Acordar tem origem latina, de raiz no "cor" de coração, tal como concordar, discordar, recordar...
Quando "Acordar!" é ouvido numa caserna, os soldados saem dos seus sonhos unipessoais e são convocados para um Acordo... o acordo com a realidade comum.
Uns podem discordar, outros concordar, mas do sonho anterior só lhes restará o recordar.
Estas particularidades linguísticas são heranças que passam desapercebidas no nosso uso comum da língua, apesar de estarem ali, óbvias, prontas a serem compreendidas.
A relação com o "cor" de coração já é menos óbvia, e poderíamos ser levados numa "corda" que perdeu o "h" na transliteração de "chorda".
Isto a propósito de uma particularidade interessante na palavra "Quinas".
A transliteração do K tornou semelhante as formas:
Chinas, Quinas, Cinas ou Sinas.
No caso da China isso é ainda notório pela sua declinação latina enquanto "Sínica".
Porém, devido a essa simples alteração, ganha um significado substancialmente diferente falar em
Cinco Quinas / Cinco Chinas / Cinco Sinas
As cinco quinas fizeram parte da identidade nacional, variando apenas o número de bezantes, que acabou por se fixar também em cinco, com D. João II. Falamos da altura em que o nome Índias serviu tanto para territórios a ocidente, quanto a oriente. Aliás, a designação "índios" serviu praticamente para a maioria dos novos povos. Não seria de estranhar talvez uma designação de "Cinco Índias", para ilustrar a diversidade geográfica, mas os índios americanos estavam claramente mais próximos de uma ancestralidade chinesa.
Convém ainda notar que era "Seres" o nome que era usado pelos romanos para os chineses, e que à época dos descobrimentos, o nome mais comum era "Cathay" (a confusão entre Cathay e China manteve-se até à viagem de Bento de Goes). António Galvão faz ainda a referência da mudança de nome de "Taybencos" para "Chins", como sendo coisa recente em meados do Séc. XVI.
Convém ainda notar que era "Seres" o nome que era usado pelos romanos para os chineses, e que à época dos descobrimentos, o nome mais comum era "Cathay" (a confusão entre Cathay e China manteve-se até à viagem de Bento de Goes). António Galvão faz ainda a referência da mudança de nome de "Taybencos" para "Chins", como sendo coisa recente em meados do Séc. XVI.
A palavra "quina" está ainda ligada a cantos, ou melhor a "esquinas", como quando se refere o Castelo das Cinco Quinas, devido ao formato da torre do Castelo do Sabugal, de que já falámos.
O nome Torre Quinária, referindo-se aos cinco cantos da Torre de Hércules do Castelo de Coimbra, dá ainda uma junção da raiz de "Quinto" com "Quina", dispensando quase a menção de serem cinco, as quinas, ou esquinas. Também já falámos muito desta torre destruída pelo Marquês de Pombal, acrescentamos apenas que se achou por bem destruir o que restava - o chão, no decurso da demolição do Observatório, por volta de 1950:
para demolir a Torre Quinária de Coimbra, dita de Hércules.
O parecer "erudito" no sentido da completa destruição é, digamos, bastante "traquinas".
Acrescento um documento interessante publicado em 1799, dirigido a D. João VI, sobre uma disciplina denominada "Quinografia Portugueza", de José Mariano Veloso, que se debruçava sobre as 22 espécies de "quinas", plantas que se encontravam no Brasil, e das quais se extraía o quinino... substância eficaz contra as febres, especialmente da malária.
Quina ou Cinchona, de onde se extrai o quinino
É um pouco mais complicado estabelecer se há alguma relação etimológica para o nome da planta, mas se o cravo foi especiaria procurada, a quina resolveu o problema da malária nas navegações.
Quando ainda se discute o Acordo ortográfico, é talvez conveniente não desprezar o legado linguístico, e acordar acordado.