês, inglês Kwilu):
D. Álvaro I, rei do Congo em 1568.
De certa forma, os reis do Congo mantinham um controlo sobre os locais, e dominavam o comércio de escravos. Para evitarem que fossem os seus a serem usados como escravos, fariam guerra às tribos vizinhas, e vendiam os prisioneiros aos negreiros portugueses.
O problema começou logo com D. João I do Congo, que assim que morreu D. João II, abandonou a religião católica. Os portugueses apostaram na sucessão, e quando este morreu em 1506, provocaram uma guerra cívil, apoiando D. Afonso I, o irmão que iria garantir que o Congo seria sempre católico, e até com embaixador em Roma.
O rei D. Afonso I protestou contra o comércio de escravos, que ia já além do seu controlo, e começava a haver transacção com pessoas livres, vendidas como escravos. Apesar de estar sujeito às "ordenações manuelinas", perante tal lista diz-se que ironizou, perguntando ao embaixador português, Rui de Aguiar:
- Qual é então a punição por pôr um pé no chão?
Este reino do Congo foi varrido da memória nacional, mesmo que todos os seus reis continuassem a usar nomes portugueses. Os portugueses estavam de certa forma confortáveis com o controlo que Francisco de Almeida propusera na Índia - sempre que o governante começasse a ter ideias próprias, era mudado, por golpe palaciano ou efectiva disputa com irmãos mais obedientes.
Claro que Francisco de Almeida não imaginaria que 500 anos depois Portugal seria sujeito ao mesmo, quando cedesse a sua independência (por exemplo, a Bruxelas, ou ainda antes ao FMI).
Indo directamente ao assunto.
Com o crescimento do Império Alemão, Bismarck começou a fazer birra pelo facto de não estar a calhar nada à Alemanha como potência colonial, e promoveu a Conferência de Berlim (1884-85), que foi especialmente apadrinhada pelo rei Leopoldo II da Bélgica, visando ficar com o Congo, em nome de uma "sociedade internacional", de que por acaso era dono. Da rainha Victoria de Inglaterra, sua prima, Leopoldo recebeu o turista Stanley, muito promovido (ainda hoje), por ter andado a mapear uma África que os portugueses conheciam há séculos...
Nestas coisas, os facínoras movem-se sempre pelo "progresso da humanidade civilizada".
Usaram ideais anti-racistas, quando queriam efectivamente dominar outras "raças", argumentando que existia escravatura em África, nos territórios islâmicos e sob controlo indígena... o facto desse comércio de escravatura existir umas décadas antes, promovido pelos próprios, não interessava nada.
Não usaram ideais libertadores, porque a contrario iam efectivamente colonizar, isso só seria usado depois da 2ª Guerra Mundial.
Não usaram ideais de uma cândida verdura, porque iam efectivamente explorar a selva, e porque as agendas do clima, LGBT, etc... eram coisa para ficarem de molho, para cozinhar agora.
No Congo, que Leopoldo tanto queria, havia um problema:
King Kongo, D. Pedro V:
Sejamos claros, nesta conversa toda, que sabemos ser conversa para crianças numa loja de doces, havia um reino que era cristão, que tinha uma história muito mais antiga que a da Bélgica (que nem sequer tinha um século), que nunca se recusara a usar costumes europeus, que não apreciava o uso de escravos, e onde não era propriamente fácil usar de qualquer argumentação LGBT (liberdade, garantia, bonomia, e trabalho), para chegar lá e cortar como se não existisse...
O que é que isso interessou? Nada!
O rei do Congo teve que ficar sob o protectorado português de Angola, e o resto do território, foi para belgas e franceses.
Portugal estava numa posição complicada, porque se via ameaçado por todos os lados, e só encontrou como aliado a Inglaterra, para evitar que o Congo entrasse por metade de Angola. Depois pagou isso, porque a Inglaterra achou que a ambição de Portugal ligar Angola a Moçambique, era demasiada.
O rio Congo seria um rio internacional, e através dele, Leopoldo teria acesso ao mar.
Leopoldo depois pode explicar os seus ideais progressistas ao reinar sobre o Congo, a escravatura passou a chamar-se trabalho (forçado), e outros requintes de civilização, ou seja, atrocidades, com estimativas que
variam entre 1 e 15 milhões de mortos.
Vivam os ideais progressistas!
Para percebermos como Portugal é que era uma nação racista, que espezinhava os negros, ao contrário das outras sofisticadas e progressistas nações europeias, veja-se esta pequena diferença, em que Rafael Bordalo Pinheiro apresenta a rainha do Congo, D. Amália, dando um sermão ao emissário que a iria representar na conferência:
Bordalo Pinheiro, que dedica uma série de números ao assunto, comenta:
- A rainha do Congo, D. Amalia, que é incontestavelmente a pessoa mais interessada na questão que se está discutindo na conferencia de Berlm, acaba de investir de poderes de accessor pratico em aquela conferencia ao popular Zé Augusto que vae encarregado de pregar sobre a morte do Congo o mesmo sermão de lagrimas que costuma pregar por occasião do enterro do bacalhau.
Irei dedicar mais uns números a este assunto, porque isto tem pano para mangas...
Por isso, quando ouvimos a malta da nossa praça falar de "racismo" em Portugal, convém fazer notar que os únicos a invocar a questão racial são na esmagadora maioria auto-denominados "anti-racistas".
Também nenhum careca gosta de ser chamado "careca", e não é por isso que vou classificar comentários como carequistas, ou fazer a apologia do anti-carequismo.
A maioria dos "anti-racistas" são brancos que querem chamar "pretos" a quem não pertencer ao seu clube de ignorantes. Ou seja, querem ser racistas à sua maneira. Como a maioria, estão-se totalmente a borrifar para os negros, mas usam esse pretexto para censurar pessoas e opiniões, como qualquer inquisidor medieval.
Na quase totalidade, desconhecem os contornos manipulatórios onde são usados como marionetas.
Já agora, quero ver aparecer o primeiro anti-racista militante, que mencionou, ou sequer conhecia os reis do Congo com nome português.
Haja paciência, porque falta paciência para tanta estupidez militante...