Continuamos com outro texto, que ficou como rascunho em 22 de Julho de 2011, ou seja, no dia seguinte à publicação do texto «O cozinheiro e o sanduíche», e portanto só se entende melhor, lendo-o primeiro.
Aliás, «o cozinheiro e o sanduíche» é um dos textos que mais marcou este blog, e por isso na resposta ao único comentário que teve, refiro:
Na sequência do texto anterior, sobre o arquipélago Houtman Abrolhos, e analisando o mapa Typus Orbis Terrarum de Ortélio (1570) encontramos um arquipélago Abreojos no Pacífico, conforme assinalamos:
Aliás, «o cozinheiro e o sanduíche» é um dos textos que mais marcou este blog, e por isso na resposta ao único comentário que teve, refiro:
Por isso este post é pouco sobre a descoberta da Austrália... - é muito mais sobre as Ilhas Abrolhos!Ora, a observação neste rascunho era muito mais sobre o detalhe. Num mapa de 1570 apareciam no Pacífico ilhas chamadas "Abreojo", numa localização não longe da Austrália, e portanto o nome existia em ilhas "australianas" (e não apenas no Brasil), antes de serem redescobertas por Houtman, 50 anos mais tarde. O texto tinha vários outros apontamentos de detalhe sobre os mapas de Ortélio, mas como já não era esse o assunto que mais me ocupava, acabei por não lhe dar importância.
_____________________ 22/07/2011 ____________________
Na sequência do texto anterior, sobre o arquipélago Houtman Abrolhos, e analisando o mapa Typus Orbis Terrarum de Ortélio (1570) encontramos um arquipélago Abreojos no Pacífico, conforme assinalamos:
não está junto à Australia, porque ela não aparece. Como os restantes mapas da época, assinalam uma Nova Guiné mal definida, um grande continente Austral - que neste caso Ortelius associa a Magalhães, pelo lado ocidental do mapa, e a Marco Polo pelo lado oriental, onde aparece Java Minor.
Merece alguma atenção todo o retrato asiático, especialmente a parte da Ásia setentrional, onde identifica já uma Nova Zemla (não como ilha), e a parte junto ao Cáspio, aqui chamado Bachu.
Após os Urais, há alguns nomes de cidades desconhecidos, como Wiliki, Marmorea, Obea, Calami, Cossin, Naiman, Turfon, Taingim, Mongul, e até Cattigara, entre outras.
Haveria bastante a dizer sobre vários casos, mas resumimos a Naiman - tida como tribo mongol, a Turfon com fonética de turfa, a Taingim que se confunde com Tianjin, enquanto é feita uma distinção entre China, Cathaio e Mongol. Ou seja, Cathaio aparece numa zona a norte da China, ou coreana, onde coloca ainda Cattigara, tida como cidade ao sul.
O mapa parece impreciso para algumas dúvidas legítimas, mas é razoavelmente correcto a colocar os cursos de água, nomeadamente o Rio Obi - que é bem identificado.
Fica ainda evidente uma extensão apreciável do Mar Cáspio (que se uniria ao Mar Aral), que não estaria longe de Samarcanda, na rota da Seda, e capital do império de Tamerlão. A zona do Turquistão ou Corasan (Khorasan) era o coração das relações entre Oriente e Ocidente, que da China e India passavam à Pérsia. Aqui o Cáspio já está reduzido a uma dimensão mais pequena, mas os cursos de água permitem ver como um aumento do nível do mar permitiria ligar o Cáspio ao mar setentrional. Ainda hoje, o registo de povoações importantes permite prever a extensão desse mar antigo.
Vemos ainda que no Mar Negro a foz do Danúbio está bastante recuada, podendo suspeitar-se que o Bucur na lenda de Bucareste fosse mesmo pescador. Conforme já assinalámos, apesar de Bucareste ter resistido até Constantino, a língua latina prevaleceu... com algumas diferenças - Mare não significa Mar, mas sim "principal". Política draconiana para evitar confusões de toponímia com um mar que se ia reduzindo...
Relativamente a este mapa, acrescentamos apenas que Ortelius coloca Troia onde Schliemann a vai procurar depois.
Portugal, por Ortélio
Falando em Troia, Ortélio tem um mapa particular de Portugal, que aqui mostramos a parte da província de Antre-Tejo e Guadiana (uma designação mesopotâmica tal como Entre-Douro-e-Minho).
O rio Sado era chamado Rio Palma, ligando assim a uma Palmela (que não está representada), podemos ver que Melides, em vez de lagoa teria uma grande entrada marítima pelo "Lago de pera", onde do outro lado de Sines apareciam várias ilhas do Pessegueiro, e não apenas um ilhéu. Há vários detalhes, mas nota-se também aqui o avanço actual da linha costeira.
Esse avanço costeiro aparece aqui como mais evidente na zona da Estremadura, especialmente na foz do Mondego.
O mapa pode prestar-se a algumas confusões, pois o recúo marítimo parece estar aqui exagerado, talvez por erro no traço.
Não deixa de ser interessante aparecer uma "Nova Lisboa" junto a Peniche e Atouguia, e uma "Anilu" na zona de Torres Vedras(?).... as interpretações estrangeiras levam a algumas estranhas trocas, e vemos aqui a Ericeira enquanto "Ciriceira".
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