Depois de ter escrito o texto anterior, encontrei um bom documentário da BBC sobre Arte Rupestre, apresentado por Nigel Spivey, da Universidade de Cambridge.
[Dez. 2020: O vídeo desapareceu da internet, um resumo escrito é dado neste link]
O documentário tem o mérito de dar ênfase a questões importantes, ainda que depois tenda a concentrar-se numa conjectura como resposta - ou seja, o que seria desenhado nas cavernas seriam descrições de estados de transe dos xamãs.
Bom, mas este assunto da pintura tornou-se numa questão de um milhão de dólares, valores atingidos nos leilões de pinturas abstractas desde o início do Séc. XX. Ignorando pertenças de ídolos, raramente encontramos outros objectos, sem ser quadros, cujo valor de mercado é astronomicamente superior ao valor dos materiais ou dos processos utilizados na construção.
Uma das revelações feitas neste documentário, e que foi para mim uma surpresa, foi a história de um turco, no início do Séc. XX, que não associava o animal à pintura realista de um cavalo. Ou seja, para esse turco, fundamentalista, de uma religião islâmica que proíbe a representação em pinturas, a pintura do cavalo, por mais realista que fosse, nada tinha a ver com o animal.
O animal era tridimensional, e a pintura era apenas um boneco bidimensional.
Mas vejamos um caso mais concreto.
Em Espanha não há só Altamira, e em El Castillo podemos encontrar um esboço numa parede:
Cave de El Castillo (Espanha, perto de Altamira)
Será que o pintor troglodita, num certo estilo minimalista de Picasso, procurou evidenciar a cabeça de um auroque, usando apenas dois traços? Ou ainda melhor, será que todas as pessoas vêem naqueles dois traços uma cabeça bovina, ou haverá quem, tal como o personagem turco, não associa aqueles traços a nenhuma representação animal. De facto, olhando novamente para a imagem, a curva à esquerda poderia ser um traço em forma de 2 ou de Z.
Portanto, é preciso um certo clique de contexto... Em pinturas rupestres, evidentemente as letras estão excluídas, e os nossos olhos procuram figuras que sugiram animais, sendo essa associação feita.
Noutro contexto não seria assim... e por isso uma certa surpresa é entender que precisamos de alguma educação para associar às imagens o que elas representam, por muito realistas que possam parecer.
PLANTAS
El Castillo é uma gruta muito interessante, até porque a datação oficial têm-na colocado como uma das mais antigas, anterior até às grutas francesas, com cerca de 40 mil anos... ou seja, mais em épocas de Neandertais do que Homo Sapiens, levantando algumas interrogações sobre se seriam esses os autores originais das pinturas (nesse ponto, de remeter algumas das pinturas a Neandertais tem-se destacado J. Zilhão - ver por exemplo o artigo Spanish cave paintings world’s oldest says new dating tech ).
Talvez o mais surpreendente em El Castillo consiste em representações com pontilhados e "estruturas quadrangulares", conforme podemos ver nas figuras e vídeo seguintes:
Estas imagens foram retiradas do vídeo sobre El Castillo
Texnai Digital Archive (empresa japonesa)
Desconheço se a Nigel Spivey também se ofereceria interpretar estas estruturas como resultado da representação de imagens vistas em estados de transe. Ainda que essa ideia possa fazer algum sentido nalguns casos, está muito longe de servir como panaceia, parecendo servir mais como tentativa de reduzir toda a pintura rupestre a estados de alucinação sem significado especial.
Não negligencio de nenhuma forma o papel que os xamãs tiveram na evolução humana, como já aqui abordei, simplesmente não considero que parou em tempos remotos... transformou-se mas nunca se alterou a essência desse controlo ou influência sacerdotal nas decisões políticas, mesmo actuais.
Voltando aos quadrados de El Castillo, esses lembram outros quadrados, e avançamos muitos milhares de anos para Çatal Huyuk (ainda assim reportada com mais de 8 mil anos):
Não negligencio de nenhuma forma o papel que os xamãs tiveram na evolução humana, como já aqui abordei, simplesmente não considero que parou em tempos remotos... transformou-se mas nunca se alterou a essência desse controlo ou influência sacerdotal nas decisões políticas, mesmo actuais.
Voltando aos quadrados de El Castillo, esses lembram outros quadrados, e avançamos muitos milhares de anos para Çatal Huyuk (ainda assim reportada com mais de 8 mil anos):
Çatal Huyuk - possível planta da cidade - figuras originais e desenho
A questão é que em Çatal Huyuk, por muito que se tenha tentado desprezar o significado deste mural (a esse propósito, consultar Portugalliae), verificou-se que os quadrados apresentados correspondiam muito bem à planta dos edifícios da própria cidade desenterrada, ou citando directamente M. Tomczak: "A wall painting from one of the shrines, dated to 6200 BC with an error margin of less than 100 years, depicts the plan of the city and corresponds very accurately to the arrangement of the houses as they were excavated."
Bom, o que isto tem a ver com as pinturas de El Castillo?
Lá está... falta-nos o contexto explicativo, e cada um pode ver o que quiser. Se forem os "alienados" do Canal História, certamente que podem ali ver planos de dispositivos ou veículos espaciais! Pelo lado do documentário da BBC, talvez sejam representações de visões de xamãs em estados de transe.
Está já clara qual é a minha opinião - poderiam bem ser representações de estruturas habitacionais, provavelmente em madeira, onde os pontos seriam meras pessoas. Ou seja, poderia ser uma simples planta dos edifícios existentes, ou simplesmente planeados.
O problema é que, dada a profunda ocultação a que fomos sujeitos educacionalmente, tendemos a ver mapas e plantas como um produto recente, como se as construções antigas não requeressem um planeamento igualmente ponderado e colocado no "papel", antes de ser levado a efeito.
Não estou a pretender que é a única hipótese com sentido. Também poderia fazer sentido pensar-se que as cavernas funcionavam como prisões, e cada ponto representava um dia preso, ou que aquilo era uma espécie de tabuleiro do jogo do galo, que iam jogando para passar o tempo... tudo isso, e mais uma centena de possibilidades.
A questão que coloco é simples.
Tinham ou não os romanos uma planta de Roma, ou os atenienses uma planta de Atenas, etc.?
Se tinham, já alguém as viu?
Existiam de facto plantas de Roma em pedra, em mármore... e pergunto, quantas cidades de hoje tem a sua planta gravada em mármore, ou em pedra?
No entanto, como vemos, o que chegou dessa obra monumental de 18 x 13 metros em mármore, foram minúsculos fragmentos partidos. Para além disso, quantas pessoas têm a noção de que os romanos faziam plantas como hoje fazemos? Por que razão esta informação fica perdida num recanto de um museu, sem qualquer destaque?
Horror-a-mapas
Horror a mapas foi a manifestação de uma doença que consumiu a humanidade, e cujos principais doentes estão longe de estar curados. Destruir plantas de cidades foi só um dos muitos aspectos, mas na sua fase mais crítica levou à destruição de todas as imagens que representassem não apenas deuses, mas também imagens da realidade circundante.
Basta atendermos às directivas judaicas ou islâmicas na arte, para compreendermos a forma brutal como foram reprimidas todas as manifestações de imagens, o que levou então ao exemplo caricato do sujeito turco que não associava o cavalo à imagem do cavalo. Grandes pintores árabes ou judeus, antes do Séc. XX estavam proibidos de exercer... e mesmo os outros só começaram a poder recuperar o fino traço da Antiguidade, depois do Renascimento.
Portanto houve ordens... dos "deuses", ou "astronautas", ou mais simplesmente de alguns magos ou xamãs de serviço, para que fossem reprimidas e destruídas todas as representações, especialmente por imagens. Ainda hoje essas ordens são levadas a sério pelos radicais islâmicos... mas está longe de ser só aí que está a doença, que é mais profunda. Afinal, uma das maiores forças do poder pretende ser negar uma correcta informação sobre o passado.
Lá está... falta-nos o contexto explicativo, e cada um pode ver o que quiser. Se forem os "alienados" do Canal História, certamente que podem ali ver planos de dispositivos ou veículos espaciais! Pelo lado do documentário da BBC, talvez sejam representações de visões de xamãs em estados de transe.
Está já clara qual é a minha opinião - poderiam bem ser representações de estruturas habitacionais, provavelmente em madeira, onde os pontos seriam meras pessoas. Ou seja, poderia ser uma simples planta dos edifícios existentes, ou simplesmente planeados.
O problema é que, dada a profunda ocultação a que fomos sujeitos educacionalmente, tendemos a ver mapas e plantas como um produto recente, como se as construções antigas não requeressem um planeamento igualmente ponderado e colocado no "papel", antes de ser levado a efeito.
Não estou a pretender que é a única hipótese com sentido. Também poderia fazer sentido pensar-se que as cavernas funcionavam como prisões, e cada ponto representava um dia preso, ou que aquilo era uma espécie de tabuleiro do jogo do galo, que iam jogando para passar o tempo... tudo isso, e mais uma centena de possibilidades.
A questão que coloco é simples.
Tinham ou não os romanos uma planta de Roma, ou os atenienses uma planta de Atenas, etc.?
Se tinham, já alguém as viu?
Plantas romanas (Museu da Cidade de Roma)
No entanto, como vemos, o que chegou dessa obra monumental de 18 x 13 metros em mármore, foram minúsculos fragmentos partidos. Para além disso, quantas pessoas têm a noção de que os romanos faziam plantas como hoje fazemos? Por que razão esta informação fica perdida num recanto de um museu, sem qualquer destaque?
Horror-a-mapas
Horror a mapas foi a manifestação de uma doença que consumiu a humanidade, e cujos principais doentes estão longe de estar curados. Destruir plantas de cidades foi só um dos muitos aspectos, mas na sua fase mais crítica levou à destruição de todas as imagens que representassem não apenas deuses, mas também imagens da realidade circundante.
Basta atendermos às directivas judaicas ou islâmicas na arte, para compreendermos a forma brutal como foram reprimidas todas as manifestações de imagens, o que levou então ao exemplo caricato do sujeito turco que não associava o cavalo à imagem do cavalo. Grandes pintores árabes ou judeus, antes do Séc. XX estavam proibidos de exercer... e mesmo os outros só começaram a poder recuperar o fino traço da Antiguidade, depois do Renascimento.
Portanto houve ordens... dos "deuses", ou "astronautas", ou mais simplesmente de alguns magos ou xamãs de serviço, para que fossem reprimidas e destruídas todas as representações, especialmente por imagens. Ainda hoje essas ordens são levadas a sério pelos radicais islâmicos... mas está longe de ser só aí que está a doença, que é mais profunda. Afinal, uma das maiores forças do poder pretende ser negar uma correcta informação sobre o passado.
Dito isto, ouso dizer, sem grandes problemas, que em nada me espantaria encontrar um bom mapa da Europa pintado numa caverna com 10 ou 20 mil anos... é claro que não seria bem desta Europa, porque o nível do mar não seria o mesmo.
Mas isso é outra conversa... de qualquer forma, lembro que foi a pequena Maria que sinalizou os "touros" de Altamira. O pai, o Marquês Sautuola, foi depois ridicularizado no Congresso de Pré-História, realizado em 1880, em Lisboa. Um dos principais opositores, Cartilhac, seria eleito curador da Academia dos Jogos Florais... a célebre academia Occitana, que referimos no texto anterior.
Na sua região occitana, uma outra pequena Bernadette ficara famosa uns anos antes, em Lourdes, pelas visões numa gruta, onde seria erguido um dos maiores monumentos ao culto mariano. Alguns anos mais tarde, também numa região de muitas grutas, outros jovens com outras visões marianas, e um novo local de culto, Fátima.
Curiosamente, e serve isto para fazer esse reparo, tirando as gravuras de Foz Côa, que mal se vêem, conheço apenas em território nacional uma inscrição pintada na Lapa dos Gaviões, e outra na Gruta do Escoural. Devo dizer que já entrei em grutas não abertas ao público, quando era mais jovem, e também nunca vi nada... Aparentemente, o desígnio artístico deve ter perdido ímpeto quando se passava a fronteira de Espanha para Portugal.
Mas isso é outra conversa... de qualquer forma, lembro que foi a pequena Maria que sinalizou os "touros" de Altamira. O pai, o Marquês Sautuola, foi depois ridicularizado no Congresso de Pré-História, realizado em 1880, em Lisboa. Um dos principais opositores, Cartilhac, seria eleito curador da Academia dos Jogos Florais... a célebre academia Occitana, que referimos no texto anterior.
Na sua região occitana, uma outra pequena Bernadette ficara famosa uns anos antes, em Lourdes, pelas visões numa gruta, onde seria erguido um dos maiores monumentos ao culto mariano. Alguns anos mais tarde, também numa região de muitas grutas, outros jovens com outras visões marianas, e um novo local de culto, Fátima.
Curiosamente, e serve isto para fazer esse reparo, tirando as gravuras de Foz Côa, que mal se vêem, conheço apenas em território nacional uma inscrição pintada na Lapa dos Gaviões, e outra na Gruta do Escoural. Devo dizer que já entrei em grutas não abertas ao público, quando era mais jovem, e também nunca vi nada... Aparentemente, o desígnio artístico deve ter perdido ímpeto quando se passava a fronteira de Espanha para Portugal.