terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Alvo de Maia - Volume 11

Está quase feito o Volume 11 com a Acta de 2020 dos blogues Alvor-Silves e Ode Maia. 
Como a compilação envolve mais de 500 páginas, fica aqui o PDF da primeira parte (~ 250 páginas):


Neste ano, junto agradecimentos ao José Manuel Oliveira, ao IRF, ao João Ribeiro, ao DJorge, a A.Saavedra, ao Valdemar Silva, ao Carlos Figueiredo, ao GMR, cujos nomes figuram no texto, e ainda a outros que não.

Nos últimos anos, chegado a este ponto, em que agora já constam escritas 4 milhares de páginas, é sempre bom reflectir para que serve tudo isto? Felizmente que não é em formato de livro, porque senão estaria sujeito a uma reclamação ecológica.

Dir-se-à que serve para memória futura... mas percebemos que escrevemos demasiado, quando já nem nos lembramos dos tópicos, e muito menos dos textos.
Tanto pior, quando isto acontece no espaço de um ano. 

Podemos repetir assuntos, juntando mais uma informação aqui e ali, mas sem avançar decisivamente numa ou noutra direcção, porque esses tópicos estão além do nosso alcance. E estão além do alcance, porque são interrogações sobre um passado oculto, de que apenas vemos a face pelas contradições persistentes, nas histórias da carochinha que nos vão instruindo.

Para quem está ciente desta ocultação histórica, os acontecimentos covídeos serviram apenas para mostrar que a manipulação informativa, alinhada com a governativa, pode ser feita com um absoluto controlo e desplante tragicómico. Os melhores programas cómicos resumem-se a citar os disparates e absurdos governativos, alertando-nos de que certo infeliz episódio era mesmo para rir... não fossemos estar distraídos pela tragédia circundante.

Não é possível despertar a dúvida com acontecimentos presentes, e muito menos com passados, porque a população não foi educada para ser livre.
Aprender é a prender, a prender cabeças.
As cabeças são presas a receituários, a um conjunto de ideias feitas, cuja essência pode passar completamente ao lado de quem as ensina.

A máxima concepção de liberdade, é a da liberdade autorizada, como a criança que se sente livre porque goza da protecção dos pais, para fazer o que lhe apetece. Na falta dos pais, os adultos acreditam na estrutura social envolvente, como substituto paternal. É indiferente se essa figura paternal é disfarçada por um conceito divino, ditatorial, ou pseudo-democrático.

As regras passam a leis, os deveres passam a trabalho, etc... Acredita na sociedade como figura paternal, não se importando de haver manos privilegiados, "porque todos trabalham para a família". Essa ideia era até comum a escravos, que viam o seu patrão, ou seu senhor, como uma figura paternal.
Assim, é fácil recusar até a mais básica lógica de raciocínio, sob pena de a pessoa se ver sozinha num mundo hostil. Prefere dizer que preto é branco, quatro são cinco, se isso não a afastar da sociedade que conhece... nos casos mais drásticos, prefere ser herói morto, do que enjeitado vivo, como no caso de bombistas suicidas.
Há assim uma receita social nativa, que é mais importante que toda a lógica:
- Não ficar isolado.

Uma criança até agradece que nem a chateiem se, depois de lhe fazerem ver que é violentada pela família, não lhe derem nenhuma alternativa, nenhum outro lar. Podem até pensar que lhe estão a abrir os olhos, nem reparando que ela não os consegue abrir bem por causa dos sopapos que leva.
Ora, o problema é que não vivemos numa sociedade de adultos, quando alguns decidem reservar para si um papel paternal, desde os mais pequenos aos maiores chefes índios. Depois é só uma questão de sorte... ou se nasce numa família funcional ou disfuncional.

O que faz um adulto numa sociedade de crianças?
Se não quiser armar-se em novo paizinho... espera que cresçam!
Isso é engraçado de se dizer, e poderá até arranjar mecanismos de se escapar... o problema é quando o monstro social o cerca, desafiando para combate quem não quer combater. É claro que o monstro nunca aparece, porque é apenas mais uma criança assustada, no meio de tantas outras. 

O problema é que esse monstro que não se materializa em ninguém, não deixa de ser uma entidade temível, abstracta no conceito, mas materializada em acções. Será como pensarmos que cada uma das nossas células, é minúscula e inofensiva isoladamente, mas ganha um poder transcendente quando é benzida por uma ordem que não parte de nenhuma delas. Estes conceitos estão presentes, há combates não visíveis, nem pensados, que estão a ser travados. Resta saber como lidar com eles... sendo certo que a maior potência que temos é justamente abdicar dela.

Vou terminar a segunda-parte, provavelmente incluindo ainda este texto.

PDF do Volume 11 (segunda parte) ~ 8 Mb


sábado, 26 de dezembro de 2020

A imprensa em 2020 - aquém e além (2)

Acabando o ano 2020, lembro que foi começado com este título:

A imprensa em 2020 - aquém e além

sobre o domínio e controlo da informação na sociedade moderna (desde o Séc. XIX). Não se pretende reivindicar qualquer previsão do cenário informativo que se veio a verificar em 2020, porque foi alcançado um marco histórico então impensável:

  • A primeira pandemia mediática, em colaboração video, digamos co-vídeo.

A dificuldade com as noções: - O que vêem os cegos?
Não vêem negro!... Não ver nada, significa mesmo não ver nada.

1. Welles

Em 1938, Orson Welles, tinha um programa na rádio CBS, com alguns ouvintes, não muitos, e fazia várias adaptações-encenações radiofónicas de obras clássicas da literatura, entre elas - Drácula, o Conde de Monte Cristo, Sherlock Holmes, etc... Afinal quantas eram as pessoas que estavam dispostas a ouvir trechos de obras literárias declamadas na rádio? Parece que se contavam pelos dedos...

Na noite de Halloween foi a vez da "Guerra dos Mundos", de H. G. Wells, e tudo seria normal... excepto que os jornais do dia seguinte decidiram contar uma história diferente. Desde o New York Times, até alguns jornais de província, todos decidiram contar uma história completamente diferente.

Decidiram inventar a história que essa encenação de Welles da obra de Wells, tinha sido tão convincente que tinha deixado os EUA num estado de terror, temendo uma invasão real de Marcianos. Essa mentira foi empolada levando à fase de se acusar Orson Welles de incitar o pânico na população americana, etc, etc... Ora, tudo isso era apenas um prenúncio da fama que se lhe iria dar de seguida.

Orson Welles passou a enfant terrible do sistema... alguém que tinha muita queda, mas não tinha sítio onde cair, a quem o sistema mediático decidiu acarinhar, como puto mimado a quem se deixam fazer travessuras condenáveis a todos os outros. Passados seis meses, estava em Hollywood a escolher uma de três propostas de filmes para realizar. Entre elas escolheu realizar:
O filme que teria tudo para ser uma obra vulgar meio apalhaçada, mas foi benzido com a mesma chancela que tinha sido aplicada ao seu programa de rádio sem ouvintes... Foi logo classificado como "obra prima", etc, etc, e ainda hoje é colocado no pedestal como sendo "um dos melhores filmes de sempre".
A razão para isso, é normalmente simples. O filme tinha algumas novidades técnicas, mas o problema principal é que ninguém se atreve no meio duma claque judaica a difamar o nome de Moisés. 

A mentira marciana tinha alguma plausibilidade engraçada, e todos decidiram alinhar na história de que tinha havido um programa de rádio com a capacidade de enganar os crédulos americanos em 1938, esquecendo que não havia apenas uma estação de rádio nos EUA. Podiam não ter sido milhões, mas mesmo se tivessem sido uns milhares, era engraçado na mesma... pronto mesmo não sendo milhares, poderiam ter sido umas centenas. 
Ok, não interessa. Se centenas não foram enganados por Orson Welles com os marcianos, foram depois enganados pela história inventada pelo New York Times, aí já aos milhões.

2. Trump
Este exemplo de Welles, permitiu ver como os media podiam pegar numa falsidade idiota qualquer, e torná-la em notícia de primeira página. Pior que isso, poderiam mantê-la como facto aceite por muitas gerações vindouras, sem necessidade de verificação ou disputa. 
Não poderiam fazê-lo sozinhos, se fossem vistos como entidades separadas, sujeitos à verificação e crítica uns dos outros, mas poderiam garanti-lo indefinidamente, se estivessem coordenados entre si.
Já sabemos, essa teoria não pode ser enunciada, porque esse complot seria "teoria da conspiração"...
Conforme podemos ver, esta charada escancarada, dura há quase um século, e as tentativas de a expor no sentido oposto são recentes, e dificilmente conseguem ter uma expressão para o grande público. 

Por exemplo, quando em 2014, mencionei Welles, a propósito da estupidez do History Channel, nem me passou pela cabeça pensar no assunto. Simplesmente fui aceitando que poderia ter existido algum pânico com um programa de rádio simulando uma invasão marciana, e porque não? 
Simplesmente, não me coloco na posição da virgem ofendida, que foi enganado na sua castidade de defensor da verdade. 
O que acaba por ser ridículo é uma posição em que as vítimas se vão colocando, defendendo pontos indefensáveis, apenas porque não querem admitir que podem ter sido escandalosamente enganadas, praticamente desde que nasceram.

Mesmo que estejamos avisados para a rapina informativa que nos cerca, e estejamos praticamente reféns dessa informação oficializada pela governação, isso não significa que tenhamos que engolir praticamente tudo o que nos é impingido. 

O tratamento das eleições dos EUA pelos órgãos de comunicação internacionais revelou uma extensão do problema a níveis que antes eram apenas suposições de "teorias de conspiração". Ver os órgãos de comunicação coordenados ao ponto de distorcerem toda a informação, classificando o actual Presidente dos EUA como um simples criminoso/mentiroso, ao mesmo tempo que lhe reconheciam uma votação ímpar, bem como a preferência de largos sectores da sociedade americana, chegou a roçar o puro desplante arrogante de uma oligarquia que se sente inimputável. 
Pior, sente-se na capacidade de definir em directo, sem contraditório, resultados eleitorais.
Ou seja, parece que estamos a ler os Protocolos de Sião na sua versão consumada.

3. Pré-aquecimento
Isto seria suficiente para uma enorme escandaleira, de proporções mundiais, mas os media foram ensaiando entrar por território mais agreste, o supostamente impoluto mundo científico... que, mesmo sendo um mundo com virgens e prostitutas, teoricamente teria muito menos de umas que de outras. Teoricamente, porque quando o cacau começa a medir a importância e sobrevivência científica, o número de virgens tende a desaparecer rapidamente. 

O clima, sendo uma ciência que era praticamente tão incerta quanto a lotaria, foi o alvo escolhido.
As previsões climáticas foram ficando bastante boas, graças às imagens de satélite. 
Com essa disponibilidade de formações das nuvens, vistas no céu, até um indigente poderia fazer as mais básicas previsões climáticas no espaço de um dia ou dois. Sem grande dificuldade a coisa foi melhorando até ao espaço de uma ou duas semanas... se as coisas corressem bem.
Porém, prever a mais que um mês, envolve uma complexidade tal, que mesmo usando uma certa repetição anual dos padrões, está ainda fora do alcance actual.

Só que na ciência da comunicação, o que se consegue fazer é apenas um aperitivo para aquilo que se diz que se vai conseguir fazer. Há 20 anos todo o cenário foi lançado para um inquestionável aumento imparável da temperatura do planeta, a pontos que se anunciavam submersões de cidades, desaparecimento de ilhas, etc, etc.

Numa fase inicial, o cenário de aquecimento era teoricamente possível, e por isso todos os cuidados tidos foram vistos como necessários, de certa forma, unanimemente. Porém, o exagero subiu de tom, e as evidências reais foram substituídas por falsificações idealizadas, ou previsões completamente erradas.
O que aconteceu de estranho?
A ciência estava habituada a que teorias erradas fossem substituídas por novas teorias, e isso era determinado por factos e números objectivos. Nada mais disso interessou. Se os números não concordavam com a teoria, eram os números que estavam errados, e substituíam-se as medições por outras medições, etc, etc.

Chegou-se a um ponto tal que só a retórica poderia ajudar.
Em vez de se falar em aquecimento global, passou a usar-se o eufemismo alterações climáticas, e portanto tudo cabia aí. As previsões deixaram de ser feitas a 20 anos, porque 2020 veio mostrar o completo e absurdo falhanço de qualquer previsão mirabolante, e passou-se a usar 2050 ou 2100 como novas metas mirabolantes. Não me parece que seja porque se espere que o clima mude até lá, mas pode sim esperar-se um desenvolvimento técnico para alterar o clima até ao final do século.

O que interessou neste capítulo do folhetim, foi que a imprensa global se sentiu à solta para definir o que era e o que não era a opinião científica. Para além da estapafúrdia Pipi das Meias Altas sueca, chegou ao ponto de submeter o reconhecimento de entidades antes prestigiadas, e criar clubes de zelotas linchadores de quem se atrevesse a dizer o contrário.

4. Covídeos
La crème de la crème, chegou sob forma viral, pulverizando outro conhecimento científico frágil, e muito mais incomodativo para a generalidade dos mortais... a sua saúde!

Invasão de marcianos, é engraçado, mas precisa de marcianos... 
Uma invasão de vírus, é suposto precisar de vírus, mas se há coisa que não há falta no mundo, é de vírus. Ora, e se não havia falta de vírus, também não havia falta de medo deles.

Portanto, não se fala de outra coisa, os números estão aí, morrem pessoas umas atrás das outras, estamos em situação de emergência há meses a fio, e parece que o país e o mundo vão perecer face à invasão de Covid-19. 
Essa conversa conhecemos, mas de que números falamos efectivamente?


Este gráfico do número de mortes abaixo dos 70 anos, está disponível, para quem quiser consultar, na vigilância de mortalidade do Ministério da Saúde. 
São valores oficiais absolutos. Não distinguem se são mortes por Covid, ou por despiste automóvel.
Pergunto, onde estão visíveis as mortes alarmantes com que somos bombardeados todos os dias?
Os valores mais altos são em Janeiro de 2019.

Ok, então isso é porque é abaixo dos 70 anos, e o vírus mata mais a população idosa. 
Certo, vejamos então a população acima dos 65 anos, porque também está disponível essa informação:


Sim, há um aumento que começou a 1 de Novembro, mas maior existiu, conforme se vê, entre Janeiro e Fevereiro de 2019. 
Quais foram as excepcionais medidas que se tomaram em 2019? - Nenhumas!

Picos de mortalidade ocorrem sazonalmente, especialmente em idade avançada. É esperado que ocorram nos picos de frio e calor. Está ainda por explicar o pico de mortalidade neste Verão, que não esteve associado a nenhum efeito do vírus, especula-se estar associado a uma vaga de calor.

No entanto há um outro problema que em Portugal é propositadamente escondido - o suicídio:

A dimensão do problema do suicídio é maior do que os números podem fazer crer. Chama-se a isso ‘ocultação’ e ‘suicídios mascarados’. Em Portugal, apesar de ser um fenómeno reconhecido, é um problema gravíssimo. Somos um dos países da Europa, aliás, que pior regista os suicídios, juntamente com a Lituânia e a Polónia. Calcula-se que sejam ‘ocultados’ nos registos até mais 30, 50 ou 60% de suicídios, como mortes violentas indeterminadas, como acidentes e como morte de causa natural não especificada. [Dr. Ricardo Gusmão in Expresso 16.10.2020] 

Com a rápida incineração dos corpos, conforme agora é requerido, o apuramento de efectivas mortes por Covid ficará no segredo da DGS. As que foram associadas a Covid por sua iniciativa, só eles podem testemunhar, mas o crime de ocultação pública dos dados terá vários cúmplices conhecidos, começando pelos responsáveis governativos.

Independentemente de tudo isso, um facto objectivo é que não há razão presente em 2020 que não estivesse presente em 2019... excepto uma palavra - Covid.

Tivesse sido dado o nome Cabid-09 à gripe de inverno de 2010, e teríamos tido o mesmo efeito, voltaríamos a ter uma nova vaga no inverno seguinte e assim sucessivamente. Se tivessem começado com esta moda nessa altura, e já iríamos na vigésima vaga... sempre com estirpes diferentes.

Tal como em 1938, foram os jornais que inventaram um pânico inexistente sobre um programa de rádio, em 2020 foram os media que disseminaram um pânico excessivo relativamente à gripe Covid-19.
Se os números de mortalidade ainda não satisfazem o pretendido, pois parece que as pseudo-vacinas podem ter a solução com as diversas alergias a nanopartículas inclusas; e perante a perspectiva entre o mal e a cura, poderá haver muito idoso que escolha outra solução conveniente às estatísticas...

Todo o ambiente gerado em torno da chegada das pseudo-vacinas, do seu alojamento secreto, da protecção policial, etc, faz lembrar um enredo de uma paródia de mau gosto, protagonizada por jornalistas e responsáveis de baixo nível. 

Agora, faça-se a pequenina reflexão: - que cuidados extremos tiveram estas pseudo-vacinas, quando se garantia que nenhuma vacina estaria pronta antes do final de 2021:

A vaccine for Covid-19 will not be ready until the end of next year, according to Dale Fisher, chair of the World Health Organization

Quando os russos apresentaram a Sputnik, era uma treta, já se sabe... e quando Trump garantia uma vacina pronta antes do fim de 2020, era só para fins eleitoralistas. 

Zás, catrapaz... e tudo muda!
O mágico tira o coelho da cartola, e saem as pseudo-vacinas! Autorizadíssimas, seguríssimas!

Sim, são pseudo-vacinas, porque não há vacinas, já que a infecção pode ocorrer na mesma.
Aliás, é a própria DGS que o reconhece:


Basta substituir "vacinas" por "não fazer nada", e passa-se a ler tudo da mesma forma:

Apesar de muito eficaz, não fazer nada não evita completamente o risco de infecção. Contudo as poucas pessoas que nada fizeram e foram infectadas, desenvolveram geralmente formas pouco graves de Covid-19.

Este é o cenário geral da Covid-19, trata-se assim de um cenário de placebo, e não de vacina.
Aliás quem não fez nada, geralmente era assintomático.

A factura de tudo isto, vai ser paga por nós, em défices sucessivos, por várias gerações.
Mas isso também não é nada que surpreenda... estamos habituados desde o Séc. XIX.

A história serve para nos lembrarmos do que foi dito, e nem sequer há muito tempo.
- Mas o que é isso interessa? 
- Não interessa nada! Vão a correr, pode ser que consigam ser os primeiros vacinados da vossa rua!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Descobrimentos em diversos anos e tempos (8)

Neste ponto, Galvão faz referência a "homens com esporões nos artelhos como galos", e com este tipo de descrições, é habitual ao leitor pensar em exageros, histórias inventadas, etc. Não vou colocar aqui nenhuma imagem, porque podem ser perturbadoras, mas para quem tiver dúvidas de que há coisas piores, e que a natureza é brutal com certas pessoas, fica aqui "Epidermodysplasia verruciformis", o seu nome técnico (mais vulgarmente "tree man" é usado para designar a perturbação em que pés e mãos podem crescer como raízes de árvores).

Também podemos perguntar qual o espanto de Galvão com uma "erva" que seguia o movimento do Sol, não conheceria Galvão o girassol?... A questão é que tais plantas não eram conhecidas na Europa. O girassol terá chegado da América no Séc. XVI, e neste caso não sabemos exactamente a que planta ele se refere.

Para além dos diversos detalhes, mais relacionados com a exploração castelhana, que encontra algumas inconsistência em termos de latitudes, talvez o pormenor mais delicioso é Galvão citar Alexandre Magno a propósito das mulheres persas dizendo "as persianas eram a dor dos olhos"... ora é curioso depois ser usado o termo "persianas" para o dispositivo que evita a incidência directa do sol, protegendo os olhos contra a dor.

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DESCOBRIMENTOS 
em diversos anos & tempos, 
& quem foram os primeiros que navegaram.
por António Galvão (1563)

continuação de (7)  e  (6) (5) (4) (3) (2) (1)
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A Ilha de Guape em que está nossa Fortaleza, q se agora chama Ternate, é das mais altas coisas que no Mundo se sabe, deita fogo pelo mais alto, coisa tão espantosa que se não sabe lá falar em outra. Alguns príncipes mouros, e nobres portugueses de altos pensamentos, cometeram por vezes ver isto, mas nunca lá chegaram: pelo que se fazia ainda mór conta, o que António Galvão ouvindo, determinou cometê-lo, quis Deus, e Nossa Senhora que lhe deu cima, e da coisa que se mais espantou desta jornada, foi por uma ribeira tão frigidíssima, que não havia pessoa que pudesse ter a mão nela , nem metê-la na boca: parece que proveu a natureza ali esta frialdade, como em outras aguas a imensa quentura: sendo isto debaixo da Linha, onde continuadamente o Sol reverbera.

Ilha de Ternate com o vulcão Gamalama em erupção em 2016.

Há nestas ilhas de Maluco homens com esporões nos artelhos como galos, disse-me el rey de Tidore que na ilha da Batachina os havia com rabos, e nas Dãboino [de Amboino] um bode que deitava leite por uns peitos que entre os companhões tinha. Há lá galinhas pequenas que debaixo da terra, mais de braça e meia, põem ovos maiores que patas; há muitas de carne pretas, e porcos com cornos, e papagaios mui chocarreiros a que chamam Noris. Há uma ribeira de água tão quente que se pela tudo nela, e cria peixes. Há caranguejos dos matos mui saborosos, e tão forçosos das bocas que quebram o ferro de uma azagaia. Há outros no mar velosos, e pequenos, que quem os come em proviso morre. Há umas ostras a que chamam Bras, que tem tamanhas conchas, que baptizam nelas. Há no mar pedra viva que nasce, e cria como peixe, e faz cal muito boa, e se a tiram fora, e esta até que morre nunca mais arde. Há uma árvore que como o Sol se põe enfloresce; e cai-lhe como nasce. Há aí fruta que dizem que como uma prenhe a come logo move. Há uma erva que segue o Sol de maneira que sempre anda com ele, e é coisa de admiração vê-la.

No ano de 511 no mês de Janeiro tornou Afonso dalbuquerque [de Albuquerque] de Malaca para Goa, e se perdeu a nau em que ele ia, e outras se partiram de sua companhia, e Simão dandrade [de Andrade], e alguns Portugueses foram ter às ilhas de Maldiva, que são muitas, e cheias de palmeiras, e rasas com a água, aqui o retiveram até saberem que o Governador era vindo. Eles foram os primeiros Portugueses que aquelas ilhas viram, nas quais dizem que se criam cocos debaixo de água, que são mui proveitosas contra toda a peçonha.

Neste ano de 512 partiu de Castela Ioam de Soliz [João Dias de Solis], natural de Lebrixa, piloto mor d'el rey dom Fernando, com sua licença foi descobrir a Costa do Brasil, levou a derrota dos Pições [irmãos Pinzon]. Tomou o Cabo de Santo Agostinho, seguiu sua via contra o meio-dia, costeando a ribeira e terra, légua por légua, e em xxxv [35] graus de altura achou um rio, a que os Brasis chamam Paranagaco, que quer dizer grande água, viu nelas mostras de prata, e assım lhe pôs nome Rio da Prata, e dizem ainda que foi mais adiante por lhe parecer bem a terra. Tornando a Espanha, deu de tudo a el rey dom Fernando conta, e pediu-lhe aquela governança. El rey lhe fez mercê dela, armou em Lepe três navios, e no ano de 515 e mês de Setembro tornou a este reino, onde o mataram; estes Solizes, Pições foram grandes descobridores naquelas partes, até gastarem nisso vida e fazenda.

Neste mesmo ano de 512, Ioam pouso de Liã [Juan Ponce de Léon] que foi governador da ilha de S. Ioã, armou dois navios, e foi buscar a ilha Boihuca, onde diziam os da terra que estava uma fonte que sua água tornava os velhos moços; e andou em sua busca seis meses com assaz trabalho sem achar dela nova nem que visse tal coisa; entrou em Bemini, e descobriu aquela ponta de terra firme, que está em vinte e cinco graus da parte do Norte, dia de Páscoa Florida, e por isso lhe pôs o tal nome, e por lhe parecer que acharia nela ouro, prata, e grande riqueza, a pediu a el rey dom Fernando, que foi causa de sua morte, e dano, como muitos na tal empresa tem recebido.

No ano de 513, tendo Vasco nunez de Valboa [Balboa] nova do mar do Sul, determinou passar a ele, com quanto lhe punham medo da gente da terra, por onde havia de fazer este caminho, mas ele como era esforçado e belicoso, com esses soldados que tinha que eram duzentos e noventa, determinou de se pôr neste perigo, e partiu de Doriem donde estava o primeiro de Setembro levando alguns índios da terra por guia, atravessou toda a terra, ora por paz, ora por guerra, e em um certo senhorio que se chama Careca acharam negros cativos de cabeça revolta, que nunca até então se viram, nem se sabe outros até agora em todas aquelas partes da Nova Espanha, Castela do ouro, e Peru. Houve vista Valboa do mar do Sul a vinte cinco dias do mês, chegou a ele dia de S. Miguel, e por isso pôs aquele golfam tal nome, embarcou-se em certas barcas contra vontade de Chipe, que era senhor daquela costa, que lhe rogava que o não fizesse por ser perigosa, mas ele quis saber o que era, e dizer que o navegara. Tornou-se assaz contente, com muito ouro, prata, aljofre que se lá pescava, por onde el rey dom Fernando lhe fez mercê e honra.

Neste ano, e mês de Fevereiro partiu Afonso Dalbuquerque [de Albuquerque] da cidade de Goa para Adé [Adém], e estreito de Meca, com vinte velas. Chegados àquela cidade, deram-lhe combate e passados adiante entraram o estreito, e dizem que viram no céu uma Cruz a que todos adoraram, e na ilha de Camaram invernaram. Este foi o primeiro capitão Português que deu informação daquele mar e do da Pérsia, coisas pelo mundo tão celebradas.

No ano de 1514 e mês de Maio, partiu de sam Lucas de Barramedo Pedraires davilla [Pedro Arias Dávila] por mandado del rey dom Fernando quarto governador de Castella douro, que assim puseram nome a esta província do Dariem, Cartagena, Suraba, e aquela terra que novamente se conquistava, descobria e senhoreava, levou sua mulher dona Isabel sete naus, mil e quinhentos homens nelas, assim  fez el rey a Vasco Nunez de Valboa, adiantado do mar do Sul, e de toda aquela banda.

Na entrada do ano de 515 mandou o Governador Pedraires davilla a Gaspar de Morales com cento e cinquenta homens ao Golfam de S. Miguel buscar a ilha de Tararequi, Chiapi, e Tumugoa, Caliquas amigos de Valboa, lhe deram muitas canoas que são barcos de remo, com que pasaram à ilha das Pérolas, o senhor dela lhe defendeu a desembarcação, mas Chiapi e Tumaco os concertaram de maneira que o capitão da ilha os levou a sua casa, e lhe fez bem gasalhado, e tomou água de baptismo, pôs-se nome Pedraires como o Governador, e lhe deu para ele um cesto de pérolas que pesara cem marcos, em que entrava algumas delas como avelãs, e tinham vinte e cinco, e vinte e seis, e trinta quilates, e deu-se por esta mil e duzentos castelhanos. Esta ilha de Taraqueri está em cinco graus de altura da parte do Norte.

[poderá referir-se ao Arquipélago das Pérolas, mas estas ilhas estão a 8ºN]

Neste mesmo ano de 515 e mês de Março, mandou o Governador descobrir terra a Gonçalo de Badajoz, e deu-lhe oitenta soldados, partiram de Dariem, e foram a Nombre de Dios, onde chegou a eles Luiz de Mercado com cinquenta homens mais que o Governador mandava. Em sua ajuda assentaram descobrir da parte do Sul, por dizerem que era terra mais rica, tomaram índios por guias, foram ao longo daquela Costa, onde viram escravos ferrados, como nós acostumamos, depois de passarem assaz terras, e trabalhos, ajuntaram muito ouro e quarenta escravos para seu serviço, o Casique palisa [Cacique Palisa] deu sobre eles, e tomou-lhes tudo.

Sabendo o Governador esta nova no mesmo ano de 515 mandou a vingar por seu filho Ioã ayres Davila [Juan Arias Davila], e descobrir por mar e costa, o Alcaide Gaspar de Espinosa, que era passagem mui frequentada do Peru, e Nicaraga [Nicarágua], daqui foram ao Ponente ao Cabo da Guerra, que está em pouco mais de seis graus da parte do Norte, e daí à ponta de Borica, e o Cabo Branco que está em oito graus e meio, descobriram duzentas e cinquenta léguas, segundo eles diziam, e povoaram a cidade de Penama [Panamá]. 

No mesmo anno de 515 e mês de Maio mandou Afonso dalbuquerque [de Albuquerque] Governador da Índia, da cidade Dormuz [de Ormuz] Fernão Gomes de Lemos com embaixada ao xequismael [Xeique Ismael] senhor da Pérsia, e dizem que atravessaram por ela trezentas léguas, e que é uma bela França; o Xeque Ismael andava à caça, e pescaria de trutas que há aí muitas, e as mais formosas mulheres da Redondeza, e assim o aprova o grande Alexandre quando dizia por elas - que as Persianas eram dor dos olhos.

Exemplo - Iranian girls

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

A grande conjunção

Hoje, um pouco depois das 17:15 se olharmos para céu após o pôr do Sol, veremos uma estrelinha... que afinal são dois planetas, em conjunção, ou seja - Saturno e Júpiter.
Ao que consta, nunca estiveram tão juntos para a nossa visão, desde há séculos, alguns dizem desde há 800 anos, etc, etc, dizem que é a estrela de Natal, que é o princípio da Era de Aquário, etc, etc.
Mesmo que não seja uma fonte que recomende, a NASA dá um relato aceitável, ou então:


O que isto interessa? 

Não há nada de espectacular, aliás será melhor olhar nos dias seguintes, porque sempre se vêem os dois planetas próximos, mas separados. Mas dizer que não interessa nada, seria ignorar o efeito que isto tem na cabeça de certas pessoas, o que por sua vez, já fez rolar tantas outras. 

Portanto, não há de facto coisa nenhuma, por mais insignificante que seja, a que não se possa atribuir um significado transcendente, e por via disso, ganhar efectivamente uma importância transcendente.
Daqui poderia partir para uma análise histórico-sociológica muito profunda, ou seja, estéril...
Deixo isso ao trabalho da inutilidade.

O que está em cena, no teatro do nosso quotidiano, é uma peça do mesmo calibre.
Com o mesmo grau de credibilidade, poderíamos ter tido uma dramatização da "grande conjunção", como se de um fim do mundo se tratasse, até se reduzir a coisa nenhuma, como aconteceu em 2012.
Estamos a variar temas, e agora é um micro-vírus o causador do pânico, na entrada de 2021.

Sabíamos que havia malta hipocondríaca, mas agora temos quase a certeza de que foi educada uma população moderna de flores-de-estufa.
A dita comunidade intelectual, ou científica, é um completo barrete que não vale 5 tostões furados. 
Tal como os anteriores monges medievais, esta nova comunidade científica é uma corte de um poder religioso, que se disfarça como poder científico, mas que não são coisa nenhuma, excepto uma metamorfose de relações hierárquicas de poder, onde uns falam e os outros se calam. Sobre o que versa o assunto, pois isso não interessa.

Se um poder mundial quisesse averiguar da resistência da sua comunidade científica, atolando-a com balelas que cairiam no ridículo de gerações que hão-de vir, que não vão saber se se hão-de rir ou chorar com o que se passou, pois aqui está um bom teste. 
O melhor que poderia acontecer a essa comunidade de larilas, seria poderem dizer que foram vítimas de uma censura do politicamente correcto, e que a comunidade foi manobrada, orquestrada, para dizer o que a política queria ouvir.

O pior que pode acontecer será cair no ridículo de ter que admitir que nada disso se passou.
A maior descredibilidade da comunidade científica será admitir que dá pareceres num sentido ou no seu oposto, consoante quem pagar mais, consoante isso soar melhor à política, à hierarquia mandante.

É isto bom para a hierarquia?
Se a hierarquia quiser efectivamente saber o que se passa com o clima da Terra, pode contar com o quê?
Com juristas que lhe perguntam - quer um parecer num sentido ou no outro? 
- É que somos tão bons, que podemos argumentar nos dois sentidos.
Se a hierarquia quisesse saber como poderia contar com a comunidade científica, para detectar a presença de um vírus manipulado por terroristas instalados numa farmacêutica, o que poderia fazer?
- Agora já sabemos, não poderia fazer coisa nenhuma, desde que esse circuito terrorista controlasse os focos de comunicação.

No fundo o poder instalado é esse circuito terrorista, que nos vai mostrando - estão cheios de sorte, porque somos nós, se fossem outros piores, já estariam todos mortos e enterrados.

sábado, 12 de dezembro de 2020

dos Comentários (73) as cavernas

Em comentário, José Manuel Oliveira, fez notar uma datação de 12 mil anos para vestígios humanos perto de pinturas encontradas em rocha na Colômbia.

Em resposta, salientei a semelhança com as inscrições na Serra da Capivara (Brasil), que por sua vez se podem relacionar com as bolsas Ananuki, de Dogon, e dos Anedotos mesopotâmicos.


No entanto, a história, ainda que pretenda nos levar à imaginação do passado, é sempre lida no presente.
No presente, a interrogação que surge é inevitável...
Que raio de coisas se pretendiam representar ali?

Numa imagem que por acaso encontrei, de um amador, que desceu a uma gruta da Crimeia, penso poder ter encontrado uma resposta que pode justificar a associação do touro embolado ao fogo de St. Elmo.

Mas a questão sobre o que se passou há 12 mil anos, não parece muito importante no contexto actual.
Será?
O que levaria homens a meterem-se em cavernas?
Ou, antes disso, que clima teria a Crimeia, permitindo a habitação de homens nús?
Digamos que mesmo em tempo de "aquecimento global" (antes da Covid aparecer), a Crimeia não seria propriamente um daqueles sítios onde se queira passar uma noite ao relento, nú, mesmo no Verão.

No que diz respeito à pilosidade, a ausência dela determinaria, com algum grau de certeza, que a evolução do Homo Sapiens não se fez em clima frio, mas sim em clima tropical, mais concretamente, na zona da Indonésia - Papua - Nova Guiné. O que herdámos de pilosidade, vem muito mais do DNA de interacção com o Homem de Neandertal, de que resta no mínimo 4% nos povos da Eurásia.

Ora, o que poderá ter determinado um refúgio em cavernas, teria sido um perigo iminente em larga escala.
Não falamos de construir paliçadas, pequenos fortes contra ataques indígenas, como fizeram ingleses e franceses, aquando do início da colonização da América do Norte.
Repare-se a esse propósito a dramática diferença face à construção rápida de fortes sólidos de pedra, feita na colonização portuguesa, em locais muito mais complicados de defesa, face a potenciais perigosos exércitos inimigos, como no Extremo Oriente. 

Quando encontramos refúgios modernos em cavernas ou grutas, associam-se a situações de pequenos grupos isolados, pouco organizados, ou marginalizados. Contra bestas da natureza, seriam suficientes construções de madeira, suficientemente sólidas para impedir um ataque. Mesmo no caso de habitação em savanas, onde as populações podem ter visita de algumas feras inconvenientes, não há propriamente um hábito de refúgio em cavernas. Construções de madeira, devem ser admitidas desde o momento em que os homens tiveram capacidade de produzir vestes... e obviamente dessas não restou vestígio.

Pode admitir-se o uso de cavernas enquanto pontos de apoio para populações nómadas, em frequente deslocamento para acompanhar a movimentação das suas presas, mas não me parece a habitação normal para homens que dominassem uma larga região de caça, e estivessem de alguma forma sedentarizados nessa região.

O ponto dramático, é que desde as tribos índias da América, de África, da Papua-Nova Guiné, ou das diversas ilhas tropicais no Pacífico, o último registo que parece ainda haver de uma tribo que toma refúgio em grutas, é dos Meakambut - uma tribo da Papua - Nova Guiné

Amy Toensing - National Geographic - Imagem (C)

Uma das mensagens que essa tribo nómada deixou à expedição da National Geographic foi esta:
Quando se adoece, só acontece uma de duas coisas - ou se morre, ou se melhora.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

As sinas da vaca, as vaccinas

Em 1798 e poucos anos depois, Jenner transformou o mundo, a ponto de Napoleão ter libertado uns prisioneiros ingleses a pedido deste, por considerar que não podia recusar o pedido de um dos maiores benfeitores da humanidade. A grande descoberta de Jenner: a vacina contra a varíola.


Gillray, o grande caricaturista inglês, cujos desenhos já aqui usámos várias vezes, ilustrou em 1802 a problemática que a vacina trazia... o nome vacina vem de vaca, e temia-se que injecções de material vacuum produzisse excrescências bovinas nas pessoas. O pormenor delicioso da ilustração está num quadro com um bezerro de ouro a ser adorado, e deixa dúvidas sobre a opinião do próprio Gillray.

A descoberta de Jenner é repetida todos os anos por inúmeros adolescentes, em todo o mundo.
No meu caso não foi muito diferente...
No primeiro almoço fora com uns colegas, deitei abaixo uma garrafa de Gatão.

O vinho verde escorre bem, não parece causar grandes problemas, até que percebemos que estamos a entrar numa experiência física de egocentrismo, ou seja, a ver o mundo a girar em torno de nós próprios.

A partir desse momento, fiquei imune ao Gatão... primeiro porque durante uns anos nem podia ver vinho verde à frente, e especialmente porque a partir daí uma garrafa não era nada que causasse mossa.

Jenner sendo provavelmente abstémio, não se socorreu desse vasto conhecimento juvenil, e fez o caminho mais difícil, de perceber que as vacas tinham uma forma de varíola que era menos agressiva, e deixava as leiteiras praticamente imunes a uma incidência atroz de varíola. Decidiu usar uma cobaia, na altura podiam usar-se crianças, e constatou que a criança depois de exposta ao vírus fraco, desenvolvia resistência própria a formas mais agressivas.

Portanto, Jenner percebeu algo que o mundo da velha pedagogia estava farto de saber - para educar uma criança ou um soldado, é preciso primeiro aplicar uma dose de pedagogia antiga, de forma a que fique mais resistente para os confrontos seguintes, mais duros. A ideia modernaça de preparar um jovem sem reprimendas agressivas, torna-o numa flor de estufa, que murcha ao primeiro berro. É claro que o sistema preparou um dispositivo de psicólogos, para lidar com a frustração, etc, etc, já que tem todo o interesse em lidar com uma população de flores de estufa murchas... com o requinte de malvadez de conseguir que se culpem a si mesmos e aos seus familiares, de males que podem ter origem diversa.

Adiante...
O que Jenner descobriu é que o nosso corpo desenvolve por si mesmo defesas contra bicharocos invasores, e agradece se tiver a possibilidade de exercitar os seus soldados com tropas inimigas reduzidas, ao invés de apanhar de chapa com toda a força do exército invasor. Desde aí, a chamada imunologia, tem tido uma história de sucesso, erradicando diversas doenças, entre as quais a própria varíola.

Vacinas RNA ou mRNA
A situação é mais complicada quando as defesas do corpo humano ignoram o vírus, ou vão beber uns copos com ele e não acham nada de estranho no bicho. Surgiu assim a ideia de implementar pedagogia nas nossas defesas, através das novas vacinas RNA, que foram hoje aprovadas pela primeira vez, para vacinação massiva no Reino Unido.

Qual foi e é a ideia nas vacinas RNA?
Foi praticamente criar uns "amigos" fictícios à nossa volta, que nos alterassem o comportamento, de forma a encontrar quais nos conseguiam fazer perceber que uma garrafa de Gatão e uma garrafa de Coca-Cola, não eram a mesma coisa. Durante estes meses, as companhias de Biotech andaram a fazer "amigos" fictícios, até que alguns deles gerassem em nós uma resposta negativa ao Gatão.

Os Gatos
Isto pode ter Gato? Pode...
1) Primeiro porque taxas de sucesso de 95% são praticamente nada, face ao impacto que o virus tem agora na comunidade - que é praticamente nulo. Mortalidade acima da esperança média de vida, deveria ser considerada como mais uma das formas de "morte natural".
A principal causa de morte é estar vivo. Se considerarmos um problema que 99.99% da população não vai chegar aos 100 anos, então todos os alertas devem ser disparados, porque há aí bicharada que nem deixa 0.01% da população viva. Se considerarmos que todos os humanos devem viver até aos 150 anos, então estamos a falar num evento ao nível de destruição global da humanidade. Essas são as parangonas que nos são vendidas. Com efeito haveria um problema de saúde pública se o vírus atingisse de forma severa um grupo etário abaixo dos 75 anos. Não é o caso, mesmo acreditando em homens grávidos, e em números martelados para perturbar a sanidade mental da população. A principal mortalidade da Covid é o medo instalado pela Covid, e se houvesse ciência decente, feita por gente decente e minimamente competente, livre de pressões, chegariam todos à mesma conclusão.

2) Da mesma forma que se injectam "amigos" no mRNA para combater a Covid, pode ser injectado o que se bem entender. Mas isso também acontece sempre que nos dirigimos a um hospital, se tivermos que levar uma injecção, ninguém vai acusar o médico de lhe querer injectar cianeto.
O problema é que toda a falsificação/manipulação vai levar a uma desconfiança nunca antes vista, ou aliás só vista em tempo de revoluções genocidas.

3) Um dos perigos desta técnica é que causa efeitos secundários, ou seja, as experiências são conduzidas com uma série de cobaias, e vai-se medir o sucesso com essas cobaias. O facto de se admitir 5% de ineficiência, significa que nem para todas as pessoas o corpo reage da mesma maneira.
- É já sabido que pode causar auto-imunidade, ou seja, o corpo gera defesas contra si mesmo. É como se para evitar líquidos alcoólicos, o "amigo" tivesse instigado horror a líquidos, inclusive água, fazendo-nos morrer de sede.
- São ainda reportadas alergias, de diversos tipos, levando a problemas no fígado, devido ao encapsulamento lípido, ou seja o corpo pode ver o "amigo" como "inimigo".

4) A técnica está a ser desenvolvida em cima do joelho. Estão em jogo biliões de dólares, e não se espera que um bife fique intacto, quando o deixamos à frente de um cão cheio de fome, por muito bem treinado que esteja.

5) A esperança global é que os efeitos secundários apareçam o mais rápido possível... e essa é que é a grande diferença face à injecção de cianeto. Nunca houve um planeamento de injectar a população mundial inteira em pouco tempo. Se os carneiros não desconfiarem disso, pois então estão mesmo prontos para a ceia natalícia e pascal. Não se pense que isso se vai saber pela comunicação social, pelo Facebook ou pelo Twitter. As transmissões são controladas e manipuladas. Não haverá nada em directo. Os militares americanos começaram a perceber que tinham sido injectados com poderosos alucinogénos, muitos anos depois da Guerra do Vietname ter terminado.

Candura dos cabritinhos
A técnica de sobrevivência dos rebanhos, ou cardumes, é sempre a mesma, são quase todos tão iguais que fica difícil ao predador escolher por qual começa. Cada um tenta meter-se mais para o meio, na esperança que o predador se sacie com os manos, e não queira comer a manada toda. Porém, esse dispositivo fica difícil, quando se pretende injectar a população inteira em pouco tempo, com um dispositivo que pode só causar efeitos secundários conhecidos a meses de distância. Não a meses de distância dos efeitos, a meses de distância que as pessoas saibam o que está a acontecer.

Ah!... e tal, mas os médicos e a malta científica não iria deixar que isso acontecesse. Correcto, tal como os judeus nunca iriam trabalhar para os nazis, sabendo que estavam a ajudá-los a ganhar a guerra, certo?

Mostrar que a urna está vazia no início de uma eleição, não é uma desconfiança, é uma necessidade de todos os que não quiserem ficar enterrados num sistema viciado. Ninguém deve ser defensor da confiança nos outros, porque isso é inútil, apenas se junta cegamente ao grupo, não minorando em nada a legítima e necessária desconfiança dos restantes.

Apesar de isoladas, as vozes dissonantes não são sozinhas. Há muitas, e agradeço as que me têm feito chegar, como a deste jornal Off-Guardian, que se atreveu a escrever isto:

In this time of lockdowns, church and business restrictions and closures, immeasurable harms, pervasive losses, and debilitating fear in response to a virus with a survival rate of higher than 99 percent for most people, we have continued to hear the slogan, trust “the Science” or follow (or obey) “the Science” and “the Scientists.” Obey government controls and “the Science” a bit longer, and it will get better.

Dissenting voices finding courage to speak against your assailant

Neste artigo, começa-se por dar o exemplo de um médico universitário do Michigan, da equipa olímpica dos EUA, que a propósito de avaliar a condição atlética de centenas de raparigas ginastas, efectivamente violava-as, tendo sido condenado em 2018 a 175 anos de prisão. Talvez tenha exagerado, foram 156 testemunhos de raparigas, que foram acompanhadas pelos pais, confiantes que um especialista, médico da equipa olímpica dos EUA, só podia saber o que estava a fazer, e pronto... os cientistas é que sabem!
- Filha, aguenta-te nas canetas, que depois iremos chorar todos quando trouxeres a medalha!

A invasão dos especialistas é um produto recente, porque um especialista é hoje em dia uma espécie de asno completo. Com a proliferação de jovens que querem ganhar o Nobel, o mercado ficou invadido de malta com algum jeito para o ofício, mas totalmente incompetente para o perceber, ou sequer estar motivado para ele. Poderia estar a varrer lixo na rua, se isso levasse ao Nobel.

O uso dos especialistas é eficaz:
- olhe tenho aqui um problema no rim... sim, mas qual rim?... isso é importante? - claro que sim!... eu sou especialista no rim esquerdo, e vejo que se queixa do rim direito! Vou enviá-lo para o meu colega... 

ou então, em discussões:
- o que digo é que a decisão da multa não faz sentido, pois argumentaram que eu devia ter entregue o impresso 333 no dia 13, mas o impresso só estava disponível dois dias depois!... - mas o senhor é especialista em finanças? - não, sr. juiz!... - é especialista em leis? - também não.... então cale-se, e tem muita sorte em não o multar por desrespeito às instituições.

O especialista tornou-se assim num asno, que não precisa saber de coisa nenhuma, excepto dizer que é o único que percebe do assunto em causa.
À conta disso, as filhas podiam ser violadas, mas os pais ficavam descansados, porque eram violadas por um especialista... e os especialistas é que sabem!


sábado, 5 de dezembro de 2020

Questão das Malucas

A Questão das Malucas será uma espécie de actualização e resumo do problema da expansão portuguesa em torno do Tratado de Tordesilhas. O nome Malucas, não é nenhuma deturpação jocosa, é antes o uso da expressão original, do termo Maluco, e ainda hoje se usa Maluku

Sabem os portugueses, e mais ninguém, por que razão decidiram passar a palavra maluco como sinónimo de doido, ou cismado em coisa mirabolante. Não o faziam antes de D. Sebastião, nem a palavra é usada por outra língua. Para evitar problemas inventaram depois o termo Moluco.

Serve como introdução um texto de Armando Cortesão, de 1939, sobre a "Australásia e a Questão das Molucas".

Pedro Barreto de Resende, no livro "Estado da Índia Oriental" (1646) apresenta um esboço das Malucas.

A ilha principal era Ternate, com uma rivalidade permanente com Tidore.
Tratam-se de 5 ilhas minúsculas, com 10 Km de diâmetro, situadas a oeste da grande ilha hoje chamada North Maluku.
Pulo Cavale é hoje Mare, Moutel é hoje Moti, e Maquiem é hoje Makian.

 

Vista aérea de Ternate, com o vulcão Gamalama.
Forte de Santa Luzia (Forte Kalamata), com vista para Tidore.



Armando Cortesão, in Esparsos  (1939) "Australásia e a Questão das Molucas"

Armando Cortesão levanta a questão:

"(...) quando em 1494 foi assinado o tratado de Tordesilhas, D. João II sabia da existência e situação aproximada das Molucas e entrou com esse importantíssimo elemento na fixação da linha divisória 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde."

Mas Cortesão prefere remeter essa informação por registo de Pêro da Covilhã, que a partir da Índia teria assinalado em mapa que levava, a localização das ilhas. Mapa que segundo Cortesão, Pêro da Covilhã teria entregue a um judeu enviado pelo rei ao Cairo, onde se fez a passagem de testemunho, já Pêro da Covilhã acabou depois por ficar na Etiópia, onde foi encontrado pelos portugueses quase 35 anos depois.

Não percebo esta relação rebuscada.
O que impediria os portugueses de navegar todo o Índico, no tempo de D. João II?
- Nada!
A mudança do uso de caravelas (mais rápidas) para naus (maior carga), dá-se na transição de D. João II para D. Manuel, e a razão parece-me simples de explicar. As caravelas eram usadas para exploração e reconhecimento das costas, as naus para carga de mantimentos e comércio.

Assim, dando seguimento a esse convencimento de Cortesão de que D. João II sabia da existência e posição das Molucas, a explicação que será mais simples, e só mais difícil de estabelecer devido às palas que limitam o olhar, essa simples explicação é que a exploração de D. João II não parou com a viagem de Bartolomeu Dias em 1488, ao contornar o Cabo da Boa Esperança... ou seja, D. João II não ficou parado 7 anos, e não foram precisos 10 anos de espera para Gama entrar no Índico.

Se essa entrada no Índico seria perigosa devido às embarcações árabes, não se revelava como tal, se os portugueses usassem as suas rápidas caravelas, para evitarem qualquer contacto... seriam na prática uma espécie de OFNI's (objectos flutuantes não identificados) para os nativos. Isso permitir-lhes-ia fazer um quase total reconhecimento da costa, como depois efectuaram no reinado de D. Manuel, também num curto espaço de tempo, mas com uma grande diferença - aí partiam já para a conquista de posições, e com uma facilidade de construções de fortalezas assombrosa, que definiu num espaço de 20 anos o Índico como mar português.

Qual era a Questão das Molucas?
Uma coisa era Castela, outra coisa era Espanha.
Se Castela com Leão e a Galiza, era já uma irmã com 3 metros de altura, digamos que a união com Aragão, e a conquista de Granada, tornou a Espanha numa irmã com mais de 5 metros, em termos proporcionais. Ou seja, era pelo menos 3 vezes superior em recursos humanos.

A Espanha aparentemente não satisfeita com a metade que lhe dava a quase totalidade da América, sabendo das riquezas orientais, que D. Manuel exibiria, começava a cobiçar as Molucas, e toda a expedição de Fernão de Magalhães seria o início de uma querela sem fim no Extremo Oriente, que batia com o Extremo Ocidente espanhol.

O Tratado de Tordesilhas não era completamente claro que se estendesse para o anti-meridiano, e isso só foi certificado com as negociações do Tratado de Saragoça, que começaram em 1524, na fronteira Elvas-Badajoz, sem entendimento... e daí as explorações de Gomes de Sequeira, a este propósito.
Com o casamento de Carlos V com Isabel de Portugal, filha de D. Manuel, em 1526, Portugal pagou um dote suficientemente chorudo, que definiu a desistência espanhola sobre as ilhas Molucas, no Tratado de Saragoça, em 1529. Mas antes disso, os espanhóis ainda tentaram estabelecer-se em Tidore, rival de Ternate, o que serviu apenas para um ano de escaramuças.

O meridiano e o anti-meridiano ficavam finalmente concordados, e pela parte portuguesa, tudo o que dizia respeito a pretensões sobre territórios cortados pelo meridiano, foram arrumados na prateleira do tempo, para evitar guerras com a potência vizinha. É ainda natural que as Filipinas, a norte das Molucas, tivessem feito parte do dote de Isabel de Portugal, ou de presente de D. João III à irmã, pelo nascimento do sobrinho, Filipe II, que viria a ser rei de Portugal.

Que territórios eram cortados pelo Meridiano de Saragoça?

  • Japão 
  • Papua
  • Austrália
A decisão de oclusão do Japão, manteve-se até 1543, altura em que já é governador da Índia, Martim Afonso de Sousa, com quem seguiu S. Francisco Xavier. Havia uma vontade de missão jesuíta no Japão, e mesmo assim, o estabelecimento português no Japão deu-se pelo lado de Nagasáqui, e ficou especialmente circunscrito à parte ocidental, a província de Kyushu, que estaria no lado do meridiano português. 

Quanto à Papua-Nova Guiné, foi olimpicamente ignorada, aparecendo mal desenhada nos mapas, e as ilhas mais orientais... as chamadas ilhas de Sequeira, de Gomes de Sequeira, que depois passaram a ser as Carolinas (ficando com o nome de Carlos V), também foram razoavelmente deixadas a si mesmas.
A Espanha, que tanto queria uma presença no Oriente, acabou por contentar-se com a presença nas Filipinas, efectivada pela chegada de Magalhães (onde morreu), mas especialmente com o estabelecimento em Manila, já com Filipe II, em 1571. 
Apesar das Filipinas estarem completamente na parte portuguesa, mesmo pelo lado de D. Sebastião não é claro um suficiente empenho em reclamar o território, apesar de se registarem escaramuças.

No entanto, o território que terá o destino mais estranho será mesmo a Austrália.
Não estando suficientemente perto das rotas comerciais com a China, e não se lhe reconhecendo valor de exploração colonial imediato, creio que nas linhas escondidas do Tratado de Saragoça poderá ter estado um compromisso entre Portugal e Espanha, de não se degladiarem sobre o território, mantendo-o fora dos olhares europeus.

Aquando da união ibérica, Filipe II poderia ter reclamado toda a ilha Australiana para si, e talvez por isso os holandeses se apressassem a entrar pela parte portuguesa, sem nunca se atrever a disputar a parte espanhola. Essa presença holandesa também foi essencialmente simbólica, já que nem sequer tiveram empenho em apontar a presença de cangurus... um animal completamente novo e exótico. Fica mesmo em dúvida se chegaram ao ponto de estabelecer uma única colónia, ou se simplesmente registaram a linha de costa da ilha.

Com a derrota na Guerra dos Trinta Anos, parece mais ou menos claro que os territórios que não tinham sido declarados por portugueses e espanhóis, iriam aguardar em banho-maria, até que um novo marco decisivo fosse alcançado. Poderá dizer-se que esse marco decisivo foi a vitória na Guerra dos Sete Anos que deu à Inglaterra o estatuto de potência global, mas creio que não se podem desligar os prémios milionários dados a quem conseguisse fazer um cronómetro marítimo...
O cronómetro marítimo de Harrisson acabou por ser aquele que foi usado por James Cook, nas viagens de pompa para declarar as descobertas do Pacífico, desde a Austrália ao Havai e até à costa leste da América. A sua precisão, levou a mapas de grande precisão, com erros inferiores a 1º de longitude, e isso definiu um efectivo marco geográfico e científico.

Nessa altura, já pouco havia a fazer pelas potências ibéricas, completamente relegadas a um papel secundário, num mapa europeu, traçado em Londres, com um pólo em Paris e outro que iria ser criado em Berlim. Haveria apenas cuidar para que não tivessem mais hipótese de crescer, e para isso cuidou uma maçonaria florescente, que continua a minar pelo interior e bastidores, como também durante tantos séculos o fez a Igreja Católica.

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Austrália, Gomes de Sequeira, 1525

Na expedição de 1525, Gomes de Sequeira, terá pelo menos visitado a parte norte da Austrália.

Em 1855, ainda se usava o nome "Nova Holanda" para a Austrália, que ainda não tinha sido colonizada pelos ingleses. Nesse ano, David Gonçalves de Azevedo, escreve uma obra:

Epithome historico de Portugal

que é praticamente um exaustivo resumo de datas históricas, e pelo meio, como se não tratasse de nada polémico, lista o seguinte: 

  • 1525 - Neste ano foi descoberta pelos portugueses a grande terra que depois se chamou Nova Holanda.

Não dá referências, não faz nenhum comentário... diz apenas isto como se fosse a coisa mais natural do mundo. Passados 6 anos, Henry Major vai apresentar a teoria da descoberta da Austrália por Godinho de Erédia.


A data de 1525 é consistente com a data da exploração que foi dada a Gomes de Sequeira, e apesar de David Azevedo não o mencionar, certamente que se quer referir a essa exploração oficial.

Antecipando o que diz António Galvão, ele refere-se à expedição de Gomes de Sequeira em 1525:

Neste anno de 525, estando D. Jorge de Menezes capitão de Maluco, ele, e D. Garcia Henriques mandaram uma fusta descobrir contra o Norte, ia por capitão dela Diogo da Rocha, e piloto Gomes de Sequeira, que depois andou por piloto na carreira da India; em nove ou dez graus de altura, acharam umas ilhas juntas, andaram por entre elas: puseram-lhe nome as Ilhas de Gomes de Sequeira por ser o primeiro piloto que as descobriu, donde se tornaram à fortaleza, por derredor da Ilha da Batachina do Moro.

Objectivamente, Galvão não indicia a descoberta de nenhuma "grande terra" pela expedição de Sequeira, e se David Azevedo apenas tirou a conclusão por esta referência, seria uma conclusão precipitada, sem nenhuma base de sustentação. Parece-nos que, como o próprio David Azevedo diz, se baseava em "doutos historiadores":

O que ahi se vai ler nessas poucas páginas, já doutos historiadores com elegancia copiosamente escreveram, e sonorosas lyras divinamente cantaram. Não é assumpto novo, por que a historia não se inventa : narra-se com mais ou menos palavras ; e nós não fizemos mais do que recompilar dos authores de melhor nota, e expôr os factos pela sua ordem chronologica ; no que julgamos ter feito algum serviço, não às letras, mas sim aos nossos compatriotas, que tendo deixado o lar paterno em tenra idade, hoje lhes não sobeja tempo para ler os volumosos livros em que se acha escripta a nossa historia.

Quem foi o "douto historiador" que afirmou a descoberta da Austrália pelos portugueses?
- Pois, isso não encontramos, pois ele não lista as suas referências, talvez porque pensasse que eram factos bem estabelecidos, e que não iriam causar qualquer polémica.

Como é natural em cada época histórica, aquilo que parecem certezas inabaláveis, estão na iminência de serem colocadas em causa na época seguinte. Se ele nos dizia que "a história não se inventa", foi porque talvez teve a sorte de não se aperceber que a história pouco mais é do que uma estória.


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Fernão de Magalhães (4) Austrália

Em 1939, Gago Coutinho proferiu uma palestra, de que transcrevo aqui a parte sobre Magalhães:


Portugueses no Descobrimento da Austrália 

Muito tem sido escrito acerca do Descobrimento da Austrália, exactamente por causa do mistério que o envolve. Se aqui pretendesse, sequer, apontar tudo, teria que falar durante bastantes horas. 
Vou tentar resumir o essencial. 

A Descoberta tem sido, vagamente, atribuída aos Holandeses. Como se vê, não há neste caso - como há no da América - uma data ou nome consagrados. Cita-se um ano - 1606 ou 1607 - mas nunca se fala em acaso, o que revela a convicção de que, já antes daqueles anos, a existência ela Austrália era conhecida. Um português já lhe dera o nome de Índia Meridional e, outro português, o nome de Austrália del Espiritu Santo

A primeira referência a um Descobrimento anterior a 1606, foi pelo conhecido escritor inglês, H. Major, que, em 1816, encontrou no Museu Britânico um mapa manuscrito atribuindo o Descobrimento ao indo-português Manuel Godinho de Erédia, em 1601. Informações posteriores destruiram esta versão. 

Vários autores portugueses se têm ocupado dêste assunto, como Oliveira Martins, Dr. J. M. Rodrigues, Roma Machado, Comandante Quirino da Fonseca, e o Dr. Jaime Cortesão. Concordam em que Erédia não foi o Descobridor. Mas há fortes indicações de que a Austrália já antes dêle fôra visitada pelos Portugueses, no século de 1500, e que tanto as viagens holandesas, como a de Queiroz em 1606, foram apenas tentativas de reconhecimento intencional de uma terra que se sabia existir um pouco ao sul das Ilhas de Sunda, e onde se dizia haver minas de ouro. A existência dessa terra era bem, em 1600, um segrêdo de Polichinelo. Mas a sua ocupação não interessava, nem à Espanha nem a Portugal. Pouco interessou à Holanda, e só muito tarde veio a interessar à Inglaterra. 

No estudo, que vou ràpidamente apresentar, servir-me-ei, principalmente, de elementos colhidos na desenvolvida obra de George Collingridge, publicada em 1895, The Discovery of Australia

Para ilucidar a minha comunicação, organizei um mapa no qual, sôbre a carta correcta actual, com Java, Timor, Nova Guiné e Austráliá, decalquei os mapas antigos, nos quais a Austrália já era apresentada com mais ou menos aproximação. 


Nêste mapa- que custou cem horas de trabalho- não esqueci -nenhum português o deveria esquecer, ao contrário do que se fêz no mapa decorativo do Rossio- não esqueci, ia dizendo, marcar o meridiano que, em 1494, foi combinado em Tordesillas enfre os Reis de Portugal e Espanha, quando dividiram a Terra entre êles por «una raya o linea derecha de polo a polo» começando a «370 leguas de las yslas del Cabo Verde». 

Ficara assim reservada à Espanha uma metade da Terra, então quási completamente desconhecida, a qual começava ao Poente ele tôdas as Ilhas de Cabo Verde, e ia, no seu limite mais ocidental, cortar a Austrália segundo a linha vermelha grossa, que se vê no mapa. O cálculo ensina-nos que êste hemisfério está compreendido entre os meridianos opostos, de 47º 1/2 W. Gr. e 132° 1/2 E Gr. A raya , o linea ia pois dividir a Austrália em duas partes: como se vê, ainda antes da descoberta, já a Portugal lhe estavam lá reservados mais de três milhões de quilómetros quadrados. Para a Espanha ficaram cinco milhões. 

Um português, Magalhãis, a ia descobrindo. Outros portugueses lá estiveram também. Outro lá tentou ir, ao serviço do Rei de Espanha, e lhe deu um nome derivado da Áustria. Como se verá foi esta a nossa contribuição para o Descobrimento. Quando a Inglaterra a ocupou, ainda lhe não tinha sido encontrada utilidade pará colónia. A Terra ainda era grande ...

MAGALHÃIS
Ao princípio a Espanha contentou-se em, no seu hemisfério, e explorar apenas uma parte daquela terra da América que lhe estava reservada. Só depois de os Portugueses, em 1511, começarem a freqüentar o mar das Molucas, é que a Espanha pensou em lá ir também, mas por Oeste. 

Como se sabe, Colombo e os outros navegadores, não tinham encontrado passagem pelo Golfo elo México, para o Oriente, pelo novo Oceano que, em 1513, Valbôa [Balboa] descobriu, e que se julgava ficar em grande parte, senão no todo, no hemisfério espanhol. Então a Espanha aceitou de bom grado a proposta de um navegador português - que a seqüência ia provar ser o mais arrojado do Mundo - para ir reconhecer as terras do Oceano Espanhol. Assim, em 1518, partia de Sevilha uma esquadra de cinco navios da qual era capitão-mór Fernão de Magalhãis - destinada a descobrir o que haveria de útil para a Espanha no seu hemisfério, ainda desconhecido, possivelmente nas Molucas. Ia assim ser realizado aquêle sonho que, nas suas quatro viagens, animara Colombo. 

As instruções do Rei encarregavam Magalhãis de «descubrir dentro de nuestros limites e clemarcacion» «en los domínios que nos pertenecen e son nuestros en el mar Oceano» «islas y tierras firmes é ricas especerias», «con otras cosas». Assim resava a Capitulacion. Para compensar o cumprimento desta missão, eram concedidas a Magalhãis certas vantagens nas novas terras, com o título de governador; e, das ilhas que êle descobrisse, «si pasare de seis», poderia escolher duas onde teria «la quincena parte de todo el provecho» que o Rei delas tirasse.

Bem vasto, de mais dum têrço da superfície terrestre, era o campo assim aberto à iniciativa do enérgico Magalhãis. Não se enganaria quem imaginasse que nêsse campo haveria extensas terras: lá existia uma grande Ilha - a maior do Mundo! - talvez, então, ainda ignorada daquêles mariantes a quem nada escapara no Oceano Atlântico- os Portugueses. Era a futura Austrália! E lá estavam também outras ilhas grandes, além das futuras Filipinas, a Nova-Guiné e a Nova-Zelandia. Magalhãis poderia, pois, escolher duas ilhas bem ricas para a sua quincena...

A maior dificuldade que Magalhãis teria de vencer, não estava, porém, no descobrimento da Nova Guiné ou da Austrália. Estava em dobrar a parte sul da América, a-fim-de passar para o novo Oceano. Esta dificuldade só Magalhãis conseguiu superá-la quando, depois de lutar contra o clima e contra a oposição elos homens pois tivera de mandar dar morte aos três capitãis espanhóis da esquadra- quando, dizia eu, em 28 de Novembro de 1520, navegando pelo canal que separa o Sul da América da ilha do Fogo, entrou no Oceano Pacífico, já só comandando três navios: dos cinco, um naufragara e o outro, o maior, desertara para Espanha com os mantimentos! 

É sabido que, logo de entrada, foi descoberta a costa do Chile. Depois, perseguido pela maior infelicidade, mas confiado em encontrar portos para abastecimento, Magalhãis navegara para Oeste explorando a demarcacion espanhola. Havia terras, mas não lhe apareciam. Assim passaram fome e muitos morreram de escorbuto. Com a má sorte que o perseguia, Magalhãis falhou aquelas ilhas do Pacífico, de tantas facilidades, o arquipélago de Tahiti. A carência de recursos, levou-o a desviar-se para o Norte do Equador, talvez evitando a terra dos Papúas. Assim, falhou também a Austrália, indo descobrir, bastante ao Norte das Malucas, um arquipélago a que depois deram o nome de Filipinas. O longo caminho navegado fê-lo crêr ter já cortado o ramo da raya, oposto ao do Atlântico, e de facto o passou, por uma centena de léguas. 

Ali, estupidamente, em um recontro com indígenas, mal apoiado pelos seus companheiros, Magalhãis foi zagaiado e morto. Mas a principal dificuldade - abrir caminho para o Oriente pelo Ocidente - já estava vencida. Através do mar espanhol fôra descoberto caminho para as numerosas terras de Espanha que lá havia. O pior era que, depois da sua morte, não ficara na esquadra um homem capaz de substituir aquêle génio do Mar! 

Nada nos indica que Magalhãis se viesse a contentar com a missão mesquinha, que seria só a descoberta de um caminho ocidental para as Molucas; como nada prova que êle pretendesse dar a volta ao Mundo, estabelecendo um record, como hoje se diz. Tão pouco contra certa alusão antiga - Magalhãis na sua travessia do Pacífico passou à vista da costa da Austrália. Mas lá iria se vivesse! Porque, das Filipinas, êle cortaria para Maluco, onde esperava encontrar o seu antigo amigo, Francisco Serrão; êste lhe confirmaria a idéia de que as ilhas de Gilolo e Papúas lhe barravam o caminho directo para Oeste. Convenientemente abastecido naquelas terras de recursos, Magalhãis continuaria a sua viagem de exploração da «demarcacion» espanhola. Êle bem sabia voltar às colónias da América realizando a viagem que o seu antigo navio - a Trinidad - apenas iniciou.

Na viagem de volta, é evidente que em nada o interessava a circumnavegação da terra. A prova académica da sua esferecidade ficaria realizada, logo que nas Malucas se encontrassem portugueses, idos de leste e de oeste. 

Êle não voltaria pois a Sevilha indo pelo Cabo da Boa-Esperança, como fêz o seu sucessor Sebastião Delcano. O encontro com navios portugueses não lhe seria agradável. E, o que interessava, era descobrir mais terras do Rei de Espanha.

Nesta orientação, tão natural, Magalhãis, à volta para leste, tomaria caminho diferente do da ida. Decerto, então, conhecedor já dos ventos de Leste-os alíseos-que, no Pacífico, como no Atlântico, sopram nas latitudes tropicais, tendo-o levado às Filipinas, natural era que, tendo já conhecido o mar ao Norte das Malucas, Magalhãis fôsse ao sul procurar latitudes altas, onde, desde Bartolomeu Dias e Cabral, os Portugueses sabiam que lá dominavam os ventos gerais de Oeste. 

Nêsse caminho - informado ou não da existência da Ilha do 01wo- Magalhãis iria fatalmente encontrar a Austrália, entre 10 e 15 graus de latitude. 

A costa, correndo para Oeste, passava além do meridiano das Molucas, ficando portanto fora da «demarcacion». Mas Magalhãis, que acabava de descobrir uma terra nova- a futura Austrália não a ia decerto abandonar. Além disso, a navegação para Leste era a que lhe convinha para voltar à América. Assim iria passar um estreito bem mais fácil que o da Terra do Fogo, que é aquêle que fica junto do Cabo York e que, em 1770, descobriu Cook. 

Depois a costa corria ao sueste, e continuava dentro da jurisdição de Espanha. Abria-lhe também o caminho para as latitudes altas, onde, como disse, Magalhãis sabia que encontrava ventos favoráveis para a sua volta à América. Tal navegação levá-lo-ia ao cabo que forma a ponta sueste da Austrália. No seu caminho para a América, por cêrca de 40 graus de latitude sul, deparar-se-lhe-iam ainda mais duas grandes ilhas, as da Nova-Zelandia actual. 

Só a morte impediu que a viagem de Magalhãis tivesse tido para a Espanha o sucesso desta opulenta aquisição de novas terras que, nem os Portugueses nem ninguém, então lhe disputava. Eis o que custou à Espanha a morte inglória do insubstituível capitão-mór: a sua obra - que não seria, repito, apenas a circumnavegação - não a souberam continuar os chefes que lhe sucederam. Não! Se Magalhãis não tivesse desaparecido, a Austrália, que ficava no caminho natural de volta, imposto pelos ventos gerais, não teria escapado, no primeiro quartel do século xvi, àquêle tão tenaz navegador português!