As Colunas de Hércules foram um ponto marcante, colocado como referência na maioria dos textos da Antiguidade. O estatuto lendário de Hércules acabou por identificar essas colunas com os montes situados de um e outro lado do Estreito de Gibraltar, a saber o Monte Calpe em Gibraltar, e o Monte Abila (ou será Avila?) em Ceuta. Porém, os antigos escritores romanos consideraram a hipótese das colunas terem mesmo existido. A cidade de Cadiz (ou Gades) mantém o mito das colunas no seu brasão e a inscrição Plus Ultra:
Acontece que, para além destas colunas, podemos encontrar as Torres de Hércules...
Essas torres estiveram sinalizadas em mapas e textos até há bastante pouco tempo!
Encontramos isso ainda num mapa de 1715:
E mesmo numa descrição marítima de 1812 vemos que restava uma Torre, que passava a chamar-se "Torregorda"... Ao contrário do que esperava, foi estranhamente difícil encontrar menção a essas torres, cito a este propósito um dos poucos textos que encontrei online:
En Cádiz existían dos torres llamadas de Hércules en 1550, una donde hoy está torregorda y la otra como doscientos pasos más cerca de la ciudad, ambas iguales de altura, dice Adolfo de Castro, la ultima de ellas posiblemente fue destruida cuando el saqueo de los ingleses, porque en el siglo XVII solo se habla de una torre.Esta fue totalmente destruida en el terremoto acaecido el 1 de Noviembre de 1753[!! 1755]. Por otro lado, las dos columnas del non plus ultra del que habla los antiguos historiadores pudieron ser las dos torres que señalaban la entrada del Puerto de Cádiz, una en la punta de la isla de San Sebastián, donde hoy está el faro, y otra también altísima, e igual en el Cabo Candor. Servían para avisar con fuego nocturno la entrada y el peligro de los puertos.
Portanto, percebemos que havia duas torres em 1550 (o que se vê no mapa de 1715), e que uma delas foi destruída no terramoto de 1755 (o ano 1753 estará errado no texto). A acção desse terramoto estendeu-se até Cadiz, como vemos! Será aqui útil referir a expressão associada a esse terramoto:
Como a segunda torre estava de pé, segundo texto publicado em 1812, mas depois desapareceu, consideramos a hipótese de actuação napoleónica...
Como seriam essas Torres?
Podemos ter uma razoável ideia neste site ou neste [links entretanto removidos] pela ilustração num mapa de N. J. Visscher de 1660:
No canto superior direito desse mapa podemos ver (nas duas versões cores/preto-branco):
Ao contrário, num mapa semelhante constante da Universidade de Évora, encontramos o mapa com figuras recortadas! O que havia nessas figuras, que mereceu o recorte e a exclusão a olhos vindouros?
Uma das figuras que não está recortada, mas deixa algum mistério é a ponte de Segovia!
Também essa ponte de Segóvia já não existirá... deixamos aqui as imagens encontradas nos mapas referidos em cima:
Não sabemos se esta ponte caiu com o Carmo ou com a Trindade... há ainda outras duas construções nos outros cantos do mapa, que não conseguimos identificar.
Ainda sobre a questão de Torres de Hércules, já falámos sobre a Torre pentagonal de Coimbra...
... mas voltamos a acrescentar referências. Uma por António Francisco Barreto, outra de António Coelho Gasco, mas a mais enfática está na Revista Universal Lisbonense onde se começa por citar Almeida Garrett (D. Branca):
Digamos que se o Carmo caiu por mão de Neptuno, a Trindade deve ter caído por mão do Marquês e acólitos...
Fala-se ainda de que pelo menos a pedra com a inscrição "Quinaria turris Herculea fundata manu" deveria ter sido preservada!... Havia uma outra inscrição, que reportava a D. Sancho e ao ano (hispânico) de 1232, e deveria remeter para a construção da torre adicional... também essa parece ter desaparecido... coisas de invasões talvez! Se os culpados não podem ser internos, vêm os externos... e aqui os séculos de permanência árabe dificilmente podem ser vistos como motivo de destruição das nossas antiguidades, conforme podemos comprovar nos vários exemplos!
O artigo fala ainda do "arco da traição", e o arco do castelo, que tinha grossas portas chapeadas e cravadas de ferro, ambos teriam sido arrasados pela Câmara Municipal em 1836. Continuava por isso a reescrever-se a História, agora por mão do "mano Pedro", já que o "mano Miguel" tinha sido derrotado em 1834, e Maria II, filha de Pedro IV, era já rainha.
O autor do artigo, R. de Gusmão, termina assim:
Não tem a maça nem a maçã de Hércules, por aí ficámos com o "anónimo" homem da maça e com "algo" ao lado, já que ninguém quererá ver Ládon. Cortados os braços, retiradas a maça e a maçã... o que resta do homem?
Desterrados das suas sepulturas, desonrados os feitos, nomeados outros heróis, desses fantasmas doutrora ainda não terá sido silenciado por completo o registo, e é certo que o peso dos assombros passados parece pesar agora como assombração.
Caiu o Carmo e a Trindade...
Muito do que havia para cair, caíu, e o que não caiu na altura, caiu depois, e já não se recompôs!Como a segunda torre estava de pé, segundo texto publicado em 1812, mas depois desapareceu, consideramos a hipótese de actuação napoleónica...
Como seriam essas Torres?
Podemos ter uma razoável ideia neste site ou neste [links entretanto removidos] pela ilustração num mapa de N. J. Visscher de 1660:
No canto superior direito desse mapa podemos ver (nas duas versões cores/preto-branco):
Ao contrário, num mapa semelhante constante da Universidade de Évora, encontramos o mapa com figuras recortadas! O que havia nessas figuras, que mereceu o recorte e a exclusão a olhos vindouros?
Uma das figuras que não está recortada, mas deixa algum mistério é a ponte de Segovia!
Também essa ponte de Segóvia já não existirá... deixamos aqui as imagens encontradas nos mapas referidos em cima:
Não sabemos se esta ponte caiu com o Carmo ou com a Trindade... há ainda outras duas construções nos outros cantos do mapa, que não conseguimos identificar.
Ainda sobre a questão de Torres de Hércules, já falámos sobre a Torre pentagonal de Coimbra...
... mas voltamos a acrescentar referências. Uma por António Francisco Barreto, outra de António Coelho Gasco, mas a mais enfática está na Revista Universal Lisbonense onde se começa por citar Almeida Garrett (D. Branca):
Alli o berço foi da lusa gloria; Creral-o hoje sepulcral moimento; D'essa gloria defunta
Ruínas tristes; Esbroardos pardieiros - oh, vergonha! São as torres...mas o autor do artigo continua, e cito:
(...) de mais longe vem o nefando empenho de apagar memórias do que fomos, arrasando os mais famosos monumentos de nossas glórias; julgamos por isso mais execráveis os antigos demolidores, que são os patriarcas d'essa abominável seita, cujo compromisso cifra todos os seus preceitos no único: "Aniquilar tudo o que recorde façanhas portuguezas".e informa que o projecto do Marquês de Pombal para a destruição da Torre, ou segundo a versão politicamente correcta da nossa História - para construir o Observatório Astronómico, tinha sido entretanto abandonado... porque "não estava livre de abalos ocasionais pelo rolar dos carros nas calçadas, condição essencial que deve satisfazer todo o local destinado para observações". Depois, já no Séc. XX foi construído algo semelhante a um Observatório Astronómico de Coimbra, do outro lado do rio...
Digamos que se o Carmo caiu por mão de Neptuno, a Trindade deve ter caído por mão do Marquês e acólitos...
Fala-se ainda de que pelo menos a pedra com a inscrição "Quinaria turris Herculea fundata manu" deveria ter sido preservada!... Havia uma outra inscrição, que reportava a D. Sancho e ao ano (hispânico) de 1232, e deveria remeter para a construção da torre adicional... também essa parece ter desaparecido... coisas de invasões talvez! Se os culpados não podem ser internos, vêm os externos... e aqui os séculos de permanência árabe dificilmente podem ser vistos como motivo de destruição das nossas antiguidades, conforme podemos comprovar nos vários exemplos!
O artigo fala ainda do "arco da traição", e o arco do castelo, que tinha grossas portas chapeadas e cravadas de ferro, ambos teriam sido arrasados pela Câmara Municipal em 1836. Continuava por isso a reescrever-se a História, agora por mão do "mano Pedro", já que o "mano Miguel" tinha sido derrotado em 1834, e Maria II, filha de Pedro IV, era já rainha.
O autor do artigo, R. de Gusmão, termina assim:
Restos venerandos do alcaçar coimbrão, testemunha das nobres proezas de nossos maiores, poupe-vos a cólera dos homens d'hoje a aniquilação! O pó dos séculos, em que jazeis involtos, cegue os olhos incuriosos dos que ousarem desbaptizar-vos do sólo em que vos encravaram homens d'outras eras.Se o brasão de Cádis mantém ainda a figura de Hércules, o problema identificado por Gaspar Barreiros - que ouvia tudo ser atribuído a Hércules, terá sido eliminado definitivamente pelo Marquês e sucessores que o compararam ao herói mítico, colocando-o em pedestal máximo lisboeta, acompanhado também por um leão. Não terão sido dois leões, talvez por modéstia... afinal tinha edificado alguma coisa sobre o destruído, mas não teria destruído tudo sozinho.
Não tem a maça nem a maçã de Hércules, por aí ficámos com o "anónimo" homem da maça e com "algo" ao lado, já que ninguém quererá ver Ládon. Cortados os braços, retiradas a maça e a maçã... o que resta do homem?
Homem da Maça (Monte de S. Brás)
[imagem de C.M.Matosinhos]
Desterrados das suas sepulturas, desonrados os feitos, nomeados outros heróis, desses fantasmas doutrora ainda não terá sido silenciado por completo o registo, e é certo que o peso dos assombros passados parece pesar agora como assombração.