sábado, 26 de setembro de 2020

Navegações atlânticas medievais (4)

Uma referência notável, que nos chega da Antiguidade, é Solino (Gaius Julius Solinus), romano que viveu no Séc. III, e que no seu livro "De mirabilibus mundi" (ou "Polistória") faz estas considerações (tradução em inglês de Arwen Apps, em 2011), acerca das Hespérides:

§ 56.10  The Atlantic Sea having been investigated all the way to the West, Juba also pays heed to the Gorgon Islands. The Gorgon Islands, as we understand, are opposite the promontory which we call Hesperu ceras. Gorgon monsters inhabit them, and truly this monstrous clan lives there still. Finally, Xenophon of Lampsacus asserts that Hanno, the Punic general, passed through these islands. Women were found swift as birds; out of all those they saw, two were captured, so hairy and rough of body that Hanno, for remembrance of the occurrence, hung up their two skins in the temple of Juno, where they remained until the time of the destruction of Carthage.

Above the Gorgons are the Islands of the Hesperides, which are, as Sebosus affirms, withdrawn 40 days' sail into the inmost gulf of the sea.

We accept that the Fortunate Islands lie, without doubt, over against the left side of Mauretania; Juba says they are situated under the South, but next to the West. I do not wonder that something great should be anticipated on account of the name, but the truth is not equal to the fame of the appellation. On the first island, which is called Embrion, there are no buildings, nor has there been. Reeds there grow to the size of trees. Black ones of these, when squeezed give forth the most bitter liquid; white ones spew out water suitable for drinking. They say that there is another island called Iunonia, on which there is a little temple, with a low pointed roof. The third is close by, and has the same name; all of it is bare. The fourth is called Capraria, and is crowded beyond all measure with huge lizards. Nivaria follows. It has thick, cloudy air; therefore, it is always snowy. Then there is Canaria, replete with dogs of most distinguished form. Two of these were even presented to King Juba. On this island, traces of buildings remain. There are great numbers of birds here, fruit-bearing forests, palm-groves bearing caryotae, many pine-nuts, plentiful honey, and rivers abundant in silura fish. It is also held that the wavy sea spits out sea monsters on to the shores of this island. When the monsters are decomposing into putrefaction, everything there is imbued with a foul reek: for this reason, the nature of the islands does not wholly agree with their nomination.

Sublinhámos aqui a referência de Solino, que afirma que as ilhas Hespérides estavam a 40 dias de vela, indo na direcção do golfo do mar (oceano Atlântico), partindo das Gorgónas, que seriam as ilhas de Cabo Verde. 

De facto, a Colombo bastaram apenas 5 semanas de navegação (36 dias), partindo das Canárias (Gomera) a 6 de Setembro e chegando às Bahamas a 11 de Outubro de 1492. Aliás, demorou quase tanto tempo a chegar de Espanha às Canárias (um mês), quanto daí até às Bahamas. 

Portanto, a estimativa que Solino atribui a Seboso (Statius Sebosus) era correcta, e conhecida dos leitores destes livros da Antiguidade.

Fernão Dulmo e João Afonso do Estreito
Surge este assunto por referência de Thomaz Marcondes de Souza à viagem de Fernão do Dulmo e João Afonso do Estreito, no Capítulo IV do seu livro "Descoberta do Brasil", que ele descarta como tendo conseguido atingir a América. 

Apesar de mencionar Solino, Thomaz de Souza considera que o romano se referia a uma direcção para Leste, visando o golfo da Guiné... e isto é suficientemente absurdo, porque Hespérides eram sinónimo de Ocidente, de Oeste, e não de Leste. Uma parte dos argumentos de Souza, contra viagens portuguesas à América, antes de Cabral, estavam expostas antes no livro:

No entanto, nesse mesmo livro de Morison é referido o livro do filho de Colombo, que diz que o pai ficou preocupado com a carta de concessão de D. João II a Fernão Dulmo, porque aí se referiam 40 dias, os mesmos 40 dias que estavam no livro de Solino. Assim, logo no mês seguinte apresentou o seu plano à corte dos reis católicos, em Espanha.

O trecho da concessão de D. João II está citado por Souza, e citamos o início:

Dom Joham, etc. A quamtos esta nossa carta virem fazemos saber que vimos huum estormento, contrauto e doaçam, feito amtre Fernam Dulmo e Joham Afomso do Estreito, morador na ylha da Madeyra, do qual ho theor de verbo a verbo tal he, como se ao diamte, se adiante (sic) segue. Em nome de Deus amem. Saibam os que este estormento de comtrauto virem, que no anno do naçimento de nosso Senhor Jesu Christo de mil iiijc bj (1486) annos, doze dias de Julho, na cidade de Lixboa, no paço dos taballiaens, pareçeo hy Fernam Dulmo, cavalleiro da casa dei Rey nosso senhor, e capitam na ylha Terçeira, que ora vay por capitam a descobrir a ilha das Sete Cidades per mandado del Rey nosso senhor; e outrosy pareçeo Joham Afomso do Estreito, morador da ylha da Madeira, na parte do Fumchal. (...)

E, no dia que ambos partirem da dita ylha Terçeira, o dito Fernam Dulmo fara seu caminho per homde lhe aprouver atee corenta dias primeiros seguimtes, e o dito Joham Afomso seguira com a dita carabella, de que asy for capitam, a rota e caminho que o dito Fernam Dulmo fezer e seguirá seu forol, segumdo o regimento que lhe o dito Fernam Dulmo deer per escripto; e, tamto que pasarem os ditos corenta dias, o dito Fernam Dulmo nam levara mais forol, nem mandara fazer caminho pera nenhuma parte, mas amtes seguira e fara seu caminho e rrota per homde ho dito. Joham Afomso requerer, sem outra contradiçam alguua, com sua caravella e companha, e seguirá o forol do dito Joham Afomso, e comprira em todo seu regimento como de capitam primçipal atee elle Joham Afomso tornar pera Portugal", etc., etc 

A designação do território era a lendária Ilha das Sete Cidades, ou seja, claramente uma referência a uma viagem destinada a Ocidente, conforme a lenda que vinha do Séc. VIII, ou ainda antes.

Lagoa das Sete Cidades - uma referência açoriana à lenda.

A menção aos 40 (corenta) dias, tal como Colombo supôs, fazia entender a referência a Solino, e devemos ter em conta que o território seria até já achado, conforme diz o texto pelo meio:

(...) fazemos saber que Fernam Dulmo, cavalleiro e capitam na ylha Terçeira por o duque Dom Manuel, meu muito preçado e amado primo, veo ora a nós, e nos disse como ele nos queria dar achada huma gramde ylha ou ylhas ou terra firme per costa, que se presume seer a ylha das Sete Cidades, e esto todo aa sua propia custa e despesa, e que nos pedia que lhe fezesemos merçee e real doaçam _da dita ylha ou ylhas ou terra firme, que elle asy descobrise ou achase ou outrem per seu mamdado, e asy lhe fezessemos merçee de toda a justiça (...)

O que estava em causa, na carta de doação, é que o rei lhe concedia o território. Esta carta de doação tinha já sido analisada por outros, e Souza refere-os: "Faustino da Fonseca, Joaquim Bensaúde e mais alguns historiadores portugueses, são de opinião que Dulmo e Estreito não iam apenas tentar descobrir ilhas no então Mar Oceano, mas sim tomar posse de terra firme, de uma região continental ao ocidente dos Açores, isto é, de um trecho do litoral americano.

Com efeito, não há apenas um plano de navegação, Dulmo deu por achada uma "grande ilha", que poderia ser "terra firme", e que ele presumia ser a das Sete Cidades... e basicamente a nova exploração que Dulmo pretendia fazer com João Afonso do Estreito, teria que ver com essa confirmação.

Joaquim Bensaúde diz que o plano de Dulmo e Estreito era o mesmo que depois Colombo seguiu, simplesmente não pensavam chegar à Índia, conforme alucinara Colombo. Faz-se ainda referência a que Martin Behaim poderia ser o promotor do plano português. 

Thomaz contesta, e citando um italiano, vai ao ponto de dizer que os açorianos não tinham capacidade de navegar além das ilhotas circundantes aos Açores:

Carlo Errera, erudito historiador italiano inumeras vezes citado na "Historia da Colonização Portuguesa do Brasil", portanto acima de qualquer suspeita, diz que os navegantes portugueses que partiram dos Açores em viagem de descobertas, não se afastaram muito, mas apenas tentaram o encontro de ilhas imaginarias ou de ilhotas pertencentes ao arquipelago em que viviam, jamais visando uma rota continua em direção ao poente com o escopo de desvendar o grande enigma do então Mar Tenebroso, à semelhança do que propusera e fizera Colombo.

Presume-se aqui que este italiano acreditaria num teletransporte de Portugal para os Açores... porque se trata da mesma distância dos Açores à Terra Nova. 

É apenas óbvio que os italianos defendiam Colombo como primeiro descobridor da América, e contavam para isso com o apoio dos muitos emigrantes italianos, radicados na América, no Brasil, e especialmente, com a forte vontade maçónica de nunca reconhecer outra história que não a oficial, que em grande parte tinham ditado, reabilitando o nome de Colombo, que andava pelas ruas da amargura, antes do Séc. XVIII... porque afinal de contas, convém não esquecer que a América não era a Índia.

O regime do Estado Novo, estava ainda no seu apogeu, mas depois disso, após a entrada na CEE, nem portugueses haveria com vontade de defender a prioridade das descobertas portuguesas, mesmo que os documentos apontassem nesse sentido... e pior que isso, mesmo que o bom senso levasse a essa conclusão.

domingo, 20 de setembro de 2020

Xadrez e Pedro Damião

Em texto anterior referimos que Gaspar Resende fez nota de que D. João II gostava de jogar xadrez. Aliás, fazia isso quando tinha dificuldade em dormir, devido à doença (ou envenenamento) que o levou à morte.
A tradição portuguesa no xadrez é pequeníssima, e teve algum eco nessa altura, quando as regras do xadrez, conforme as conhecemos hoje, estavam a ser estabelecidas definitivamente. Talvez saindo desse gosto do rei pelo xadrez, acabou por aparecer em Roma, o nome nacional mais conhecido, Pedro Damião (1480-1544).

A prática de variantes anteriores do xadrez, remete aos árabes (ou a muito antes), aparecendo assim naturalmente na Península Ibérica. Está ilustrada no livro dos jogos (1283) de Alfonso X, onde se vêem templários disputando uma partida:

Foi encontrado um manuscrito impresso do jogador espanhol Luis Ramirez de Lucena, mas o primeiro livro de xadrez impresso e publicado à época, deve-se ao xadrezista Pedro Damião, alentejano, natural de Odemira, que era também boticário, ou farmacêutico. 
Conhecem-se versões escritas em italiano e espanhol, foi publicada em 1512, e teve 8 edições. 

Questo libro e da imparare giocare a scachi et de le partite


É referido que Pedro Damião seria judeu, e que se tinha refugiado em Roma, depois das perseguições em Portugal pela inquisição. Não sei se isso tem correspondente documental, porque à época de D. Manuel a inquisição não estava estabelecida, mas diversas vezes se pretende uma ligação judaica, apenas porque exercia uma profissão associada, ou porque tiveram problemas com a inquisição.

Pedro Damião, é considerado por muitos como tendo sido o melhor jogador da sua época, embora tal seja difícil de atestar, pois não haviam torneios internacionais...  É certo que terá causado grande sensação em Roma, dada a publicação do livro. A análise de jogadas que fez continuam a ter a mesma pertinência, passados 500 anos, e se não estamos a falar da complexidade do jogo moderno, estamos a falar de uma complexidade que não está ao alcance de qualquer principiante.
No site chess.com aparece como "unofficial world champion" e estão dados exemplos de problemas interessantes, e da primeira partida registada, jogada por Pedro Damião em 1497 (um exemplo em que o oponente desiste por cheque simultâneo do cavalo ao rei e à rainha, perdendo assim a rainha) em Roma.

O livro tem uma tradução do Séc. XIX, em francês, 
onde na introdução é dito
«Les six courts chapitres sur les débuts sont dignes du plus grand éloge, quoique selon toute probabilité ils ne soient pas entièrement originaux. (...) Pendant longtemps le traité de Damiano fut considéré comme le meilleur que l'on connût sur les Échecs. (...) On ne saurait surpasser le talent qu'on remarque dans le plus grand nombre des fins de partie de Damiano. »

É natural colocar em questão alguns itens de originalidade, até porque alguém terá ensinado Pedro Damião, provavelmente alguém, templário ou não, que jogou com o rei D. João II. Sendo o xadrez um assunto antigo, com especial desenvolvimento em Castela e Granada, não será também de admirar que muito desse conhecimento viesse daí.

Interessante é ainda que outro grande fã de xadrez tenha sido D. Sebastião. 
Por exemplo, no livro de J. H. Sarratt, "A treatise on the game of chess" (1822) refere-se isso, e em particular, D. Sebastião, tal como Filipe II de Espanha, acolheram os melhores jogadores à época. 
O nome mais conhecido em Espanha era Ruy Lopez, e na corte portuguesa jogava "O Mouro", até à data tido como invencível, e intratável na arrogância. 
Quer Ruy Lopez, quer O Mouro, foram derrotados por dois italianos, Paolo Boi e G. Leonardo. 
Quando Leonardo derrotou O Mouro em Lisboa, conta-se que a corte ficou satisfeita por terminar a sua arrogância... diz-se ainda que Leonardo durante uns meses jogou com D. Sebastião, sempre com um joelho no chão. Num encontro que demorou mais que três horas, o rei vendo o desconforto de Leonardo, deu-lhe a mão... para que ele se apoiasse nos dois joelhos, em posição de reza!

Essa apetência de D. Sebastião pelo xadrez, não lhe trouxe vantagens na batalha que o vitimou.
De facto, o xadrez, passando o nível de principiante, pode ser extremamente interessante e até viciante (há pessoas que não fazem outra coisa durante o dia). 

O actual campeão, o sueco Magnus Carlson, começou cedo e aos 13 anos conseguiu mesmo embaraçar Kasparov, campeão na altura, forçando um empate, e tendo hipóteses de ganhar.
Como será fácil de perceber, o xadrez implica um raciocínio rápido, e uma memória impressionante, já que as aberturas estão praticamente todas analisadas, durante vários lances. Mas passado isso, entra-se depois num certo processo mecânico, até que se torna isso mesmo... mecânico.
Actualmente já está fora de causa tentar competir com máquinas, Kasparov ainda tentou em 1996, contra o Deep Blue. Nos dias que correm, são as máquinas que jogam umas contra as outras, em partidas de alto nível... que escapam à análise convencional. Os nomes mais conhecidos são Stockfish (o campeão), Leela Chess Zero (ou AlphaZero). 

O Stockfish usa ainda conhecimento humano de análise de aberturas, os "Zero" usam a chamada "inteligência artificial", que de "inteligência" só tem o nome, mas é "Zero" porque não usa o conhecimento humano de aberturas. É um "simples" algoritmo que exclui situações que levam à derrota, armazenando essa informação. 
Há bastantes fãs destes novos "Zero" baseados em "inteligência artificial", contra o Stockfish, que ainda vai sendo o campeão... conforme se pode ver nesta análise (ou nesta) de uma partida, ou melhor, tentativa de análise, porque os computadores já atingiram um nível diferente, passaram há muito a pontuação 3400, enquanto Magnus Carlson ainda não atingiu 2900 ELO. 

Interessa entender que nada disto se relaciona com inteligência, é apenas domínio de uma mecânica, que pode ou não ser feito de forma mais inteligente, pela programação envolvida.
Todos os jogos, com todas as combinações possíveis, estão feitos. Simplesmente não os conhecemos.
Não há nada a descobrir, há apenas um redescobrir, se houver interesse e prazer nisso.
As partidas são interessantes, independentemente de quem joga, e nada têm a ver com quem joga.
O contexto da partida, isso é uma questão completamente diferente, e pode ou não haver inteligência.

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Nota adicional: (24.09.2020)
(1) Um dos propósitos do texto, que acabei por me esquecer de adicionar... era o de fazer notar que um principal interesse do xadrez, ou de qualquer jogo, é a ignorância, é desconhecermos o desfecho quando iniciamos uma partida. Assim, ao contrário do que possa parecer, o interesse do xadrez não resulta de excepcional competência, mas reside principalmente na incompetência subjacente. Se ambos os jogadores moverem as peças de forma perfeita, onde fica a surpresa? Onde fica o propósito de jogar? 
O vencedor, ao invés de arrogar superioridade sobre o adversário, o que deve fazer é agradecer sinceramente aos adversários, por terem ainda cometido erros piores, que lhe permitiram o ilusivo prazer da vitória.
Apesar de se estimar que o número de possibilidades no xadrez seja muito superior ao número de átomos no universo observável, essas possibilidades não deixam de existir por falta de átomos. Ainda com mais combinações e possibilidades do que o xadrez, temos o Go, um jogo chinês cujo primeiro registo é de 548 a.C., mas diga-se que apesar de ter apenas uma única qualidade de peças, o tabuleiro é bastante maior. 
(2) Em comentários anexos com Valdemar Silva, foram ainda referidos outros jogos de tradição africana, nomeadamente o Mancala, Kalah, ou Choko, e ainda um jogo alentejano o "jogo das pedras que jogam", que é associado a um jogo romano, o "jogo do soldado", ou Ludus latrunculorum, que encontra vestígios, por exemplo no pavimento da entrada na Igreja da Nossa Senhora da Graça em Évora:

(3) Em informação suplementar (25.09.2020), Valdemar Silva, apontou a obra "Pedras que Jogam - Jogos de tabuleiro de outras épocas" (2004), publicada pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que tem um extensivo conteúdo e excelente aspecto gráfico, reportando os diversos vestígios de jogos marcados em muitas pedras ao longo do país, e que estão resumidos nas figuras seguintes (clicar p/ aumentar):

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Protocolos serpentinos (4)

Acerca do quarto protocolo, deixo um link para um texto de Simon Harris, numa espécie de blog chamado European Freedom (notando que o vosso navegador dará provavelmente um aviso de perigo, o que acontecerá sempre que forem para sítios não controlados pelo status quo, sendo certo que a vossa entrada poderá ser monitorizada, da mesma forma que é monitorizada pelos dos status quo, enfim, façam o que melhor entenderem... eu entrei.

Esse texto não tem nada de especial, mas lembrou-me de uma coisa que já tinha lido, e que não é de espantar... já houve muitas tentativas de judeus se proclamarem como Messias. A wikipedia tem uma grande lista. Mas esse texto foca dois:


Sabbatai Zevi e  Jacob Frank (judeus que se proclamaram Messias)

É o caso de Sabbatai Zevi que mais interessa, até porque Jacob Frank se assumiu como reencarnação dele. Sabbatai era um sefardita nascido em Esmirna (Turquia) que, com a chegada de 1666, e como "666" era um número cabalista (normalmente ligado pelos católicos ao Diabo), Sabbatai decidiu autoproclamar-se Messias. 

Convém aqui lembrar que 1999 também era supostamente um ano marcante, na transição para 2000, e certamente que daqui a uma década iremos assistir a um fenómeno do tipo 2012, já que passarão 2 mil anos sobre a morte de Jesus, por isso preparem-se para 2030-33. Talvez pior seja 3033, mas deixemos isso para quem estiver vivo na altura... e sim, haverá malta viva nessa altura. Aposto aqui!...

Bom, Sabbatai foi para Constantinopla em 1666, e o sultão otomano tendo ouvido dizer que Sabbatai se preparava para lhe retirar a coroa, fez com que fosse preso. Então a Sabbatai foi dada a escolha de ser mais um Messias morto, ou um Messias convertido ao islamismo. Como Sabbatai sabia que Jesus já tinha seguido a primeira via, quis ser original, e seguiu a segunda via, e foi recompensado com uma pensão. 

Poderia parecer que, com tal fraqueza, os muitos judeus seus seguidores, tinham abandonado a crença em tal Messias, que rapidamente mudara de ideias. Só que não... e se muitos se arrependeram, outros converteram-se, como ele, ao islamismo, e continuaram a vê-lo como Messias. 

A fé é uma coisa espantosa. Assim como há cristãos, há sabateusOs turcos sabateus praticavam algum judaísmo em segredo, foram chamados Dönmeh (convertidos), e muitos destes Dönmeh estiveram na origem do movimento "Young Turks", sendo especulado que o próprio Atatürk fosse um deles.

Jacob Frank no Séc. XVIII decidiu proclamar-se como reencarnação de Sabbatai e do profeta Jacob, ou seja foi outro autoproclamado Messias, bastante rico e influente, que via orgias sexuais como algo positivo, e terá agremiado assim bastantes seguidores, ou crentes. 

O texto de Simon Harris diz que o Sionismo e Comunismo foram concebidos por judeus seguidores dessa vertente sabato-frankista, mas deixo o assunto por aqui, e sigo para o 4º protocolo... 


4º Protocolo (Materialismo substitui Religião)

É um texto curto, mas incisivo, que estabelece um passo para o materialismo, dizendo o seguinte:

  • A primeira fase, diz, está na multidão enfurecida, empurrada ora para a esquerda ora para a direita. A segunda fase é a demagogia, da qual nascerá anarquia, levando inevitavelmente ao despotismo. Mas torna claro que este novo despotismo não será visível, estando na mão de alguma organização secreta ou outra, actuando atrás das cortinas, atrás de todos os actores em cena. Porque depois diz que a mudança sucessiva de actores salvaguarda os bastidores, e evita dependência e maior pagamento aos mesmos. [Usa a palavra "agentes" em vez de "actores", mas percebe-se melhor assim. Poderia aqui acrescentar que a mudança de actores é decidida pelo público... mas é claro, apenas podem escolher os actores que os media põem em cena (e que já estão contratados). Nos números de magia, usa-se até um actor no público, para dar a ideia de que qualquer um entra em cena.]
  • Aqui pergunta, retoricamente, quem estará em posição de combater uma força invisível? Concluindo, que essa será a sua maior força. Acrescenta que Maçonaria servirá cegamente de cortina para eles, e para os seus objectivos, mas que o plano da acção da força judia, e a sua sede, permanecerão um mistério para o mundo inteiro. [É aqui o primeiro sítio em que reclama que a Maçonaria está ao serviço de judeus]
  • Diz que a liberdade até poderá ser inofensiva, e ter o seu lugar na economia estatal, ajudando ao bem-estar da humanidade, desde que a igualdade fosse suprimida. Porque, argumenta, o conceito de igualdade é negado pela natureza. Com uma tal fé, o povo poderia ser guiado por uma frota de paróquias, submetendo-se aos pastores como sendo representantes divinos. Conclui que é então absolutamente indispensável minar toda a fé, tirar da cabeça dos "goyim" ideias espirituais, e de uma cabeça-divina, e substituir isso por aritmética e necessidades materiais. [Mais uma vez há aqui uma pseudo-solução aristocrática, na forma do clero, que alertando à Idade Média, poderá pôr em dúvida a autoria judaica.]
  • De forma a que os "goyim" não tenham tempo para pensar, e registar, é proposto que as suas cabeças sejam orientadas para o comércio e indústria. Dessa forma as nações ficam entretidas e engalfinhadas na luta entre si pelo lucro, que nem darão conta de quem é o seu inimigo comum. Reforça que, de forma a que liberdade arruíne a sociedade "goyim", devem manter a indústria numa base especulativa, ou seja, que aquilo que a indústria transforma da terra, deve ser passado para a especulação, que está nas mãos judaicas. [Com efeito, quase tudo passou a ser transaccionado em bolsa, com a especulação inerente. Mesmo o preço dos bens brutos, vindos da terra, são especulados em bolsa, e não apenas as acções das indústrias... aliás, atinge-se o estatuto de "grande empresa", quando é colocado o seu valor em bolsa, para especulação.]
  • Termina argumentando que a luta pela superioridade, e os abalos económicos criaram já comunidades frias, sem coração. Essas comunidades desenvolvem uma aversão à classe política e à religião. A sua única orientação passa a ser o lucro, ou seja, o ouro, que tomam como nova religião, ligada ao materialismo. Quando a hora chegar, as classes baixas dos "goyim", movidas mais pelo ódio aos privilegiados, do que pelos seu benefício, já deixam ser guiadas por si, pela sua liderança, contra os seus grandes rivais - os intelectuais "goyim". [Volta aqui a ser um texto que parece mais escrito por um intelectual goyim do que por um judeu.]

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

dos Comentários (71) Prata da Casa e Bom Sucesso

Este texto em quatro partes resulta de dois comentários: 

  • O comentário de José Manuel, sobre o conquistador português Aleixo Garcia, que oficialmente foi o primeiro europeu a tentar chegar ao ouro dos incas, explorando uma rota antiga, usada pelos incas, que dos Andes, atravessava a América do Sul, passando por São Paulo até à costa de Santos. Aproveito para falar também de João Dias de Solis.
  • De igual forma menciono Luís do Carvalhal e Gaspar Castanho de Sousa, outros exploradores portugueses, que em 1589-90 exploraram território do actual Texas e Novo México (EUA), e que são raramente mencionados.
  • O comentário de IRF, desvenda uma viagem num barco de pesca, que em 1808 foi de Olhão ao Brasil, para dar notícia a D. João VI, de que o Algarve tinha-se livrado dos franceses numa semana.
  • Aproveito para esclarecer certa confusão entre São Brandão, Sancho Brandão, e as Sete Cidades.

1. Aleixo Garcia, João Dias de Solis, e o Caminho do Peabiru

José Manuel faz referência à wikipedia para dar conta que Aleixo Garcia em 1524 terá seguido a partir de Santa Catarina (Brasil) uma rota pelo interior da América do Sul, que levaria a Cuzco. Esse caminho é denominado "Peabiru" , e Aleixo Garcia terá chegado por aí até ao Perú.

Estamos habituados a entender estradas de pedra como sendo produto romano, o que na península ibérica me parece algo excessivo (há diversos troços que nada têm a ver com estradas romanas), mas também os incas tinham as suas vias de comunicação, datando possivelmente antes da si.

Caminho do Peabiru (vestígios) e rotas incas na América do Sul.

Aleixo Garcia participa numa expedição que João Dias de Solis comandou, a cargo do rei de Espanha, e que levou à descoberta do Rio da Prata, em 1516. Há quem indique que Solis era português de nascimento, os espanhóis têm argumentos de que viveu em Lebrija, mas há argumentos que mostram que esteve na armada de Tristão da Cunha em 1506. Fugiu para França para escapar à acusação de ter morto a mulher e acabou a servir Espanha. 

Solis acabou nas bocas dos guaranis, porque parte da expedição, incluindo o próprio, foi canabalizada pelos índios. No regresso a Espanha, a nau de Aleixo Garcia naufragou e foi deixado na ilha de Santa Catarina, durante 8 anos. Nessa altura, tendo ganho ascendente sobre os companheiros (14 espanhóis e 4 portugueses), e sobre os índios guarinis locais, e tendo ouvido falar de um rei branco com imensa riqueza em ouro e prata, Aleixo Garcia comandou uma expedição pela selva. 

Seguiu o caminho do Peabiru, que o levou até Assunção na Bolívia, ao fim de 8 meses, e estando próximo de Potosi, onde existia a maior mina de prata, recolheu riqueza suficiente para regressar, nomeadamente em prata. No regresso, o grupo foi atacado por outros índios, e Aleixo Garcia foi morto (havendo versões diferentes).

Martim Afonso de Sousa fez seguir depois os passos de Aleixo Garcia, tendo mesmo chegado a Potosi, e arrecadado daí prata para o reino português. 

Quando uma outra expedição espanhola chegou ao Rio da Prata, encontrou vários índios com objectos de prata, supostamente índios que tinham participado na expedição de Aleixo Garcia, e deram o nome Rio da Prata, de onde a Argentina veio a tomar o seu nome.

Ou seja, também neste aspecto, os portugueses ao serviço de Espanha tiveram um papel importante, abrindo o caminho da prata, neste caso o rio por Solis, e a notícia da riqueza inca, por Aleixo Garcia, oito anos antes de Pizarro iniciar a devastação do império inca.


2. Luís do Carvalhal, Gaspar Castanho de Sousa, no Texas e Novo México

Luís do Carvalhal (Luis de Carvajal y de la Cueva) e Gaspar Castanho de Sousa (Gaspar Castaño de Sosa), cujos nomes nem se encontram na wikipedia portuguesa(!), tinham origem marrana, e estando ao serviço do reino conjunto de Portugal e Espanha, partiram com uma centena de famílias portuguesas (supostamente de origem judaica), no sentido de colonizarem e povoarem o norte do México em 1589-90, incluindo-se aqui uma parte do Texas e Novo México.

Luís do Carvalhal foi o primeiro a atravessar o Rio Grande, mas sendo depois vítima da inquisição, fez com que Gaspar Castanho procurasse um estabelecimento, ainda mais a norte, perto do Rio Pecos, mas não se livrou de acusação de judaísmo. Ambos foram acusados também de escravizar os índios, e de conduzir expedições ilegais, sendo presos e acabando por morrer pouco depois. 

A entrada dos espanhóis naqueles territórios americanos iria demorar mais uns séculos...

A Gaspar Castanho está associada uma certa teoria de veículos rolantes, a que não tive acesso.


3. Viagem do Bom Sucesso, de Olhão ao Rio de Janeiro, em barco de pesca

Este episódio peculiar referido por IRF, está reportado num trabalho de Joaquim Alberto Iria (de 1936)

Do Algarve ao Brasil no caique de pesca “Bom Sucesso” em 1808

que mencionou o resumo da wikipedia. A proeza do piloto da embarcação, Manuel de Oliveira Nobre, mereceu o mais vasto elogio do padre José Agostinho de Macedo, no opúsculo "Novo Argonauta".

Chegada do caíque Bom Sucesso ao Brasil, em azulejo de Jorge Colaço.

A situação era conhecida, em Novembro de 1807, D. João VI opta pela fuga para o Brasil, quando Portugal estava prestes a ser invadido por Junot, o que aconteceu no fim desse mês. Em Junho de 1808 eclodem rebeliões, nomeadamente a batalha de Évora, e numa acção rápida, ao fim de uma semana, o Algarve fica liberto. A viagem do Bom Sucesso foi uma rápida tentativa de informar o rei de que já estava formado um Supremo Conselho de Regência, com sede em Faro.

Não constando que nenhum barco de pesca alguma vez tivesse cruzado o Atlântico, a viagem causou larga surpresa nos contemporâneos, mas foi sendo depois ignorada, e é praticamente hoje uma curiosidade entendida como marginal.

Igualmente notável será uma história trazida por Rainer Daehnhardt:

Um piloto português veio da Índia para Portugal num pequeno barco a remos com uma só vela, tendo o Rei D. João III mandado queimar a minúscula embarcação para não constar que uma viagem destas fosse possível.


4. "Sancho Brandão" ou São Brandão, e as Sete Cidades.

Este assunto ficou numa troca de comentários com IRF, mas pode ter utilidade para quem procure por Sancho Brandão e venha aqui parar...

Em suma, a estorieta de "Sancho Brandão" está bem contada neste link (que tem outros pormenores interessantes), assim, e passo a citar:

Segundo uma "teoria alternativa" sobre a descoberta do Brasil, muito difundida na internet, um certo capitão Sancho Brandão, da armada do rei de Portugal Afonso IV (que reinou de 1325 a 1357), teria descoberto "uma nova terra, habitada por homens nus e opulenta em tinta vermelha". A origem dessa lenda moderna é um livro do jornalista, escritor e historiador Francisco de Assis Cintra, intitulado Nossa Primeira História, de 1921.

(...)

Assis Cintra, é preciso dizer, foi nessas passagens muito mais ficcionista que historiador. Não existiu Sancho Brandão algum fora de sua imaginação e tanto a Ilha Brasil quanto a Ilha de São Brandão à qual supostamente teria dado o nome eram citadas nas lendas e nos mapas antes de Afonso IV.

Também poderia ter havido um Sancho Brandão, e que face ao escândalo, tivessem inventado e divulgado a história de um Santo Brandão. No entanto é suposto já estar uma ilha de S. Brandão num mapa antigo (de Ebstorfer).

Há ainda uma confusão entre S. Brandão que no máximo se referirá a uma fuga aos bárbaros circa 500 d.C. e à lenda das Sete Cidades, uma outra fuga, que teria partido do Porto em 734, com um grupo de cristãos, para Ocidente, para fugir à invasão árabe. Cito a wikipedia a este propósito:

O primeiro documento ibérico referente às Sete Cidades é uma crónica em latim da cidade de Porto Cale (a moderna cidade do Porto), aparentemente escrita, cerca de 750 AD, por um clérigo cristão. Nessa época, o reino ibérico dos Visigodos já tinha entrado em colapso, sob a pressão da invasão muçulmana (iniciada em 711 AD) que avançara inexoravelmente até ao norte peninsular. O arcebispo de Porto-Cale, querendo esquivar-se à dominação muçulmana, deliberou partir para a grande terra das Sete Cidades (Sete Civitates) que os marítimos lhe asseguravam existia no meio do oceano ocidental. No ano de 734, o arcebispo, acompanhado por outros prelados, aos quais se juntaram cinco milhares de fiéis, embarcou-se numa frota de vinte veleiros.


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Nota Adicional:
(15.09.2020)

Em comentário a este postal, Djorge observou uma eventual ligação da Lenda das Sete Cidades à identidade indígena canadiana conhecida como Sete Nações, que aliás desempenhou um papel relevante na Guerra dos Sete Anos, por alianças com franceses e ingleses, que então disputavam o domínio sobre a América do Norte. Uma certa persistência do 7 neste assunto...
Estas nações eram com efeito aglomerados populacionais, ou cidades. Se o termo latino utilizado foi Civitates, plural de Civitas, isso significava uma comunidade unida por uma mesma lei, ou seja, uma nação. Há assim uma correspondência entre Sete Civitates e Sete Nações. 

As sete cidades, ou sete nações canadianas, ao longo do Rio S. Lourenço.

Conforme Djorge observou, todas elas estavam na costa do Rio S. Lourenço.
Ora isso significa também que eram acessíveis a embarcações vindas do Atlântico, em particular a embarcações de pesca que os pescadores ("os marítimos") que fossem à pesca de bacalhau pudessem encontrar, ou saber da sua existência. 
Poderá duvidar-se da capacidade de embarcações de pesca antigas cruzarem o perigoso Atlântico?
Se houvesse dúvidas, creio que o caso do Bom Sucesso, que o IRF aqui trouxe, mostra bem que era possível, bastava ter a mesma coragem que aqueles pescadores de Olhão tiveram.

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2ª Nota Adicional:
 (18.09.2020)
João Ribeiro (comentário abaixo) chamou à atenção para uma ligação do Bom Sucesso às barcas de Sesimbra, remetendo para este link. Acontece que este tipo de embarcações de pesca, com pequena vela, eram também chamadas pescareza, talvez  querendo significar pesca-reza
Acontece que Gaspar Correia (1492-1561), nas suas "Lendas da Índia" refere um episódio semelhante ao descrito por Rainer Daehnhardt, mas que teria acontecido antes, em 1517, no reinado de D. Manuel. 
Passo a citar:
"Mas fez grande espanto no Reyno ver tão pequeno barqo hir da India; porque o carauellão era como huma barqua pescareza de Lisboa, sómente tinha cuberta em que guardaua os mantimentos; e foy tomar Qacotorá, e d’ahy correo ao longo da costa pera Moçambique (...)"

Não se tratando de uma viagem tão complicada em termos de navegação como foi a do Bom Sucesso, que passou meses em mar alto, com os mantimentos que aí cabiam; esta pescareza de Lisboa a que chamavam "caravelão" (talvez jocosamente), não seria muito maior do que o Bom Sucesso, e arriscou a viagem em 1517, em tempos que naufragavam diversas naus.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Protocolos serpentinos (2, 3)

Os Protocolos de Sião devem ser lidos criticamente, porque usando apenas uma opinião prévia não estamos a ler o escrito, estamos ver-nos ao espelho.
Basta ler um pouco mais para se verem considerações elogiosas à aristocracia, desnecessárias para uma comunicação interna, e para se perceber que também poderia ser do interesse da aristocracia incriminar os judeus como bode expiatório dos problemas na Rússia.

Ou seja, à pergunta - poderia Nilus ser um agente da aristocracia russa, fazendo aparecer uma conspiração judaica, cuja única salvação fosse um governo aristocrata centralizado no rei?
A resposta é - Sim!, poderia... mas isso também não implica que o fosse!

A Rússia em 1905 estava sob tensão, em especial após o Domingo Sangrento de 1905, onde uma multidão liderada pelo padre ortodoxo Georgy Gapon obteve resposta a tiro, com ~ 200 mortos, ao pretender entregar uma petição ao Czar para melhorar as condições de vida dos trabalhadores.

Gapon à frente da multidão, na porta Narva (S. Petersburgo),
e à sua frente as tropas do Czar., que dispararam, causando 150-250 mortes.

A resposta brutal sobre uma multidão desarmada, não terminou o protesto, fez nascer a Revolução Russa de 1905 (onde Trotsky liderou), levando a perto de 20 mil mortos, e onde se incluiu o episódio de amotinação no Couraçado Potemkine.
Esta revolução forçou o Czar Nicolau II a assinar o Manifesto de Outubro, permitindo um parlamento (a Duma) e uma constituição em 1906, que se aguentou até 1917, ano da Revolução Soviética.
A revolução de 1905 é considerada uma ante-câmara de 1917 e se Gapon foi assassinado em 1906, também toda a família imperial russa teve o mesmo destino em 1918.

Os aristocratas russos sabiam que os protestos dos trabalhadores não tinham consistência por si, já que requeriam uma organização inexistente, e acabavam por remeter aos judeus, pressionados pelos pogroms, a culpa dessa organização e instigação:
The Minister of the Interior Vyacheslav von Plehve said in 1903 that, after the agrarian problem, the most serious issues plaguing the country were those of the Jews, the schools, and the workers, in that order.
Portanto, os Protocolos de Sião poderiam apresentar a visão que a aristocracia russa tinha de uma provável conspiração judaica, mas efectivamente não corresponder a nenhum documento concreto de origem judaica, que de resto nunca foi apresentado... reforçado a ideia de falsificação.

Só que ao contrário do que se pretende, a questão da falsificação é irrelevante, quando as ideias estão no documento, e pouco importa a origem. O principal cuidado será considerar que o documento tanto pode ser de origem judaica, como ser de origem anti-judaica.
Quando se entra em manipulações, ou pior, em manipulações sobre manipulações, tudo passa a ser terreno pantanoso e pouco fiável... só se retiram as ideias subjacentes, sem actores pré-definidos.


2º Protocolo (Guerras económicas)
Este "protocolo" é curto e pode ser resumido assim (relembro que "goyim" são "não-judeus"):
  • As guerras não devem resultar em ganhos territoriais, de forma a que guerra passe para o campo económico, de forma a que as nações percebam que ambos os lados ficam sujeitos à assistência financeira dos agentes judaicos... reclamando aqui "milhões de olhos observadores", sem limitações. As leis internacionais irão sobrepor-se às nacionais que servem apenas os cidadãos desse estado. [Note-se a criação da Sociedade das Nações e da ONU]
  • Os administradores, que são escolhidos do povo, pela sua obediência, não serão educados na arte da governação, sendo manobráveis como peões, nas mãos de "génios" judeus, educados desde crianças na arte de governar o mundo.
  • Aqui fala de como os goyim se interessam mais pela teoria, sem atenção às consequências, e assim foram persuadidos a seguir ditames científicos. A contrario, os judeus tiraram lições da história e saberiam usá-las. Usam a imprensa para que se ganhe fé cega na ciência. Acrescenta que os intelectuais goyim apenas se interessam num conhecimento abstracto, e sem verificação lógica, usam informação que os agentes judaicos manipularam na direcção pretendida. [Que há manipulação, mesmo científica, disso não devem restar dúvidas]
  • Clama que estas afirmações não devem ser vistas como ocas, dando como exemplos o Darwinismo (Evolucionismo), Marxismo (Comunismo), Nietzschismo (Socialismo), e a sua influência desintegradora nas mentes "goyim". Diz ainda que a mentalidade das nações poderá variar, e assim devem guiar-se pelas lições da história aplicadas ao presente. [Esta era tipicamente a concepção cristã, que via aquelas ideias como altamente perigosas.]
  • Finalmente refere a imprensa, que deve insistir em necessidades supostamente indispensáveis, para dar voz às pessoas, criar descontentamento. É na imprensa que a liberdade de expressão encontra eco, mas diz que os estados "goyim" não a souberam usar, caindo nas suas mãos. Assim puderam ganhar influência ficando na sombra. Acrescenta que a imprensa é ouro nas mãos judaicas, mas que isso foi ganho com oceanos de sangue e lágrimas. [Um caso típico é o suposto aquecimento global, usado e abusado numa imprensa dominada pelo sector maçon-judaico]
A serpente médica e o mundo - o símbolo da OMS.
No 3º Protocolo os judeus são representados como uma serpente envolvente do mundo.

3º Protocolo (Métodos de Conquista)
Este texto é um pouco mais longo, mas ao usar a serpente como símbolo judaico, bebe numa concepção mais própria de um texto anti-semita do que numa auto-identificação judia.
De qualquer forma, o texto prossegue assim:
  • Clama que faltam apenas alguns passos para fechar o ciclo da Serpente (que simbolizaria os judeus), e quando estiver concluído todos os estados da Europa vão ficar fechados aí dentro.[Os EUA ainda não eram vistos como relevantes]
  • Argumenta que os "goyim" estariam convencidos de que a oscilação de poder tinha levado a um equilíbrio. Os pivots - os reis nos tronos - sendo condicionados pelo terror que lhes é sussurrado nos palácios, não têm meios para chegar à população, porque lhes foi cavado um fosso, e dá o exemplo do cego e da bengala, que sendo separados ficam impotentes. [Refere-se aqui que sem os media, não há comunicação entre o poder e o povo]
  • Pretende que tornaram os estados arenas onde se degladiam os sedentos de poder, e que em breve a desordem e a bancarrota serão universais. Os parlamentos tornaram-se em concursos de retórica, esperando que com jornalistas e panfletários, os abusos de poder dêem um toque final para a multidão elonquecida irromper. [Com efeito, foi um período de bancarrotas, e Portugal teve uma, e a multidão veio a irromper na Rússia em 1917]
  • Diz que os "Direitos do Povo" só podem existir como ideia, inexistente na prática. Argumenta que o proletariado será seduzido por eles, colocando assim no poder quem eles quiserem. Usam os pobres como arma irónica, pois não têm oportunidade de usufruir, sendo colocados entre greves dos camaradas e despedimentos dos patrões.
  • Sob sua direcção, o povo teria já anulado a aristocracia, e estava agora sujeito ao poder do dinheiro. Aparecendo como salvadores da opressão, convidam oprimidos a juntar-se às forças que controlam - socialistas, anarquistas, comunistas - que apoiam na irmandade maçónica.
  • Se à aristocracia interessava ter trabalhadores bem tratados, a si interessa a sua diminuição, visando aniquilar os goyim. Para isso, usam o poder da fome e fraqueza dos trabalhadores porque lhes dará força, ficando estes escravos da sua vontade. Acrescenta que o capital, o dinheiro, dará mais poder sobre os trabalhadores do que o direito aristocrático vindo dos reis. [Este tipo de discurso parece visar muito mais sobrelevar a aristocracia, do que um discurso entre judeus]
  • Fala aqui na vinda do Senhor do Mundo, que sendo judaico será o Messias, e que nessa hora de coroação, as mesmas mãos que o coroam irão evitaram qualquer contrariedade.
  • Argumenta que os goyim só pensam no que é sugerido pelos seus agentes, e que é essencial impor uma educação nas escolas que vise a divisão do trabalho e do homem em classes. Diz que não admitem goyim nos segredos da estrutura da sociedade. 
  • Para evitar sofrimento, os homens devem ser educados para aquilo que é esperado deles. Assim, os homens irão submeter-se voluntariamente à autoridade e aceitam as posições que lhes são atribuídas. Actualmente acreditam cegamente nos disparates que imprensa propaga, desenvolvendo um ódio a todas as classes que são superiores. [Actualmente, em vez de ódio, é mais alimentada a inveja.]
  • Esse ódio é aumentado pelos efeitos da crise económica. Através de uma crise económica global, que se espalhará pela Europa, e levará a multidão a saquear a propriedade daqueles que sempre invejaram. 
  • O momento de ataque será revelado aos judeus, para que fiquem a salvo. O progresso trará os goyim à soberania da razão, e o despotismo judaico será esse, usando severidade pontual para pacificar os mais rebeldes, e cauterizar o liberalismo das instituições. [Se o grande plano judaico fosse impor uma ditadura racional, não pareceria ter algo de malévolo. Neste aspecto, o texto falharia um propósito  anti-semita]
  • Quando a população vir as concessões dadas em nome da liberdade, imaginará ser soberana, mas como um cego, precisa de guia para não regressar ao anterior, e assim depositará poderes plenipotenciários aos seus pés. Lembra a Revolução Francesa, porque foram quem organizou tudo. [Aparece no texto moderno referência aos Filadelfos, como secção francesa dos Iluminati, mas a loja maçónica do mesmo nome, de revolucionários franceses, é posterior]
  • Diz que os povos são virados uns contra os outros, para que no final se virem todos para si, e para o futuro rei-déspota do sangue de Sião, para quem preparam o mundo. Argumenta sobre a sua invencibilidade, porque caso sejam atacados por algum estado, serão defendidos pelos outros. 
  • Acusa os goyim de serem fracos com os fortes e fortes com os fracos, incapazes de suportar as contradições de um sistema social livre, mas pacientes com despotismo sanguinário.  
  • Acrescenta que é isso que os levará à independência, porque com os ditadores presentes, os goyim seriam capazes de suportar coisas, com que teriam decapitado 20 reis.
  • Diz que a razão para isso é porque os seus agentes dizem que o mal infligido aos estados tem como objectivo o bem-estar do povo, uma irmandade de todos; mas não dizem que isso só poderá ser alcançado com o governo judaico.
  • Como o povo condena os justos e iliba os culpados, vai-se persuadindo que pode fazer o que quiser; destruindo toda a estabilidade.
  • Diz que a palavra "liberdade" motiva as comunidades humanas a lutar contra qualquer força e até contra Deus e as leis da natureza. Argumenta que essa palavra tem que ser eliminada do léxico quando chegarem ao poder, porque leva multidões à loucura. Acrescenta que essas "bestas" só dormem depois de beberem o seu quinhão de sangue, mas que depois disso, é fácil prendê-las de novo às correntes.
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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Protocolos serpentinos (1)

Protocolos serpentinos, ou a conspiração da não-conspiração, poderá ser um nome dado ao efeito da revelação dos protocolos dos manos velhos de Sião
Já aqui os mencionámos, mas ainda não tinha abordado directamente o assunto.

É um daqueles assuntos que seria preferível esquecer e acreditar que tudo é falso, que os alemães nas décadas  1930-40 é que estiveram possuídos por espíritos demoníacos, etc...
Cito heritage-history na introdução aos textos dos protocolos:
This notorious transcript describing a 'Zionist' plan for world domination is dismissed as a forgery by its critics but it accurately foretold most of the calamities of the 20th century. Chaos, misery, fear, and bloodshed are rationalized as necessary events in a fiendish plan for the destruction of humanity. The disposition of the author is so malevolent that normal humans, against whom the tract is directed, have difficulty believing that such diabolical evil can exist.
Serei tendencioso, mas não tenho a menor das animosidades contra ninguém, nem contra judeus que tenham planos malévolos de dominar o mundo, ou  de destruir a humanidade, em nome de Jeová, e nos manobrem como marionetas, num pretenso teatro infantil, em que somos tratados como "macacos". Mas, irrita-me de sobremaneira a idiotice. Quando se fala de racismo, ou anti-semitismo, será bom não esquecer que só é judeu quem nasce judeu, e não basta mudar de religião.

Acreditando numa conspiração à escala mundial, desde há muitos milénios, e pelo menos desde que houve a primeira grande civilização (ou uma das primeiras), é-me um pouco indiferente saber quem controla. Falo ocasionalmente de judeus e da maçonaria, porque acabam por ser uma das suas faces mais visíveis, tal como existiram poderes submersos na igreja católica, no império romano, etc.
Irritar-me-ia se acreditasse que o devir estaria na mão de um caos de gente idiota.
Ou seja, gosto de pensar que se quem controla tem inteligência superior à nossa, então só poderá fazer um excelente trabalho. O que cuido é para que tenha... e o tiro é sempre enviado à cabeça. Não sei fazer isso de forma melhor.

É algo irrelevante saber se foram os judeus que escreveram os Protocolos, a wikipedia e todas as fontes oficiais tentam rebater que são falsos, mas essa argumentação de falsidade da origem poderá despistar, mas não anula. Não anula porque foram publicados, antes dos acontecimentos ocorrerem, e  fazem das pretensas previsões de Nostradamus, ou dos segredos de Fátima, brincadeiras de criança. Se não tivesse sido Nostradamus a escrever, as suas previsões deixavam de existir?

Começamos por citar Henry Ford, presidente da Ford, reportando acerca da "veracidade" em 1921 (e aqui ainda só tinha ocorrido uma das Guerras Mundiais):
A única coisa que quero dizer sobre os protocolos é que se ajustam ao que se passa. Têm 16 anos e ajustaram-se à situação mundial até agora. Ajustam-se agora!
Os Protocolos de Sião, foram traduzidos e publicados em 1905 pelo Prof. Sergyei Nilus (existindo no British Museum cópia dessa tradução), e traduzidos de russo para inglês por Victor Marsden (1922):

versão online em heritage-history

Henry Ford financiou a distribuição de 500 mil exemplares, mas foi com a chegada dos nazis ao poder, em 1933, que os protocolos passaram a ser ensinados por todas as escolas da Alemanha, revelando a suposta conspiração judaica. Podem explicar ainda porque razão os EUA não intervieram inicialmente contra os nazis, só o fazendo depois do ataque japonês.

Mas, já antes, o Kaiser Guilherme II acreditava numa conspiração internacional, englobando judeus capitalistas e judeus comunistas - uma Golden International - culpando-os convenientemente da derrota da Alemanha na 1ª Grande Guerra, que tudo seria uma conspiração de judeus maçónicos, e escreveu do seu exílio na Holanda, em 1919 ao General von Mackensen
- "Que nenhum alemão... descanse até que estes parasitas tenham sido destruídos e exterminados". 
Tendo acrescentado, pela sua mão, que "... a melhor solução seria gás", pelo que não deixaria de ficar satisfeito com a ascensão alemã, ainda que repudiasse os nazis, proibindo a suástica no seu funeral.

O nome "teoria da conspiração" foi pejorativamente associado a qualquer evidência de conspiração, desde essa altura. Com efeito, esta "teoria" da conspiração tinha levado à pior guerra de que havia registo, e assim qualquer lembrança disso seria sempre combatida.
É triste e ridícula a tentativa de dizer que se baseiam em documentação falsa, será como dizer a um vencedor do Euromilhões que o seu palpite foi falso, querendo que ignore que os números são certos. Espera-se com isto que o vencedor esqueça o prémio... e, por estranho que pareça, este esquema vai funcionando! 
Porquê? - Bom, segundo os Protocolos, porque somos burros.

Homo sapiens vs. Homo sapiens sapiens
O conteúdo dos protocolos explica que a população goyim (não-judeus) é burra.
Digamos, adquire conhecimento, mas é incapaz de conhecimento sobre o conhecimento.
Ou seja, adquire informação, mas é incapaz de manipular a informação a seu belo prazer.
Eu diria que esta é de facto uma diferença entre conhecimento masculino e conhecimento feminino, já que os homens foram dominando a ambiente, enquanto as mulheres foram aprendendo a dominar os homens. Não se trata de uma regra exclusiva, trata-se de uma circunstância adaptativa de quem se vê sujeito a um domínio que só consegue atenuar ou contrariar de forma inteligente.

E é dessa forma inteligente, ou sinistra, que, não só os judeus, mas muitos outros actores da história, tentaram contornar o status quo que lhes era altamente desfavorável. Uma grande diferença é que os judeus estavam espalhados por muitas nações, exercendo cargos influentes.

Numa carta em 13 de Janeiro de 1489, Chemor, rabino judeu de Arles, em França, pediu conselho ao Grande Sinédrio em Constantinopla, porque a população de Arles ameaçava as sinagogas. A resposta que recebeu então foi publicada 400 anos depois, numa revista financiada pelos Rothschild:
Queridos irmãos em Moisés, recebemos a vossa carta na qual nos falam das angústias e infortúnios que estão passando. Sentimos tanta dor ao ouvi-la quanto vocês. O conselho dos Grandes Sátrapas e Rabinos é o seguinte:
  • 1. Quanto ao que dizes que o Rei da França vos obriga a ser cristãos: façam-no, porque não podem fazer de outra forma, mas guardem a lei de Moisés nos vossos corações.
  • 2. Quanto ao que dizes sobre a ordem de vos despojar dos vossos bens, fazei vossos filhos mercadores, para que pouco a pouco despojem os cristãos deles. [A lei era que, ao se converterem, os judeus desistissem de suas posses]
  • 3. Quanto ao que você diz sobre eles fazerem atentados contra suas vidas: faça de seus filhos médicos e farmacêuticos, para que possam tirar a vida dos cristãos.
  • 4. Quanto ao que dizeis sobre a destruição de suas sinagogas: tornem seus filhos cónegos e clérigos para que destruam suas igrejas.
  • 5. Quanto aos muitos outros vexames de que você se queixa: faça com que seus filhos se tornem juristas e advogados, e façam com que eles se metam sempre nos assuntos de Estado, para que, colocando os cristãos sob seu jugo, possam dominar o mundo e vingar-se deles.
  • 6. Não se desvie desta ordem que lhe damos porque descobrirá por experiência que, humilhado como é, alcançará a realidade do poder.
  • Assinado: V.S.S.V.F.F., Principe dos Judeus, 21º Caslue, Novembro, 1489.
Esta carta ilustra uma antevisão de um plano judaico de domínio global, que estaria em curso desde a época dos descobrimentos, ou mesmo antes. Também ilustra um certo poder centralizado no grande sinédrio. Mas essencialmente é uma resposta algo desesperada, que não dá soluções à geração que solicita o conselho, consolando-a como fazendo parte de um grande plano interminável...
Esta carta foi publicada antes do Protocolos, e mostra também como judeus influentes queriam mudar a narrativa num sentido ascendente, de protagonismo passado por um plano judaico nos bastidores.

Pensemos um pouco, que outra resposta poderia ser dada? Esperavam os reinos cristãos que os judeus aceitassem a situação nefasta de inferioridade que lhes era imposta, sem um esboço de resposta à altura?

Sob certa perspectiva, e tendo em atenção o esquema da tulipomania, diversas vezes implementado, é algo notável que entre 1634-37, no auge do seu poderio, os holandeses se deixassem envolver numa patranha que dava um valor incomensurável às tulipas.
Nesse aspecto, os holandeses acreditaram num conhecimento propagandeado, não tendo percebido que havia um outro conhecimento por detrás dele. A moda social, que já existia, iria tornar-se numa forma de manipulação social a que nem as mulheres resistiam... Mais notável ainda será que na crise bancária de 2008, o mesmo erro que os holandeses tiveram no Séc. XVI fosse repetido, agora com os "derivados" em vez de tulipas, como se nada tivesse sido aprendido!

Será ainda surpreendente que os reinos europeus, tão habituados aos jogos de intrigas na corte, se deixassem enredar por estes esquemas judaicos. 
Com efeito, a evolução do poder cortesão transformou-o mais numa feira de vaidades, onde o poder efectivo do rei se foi dissolvendo em múltiplos ministérios independentes, chegando ao ponto de dar um poder imperial a judeus, como foi o caso de Disraeli, duas vezes primeiro-ministro inglês, sob a rainha Victoria, no apogeu desse império.

Se Maquiavel teve a faculdade de esclarecer o poder dos príncipes, os Protocolos vão mais longe em descrever um poder de bastidores.

1º Protocolo
Neste "protocolo" o autor diz pretender explicar a visão sionista, diferente de não-judeus (goyim):

  • A lei da força e lei do direito são uma mesma coisa, simplesmente uma esconde-se na outra.
  • Liberdade é apenas uma ideia, não um facto. Infectam-se partidos políticos com esta ideia, com o objectivo de questionar a autoridade existente, substituindo por outra. Os liberais assim abdicam de poder, deixando mais fácil a manipulação do poder cego da nação.[Esta foi uma ideia do liberalismo, que correu na Europa após a Revolução Francesa - escrever constituições e abdicar de um poder centralizado. Após saberem, os ideais fascistas procuraram contrariar isto... com o resultado sabido.]
  • Substituir o poder da Fé pelo poder do Ouro. A liberdade é inalcançável porque ninguém a usará moderadamente. Basta entregar auto-governo ao povo para se tornar numa multidão desorganizada, aí o estado cai, e o Ouro dominado por judeus, será necessário para qualquer reconstrução. Preconiza assim um despotismo do Capital. [um exemplo, a situação em Portugal, com auto-governo em 1975, e o subsequente empréstimo do FMI em 1977, etc]
  • Questiona a imoralidade destes conceitos, face ao procedimento admitido em guerra com inimigos externos, considerando que tudo será válido contra inimigos. [depois da vitória do Capital, e de uma certa vitória destes ideais, o que ficou como inimigo?]
  • Considera impraticável guiar multidões por argumentos racionais, porque podem sempre ser levantadas dúvidas idiotas, que ganham o apoio da multidão, contaminável por ideias fúteis. Qualquer resolução tomada por uma multidão, ignorante dos segredos políticos, deixará na administração uma semente de anarquia.[quem poderá discordar disto?]
  • Considera um vício político ter moral, e a franqueza ou honestidade armas dadas ao inimigo. Admite que podem ser virtudes dos reinos "goyim", mas não são sábias. [Aqui ignorou o efeito que a moralidade visível pode ter na fé da população, que aceitará ser conduzida por quem confie]


  • O direito reside na força, repete esta ideia, argumentando que ficarão invisíveis até terem todo o poder, e aí já nenhum complot poderá miná-los.
  • O resultado justifica os meios, não interessando pelo meio o que é moral e bom. Afirma que se trata de um plano de muitos séculos que não pode ser deixado a perder.
  • Argumenta que o génio mais sábio vindo do povo, não percebendo de política, levará a nação à ruína. A multidão é cega, sujeita a sugestões de todos os lados, e um cego conduzindo cegos levará todos para o abismo.[repetem-se aqui as ideias anteriores] 
  • Só alguém educado de criança poderá perceber as palavras feitas pelo alfabeto político.
  • Um povo deixado a si mesmo, cai em ruína, por disputas de poder e honrarias, e questiona se é possível às massas exercerem cargos públicos sem pensarem no seu interesse pessoal. Assim não podem defender-se de um inimigo externo, e argumenta que não há planos coerentes e consistentes vindas de muitas cabeças da multidão. [dirigentes que pensam nos interesses pessoais, temos visto.. não diz aqui que são inimigos externos a promovê-los]


  • Argumenta pelo poder de um único déspota. Argumenta que a multidão é selvagem, e que a mostra em qualquer oportunidade, transformando liberdade em anarquia.
  • Alerta para o álcool, que será só para goyims, que essa juventude se inicia cedo na imoralidade, onde são induzidos por agentes judaicos: tutores, lacaios, etc, casas de vício controladas por mulheres judias.
  • Força e fazer acreditar, são as palavras de ordem. Força nos assuntos políticos. Violência deve ser o princípio, falsidade e crença a regra, para novos agentes de poder que não o queiram perder. 
  • O novo estado judaico faz um caminho de paz, substituindo horrores de guerra por penas de morte, necessárias para manter terror e gerar submissão cega. A severidade é necessária para forçar os governos ao super-governo, precisando saber-se que são impiedosos com desobediências. [neste aspecto é uma ideia arcaica, pouco eficaz]
  • Diz que estiveram na revolução e foram os primeiros a gritar "Liberdade, Igualdade, Fraternidade", palavras hoje repetidas por políticos "eleitos-papagaios", argumentando que os bons dos intelectuais goyim não conseguiram perceber que a natureza nada tem de igual.
  • Acrescenta que as coisas políticas passavam em sucessão dinástica, de pai para filho, mas com o tempo, essa noção de transferência de poderes perdeu-se, o que ajudou a causa judaica. 
  • Repete que "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" funcionaram como vírus, como cancro, indo destruir as fundações dos estados goyim, o que ajudou no seu triunfo, dando-lhes a chave - a destruição de privilégios e o fim da aristocracia goyim... que, argumenta, era a única classe que defendia o povo e as nações contra os judeus. Em substituição colocaram uma aristocracia do dinheiro, que é controlado, e aristocracia do conhecimento, controlada pelos manos velhos judeus.

  • Finaliza este "protocolo", dizendo da facilidade que tiveram em persuadir pessoas usando dinheiro, pela sua insaciabilidade por fraquezas materiais, e que cada uma dessas fraquezas era suficiente para paralizar a iniciativa.
  • Que a ideia de liberdade levou à persuasão da multidão que o poder é seu, e que os governantes não são mais que seus representantes, e assim podem ser mudados por si, como as camisas. [em inglês está "como luvas descartáveis"]

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Este é apenas o primeiro de 24 protocolos... duvido que tenha disposição e tempo para os restantes, mas para quem quiser ler, recomendo.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

dos Comentários (70) correndo agosto

Desde o último postal sobre comentários em Julho, ficaram aqui registados mais de 150 comentários, que agradeço a metade que não foi resposta minha, em especial ao IRF que tem perdido bastante tempo com a sua recensão crítica.
Sendo impraticável resumir, deixo uma breve referência aos links e assuntos aí tratados, ou temas que não são fáceis de perceber pelo título do texto:

  • Valdemar Silva (comentários) trouxe o livro "Assim nasceu uma língua", de Fernando Venâncio, a que junto link para a apresentação feita em Espanha. A opinião sobre o assunto ficou expressa na troca de comentários.
  • José Manuel comentou sobre a ilha do Corisco, podendo inferir-se que os portugueses fizeram o forte de Punta Joko em 1641, cederam a ilha à presença holandesa, e de uma incipiente companhia de escravos holandesa, fizeram em 1723 a que se chamaria Companhia do Corisco. Ou seja, existiria desde 1642-47, sob controlo holandês, em 1648 foi recuperada pelos portugueses, e só em 1723 teve o alvará definitivo como Companhia da Ilha do Corisco.
  • IRF em comentários sobre "ordem, hierarquia e igualdade".
  • João Ribeiro acrescentou informações da Crónica de 1419 sobre navegações portuguesas.
  • IRF comentários sobre a "alvorada da humanidade" e Nova-Guiné.
  • IRF em discussão sobre geodesia, em particular que seguir os paralelos (ao contrário de seguir os meridianos) envolve um mudança de direcção, uma trajectória "curva", sendo claro que todas as trajectórias são curvas sobre uma esfera.
  • A. Saavedra em comentário sobre eventual semelhança da tese com Graham Hancock.
  • IRF em discussão sobre a versão antiga do Mapa do Museu da Marinha, a que acrescento alguma informação muito enviesada sobre "fabricação de mapas durante o Estado Novo", envolvendo Almada Negreiros, Gago Coutinho, Vitor Ventura Ferreira, e Bissaya Barreto.
  • José Manuel em comentário menciona Aleixo Garcia: «Quanto a haver castelos e quinas portuguesas no mapa em questão, não me surpreende pois Aleixo Garcia foi o primeiro europeu e português a contactar o Império Inca, subiu aos Andes liderando um exército de índios Chiriguanos, só seria possível a quem estivesse há muitos anos em contacto com esta gente.»
  • IRF discussão sobre uma etimologia para a palavra Guiné.
  • IRF discussão sobre a existência de uma eventual conspiração antes do Séc. XVIII, englobando o tratado de Vestfália, Guerra dos 30 anos, etc.
  • IRF observação sobre a pirataria berbere, em particular: «Quanto aos piratas da Berbéria, o Atlantico foi dos mais fustigados. Os Marroquinos atacavam a partir das actuais Casablanca e Rabat... a sul de Larache e a Norte de Azamor/Mazagão. Portugal nunca se impôs nesse hiato. Os piratas de Salé eram particularmente perigosos, muitos dos quais eram exactamente Portugueses e outros tantos Judeus Ibéricos. O Algarve era uma região muito fustigada, de tal forma que tinham grande dificuldade em se assentar na costa.», e indicando o link:
    https://historiasdeportugalemarrocos.com/2014/04/30/a-republica-corsaria-de-bouregreg/
Expedição dos EUA contra a pirataria berbere em Tripoli (1801-05, no que foi a primeira 
incursão externa dos EUA) e depois numa segunda Guerra Berbere em Alger (1815)
  • IRF observou que a origem da população afro-colombiana não era caso único, contestando com razão uma parte do argumento usado no texto "O tal canal", ficando em aberto ser ainda assim muito superior e concentrada na costa do Pacífico, em especial em Quibdó.
  • IRF observou que haveria ouro na Costa do Ouro, o que é correcto, mas fica em aberto saber em que extensão esse ouro saía à época e de que "Mina"? (... a mina não era no Forte da Mina), já que quando os holandeses tomaram o forte, passaram a usar o Forte para traficar escravos, chamados "negros da mina". Acrescenta a figura de Mansa Musa, figura lendária do reino do Mali, que exibiu riqueza em ouro. [Uma nota adicional foi acrescentada ao texto, observando estes factos]
  • João Ribeiro, Valdemar Silva, Djorge, IRF e José Manuel comentaram os desenhos de Pina, sendo instrutivo o link que José Manuel deixou sobre eventual confusão entre perús e galinhas da índia: La pintade (poule d'Inde) dans les textes du Moyen Âge, de Antoine Thomas (1917).
  • IRF argumentou que a ausência do Brasil nos títulos de D. Manuel e seguintes, se deveria a um entendimento de que o Brasil seria parte de Portugal, passando a figura de Príncipe do Brasil, para o herdeiro da coroa, a existir desde 1645, o que é correcto, mas não explica a completa ausência de 1500 a 1580, ou até a persistente distinção do Algarve.