Metodologia

A metodologia que seguimos não será muito diferente da usada normalmente em História, mas há alguns pontos a assinalar:
  • (i) Princípio da dúvida: - A importância/ fiabilidade reconhecida aos documentos não é necessariamente definida pela história que nos chegou. Doutra forma, nunca colocaríamos em causa a história que nos é convenientemente transmitida "pelos vencedores".
  • (ii) Princípio da interpretação: - Sob censura, há informação que pode ser transmitida de forma dissimulada, ou mesmo quase encriptada. Uma maneira de o fazer é através de obras literárias por alegorias ou mitos. Não é aceitável ler apenas os documentos literalmente, sem ver outra informação que esteja claramente a ser transmitida.
  • (iii) Princípio da consistência: - Quando documentos emitidos com o mesmo grau de fiabilidade são contraditórios, não se opta simplesmente pela omissão ou erro de parte da documentação, apenas porque se enquadra melhor na versão existente. Deve procurar explicar-se a razão do erros sem invocar sempre um menor conhecimento à época.
  • (iv) Princípio da interligação: - Não é a História oficial que determina a datação e enquadramento dos documentos. Os diversos autores merecem igual crédito, até ser apurada qual é a versão que apresenta menos problemas de contradição e usa mais acasos.
  • (v) Princípio da minimização do acaso (ou Princípio não-Occam): A credibilização de que a explicação mais simples será a mais provável, induz numa simplificação da natureza das decisões humanas. A maioria dos acontecimentos não tem uma justificação acidental, normalmente eram decisões muito pensadas que envolviam complexos interesses. A actuação de intervenientes secundários pode estar sujeita a acasos, mas as grandes decisões dificilmente foram acidentais.
  • (vi) Estabilização das teses: Uma tese histórica é considerada estável se explica de forma aceitável, sem contradições nem sucessivos acasos ou coincidências, toda a documentação que nos chegou. Deve definir as razões pela qual uma informação é mais ou menos credível e porquê, analisando o enquadramento político dos actores e do autor.
Exemplificamos a aplicação de alguns destes pontos:
(i) Pedro Nunes em 1537 diz que os Portugueses descobriram até a mais remota ilha... Aplicando o princípio da dúvida não lhe retiramos credibilidade na afirmação, apenas porque a "história oficial" que nos chegou nos diz o contrário. Não especifica mais, pois está limitado pela censura da inquisição, logo na sua obra deve aplicar-se o princípio da interpretação. Por outro lado, apresenta informação altamente qualificada à época, que mostra conhecimentos acima do vulgar. Há uma interpretação que tem ser feita, conforme (ii).
(ii) As cartas de marear apresentam pormenores de grande exactidão, misturados com erros grosseiros. Dado que só nos chegaram cartas praticamente após 1500, é de suspeitar que houvesse informação privilegiada encriptada, que não é erro do executor, mas apenas informação codificada.
(iii) A presença de bandeiras portuguesas e mouras na América não é consistente com a teoria oficial. Não há qualquer razão para se considerar que houve uma adulteração ou imaginação dos autores. Por outro lado, há fortes razões para suspeitar que essa informação não teve interesse em ser divulgada posteriormente, diminuindo os feitos ou pretensões muçulmanas.
(iv) Na Portugaliae Monumenta Cartographica verifica-se o exercício, às vezes constrangedor, de tentar datar os mapas à luz da História Oficial, ignorando informação que apontaria para outras datas. Os mapas não devem ser datados para se adaptar à História, ao contrário, a História é que deverá procurar explicar os mapas, e usá-los como elemento e documentação válida para eventuais alterações. 
(v) Se o Estreito de Bering apareceu sucessivamente como Estreito de Anian, bem localizado, não se deve ver isso como um acaso, em que os cartógrafos acertaram por acaso. Essa é a explicação mais simples, se não quisermos mexer na História oficial. No entanto, se olharmos para a evolução dos mapas, percebemos que houve informação correcta do Séc. XVI que foi desprezada, em favor de mapas incorrectos no Séc. XVII. Isso é mais facilmente entendível numa história da censura que estava em curso, do que por simples acasos.
(vi) A História oficial não é uma teoria estável pois encerra imensas contradições, e não explica a maioria das razões, preferindo ignorar, ou optar por chancelas fáceis como erros ou acasos...