Segue um comentário de IRF sobre Ludovico di Varthema, cujo livro de viagens:
IRF
Itinerario de Ludouico de Varthema Bolognese
foi publicado em Roma, em 1510.
Ludovico di Varthema, publicado em holandês
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Venho apresentar-lhe a história do senhor Ludovico di Varthema, um aristocrata Bolonhês que em 1502 resolveu partir pelo desconhecido e grande mundo de então.
Andou por Alexandria, Cairo, Beirute, Tripoli, Alepo, Damasco, foi aparentemente o primeiro Europeu a entrar na proibidíssima cidade de Meca como guarda de uma caravana de peregrinos entre Mamelucos do Cairo, Medina...
Aparentemente, uns mouros suspeitaram que era Cristão, e o Italiano lá se safou oferecendo-se como grande especialista em artilharia para ajudar os mouros a combater os Portugueses...
Foi para Jedah, e para Aden, no Yemen, rumo à Índia, mas foi preso acusado de ser um espião Cristão ao serviço dos Portugueses. Por manhas só à disposição de aristocratas Italianos teve um caso com uma princesa Yemenita que o safou, mas que lhe valeu a prisão de novo...
Mas safou-se! E foi para Saná.
Mas safou-se! E foi para Saná.
Com o dinheiro oferecido pela moura, lá conseguiu pôr-se de novo rumo à Índia num navio Persa que se desviou da rota e teve de aportar em Berbera, naquilo que hoje é o Estado não reconhecido da Somalilândia. Eventualmente, lá chegou a Diu na Índia... mas deu por si num navio para Mascate, em Omã, de onde passou a Ormuz.
Em Ormuz parece que havia confusão à séria, pelo que fugiu para Pérsia e chegou a Herat, no Afeganistão, voltando depois para Shiraz, no Irão, relativamente perto de Ormuz.
Pois em Shiraz, na Pérsia, o nosso Italiano encontrou um mercador Persa com quem tinha privado em Meca, mercador este que pensava que o nosso Italiano era um mouro, desconhecendo-lhe a verdadeira identidade. Parece que ficaram amigos e rumaram para Samarcanda. Não mais se separariam nas aventuras de Ludovico di Varthema na Ásia, mas parece que o Ludovico se limitava a acompanhar o Persa pelos seus caminhos comerciais...
Chegaram então à foz do rio Indo (Carachi de hoje?) vindos de Ormuz, percorrendo depois a costa Ocidental da Índia, incluindo Goa tendo depois penetrado no interior da Índia. Em Cananore, encontrou os Portugueses.
No extremo Sul da Índia encontrou os Cristãos "de São Tomás" nativos da Índia.
No extremo Sul da Índia encontrou os Cristãos "de São Tomás" nativos da Índia.
Passou para o Ceilão - Sri Lanka - e para a Tailândia ou Sião - começando numa região que hoje é parte da Birmânia - e foi nesta zona que se deparou com coisas como a imolação de viúvas após a morte do marido e convites para desflorar virgens que se iam casar, que era costume serem oferecidas aos estranhos antes de serem oferecidas aos maridos.
Vou abster-me de fazer comentários...
Passaram depois ao actual Bangladesh... onde menciona a existência de mercadores Chineses de fé Cristã. Muito estranho... mas poderiam ser resquícios de Cristãos Nestorianos Iranianos da corte dos Mongóis... a wikipedia diz que Ludovico dizia que esses Chineses "eram brancos como nós", aparentemente referindo-se ao tom de pele... mas poderia inclusive referi-se à raça...
Estes "Chineses" Cristãos, convidam-nos a embarcar com eles em viagem e chegam a Pegu, na Birmânia. E depois Malaca, na Malásia. E depois, Sumatra. Decidem ir mesmo à origem das rentáveis especiarias e chegam às Ilhas Molucas.
Agora é a parte interessante:
Voltam por Bornéu, e depois por Java, que os Cristãos Chineses descrevem como "a maior ilha do mundo". Igualmente interessante, o Malaio que leva o barco é descrito como possuindo uma bússola e uma "carta náutica com traçada de linhas".
O Malaio ensina-os que devem navegar orientados pelas estrelas, nunca perdendo o foco do Cruzeiro do Sul:
"(O Malaio) mostrou-nos quatro ou cinco estrelas e disse-nos que uma delas era oposta à nossa estrela polar e que ele navegava pelo Norte (usando a bússola) porque o ponteiro apontava sempre para Norte.Ele também nos disse que do outro lado desta ilha (Java), para Sul, existem outras raças mais, que navegam por estas quatro ou cinco estrelas opostas ás nossas. E fizeram-nos compreender que para além dessa ilha o dia não dura mais de quatro horas e faz mais frio do que em qualquer outra parte do mundo".
É isto uma referência à Antárctida? ao extremo Sul da Austrália?
À Nova Zelândia e aos Maori ou Polinésios?
Em Java, Ludovico afirma que existem canibais e compra duas crianças castradas. De Java, foram para Malaca onde se despediram dos Chineses. E de lá foram para a Índia, chegando por fim a Calecute.
Em Calecute, encontra dois Italianos que estavam a trabalhar ao serviço de um Indiano poderoso que se preparava para cobmater os Portugueses com artilharia Europeia. Ludovico finge-se de asceta Islâmico - pois desde as Arábias que finge ser mouro - e ganha fama como homem santo e curandeiro local, por parte dos mouros, enquanto conspira com os Italianos para regressarem todos a Itália.
Acontece que o Ludovico lá consegue chegar a Cananore e entregar-se aos Portugueses como Cristão Italiano que quer regressar a casa.
É aprisionado e interrogado pelo próprio Capitão da Armada Portuguesa, D. Lourenço de Almeida, a quem oferece informação valiosíssima acerca dos preparos do Zamorim de Calecute.
D. Lourenço de Almeida, despacha Ludovico num navio para Cochim, com relatório a ser entregue a seu pai, D. Francisco de Almeida, o Vice Rei Português da Índia. Este oferece apoio aos outros Italianos para que abandonem os Indianos. No entanto, a trama para salvar os Italianos é descoberta e são assassinados por uma turba de monhés em fúria...
Ludovico passa a trabalhar para os Portugueses, dado a sua fluência em línguas... este participa e descreve em pormenor a batalha de Cananore.
O nosso Italiano aguenta-se com os Portugueses durante o duro cerco de Cananore.
Em que só com a chegada da armada comandada por D. Tristão da Cunha os Portugueses conseguem superiorizar-se. Ludovico diz que muitos dos que conhecia nas redondezas se converteram ao Cristianismo após esta vitória dos Portugueses.
Após uma expedição punitiva a um porto próximo, o nosso Ludovico é feito cavaleiro pelo Vice Rei D. Francisco de Almeida, com o apoio de D. Tristão da Cunha.
Regressa à Europa com os Portugueses, passando pela costa Leste de África, Madagáscar e Moçambique, África do Sul...
Passaram pelas ilhas de Santa Helena e Ascenção, no meio do Atlântico. Depois os Açores e finalmente Lisboa. Ludovico diz que é bem possível que por acção dos Portugueses toda a Ásia se torna Cristã nos próximos tempos...
Em 1510, Ludovico está em Lisboa e tem uma audiência com o próprio Rei D. Manuel, que confirma a validade da sua elevação a cavaleiro.
Que informações disporia Portugal só pelo contacto com este cavaleiro em 1510?
- Tirado daqui:
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É muito interessante esta descrição, em particular no detalhe que dá de um dia com menos de 4 horas, porque isso significa que estaria em latitudes muito a sul.
Com efeito, quando o dia é medido com menos de 6 horas isso significa que se está em latitudes superiores a 60º, seja a norte ou a sul. Tratando-se neste caso de latitudes a sul, convém notar que praticamente toda a Antárctida está dentro do círculo polar (acima de 66ºS), à excepção da Península Antárctida (junto à Terra do Fogo), que vai até 63ºS. Por outro lado a Austrália e Nova Zelândia não chegam além de 47ºS, enquanto a Terra do Fogo vai até 55ºS.
A esta latitude de 55ºS o dia terá ainda cerca de 7 horas.
Para ter apenas 4 horas de duração, a latitude teria de ser próxima de 63ºS, já que a 60ºS deveria ter 6 horas de duração.
Como o livro foi publicado em 1510, muito antes da viagem de Fernão de Magalhães, isto significa que, se a medição do dia foi correcta, tinha-se chegado nessa altura a latitudes de 63ºS, ou seja, a um território que apenas encontra paralelo na Península Antárctica.
Isso, é claro adapta-se de forma explícita à descrição "faz mais frio do que em qualquer outra parte do mundo", dada essa característica da Antárctida.
Como se insere esta descrição na história oficial?... Não se insere!