Encontramos muitos registos soltos, e cada um poderia dar para um artigo... porém é difícil encontrar um registo que dê para muitos artigos. É o caso do enorme trabalho de E. G. Squier, um americano pouco conhecido, que calcorreou a América Central e a América do Sul, fazendo um trabalho historiográfico notável.
As suas gravuras do Séc. XIX estão ao nível de qualidade fotográfica... e ensinam-nos muito sobre o que estava e o que restou!
Squier chama a Tiahuanaco, a Baalbec ou a Stonehenge, da América do Sul!
Tal como no caso de Stonehenge, as pedras de Tiahuanaco foram movidas e recolocadas posteriormente.
"Porta do Sol" de Tiahuanaco à época de Squier (1863, publ. 1877)
"Porta do Sol" de Tiahuanaco, conforme é apresentada hoje...
o monumento foi parcialmente desenterrado, e os dois blocos foram juntos!
Destas primeiras imagens torna-se óbvio que houve alteração, podendo essa alteração ter inclusivé mudado a posição e orientação do monumento. Deve por isso ter-se sempre atenção este facto quando se analisam posições solares de monumentos que foram sujeitos a alteração posterior... e há imensos ditos sobre isto.
A melhor análise científica vale zero, se não considerar a deturpação histórica...
Mais interessante (... e há tanta coisa interessante nos relatos de Squier), é a sua gravura da outra porta, a porta da Lua, que ele chama "mais pequena":
"Porta da Lua" de Tiahuanaco à época de Squier, e actualmente...
... o megalito que tombava sobre a porta desapareceu!
O notável é que haveria um enorme megalito que tombava sobre essa porta, e que pura e simplesmente desapareceu!... Não seria o único megalito rectangular. A razão pela qual Squier lhe chamava Stonehenge americana, está aqui:
Sequência de megalitos em Tiahuanaco, à época de Squier
(o registo/foto semelhante foi coberto com paredes)
Os megalitos rectangulares, estruturas verdadeiramente notáveis, e invulgares, apareceriam na paisagem numa sucessão, como num cromeleche. Porém, também estes megalitos vieram a desaparecer do registo de Tiahuanaco.
Pela sua singularidade, não vamos negar que nos fizeram lembrar os megalitos rectangulares que Kubrick ilustrou no seu "2001, Odisseia no Espaço", e afirmações de Buzz Aldrin sobre a existência de um megalito em Phobos, satélite de Marte!
Squier mostra ainda o amontoado de pedras rigorosamente talhadas, feito notável e difícil de conseguir mesmo nos standards do Séc. XIX, e também aquilo que ele pensava ser um "modelo em escala" de um outro templo, incrustado numa rocha.
Amontoado de pedras em Tiahuanaco conforme Squier (à esquerda),
e (à direita) pedra inscrustada com possível modelo/planta de templo.
Squier segue um percurso por diversos monumentos notáveis que encontrou na sua viagem pelos Andes, e um site muito bom, com fotos actuais que seguem a mesma pista, é de D. Pratt, poupando-nos o trabalho de reescrever o muito que já foi escrito.
Notamos apenas que o posterior trabalho de alvenaria inca, usa ainda de junções milimétricas, mas não segue linhas geométricas tão bem definidas.
Essa geometria não perfeita pode ser considerada um retrocesso, mas não o é necessariamente... estas junções adaptadas funcionariam melhor numa região andina sujeita a intensos terramotos. Não havendo linhas de ruptura facilmente identificadas, a estrutura resistiria por diversos ângulos aos movimentos terrestres. A resistência das muralhas incas acaba por ser prova disso.
Squier não tem dúvidas em associar estas estruturas megalíticas a uma época remota, ligando aos mais notáveis de todos os megalitos... os de Baalbek, ou Heliopolis, cidade Fenícia de que já aqui falámos:
O enorme megalito rectangular de Baalbec.
Falamos dos maiores megalitos do mundo, estimados em mais de 1 milhão de quilos... a força humana para a proeza de levantar tal coisa, cifra-se em dezenas de milhares de homens! A posterior construção romana parece tacanha sobre alguns dos megalitos, conforme se evidencia em certas imagens:
(imagem obtida aqui)
Mais do que construir, perante a impossibilidade de destruir, talvez tenha sido ideia romana ocultar as pedras ciclópicas sobre uma nova construção que dedicariam a Júpiter. Mitologicamente adequado, já que Júpiter fazia uso dos cíclopes, filhos de Gaia e Úrano, para forjar armas contra Saturno e os titãs.
Há assim vários pontos de contacto, com estruturas megalíticas, de grande precisão, que ocorreram em tempos remotos, e muitas vezes identificadas impropriamente a estruturas romanas (como nos parece ser o caso de Centum Cellas). Essa civilização megalítica seria talvez lembrada pelos toscos menires europeus, cuja origem é talvez celta, mas teria tido um outro apogeu, bem anterior... seria uma civilização de gigantes, de ciclopes, de titãs? Disso apenas nos restou alguma mitologia e certas ossadas que parecem ser ocultadas...