terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Batochina e Pulo Cabale

Na sequência de um comentário sobre Zheng He, navegador chinês popularizado por Gavin Menzies no livro 1421 - ou seja, o ano em que a China tinha percorrido os mares até ao Atlântico, falei numa hipótese de "ameaça chinesa" à Europa, por essa altura.
O José Manuel fez o favor de indicar um bom documentário da televisão ARTE sobre Zheng He:

O documentário estabelece uma ligação entre Zheng He e o conhecimento árabe de navegação, o que teria permitido aos chineses uma aventura, registada pelo menos certamente até às costas africanas, em particular a Madagáscar (chamada Ilha de São Lourenço, pelos portugueses).
Depois, subitamente, tal como rapidamente havia surgido, o interesse chinês pelas navegações parece desaparecer.
Os tempos são demasiado coincidentes para não se estabelecer alguma relação. Se a China avançava no início do Séc. XV em direcção à Europa, e o ano 1421 é marcante... também é marcante no mesmo período para as navegações portuguesas, que em 1418 e 1419 registam o Porto Santo e a Madeira.
Portanto, se uns avançavam numa direcção, outros avançavam na outra - terá havido recontros?
É difícil saber porque à época seria possível registar como "mouro" tudo o que fosse inimigo.
No entanto, não é de excluir que a ameaça asiática estivesse na ordem de partida papal em direcção ao Sul.
O tempo que demora a passagem do "Cabo Bojador" é tão fictício que pode corresponder a várias interpretações, enquanto alegoria de outro facto. Se já estabeleci um paralelismo entre as navegações africanas e americanas, podendo isso corresponder a uma tentativa de descoberta de passagem ocidental para as Índias (ao jeito de Colombo), talvez seja mais verosímil pensar numa autorização de passagem, libertada a ameaça chinesa nas costas africanas.

Numa recensão crítica à obra de Menzies (feita por J. M. Azevedo e Silva), podemos ler:
Em boa verdade, os portugueses começaram a descobrir «mares nunca dantes navegados» em 1434, quando Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador, precisamente (pura coincidência?) no ano seguinte ao fim das navegações chinesas do almirante Zeng He (1405-1433).
Portanto, aquelas duas palavras com interrogação "(pura coincidência?)" são uma forma abreviada de sugerir algo semelhante... O Bojador teria sido um "cabo de trabalhos" com vista a libertar a parte ocidental de África da presença chinesa.
Segue-se outro problema, que seria libertar mesmo a parte oriental, e assim permitir o avanço para a Índia, esse cabo de trabalhos seria o da Boa Esperança.
Se esses "cabos de trabalhos" foram apenas diplomáticos ou representaram violentas acções de guerra naval... é algo difícil de estabelecer.
Porquê?
Porque nada justifica os mais de 50 anos entre a passagem do Bojador e a chegada ao Cabo da Boa Esperança... conforme já se disse, era mais rápido ir a pé, pela praia... bastariam 1 ou 2 anos, a caminhar sem grandes pressas - é só fazer contas.
Ao contrário, quando Vasco da Gama entra no Índico, deveria deparar-se com uma poderosa ameaça naval, e essa viagem é feita sem problemas demasiado dramáticos.
Portanto, poderia bem ter ocorrido que a ameaça naval tivesse sido debelada ao tempo de D. João II, deixando o Oceano Índico pacificado para a entrada de Vasco da Gama.

Por outro lado, devemos reparar na história dos descobrimentos que é divulgada, começando na figura de Marco Polo, que visita Kublai Khan, numa viagem de 1271 a 1295.

Tal como Marco Polo se consegue entender com Kublai Khan, também o mestre dos Templários, Jacques de Molay, vai solicitar uma ajuda do Império Mongol na Terra Santa, levando uma ofensiva conjunta contra os mamelucos árabes em 1300.
Em 1305 começam os problemas do rei Filipe, o Belo, com os templários, que por ordem papal são extintos e Jacques de Molay será executado em 1314.

No entanto, os templários têm uma passagem melhor conhecida pelo lado português, e menos bem conhecida pelo lado inglês-escocês, mistificada pela Rosslyn Chapel.
No lado português estabelece-se a Ordem de Cristo, e inicia-se o projecto de D. Dinis.
Pelo outro lado, digamos que o rito escocês é menos explícito com o nome "Soberano Grande Inspector Geral", mas quando o rito de York estabelece como máximo grau "Ordem dos Cavaleiros Templários", não há dúvidas que a herança da Maçonaria remete a essa origem.
É claro que houve duas rosas no confronto Lancaster-York, mas depois Tudor ficou bem juntando as duas com Tosão de Ouro.

Este é o panorama pelo lado europeu. Porém, desde a entrada dos Hunos, a ideia de ameaça mongol deveria permanecer, e os impérios de Tamerlão e Gengis Khan seriam ameaça renovada.
O filho Kublai Khan tenta invadir o Japão, mas a armada é desbaratada pelos ventos Kamikaze (que darão depois origem ao nome dos pilotos). Porém, a frota naval terá sido implementada em grande escala, e é natural que menos de 100 anos depois, ainda não se tivesse perdido a ideia de uma China potência naval.
Esse seria o projecto que levaria Zheng He até África, e muito provavelmente até às Américas, já que parecem existir vestígios, e não só na zona do Pacífico, em Fusang.

Cito aqui o blog Portugalliae do José Manuel (2009):
(...) Gunnar Thompson questiona porque atribuem a descoberta da América a Colombo se romanos e os portugueses já conheciam a Florida? Actualmente ele defende que os chineses também lá iam, eu digo TODA a gente lá ia e voltava, a peste e guerras reduziu substancialmente a população na Europa, portanto não havia interesse de se dar a conhecer territórios vastíssimos no Continente Americano, os mapas que se conheciam eram segredos de comércios, malagueta milho peru drogas metais etc. eram trazidas para as cortes europeias, e egípcias, isto está documentado, só não vê quem não quer.
Ora, este propósito de evitar perda de população - ou pior, perda do controlo da população, era algo que sempre pareceu preocupar os poderes, desde o velho Senado de Cartago (conforme refere Aristóteles), até mesmo os chineses, conforme refere João de Barros.
João de Barros, falando da Batachina - que queria dizer terra da China - mas que era normalmente usada para as Celebes (Batachina do Moro, havendo também a Batachia do Muar), diz explicitamente (Década Terceira da Ásia, Livro V, cap. 5):
Depois que estes Chijs começaram continuar a navegação destas ilhas, e gostaram deste seu cravo, da noz, e massa de Banda, à fama deste comércio acudiram também os Jáos e cessaram os Chijs. E segundo parece foi por razão de lei que os Reis de China puseram em todo seu Reino que nenhum natural seu navegasse fora dele: por importar mais a perda da gente e cousas que saíam dele, que quanto lhe vinha de fora: como já atrás escrevemos, falando das cousas da China e conquista que tiveram na Índia por razão das especiarias.
É especialmente notável o papel que as pequenas 5 ilhas Molucas, juntamente com as minúsculas ilhas de Banda, tiveram no desenvolvimento comercial mundial. Não sei se é coisa maluca ou de ficar de cara à banda, mas o cravo e a noz-moscada ganharam estatuto de preciosidades superior a ouro... algo só com paralelo na Tulipomania!
Havia um mecanismo de produção, que fazia os saquinhos em Gilolo, e as panelas de barro em Pulo Cabale (Pulo seria nome para ilha, e Cabale para panela)... portanto temos um mecanismo de exportação que usava os indonésios (Jáos) para distribuir depois, ou pela China, ou pela Europa, pela rota da Seda até Veneza, antes do aparecimento português.

Bom, e onde estavam situadas estas ilhas especializadas em comércio global?
Exactamente na zona da Oceania ao lado de uma Papua - Nova Guiné ou de uma Austrália, em que ao contrário, os seus habitantes viviam praticamente como no Neolítico. Algo que só ali teria mudado, de acordo com João de Barros, devido à presença chinesa nas Molucas, e provavelmente em toda a zona marítima oriental ao tempo de Zheng He.

Quando os portugueses ali chegam começa novo período de restrições nas descobertas.
Esta difícil conquista das Molucas é levada por António Galvão, de que já aqui falámos... e que depois cairá em desgraça, quando regressado à corte lisboeta, sempre pronta a cortes.
De novo coloca-se a questão de Tordesilhas pelo anti-meridiano, e se algo poderia justificar inicialmente um encobrimento, a presença espanhola naquelas ilhas da Melanésia também irá acontecer após a viagem de Magalhães, numa partilha entre o imperador Carlos V e D. João III.

Dado o interesse nas Molucas, que a sul do Mar de Timor têm a Austrália, na zona da cidade de Darwin, parece algo incompreensível o desinteresse. Já sabemos das proibições, nomeadamente da Companhia da Índias Holandesa, dos mapas alterados, de que se queixou Dampier e tantos outros...

Achámos curioso o relato de Manoel Pimentel (Arte de navegar, 1752, pg.440), que diz, acerca da restrição de estar na parte sul de Timor apenas nos três meses de Verão (Fevereiro a Abril):
Este vento Sul é tão impetuoso que colhendo algum navio daquela parte do Sul [de Timor], o faz soçobrar ou dar à costa, mas a natureza acudiu a este perigo com tal providência, que oito, ou nove dias antes da mudança do tempo começam a soar debaixo do mar, da parte donde há de ventar, uns roncos, que os naturais da terra e navegantes têm por certo aviso
Acresce ainda que no seu livro (pág. 439) Pimentel diz que o melhor caminho para Timor seria, é claro, navegando directamente de África após o Cabo da Boa Esperança... indo encontrar rapidamente a Nova Holanda (Austrália), e até mais rapidamente do que indicavam as cartas ("por força das correntes").
Especificamente, indica a latitude de 21 a 22 graus, e que se evitasse o baixio "Trial", indo encontrar a "Terra Nova" a 1350 léguas portuguesas...

Vemos aqui que "Terra Nova" foi designação que se aplicou também à Austrália... como tantas outras já especuladas desde Java-a-Grande, Terra Magalanica, ou mesmo Nova Guiné.
Aconselhamos um livro de G. Collingridge (1895)
Being The Narrative of Portuguese and Spanish Discoveries in the Australasian Regions, between the
Years 1492-1606, with Descriptions of their Old Charts.

que tenta mostrar a presença portuguesa na Austrália. É claro que tentativas destas parecem sofrer o escárnio e maldizer da academia portuguesa, que se preocupa mais em abafar e perder registos históricos.
Assim no final usamos a citação dos Lusíadas de Camões, que refere Sunda (Java, que deu nome ao estreito) e Banda (a sul está a Austrália):

Olha a Sunda tão larga que uma banda
Esconde para o Sul dificultoso

... e foi assim que Collingridge abriu o seu livro - com Camões!


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Armada Aborígene

Nos últimos dois anos passei a ter um certo cuidado em não procurar mais coisas... porque já eram demasiadas as que me chegavam por acaso. Eis mais um exemplo.
Na sequência da notícia sobre o canguru das Caldas, num jornal inglês dei com este comentário:
(David loves Roma) The Telegraph really don't like posts that show them to be fools or run counter to the narrative. However even though my post was deleted 3 times I will still post it again.
Aboriginal rock paintings some dating back 1000 years or more have suggested depictions of Long Boat craft visiting Australia which makes this article rather redundant

http://museum.wa.gov.au/maritime-archaeology-db/sites/default/files/no._216_indigenous_depicts_2.pdf
Não sei se o Telegraph cortou o comentário do David três vezes... se o fez, é porque se calhar estas coisas envolvem custos em Bolsa, e pode não ser na Bolsa do Canguru, já que há muita ninhada que vive no conforto doutras bolsas marsupiais (etimologia alternativa - "março piais").

Bom, e o que tinha de relevante o link que o David mostrava?
- A grande Armada Aborígene!
(clicar para aumentar)

Trata-se de um PDF do Relatório de Nicolas Bigoudain 
que parece dar um bigode à ideia de que os aborígenes não eram possuidores de uma grande armada naval... Estou a brincar, é claro. Porém, dado que as explicações oficiais remetem sempre para navios recentes, do Séc. XIX, quem andará a brincar?
Note-se que alguns destes barcos são assumidos tratarem-se de barcos-a-vapor. Para dúvidas a esse respeito, remetemos para o artigo sobre o barco-a-vapor de Blasco de Garay, apresentado a Carlos V em 1543.

Já há mais de um ano, no outro blog:
tinha colocado uma figura de uma caravela, encontrada em Djulirri:

Claro que nada disto parece importante para a Inglaterra ou Austrália. Há realidades mais importantes.
Um problema está no cricket inglês em confronto na Austrália, e no mesmo jornal vemos a notícia sobre o Capitão Cook (capitão da selecção de cricket, não confundir com o Capitão Cook, navegador que "descobre" a Austrália):

Sim, havia um grilo (cricket) que falava ao Pinóquio, mas ninguém vai meter o nariz onde não é chamado, e é tempo de regressar à nossa estorieta, que saltámos devido ao canguru.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Cangurus e cãs dos gurus

O José Manuel fez o favor de enviar um link do jornal Público (16/1/2014):


Não aceitar que a Austrália estivesse descoberta ao tempo da chegada dos portugueses a Timor, em 1514, é a maior prova do controlo global que se exerceu sobre o conhecimento até aos dias de hoje.
Ilibar responsabilidades portuguesas é difícil, pois D. Manuel não se assumia vassalo de ninguém, aliás usava o epíteto imperial de César.

A maioria das pessoas não liga ao assunto, considerando-o um facto menor, quando é o facto mais claro do poder absoluto que se gerou sobre a divulgação e a educação a um nível global nos últimos 500 anos

Sim, já fez este ano 500 anos sobre o registo documental dessa chegada, conforme se pode ler (wikipedia)
A primeira fonte documental europeia conhecida que refere a ilha é uma carta de Rui de Brito Patalim a Manuel I de Portugal, datada de 6 de janeiro de 1514, na qual são mencionados navios que tinham partido para Timor. 
McINTYRE, Kenneth Gordon. The secret discovery of Australia... 1977. p. 69.
A situação é tanto mais caricata quando confrontamos em mapa a evolução das descobertas:

Como é óbvio, os laranjinhas holandeses fizeram a mesma ocultação, de forma ainda mais caricata, reduzindo o território por descobrir a uma zona bem definida.
Não há quaisquer limites naturais que impedissem as viagens, como é óbvio... só limites da inteligência.

O ridículo é tanto maior quando se tenta traçar a linha divisória entre o conhecido e o desconhecido... a fronteira do desconhecido bate na linha de costa australiana, e portanto a terra só era desconhecida por ser conhecida. Proibição superior, e nada mais!

Quem obedeceu a esta proibição?
Pelo menos, o poder português, espanhol, holandês, e finalmente inglês.
É claro que, tal como a América, era um mero segredo de Polichinelo para quem ali viajava, ou para quem tinha posição influente nas cortes europeias e no meio eclesiástico da Igreja Católica.

No entanto, e dado que estamos a recuperar a história desde outros tempos e influências, parece-nos claro que a proibição australiana era ainda muito mais antiga.
Porquê?
Porque não encontramos vestígios de templos hindús, ou até de influência islâmica. Algo especialmente estranho, dada a proximidade com Java e Bali, onde abundam esses vestígios.
Podem ter os ingleses apagado os últimos vestígios, destruindo os últimos restos de presenças anteriores?
Não são relatados pelos aborígenes, australianos, ou será que havia efectivamente essa proibição antiga?

A lista complica-se bastante, porque temos que juntar hindús, árabes... e certamente chineses, que não deixariam de navegar, tal como o fizeram até Madagáscar.

Os Gurus indianos desconheciam? O Kublai Khan de Marco Polo também?
Só os Khan-Gurus é que reservam esse conhecimento.

Chegamos assim às Caldas da Rainha, das ca...vacas, algo muito sagrado para hindús.
Carvalho, Catarina, era o nome da religiosa que aí viveria, de acordo com a notícia, e que tinha o livro de orações com o "canguru"... cuja datação é colocada entre 1580 e 1620. Estava em posse portuguesa, mas só fica "público" quando é vendido a uma galeria de Nova Iorque. 
As Caldas estão muito ligadas à Rainha D. Leonor, e por consequência a D. João II, por isso seria um local dado a algum conhecimento privado à época dos descobrimentos.

Já tínhamos aqui falado noutro canguru, como Prova, que aparecia no mapa do Museu da Marinha, e que seria um mapa-mundi à altura d'El Rei D. Sebastião... que recordamos:
Porém sabemos que "provas" são folclore que lembrará a Canção de Lisboa.
Estas costas australianas não assentam, e o que interessa à população é entretê-la com outros contos, que evitam esta prova.

Informação adicional:

Todos os anos mencionamos o assunto... mas deixemos os cangurus, ou as grisalhas cãs dos gurus. 
A informação verdadeira relevante aparecerá naturalmente, a outra ficará na ilusão, nos ilusos, e lusos ou não.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Estória alternativa (3)

Uma tentação natural seria centrar a história em torno do nosso cantinho português ou ibérico.
Evito ao máximo fazer isso, ainda que possa parecer que não... 
Simplesmente não posso ignorar o que sei, e tudo apontou para um problema aqui.
A princípio fui certamente levado por algum centralismo patriota, dada a recusa estrangeira em assumir os feitos nacionais. Porém, rapidamente tentei abranger o problema maior, procurando influências noutros lados para o problema global de ocultação. 
A coisa porém assumiu outras proporções quando comecei a deparar com as demasiadas coincidências línguisticas. Aí já era difícil pensar que o português era uma língua como outra qualquer... não é! Tem demasiada informação encriptada para se poder achar que é mero acidente de percurso.
É claro que há a ligação ao latim e grego, mas é apenas ligação, não é descendência... e é claro que as penínsulas ibérica, itálica e grega, definiram grande parte da história que temos. Focamos só aqui o lado europeu, que acabou por se impor globalmente... justamente após a expansão portuguesa.

Bom, tínhamos ficado na Guerra de Tróia, e relendo agora a Ilíada ou a Odisseia poderia juntar muitas outras observações, mas não nos vamos perder em detalhes. Se a hipótese for correcta, as coisas vão-se ajustar naturalmente, se não for, será a estória que é.

Ó disse eu, U lesses
Odisseus, na versão latina Ulisses, depois da Guerra de Tróia perdeu-se certamente que não pelo sobejamente conhecido Mediterrâneo, mas pelo Atlântico, dada a tradição que o liga a Lisboa, a Ulissipo, onde teria desposado Calipso (Calipo foi nome do rio Sado). Os gregos descobririam assim um mundo atlântico, além das Colunas, que lhes estava antes vedado. Menelau teria circumnavegado a África, de acordo com a mesma tradição.
Por outro lado, os romanos, com Virgilio, colocaram um Eneias como herdeiro de Troia, deambulando nos braços de Dido, primeira rainha de Cartago, antes de partir para a fundação de Roma.

Eneias e Dido

Vemos facilmente como há cronologias quase inconciliáveis e mitos concorrentes. Roma teria supostamente origem com Remo e Rómulo, apenas c. 750 a.C., ou seja quase um milénio depois da reportada queda de Tróia, e da consequente fuga de Eneias, para e dos, braços de Dido. 
Porém, antes de Roma e Cartago disputarem a hegemonia, houve Tarsis, na Tartéssia ibérica.
Schwennhagen dá-lhe o relevo de grande potência marítima controlando a entrada mediterrânica, e sugere que teriam sido os tartéssios a apoiar os fenícios e depois os hebreus. O tártaro era o inferno grego, que foi depois colocado na Cítia.

É indiscutível a presença fenícia, e depois cartaginesa, na Ibéria. Se Schwennhagen deu relevo ao "Car" em Cartago, podemos também salientar o "Tago", nome antigo do Tejo. Podemos ver assim uma Dido de Cartago em paragens semelhantes às de Calipso que reteve Ulisses, tal como Dido reteve Eneias.
Claro que os tempos mudam, e a Cartago deixou de ser a outrora Ulissipo.

Galo e Fenix
Os fenícios definiram uma Ur, uma Tur, dita Tiro, na costa libanesa.
Nessa altura, para além de tartéssios, habitariam a costa portuguesa os Turdulos velhos, e não deixamos de reparar no fonema "Tur". Podemos pensar numa manifestação do domínio fenício, mas seguindo Schwennhagen, será mais natural ver o contrário. Até porque na costa portuguesa havia ainda os Venetos, ou Venécios, que da Gália até à zona Etrusca definiram uma influência naval que se mantinha à época romana... antes de serem finalmente derrotados na Bretanha. Essa seria origem da grande influência naval que passou para Veneza. Os Venécios talvez se tenham confundido com os Turdulos, e depois com os Fenícios... todos os nomes remetem para origem comum, renascida dos galos troianos.

O legado de Tróia, ao contrário do que os romanos pretenderam, dar-se-ia antes com os fenícios. Estes seriam resultado da estabilização dos Povos do Mar em paragens libanesas. Estes povos do mar vinham de mais longe, provavelmente de colónias hispanicas/troianas na América, e quando depararam com o entreposto ibérico destruído, irromperam pelo Mediterrâneo. 
O próprio poder egípcio teria mudado quando surge Akenaton... é tempo dos crânios alongados, tradição que se poderá remeter a paragens americanas. Talvez, como sugere Schwennhagen, o culto monoteísta de Car tenha florescido no Brasil. Afinal é Akenaton que irá iniciar esse culto monoteísta egípcio de Rá, que é rapidamente anulado, ao tempo de Tutankamon.
Akenaton e a esposa Nefertiti

O embate entre a tendência monoteísta e politeísta permanecerá entre os descendentes americanos de Car, dos magos caldeus, e o domínio sacerdotal politeísta dos magos arianos do Cáucaso, ligados aos hindús e medos.
A figura de Car parece desempenhar papel similar à de Zoroastro, e o embate entre as monarquias será favorável aos caldeus, aquando da ascenção de Ciro e a definição de um grande império Aqueménida persa. 
Porém, antes disso, perante a derrota do monoteísmo, parece haver uma tentativa de dar sequência à visão monoteísta com Moisés e com os hebreus, escravizados no Egipto, logo depois do fim de Akenaton. 
Parecem definir-se assim três grandes poderes... o dominante sacerdotal ariano, com os grandes impérios - medos, egípcios, babilónios, essencialmente politeísta. Outro poder sacerdotal, caldeu, descendente de Car, com influência até à América, e finalmente os antecessores fenícios - venécios e tartéssios, mais pragmáticos nas questões religiosas, herdeiros dos galos e da plebe atlante.

É neste enquadramento que depois se daria a colaboração entre fenícios e hebreus através de Tarsis, conforme refere Schwennhagen. Será mais frutuosa no tempo de Salomão e Hirão, onde as coisas parecem correr bem, e a influência dos magos arianos ter sido reduzida, a ponto do comércio fenício florescer com as paragens americanas, alargando-se pelos hebreus às paragens orientais até à Sião tailandesa.
É o tempo de Sião, que será sempre chorada pelos hebreus...

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Estória alternativa (2)

A ideia principal nesta estorieta é objectivar um nexo ao longo dos tempos. Para uma história que descreve acontecimentos mas que não os enquadra, que faz parecer tudo fruto de acasos avulsos, para esse efeito já temos a história habitual, como uma imensa manta de retalhos... em que uns povos são diferentes porque sim, e outros são semelhantes porque sim. Uns têm os olhos em bico, outros não têm, uns fizeram civilizações outros não... constata-se, mas não há sequer tentativa de enquadrar.

Há uma grande uniformização fisionómica a oriente que só me parece explicável por um ascendente quase único, mas circunscrito a essas paragens. A recessividade genética tem tendência a sobrepor certas características, mas isso teria levado a uma população global muito mais parecida com a indiana do que com a chinesa, europeia ou africana. O maior vestígio duma mistura natural num contacto de culturas será o indiano, e a partir daí começou a impor-se alguma separação racial... as castas terão sido o primeiro sinal dessa ordem.

De luva e lava
O dilúvio reportado terá sido o segundo no registo dos magos. Teriam sobrevivido nas partes altas das ilhas da Oceania pela primeira vez, e daí definido o seu poder local, depois migrado para a Índia e China. A palavra "dilúvio" tem no "luv" uma derivação latina do "lav" de lavar... e a lava não é só de água, é também de vulcões. Fenómenos que lavaram registos humanos como uma luva.

Na parte grega do mito diluviano encontramos um Licaão da Arcádia, que pelo seu sacrifício de crianças é transformado em lobo por Zeus, e os licantropos seriam varridos pelo dilúvio... 
Se os pelasgos da Arcádia eram condenados com Licaão, ao mesmo tempo, pelo lado de Atenas encontramos Cécrope, figura mítica metade homem - metade peixe, que é incumbido de ensinar aos gregos a leitura, a escrita, e até sepultar os mortos. Cécrope tem um aspecto capricórnio, tal como será apresentado em Matsya, o avatar de Visnu que salva Manu.
Zeus condena Licaão e a Arcádia... 
os licantropos sobreviventes seriam vistos como lobisomens.

O mito grego é completado com Deucalião, filho de Prometeu, sobrinho de Atlas, que também sobreviverá ao dilúvio no monte Parnaso, em conjunto com a mulher Pirra. Prometeu e Atlas fazem parte dos titãs condenados por Zeus, vencedor da Titanomaquia contra Cronos. Atlas ficará sempre ligado às paragens ocidentais, dando o nome às montanhas mauritanas, ao próprio oceano, e por associação aos atlantes. 

Houve um caminho que se fez entre o imaginário e o real. Quanto mais racional se tornou a humanidade, menos espaço houve para um acordar em mundos fantasiosos. O poder da ilusão pode ser imposto quando não há um substrato racional para o questionar. Esse era o mundo ideal da magia, que se impunha naturalmente, como convite a uma miragem da realidade. Havendo predisposição para isso, esse era um mundo em que magos podiam condicionar exércitos, e escrever outra realidade.
Quando os homens deixaram de ser tão sugestionáveis pelos espíritos, e pragmaticamente começaram a erigir fundações do seu conhecimento, esse mundo mágico começou a ficar condicionado pela racionalidade. Por isso os espíritos dos deuses-magos sempre procuraram condicionar os progressos mais racionais, e promover dedicação à sua causa, onde não haveria restrições físicas-matemáticas.

Os atlantes ao procurarem maior conhecimento despertaram a racionalidade humana para um patamar que exigiria um outro controlo, para além da mera ilusão xamã. Atlas terá que aguentar esse novo mundo, um mundo de homens despertados pelo fogo de Prometeu, mas ameaçado pelas contradições que Zeus fez questão de trazer, pela oferta de Pandora. O desejo e curiosidade incessante, o mesmo que é oferecido pela serpente a Eva, e que retira os homens da sua inocência primitiva.
A invocação do mito grego foi aqui trazida na continuação do argumento do texto anterior. Um novo poder divinal de magos iria instalar-se sobre paragens caucasianas, recuperando povos que estavam condicionados a uma informação quase infantil, órfãos constantes do passado. A evolução desses povos seria usada para contrabalançar restos de população rebelde, atlante, perdida em ilhas... os Pelasgos, expulsos da Arcádia, pintados como lobisomens. 

Hércules
Pelo lado do panteão dos magos-deuses iriam definir-se então impérios servidores... sumérios, egípcios, gregos. Por esse lado se contará a história habitual, e é preciso perceber no que faltava a história restante. Se houve uma cultura primitiva desenvolvida na arte rupestre pelo lado europeu, onde estaria ela por essa altura? Não eram as planícies ibéricas, italianas, francesas, suficientemente atractivas para gerar civilizações? Por que razão se circunscreviam então as civilizações naquelas paragens próximas do Cáucaso, da Ásia Menor? As montanhas gregas ou turcas favoreciam a agricultura? As zonas áridas do Crescente Fértil não eram áridas? Então e o que dizer da zona norte de África, magrebina? Parava a influência egípcia no Nilo, nada havia a ocidente?

Bom, a ocidente haveria então a influência restante da população atlante esquecida. Alguma estabelecer-se-ia na Mauritânia, e nos antigos geógrafos greco-romanos ainda encontramos a referência "Atlantes" para os povos que viviam nessa parte do norte de África. 
Conforme observámos no texto "Grota do Medo", o Rei Hiempsal tinha o relato da expedição de Hércules à Hispania. Um exército de Arménios, Persas, Medos e outras nações... tipicamente da região caucasiana, provavelmente enviado para terminar com um novo poder que se estabelecia na Ibéria.

Schwennhagen dá importância ao domínio dos Geriões sobre a Ibéria, que teria quebrado a dinastia atlante. Os Geriões são remetidos à Ilha Eritreia e à capital Carteia... Muito provavelmente, em tempos de maior nível de água, a ilha Eritreia, contígua à península seria o Algarve, e Carteia é um nome antigo de Quarteira. 
Hércules contra os Geriões (dito melhor, "Guerriões"?)

A figura de Gerião, confunde-se com os filhos Geriões, e colide com a de Hércules. Um dos trabalhos seria roubar os Touros de Gerião... mas por outro lado, Hércules é visto como aniquilador do despotismo de Gerião, sendo depois vítima dos seus três filhos... que foram vistos como um monstro de 3 cabeças. Todo o contexto do mito, da história, depende do lado em que se coloca o contador. Os Geriões chegaram a ser vistos como libertadores da Ibéria... e nesse caso o invasor seria Hércules. Ora, isso embate contra a fama popular do herói grego (líbio ou egípcio), que emprestava o seu nome a quase todos os monumentos ibéricos, conforme criticava André de Resende.

A entrada de Hércules marca um período em que a revolta da restante população atlante foi esmagada pelo envio de um exército enviado pelos deuses-magos após a abertura do Mediterrâneo à navegação. As Colunas de Hércules marcariam a imposição desse domínio, e a proibição dos mediterrânicos a contactos para além daquele ponto. Após as colunas foi definido um Mar Eritreu, vermelho, como limite às navegações mediterrânicas.

O exército de Hércules após a sua morte acaba expulso, e segundo Hiempsal os persas, medos e arménios acabam por ficar do lado africano, sem qualquer simpatia dos hispanicos. É de considerar que apesar da derrota, os hispânicos tivessem acolhido bem Hércules e algum eventual acordo de paz, que os circunscreveria ao lado atlântico para navegações. Os deuses-magos exerceriam o seu poder sobre o lado mediterrânico e oriental até à Índia. As Colunas selariam esse limite... durante algum tempo, para obter as maçãs de ouro hespérides, Hércules aguentou com o equilíbrio do mundo, em substituição de Atlas. O acordo que passava do vermelho ao laranja, com maçãs douradas, seria esse... um fornecimento de ouro hispânico, que tornou o Tejo famoso na Antiguidade. 
Carregamentos que eram enviados para a Ásia Menor, para a Lycia, Lidia, Frigia... e que deram origem aos mitos de Midas e Creonte. Nem seria claro que fosse o Tejo a origem do ouro. Possivelmente poderia ser trazido doutras paragens, até americanas, e ali reunido para remessa posterior.
O "Velo de Ouro", missão dos Argonautas e Jasão na Cólquida caucasiana, verificaria o mundo restante após o prejuízo diluviano, circunscrevendo a grande ilha europeia. A Cólquida caucasiana simbolizaria a vontade de velar pelo ouro presente noutras paragens.

Car
Schwennhagen dá especial relevância à Cária, região vizinha da Lycia e Lidia, e ao seu fundador Car, um nome cabal, associado aos Cários e à capital Halicarnasso ("jardim sagrado de Car"). Citando-o:
Na época de 1800 a 1700 a.C. saiu da Caldeia, como emissário da Ordem dos Magos, o progenitor, respectivamente organizador e legislador dos povos cários, chamado K.A.R. Esse nome é uma forma cabalística cujo significado pertencia aos segredos da Ordem.
Depois prossegue, estabelecendo uma vasta ligação entre os Cários e os Tupis brasileiros. Car seria o precursor de uma religião monoteísta centrada em PAN ("senhor do universo"), os tupis chamavam-lhe TuPan, que se encontra também em Moisés com Jeová, ou até no faraó egípcio Akenaton, com o seu culto ao sol Rá.
Schwennagen dá exemplos de múltiplas palavras que usam Car, passando pelo feminino Caeres que daria Ceres (divindade similar a Cíbele, Gaia), e ainda das Cariátides, filhas de Car. Outras atribuições vão do fenício Cartago ao egípcio Carnac... mas também ao tupi Carioca, e até ao coloquial brasileiro "cara"! 
Portanto, se às vezes parece que exagero nas associações, basta olhar para outros autores para ver que até me contenho bastante nas simples especulações. Segundo ele, PIA era outra palavra dos magos para compreender a religião, e AGA era um servidor divino... assim, "carpia" pode ser relacionado com carpir - está correcto, e quanto a "caraga"? Bom, é só uma linha de exploração evidente. Nem estou só a brincar, porque estas coisas têm um lado "caricato", anedótico - mas também já vimos outras "piadas", e que os Anedotos eram afinal os poderosos Anunaki dos sumérios.

Esta associação de Schwennagen é importante porque mostra como o poder dos deuses-magos estava interessado também em consolidar-se nas paragens americanas, evitando a forma subsidiária dos hispanicos. Schwennhagen considera que a ligação ibérica era feita através de Tarsis e dos tartéssios, ligando logo aos fenícios e ao acordo entre Hirão e Salomão. Porém, creio que é preciso recuar um pouco mais, e falar de Tróia.

Tróia
Os barretes frígios foram vistos como um símbolo de liberdade, e Heródoto remete a origem dos frígios para a Europa. Aliás, os Países Baixos foram identificados com a Frísia, nome algo semelhante, tal como é semelhante o nome dos Lusos relativamente à Lycia (Lucia), lembrando que se escreveu Lysitania.
Pode ter acontecido que depois do embate herculeano, as populações atlânticas tenham recuperado lentamente, e constituído uma confederação de "galos", talvez melhor ilustrada pela presença da cerâmica campaniforme em toda a Europa. Conforme já referimos, esta seria a origem comum do nome da Galiza, da Gália, de Gales, da Galécia ucraniana, e depois da Galácia, na Ásia Menor. Toda esta região seria então navegável, e este ponto comum seria a base de uma cultura celta que ia buscar o seu passado anterior à invasão ariana. O seu porto principal seria, pois, um porto-galo, nos limites anteriores às colunas de Hércules, numa certa Tróia. 
Haveria uma correspondente Tróia na Ásia Menor, onde desembarcaria o ouro devido aos magos, pelo acordo de paz. O mais natural é que as cidades da Ásia Menor ficassem efectivamente com a riqueza explorada às colónias europeias.
Isso até ao ponto de ruptura, em que há uma tentativa de sublevação da colónia europeia de Tróia. Será o pretexto para a Guerra de Tróia, onde mais uma vez os gregos são encarregues pelos deuses de restabelecer a sua ordem em paragens afastadas. Conforme assinala Schwennhagen, o "Aga" em Agamemnon revelaria esse servidor dos deuses.
Ou seja, a Tróia turca existiria, seria destruída, mas o que demorou dez anos de guerra, e a odisseia de Ulisses seria uma outra Tróia remota, muito provavelmente em paragens ibéricas que acolhessem o ouro do Tejo e das várias minas alentejanas.
O desfecho é conhecido... Tróia cai, mas também se segue um período que ficou conhecido pela invasão dos "povos do mar". Estes povos do mar, vistos como piratas, seriam resultado do fim da estrutura social dos galos troianos... ficando por sua conta, atacariam o Mediterrâneo de forma caótica. Roma reclamará a herança troiana, mas antes disso os galos vão despertar como uma fénix que iria criar a Fenícia por via dos Venécios ou Venetos, que também seriam antecessores etruscos.
Este período é já colocado num tempo próximo... por volta de 1500 a.C.

(datação)
Temos evitado falar de datas porque não me parece haver nenhuma história plausível por mais do que 10 ou 20 mil anos, desde que o homem não é macaco! Falar de histórias com 100 mil anos ou até milhões de anos é simplesmente não pensar na actividade humana. Ninguém fica dezenas de milhar de anos a pintar grutas e a ver o tempo passar. Por isso, por estranho que pareça, a datação religiosa parece ser mais plausível, concatenando o despertar humano nuns simples 6000 anos... De resto parecem haver simplificações lineares de hipóteses nas datações científicas. Os ciclos não tiveram que ser sempre iguais, e a datação lunar precedeu a datação solar, o que multiplica anos por mais de 12 em registos de outras épocas... ou até por mais, se o ciclo lunar nem sempre fosse constante como hoje.
Ao contrário do ciclo lunar, que é evidente pelas fases da Lua, o ciclo solar só se deve ter tornado evidente com a agricultura numa época pós-glacial, em que as estações se ligavam directamente com as colheitas.

Aliás é de considerar que tenha sido uma perturbação orbital no sistema Terra-Lua, por algum embate violento de asteróide, que pode ter originado forças de marés semelhantes a dilúvios. Alterações climáticas e geológicas súbitas podem comprometer as hipóteses dos sistemas de datação simplificados, que normalmente ignoram "catástrofes", apesar de algumas delas estarem bem claras nos registos fósseis.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Estória alternativa (1)

Conforme referi no "ponto de situação" é tempo de embarcar por uma estória da história.
Alguém me fez notar que não é acidental não termos duas palavras e assim não distinguimos uma história contada da História passada. Talvez sempre se tivesse achado que tudo eram apenas "histórias", com importância relativa e não absoluta... como se a verdade fosse sempre impossível de escrutinar. 
Portanto, contamos aqui uma história ou estória, e nada mais que isso.

De Gelo ao Degelo.
Vamos retomar então o contexto no momento em que os invasores indo-europeus chegam à Europa.
Nessa altura haveria neandertais ou descendentes, que ligamos às primeiras pinturas rupestres. Já teriam tido contacto com outros sapiens, mas não com os arianos. Esse contacto seria talvez competitivo, mas não agressivo... Provavelmente a civilização desenvolvia-se em torno de pequenas aldeias-tribo, sem maior necessidade de contacto que o da vizinhança no tradicional território de caça. Haveria populações de grande estatura, quase gigantes, especialmente na zona da Bósnia-Croácia, mas também não seriam hostis... seriam depois forçados a migrar para paragens escandinavas.

A chegada dos invasores Oceânicos à Índia teria introduzido o sistema de castas, e ao fim de poucos milénios a estrutura social teria sido implementada com uma hierarquização brutal. Os invadidos eram tratados como escravos, isso não teria novidade, mas a própria hierarquia teria produzido novos estratos entre os invasores. Essa sociedade seria mais brutal do que sofisticada... mais sacrificial, ao género Azteca, mas sem a monumentalidade associada.
Para evitar o conflito interno iria ocorrer nova migração, sob a forma de força invasora na rota do ocidente. O oriente já teria ensinado que o desfecho de conflitos internos levaria praticamente a uma auto-destruição, de onde restariam apenas um ou dois clãs. Esses clãs teriam praticamente refeito do zero a população asiática, nas vertentes siberianas e chinesas. Para evitar o mesmo desfecho, a elite ariana seria impelida a uma invasão ocidental.
Começariam por ser mais agressivos com os povos mesopotâmicos, visando também uma entrada em África. Porém, a paisagem africana não se adequaria a aventuras invasoras. Os conflitos anteriores em África já teriam definido uma população esquiva, com tradições comuns às da própria Nova Guiné. Ninguém invade uma selva, a menos que se queira estabelecer como colono agricultor. As intenções dessa elite indo-europeia seriam outras... visariam replicar o sistema hierárquico nas paragens ocidentais.

Nesta altura a zona habitável seria reduzida. Latitudes acima do paralelo 45º seriam pouco convidativas. O início do degelo abriria novas paisagens, novas passagens, e seria por aí que avançaria a população indo-europeia ariana, evitando o contacto com uma população mediterrânica, mais avisada pelos embates na zona persa-mesopotâmica.
Seria então no avanço pela Europa central que se consolidaria o domínio indo-europeu e a invasão para ocidente, ficando o enorme lago mediterrânico cercado a norte.
O embate traria novidades para a comunidade indo-europeia, e essas inovações apareceriam em todo o continente euro-asiático.
Subitamente, para além da maior agressividade indo-europeia, ariana, uma nova componente mais criativa, resultante do embate com os místicos pintores rupestres iria catapultar a civilização.

Nesta história, haverá um fundador inicial, um Brama (Vrama), que pode ligar-se a Urano, na posterior tradição grega. A ideia de ter 10 Prajapati (... ou "praia-p'a-ti") que o aliviariam da regência do mundo... mas se os Vedas significam "conhecimento", também sabemos que "veda" é para vedar um conhecimento (que não se "chiba"). 
De qualquer forma percebe-se que actividades principais seriam medicina, música-dança, e uma arte militar muito ligada ao conjunto arco-flecha (dhanur-veda). Seria ainda a "onda" da Oceania, mais especificamente uma onda de Java... ilha de onde teriam emigrado os invasores indo-europeus.
Eventualmente a sequência poderá parecer parva, mas "parva" é também uma palavra hindu para livro.

Templo a Trimurti - a trindade «Brama, Visnu, Chiva» (Prambanan, Java, Indonesia)

Com a saída da Índia dá-se uma divisão principal, que se nota não só na diferença dos haplogrupos R1a (India e Europa-oriental) e R1b (Europa-ocidental), mas também na diferença linguística... sendo coincidentes na forma geográfica de forma surpreendente.
Centum vs. Satem - diferença da raiz da palavra 100 nas línguas indo-europeias.
O mapa coincide com a diferença entre R1a e R1b (as múmias Tocharian em Tarim eram R1b)

No lado ocidental terá havido mais uma confluência de culturas, já que o que restaria da herança neandertal seria europeu, mas separado de outras populações mediterrânicas. O estabelecimento dos arianos pode ter sido feito com alguns e contra os restantes. A língua base seria a dos indo-europeus forçados a migrar, mas talvez se tivesse mantido uma língua original (basca), dos invadidos. Essa distinção seria depois usada como factor elitista no novo poder que se iria consolidar. Das encostas dos Himalaias, onde dominavam a Índia, a nova migração usaria as encostas dos Pirinéus para definir um novo poder... atlântico, atlante.

Esta será uma época de transição de gelo para degelo, e uma época de primeiras navegações... as navegações atlantes, que vão chegar à América, em particular ao Canadá, onde há um registo R1b antigo (curiosamente existe na India uma linguagem chamada Kannada).
Esses atlantes americanos encontram também na América as populações que teriam migrado da Oceania pela orla do Pacífico, e que seriam os ascendentes da maioria da população índia americana.
Estes atlantes iriam sair da sua base nos Pirinéus e definir cidades chave na costa atlântica... talvez as sete cidades. Controlariam o vasto território ocidental, tendo praticamente perdido o contacto com a civilização indiana e ariana... excepto ao nível mais elevado, da casta sacerdotal dos magos. 
Detinham um certo avanço tecnológico, especialmente marítimo, mas também ao nível dos artefactos, nomeadamente com o metal. Esse conhecimento era ainda mágico, ou seja dos magos, da classe sacerdotal, e não estaria difundido na população. 
Durante os milénios seguintes, até à fase crítica do degelo, iriam demonstrar a sua superioridade como deuses. Por vezes entrariam como cavaleiros que passavam por centauros, doutras vezes apareceriam no seu baile de máscaras como mistura divina homem-animal. Os povos mediterrânicos, que antes tinham evitado, passavam a ser usados como crianças órfãs, para passatempo em jogos divinais, e o objectivo principal seria mantê-los ignotos.

O Dilúvio
Uma hipótese que me parece interessante, e que levaria à queda parcial do poder atlante, seria a ameaça progressiva da subida das águas. A certa altura tal subida poderá ter sido mais abrupta, devastadora, levando ao colapso das principais cidades costeiras, onde os atlantes definiam o seu poder.
Até onde subiriam as águas?
Também na Índia encontramos um registo semelhante ao de Noé, com um sobrevivente humano... Manu, em conjunto com "sete sábios"...
Matsya - avatar peixe de Vishnu - salva o homem Manu e os sete sábios

Tal aumento marítimo deveria ter conduzido a um colapso social dessa sociedade atlante.
Os sete sábios atlantes teriam que tentar a sua sorte com outros povos para definir nova mão-de-obra operacional... os restantes atlantes entrariam em revolta, num caos social que demoraria a estabilizar, e que já não seria cooperativo com o poder xamã, dos magos, dos sábios, dos sacerdotes.
O reínicio dos magos pode ter sido feito de novo com a ajuda de um poder centralizado nos Himalaias.
Pelo lado ocidental seria consolidado na zona turca do Cáucaso, preparando-se no monte Ararat uma embarcação colossal para uma eventual subida dramática das águas.
Essa seria a ligação ao mito da "arca de Noé".
O estabelecimento de nomes como Ibéria e Albânia traduziria essa ligação às penínsulas ibérica e itálica, perdidas... não tanto pelo risco de submersão, mas mais pelo risco de subversão. 
Os magos tinham perdido o seu poder na parte atlântica.
Por sua vez, a Cólquida deveria referir as paisagens perdidas por submersão no lado americano, muito provavelmente na zona da Terra Nova e também das Caraíbas.

É tempo de reconstruir a sociedade mágica, e os magos vão precisar de reeducar as tribos incipientes que antes amedrontavam e exploravam. É tempo de fazer nascer impérios e culturas no médio-oriente. Começa aqui o tempo da história contada, não sem antes fazer desaparecer o que restava da história pelo lado ocidental. Com a ajuda dos magos exilados, feitos deuses, é tempo dos gregos derrotarem as populações atlantes, fragilizadas, que se refaziam do colapso social. Este seria o orgulho grego que os sacerdotes de Heliópolis contariam a Sólon. 

Porém, essa restante sociedade ocidental atlante, quebrada pela subida de águas e pela manipulação dos magos sobreviventes, emigrados em paragens caucasianas, tentaria recompor-se de novo, várias vezes.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Ponto de situação

Até aqui tenho basicamente colocado informações sobre as quais tenho informação considerável.
A informação fica solta, e fiz várias tentativas de prosseguir colando a diversa informação... porém, o problema acaba por ser escolher uma das múltiplas vias.
Se damos mais valor ao registo mítico acabamos por versões demasiado especulativas, com pouca base na informação disponível. Se nos deixamos ficar pelo material mais fiável, paramos... mas não é por isso que deixam de se colocar várias hipóteses que fazem sentido.

Em concreto, podemos seguir a linha de Ludwig Schwennahagen, que me parece ser quem melhor procurou compilar a informação antiga. No entanto, fazer aparecer uma Atlântida do nada, como faz Schwennagen, não me satisfaz, porque deixa tantas ou mais perguntas. Tem a vantagem de acompanhar o registo bíblico das viagens de Salomão...

Surgiu uma hipótese que estou a considerar, mas faltam-me muitos dados ainda para a tornar mais sólida.
Em poucas palavras, a ideia seria que o propalado "Império Atlante" não saiu do nada... foi resultado uma evolução migratória que começou noutras ilhas remotas, a oriente, na Oceania, e marchou como uma invasão imparável, com duas vertentes coordenadas. A vertente oriental que se consolidou na China, e uma vertente ocidental que se consolidou na Índia e depois no Atlântico, dando origem à ligação indo-europeia. A Índia poderá ter servido de charneira na ligação entre estes dois pólos geográficos, que depois se autonomizaram consideravelmente.

Na Idade do Gelo ter-se-ia consolidado uma vertente ocidental, europeia, que teria acolhido o ímpeto agressivo dos invasores indo-europeus, incorporando o registo místico dos pintores rupestres. Aceitar um espasmo artístico cavernoso sem outra continuidade parece-nos redutor.
Essa incorporação definiria um poder completamente diferente. À componente secreta do poder sacerdotal dos invasores acrescia um misticismo mágico dos invadidos. O ilusionismo poderia adquirir estatuto de pragmatismo no poder. As elites iriam manipular e jogar com a ignorância dos povos.
À distância ficavam os restantes povos mediterrânicos e africanos, de outra ascendência, condicionados por manobras de bastidores. Essa nova elite actuaria sem se revelar, condicionando tribos, fabricando mitos e deuses. Se apareciam montados em cavalos, eram centauros que roubavam mulheres gregas, e disfarçados numa mistura animal-humana podiam aparecer como deuses de vários panteões.
Esses "atlânticos" só entrariam no Mediterrâneo, um lago na Idade do Gelo, pelo estabelecimento em ilhas chave... esse espaço serviria de recreio para essa "elite atlântica", autênticos deuses que presidiriam à construção e destruição de impérios.
Ainda na Idade do Gelo, o poder atlântico consolidar-se-ia pelo estabelecimento próximo, numa Europa Atlântica que ligaria à Mauritânia, mas também pelo estabelecimento distante... em paragens idílicas, em Hespérides, na zona das Caraíbas, e em outras paragens americanas. Essa seria a parte que mais sofreria com o degelo posterior.

É natural que o crescente aumento do nível das águas determinasse uma instabilidade social, e um eventual colapso hierárquico nessa estrutura "atlântica". O império pode ter colapsado pela base, separando a elite atlântica da maioria da população europeia, desagregada da sua antiga estrutura de poder...
Esta hipótese serve para justificar o aparente retrocesso civilizacional da população europeia, que se viu forçada a uma reconstrução social, tendo provavelmente criado os primeiros ensaios tribais republicanos.
A plebe atlante estaria sujeita ao ataque das estruturas civilizacionais mediterrânicas, apadrinhadas pelo imperialismo duma elite sacerdotal remanescente, mas ausente.

Surge agora a "novidade", que é uma simples conjectura, até reúna outras evidências. 
Podemos especular que, perante o avanço do degelo, a "migração de Noé" para o Cáucaso tenha sido mais uma organizada navegação lacustre, com o objectivo de estabelecer na Ásia Menor uma reedição das paragens atlânticas que iam ficando submersas pelo avanço dessas águas. Em desespero de causa, talvez os partidários de Noé tenham mesmo pensado em fazer uma enorme arca no topo do monte Ararat, último refúgio, caso tudo o resto falhasse. Quando dizemos isto, apontamos para a reprodução de nomes na península turca, e em particular para a existência de uma Ibéria e Albânia caucasiana... a Cólquida pode representar assim a parte ocidental, para sempre submergida.
Seria essa nova Cólquida que encerraria o Velo de Ouro, o símbolo do velho poder atlante mergulhado no Dilúvio. Os "deuses do antigo poder" passariam a reunir-se em paragens Olímpicas bem altas, temendo novo colapso diluviano. Restabelecido o poder em torno do Cáucaso, da Turquia, da Grécia, o mar não subiria tanto quanto temido, e as populações abandonadas tenderiam a reorganizar-se autonomamente.
A mesopotâmia ibérica com as suas províncias de Entre-Rios pode ter esboçado uma reorganização independente, ausente que estava o poder em paragens caucasianas... podem ter erguido grandes torres, desafiando o antigo poder, e sofreriam consequências. Aguardaria aos deportados uma nova Mesopotâmia, colocada em lugar mais próximo do Cáucaso, mais facilmente controlável... uma Babilónia onde sempre chorariam Cião. A história seria recontada partindo do oriente, lugar bem central, que só foi chamado oriente relativamente ao ocidente perdido.
O ocidente tem que se erguer de novo, de restos sobreviventes, mas com um considerável atraso. É tempo dos grandes monumentos na Mesopotâmia... pelo lado europeu refaz-se uma cerâmica campaniforme. Entretanto o mar pára de subir, Jasão tem autorização divina para fazer a sua viagem exploratória pela passagem norte, pelos pântanos polacos, que em breve fechariam o Mar Negro à entrada norte.

Os gregos dominariam temporariamente os mares, mas despertaria de novo o lado ocidental pelos "galos", celtas e venetos etruscos, é então altura de Tarsis, e da tentativa de colocar na Fenícia um posto marítimo avançado, em Ur, Tur, Tiro. Os galos fenícios disputarão o Mediterrâneo com os gregos. O galo passaria a ser a ave fénix fenícia, e reergueria nas suas velas as riscas alvi-rubras, as vezes necessárias.

Egipto, Grécia, Pérsia e depois Roma, serão palco de disputas internas religiosas de índole política.
No Egipto, o monoteísmo de Akenaton, centrado num Rá solar, e também os segredos de Hermes Trimegisto... opunham-se de certa forma à panóplia de divindades tradicionais. Algo semelhante ocorre com o Zoroastrismo na Pérsia, que de alguma forma vai substituir as divindades antigas.
O mesmo se passa na Grécia, onde as várias vertentes filosóficas mais racionais embatem contra o panteão clássico de divindades. Na Índia com o budismo, na China com o taoísmo, aparece esse movimento global, que dá um estatuto filosófico à religião, ainda que ela mantenha um certo carácter popular.
Em Roma a principal disputa será entre o cristianismo e o panteão clássico de divindades, mas inicialmente este cristianismo é gnóstico, ligado a essa vertente filosófica hermética.

Esta instabilidade acaba por seguir, grosso modo, a transmissão do poder mundial, de acordo com as "monarquias universais" de Figueiredo.
Tentarei nos próximos textos dar alguma sequência mais detalhada a estas ideias.