sábado, 22 de agosto de 2020

O tal canal

A falta de ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico terá sido um dos principais problemas com que se debateram as navegações portuguesas, e a viagem de Magalhães só pode ser entendida nesse quadro histórico. Uma prova para isto está nesta fotografia:
Mulheres afro-colombianas.

A inenarrável historiografia oficial insiste em pintar as coisas de forma que chega a roçar o ridículo.
De acordo com a estorieta oficial, aquando da viagem de Magalhães, a América do Norte acima da Flórida, e abaixo do Labrador, não seria conhecida pelos espanhóis. Estamos a falar praticamente de toda a costa leste dos EUA, a menos da Flórida (viagem de Ponce de Léon, 1513). 
Então por que razão iria o imperador Carlos V financiar em 1519 a viagem de Magalhães pelos gelos da América Sul, em vez de apostar de ir a direito, na direcção de Washington?
Silêncio. Aliás se Colombo estava tão interessado nessa passagem, porque não a procurou a norte?

No entanto, já Duarte Pacheco Pereira tinha relatado que o continente americano ia de 70ºN a 28ºS, pelo menos... o que abria apenas as possibilidades de tentar acima de 70ºN, algo que os irmãos Corte Real tentaram fazer, ou então a possibilidade de tentar abaixo de 28ºS, algo que o próprio Magalhães confessou saber, ou conforme o relato de Pigaffeta:
"This strait was a round place surrounded by mountains, as I have said, and the greater number of the sailors thought that there was no place by which to go out thence to enter into the peaceful sea. But the captaingeneral said that there was another strait for going out, and said that he knew it well, because he had seen it by a marine chart of the King of Portugal, which map had been made by a great pilot and mariner named Martin of Bohemia." 
Magalhães teria visto o estreito numa carta marítima do Rei de Portugal, feita por Martin Behaim, provavelmente ainda no tempo de D. João II, mais concretamente aquando das viagens de Diogo Cão, que acompanhou, que existia a passagem pelo Estreito, depois chamado Magalhães.

Por isso, esta tentativa pelo lado sul, muito mais longínquo e moroso, era algo que resultava de informação privilegiada... sendo claro que, ainda antes da expedição de Estêvão Gomes, já os espanhóis sabiam da costa norte-americana, o que contrariava alguns mapas que circulavam à data.

Há dez anos atrás, quando coloquei o paralelismo África-América, ficou para mim claro o assunto. Perante a imensidão do continente americano, os portugueses levaram a cabo uma política de exploração marítima sem precedentes. Não precisavam de rápidas caravelas para explorar a África... tanto que depois acabaram por deixar de as usar, optando por naus mais pesadas. Precisaram das caravelas para a exploração da costa americana.

Durante algum tempo, provavelmente ainda durante o tempo do Infante D. Henrique, houve a confusão de que o Brasil poderia ser a Etiópia, porque a ideia de Colombo era muito antiga, muito anterior ao próprio, e se não houvesse América, à latitude da Etiópia iria parar-se ao norte do Brasil. Assim, Duarte Pacheco Pereira ainda usa noções vindas desse tempo, e chama Etiópia e não Guiné a essa parte africana, do lado atlântico, dizendo: (...) e esta primeira Ethiopia corre e se estende por costa do dito Rio de Canagua [Senegal] até o cabo da boa esperança (...) 
Só pela falta do nome Guiné no relato de Pacheco Pereira, deveriam os historiadores pelo menos questionar essa omissão.

Para quem se embrenhou no assunto num curto espaço de tempo, no final de 2009, procurei estabelecer relações entre os lugares apontados, por exemplo na Crónica de Zurara (os números correspondem aos capítulos):
Algo que nunca aqui deixei escrito, porque não consegui estabelecer uma relação directa, mas que me permitiu obter uma ideia concreta do paralelismo existente na descrições de paragens africanas e americanas.

A ideia que me pareceu clara então foi que o Infante D. Henrique deixou declarado o descobrimento até ao Cabo Sagres, em Conacri, com o correspondente no cabo e rio Chagres no Panamá.
Canágua, que depois passou a Çanaga, e depois Senegal, teria o equivalente em Manágua.

Mas o que se seguiu, já com D. João II, é que seria mais interessante. 
A passagem e contacto com os Incas, teria ocorrido através do Rio Atrato, por Quibdó e Istmina, até ao Rio San Juan, na Colômbia. Essa seria a ligação Atlântico-Pacífico, que chegou a ser considerada como alternativa ao Canal do Panamá:
Alternativa ao canal do Panamá, usando os rios Atrato e San Juan, na Colômbia.

A vantagem é que ambos os rios eram muito navegáveis, e na estação das chuvas, os leitos dos dois rios confundem-se, permitindo um curso de água entre os dois oceanos. Caso contrário, a ligação seria feita entre Quibdó e Istmina (istmo-mina), por carregadores "contratados para o efeito"...
Ora, por misteriosa razão, sabe-se isto acerca dos afro-colombianos:
(...) most of whom are concentrated on the northwest Caribbean coast and the Pacific coast in such departments as Chocó, whose capital, Quibdó, is 95.3% Afro-Colombian as opposed to just 2.3% mestizo or white.[8] Considerable numbers are also in Cali, Cartagena, and Barranquilla. Colombia is considered to have the fourth largest Black/African-descent population in the western hemisphere, following Haiti, Brazil and the United States
Desconheço qual é a razão oficial para justificar uma presença acentuada de população de origem africana na costa pacífica colombiana (~ 3 milhões), com principal incidência nesta ligação que ia do Rio Aratro ao Rio San Juan:
Distribuição da população afro-colombiana na Colômbia, com ênfase no mapa acima (quadrado vermelho)

Certamente que não seria pelo tráfico de escravos africanos, de que a Espanha estava privada, que eles eram ali "contratados". Mesmo que se diga que sim, por que razão seria ali e apenas ali?

Depois de ver o mapa de João de Lisboa, com os castelos portugueses na costa do Pacífico:

e a situação tornou-se clara para mim, há 10 anos atrás.

Havia um forte da Mina, mas a verdadeira Mina, como os espanhóis depois perceberam, era a mina de ouro dos Incas. Por isso, havia também o Castelo da Mina, edificado por Diogo de Azambuja, a mando de D. João II. Esses castelos portugueses estão assinalados a verde, e não têm qualquer explicação... Armando Cortesão diz apenas que se trata de um erro grosseiro.

Assinalo ainda (a amarelo) um "pº de naos de Brasill", junto à cidade de Cartagena, o percurso que iria pelo Rio Atrato até ao Rio de São João, e mais abaixo a cidade de Lima.

Estes mapas de João de Lisboa misturam designações espanholadas, com nomes claramente portugueses. Assinalei o "porto de naus do Brasil", porque que sentido é que faz esse nome no contexto espanhol? E que contexto espanhol? Apenas se vêem bandeiras portuguesas e uma vermelha que seria moura ou mais provavelmente inca. 
Lima não era o nome dado à época, os espanhóis colocaram antes o nome Ciudad de Los Reyes, mas já depois de João de Lisboa morrer (1525), porque antes disso, ainda mal tinham ali chegado. Pizarro começa a conquista em 1531.
Essa é uma característica típica dos mapas de João de Lisboa - têm nomes diferentes dos espanhóis, alguns dos quais se mantiveram até hoje! Ora, por que razão haviam os portugueses de ter mapas melhores que os espanhóis, da parte que só a Espanha poderia explorar?

Depois há outra questão, por que razão vai D. João II morrer em Alvor?
Pode dizer-se que procurava tratamento nas Caldas de Monchique... mas não foi aí que passou os últimos dias, que escolheu passar sozinho em Alvor. A rainha D. Leonor e o irmão D. Manuel ficaram em Alcácer do Sal, aguardando, e o filho D. Jorge, perto de si, mas ao lado, em Portimão.
Houve aqui uma curiosidade que retive.
O rio Arade tem uma certa semelhança com o rio Atrato, ligando Alvor-Portimão a Silves e pelo afluente Odelouca nasce perto das Caldas de Monchique, perto de onde sai também o rio Mira para o Atlântico. É nessa região colombiana de Caldas que nascem igualmente os rios Atrato e San Juan, um indo para o Atlântico e outro para o Pacífico. Pareceu-me uma analogia interessante, mas em retrospectiva, foi daquelas situações em que quis ver mais do que era dado a ver.
Garcia de Resende diz que D. João II pensou primeiro ser sepultado em Lagos, como o Infante D. Henrique, mas depois escolheu Silves, pedindo para que depois os ossos seguissem para a Batalha.

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Notas (01.09.2020):
Em comentários abaixo, IRF faz observações pertinentes:
  • Que a origem da população africana na Colômbia não seria caso único, contestando com alguma razão (ver população africana na América Latina) uma parte do argumento usado no texto, ficando de qualquer forma em aberto ser ainda assim muito superior e concentrada na costa do Pacífico, em especial em Quibdó.
  • Que haveria ouro na Costa do Ouro, o que é correcto, mas fica em aberto saber em que extensão esse ouro saía à época e de que "Mina"? (... as minas não seriam ao lado do Forte da Mina). Já que, quando os holandeses tomaram o forte, passaram a usar o Forte para traficar escravos, chamados "negros da mina". Aliás as referências ao ouro da Mina parecem escassear depois de D. Manuel. 
  • Invoca ainda Mansa Musa, um lendário rei do Mali que teria exibido bastante riqueza em ouro aquando da sua peregrinação a Meca no século XIV. Esse império do Mali é referido por historiadores árabes que falam em caravanas de ouro, mas a base documental será semelhante à das viagens portuguesas à América e poderá confundir-se com lenda que é retratado no mapa catalão de Abraham Cresques:

31 comentários:

  1. " De acordo com a estorieta oficial, aquando da viagem de Magalhães, a América do Norte acima da Flórida, e abaixo do Labrador, não seria conhecida pelos espanhóis. Estamos a falar praticamente de toda a costa leste dos EUA, a menos da Flórida (viagem de Ponce de Léon, 1513).
    Então por que razão iria o imperador Carlos V financiar em 1519 a viagem de Magalhães pelos gelos da América Sul, em vez de apostar de ir a direito, na direcção de Washington?
    Silêncio."

    Lindo.
    O caro Alvor Silves tem de voltar a compilar perguntas destas...

    "Aliás se Colombo estava tão interessado nessa passagem, porque não a procurou a norte?"

    Acho natural o caminho de Colombo, especialmente dado o personagem, o que só foi reforçado desde que descobri que "ao andarmos sempre em frente na direcção dos paralelos (Leste e Oeste) não seguimos pelos paralelos (Leste e Oeste)" (estou certo que o Alvor Silves me percebe).
    Mas está aí aberta uma questão prática interessante.
    Nós não temos registos - parece-me - de viagens Espanholas antes ou depois da primeira viagem de Colombo até cerca de 1505 ou lá o que é... Excepto para as Canárias.
    Durante mais de uma década as viagens Espanholas são praticamente a iniciativa quasi-privada de Colombo.
    Parece que o personagem era casmurro e não queria saber de passagens a Norte nem a Sul.
    Parece que os Espanhóis eram demasiado incompetentes para quererem saber ou que as viagens eram pouco importantes para os Espanhóis.

    Esta coisa de estender a Europa a outros continentes (Sibéria e Norte da Ásia incluída) levou a um jogo em que quem ficasse de fora e não aguentasse o ritmo perdia. E o perdia aqui podia mesmo querer dizer a morte e não a mera perda de influência relativa.
    O mesmo aconteceu com a escravatura.

    A lógica das Nações Europeias de dimensões continentais era (e é?) implacável.
    Os Portugueses tinham noção da sua pequenez e procuraram apenas tomar pontos estratégicos e acumular riquezas sem incitar a ira e inveja de outros mais poderosos...
    Mas os Espanhóis estavam divididos relativamente ao Império Ultramarino e ao Império Europeu.
    O mesmo se passou com os Franceses.
    E em certa medida também com os Ingleses: Escócia, Irlanda, partes de França...
    Os Holandeses não podia dispensar a balança de poder e o equilibrismo na Europa.
    Alemães, Austríacos, Russos e Polacos... nem se fala. Parece que só ligaram ao Ultramar quando atingiram o seu potencial máximo na Europa... e só mesmo porque não podiam ficar de fora...

    "Então por que razão iria o imperador Carlos V financiar em 1519 a viagem de Magalhães pelos gelos da América Sul, em vez de apostar de ir a direito, na direcção de Washington?"

    Carlos V sabia muito.
    É a partir de Carlos V que os Espanhóis se tornam competentes a sério (não é?) e arrasam os territórios Americanos fulgurantemente.
    De certeza, como o Alvor Silves insinua, que Carlos V sabia das navegações "cobertas" Portuguesas.
    O que nos serve de indício de que os Portugueses já tinham estado no Estreito de Magalhães ou Cola do Dragão...

    É fantástico como estas pérolas como a de Pigafeta são ignoradas pela historiografia apesar de estarem em documentos aceites por ela...

    "the captaingeneral said that there was another strait for going out, and said that he knew it well, because he had seen it by a marine chart of the King of Portugal, which map had been made by a great pilot and mariner named Martin of Bohemia."

    Excelente... mas Martinho da Boémia? Duvido... lol
    Aí há gato... aí há muito que des-cobrir.

    Cumprimentos,
    IRF

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    1. IRF (2-colon):
      Colombo fez 4 viagens. Depois da inaugural em 1492, logo em 1493 os reis católicos mandaram-no de novo acompanhado de gente de confiança para terem certezas para Tordesilhas. Uma pergunta que lhe fazem é se achava poderem dispensar o caminho pelo sul de África. Colombo diz que sim, porque estava confiante que tinha chegado à Ásia.
      Depois em 1498 vai verificar se D.João II tinha razão sobre o Brasil, indo bater na Venezuela.
      Finalmente em 1502 faz uma viagem só na zona de Honduras-Panamá e Antilhas. Ver comentários seus:
      https://alvor-silves.blogspot.com/2019/10/dos-comentarios-56-continente-americano.html

      Ao mesmo tempo houve iniciativas de Pinzon, Hojeda, Balboa, e Ponce de Leon, em 1513 foi o que subiu mais a norte, antes de Estevão Gomes declarar a costa dos EUA (que pode ter sido visitada por Caboto em 1498).

      A razão pela qual os Espanhóis se restringem a sul da Flórida, quase sempre, é outro mistério...
      Talvez tivessem mais que fazer, tão entretidos ficaram a acabar com os Aztecas em 1519 e com os Incas em 1531.
      Mas não deixa de ser estranho, porque andaram mais preocupados em chatear os portugueses com as Molucas, cruzando o Pacífico desde a viagem de Saavedra em 1529.

      Sim, só com Carlos V, genro de D. Manuel, é que a Espanha se torna competente.
      No entanto, é preciso ter cuidado com a "pequenez" lusitana... especialmente do lado feminino!
      Os Habsburgos só tomam vontade de abarcar grandes territórios no ímpeto da Infanta Isabel, duquesa de Borgonha, que tinha verdadeiramente um projecto de poder imenso. O casamento da Infanta Leonor, como imperatriz, e depois o casamento de Isabel filha de D. Manuel com Carlos V, dá à casa de Habsburgo demasiado toque feminino luso.
      Os Austríacos percebendo isso, exigiram a separação a que Carlos V foi forçado, deixando ao filho Filipe II apenas a parte não-germânica do império.

      Carlos V foi praticamente visto como filho por D. Manuel, e creio que os portugueses ajudaram os espanhóis propositadamente, na divisão do hemisfério. Na minha opinião, a divisão de Tordesilhas é projecto de D. Manuel, sob influência total da irmã, a Rainha D. Leonor - a mulhar mais poderosa do seu tempo, a quem deveu a sucessão.
      A rainha D. Leonor, D. Manuel, e a mãe D. Beatriz, tinham a sucessão do Infante D. Henrique, e prescindiram propositadamente dos territórios que tinham na América, para os espanhóis.
      Convém notar que não me parece que D. João II quisesse ter tudo... e quando viu os espanhóis interessados na exploração marítima, foi uma novidade que não recusou. Quis somente esclarecer o que pertencia a quem, e depois iria tudo parar ao filho de D. Manuel, Miguel de la Paz, se este não tivesse morrido com a mãe.
      É claro D. João II preferia que fosse D. Jorge, mas isso foi-lhe vedado pelas manobras de D. Leonor.

      As nações europeias assistiram ao folhetim luso-espanhol, mas não perdoaram após a Guerra dos 30 anos.
      Tem razão, a Paz de Vestfália parece secundária, mas é crucial na nova ordem.
      É a partir daí que tem a Suécia a desenvolver-se rapidamente, e também teve Companhia das Índias...
      A Alemanha é completamente dispersa em centenas de principados, e a França emerge sem oposição no continente.
      Mas sim, a Inglaterra, depois de passar por conturbações e ser até invadida pela Holanda, acaba por beneficiar dessa invasão, passando a Holanda para segundo plano. A Holanda foi só uma etapa temporária, tal como Portugal.
      Acerca dessa "Revolução Gloriosa" tem aqui:
      https://alvor-silves.blogspot.com/2012/11/as-tulipas-e-os-futuros.html

      Esta ultra-competição interna europeia foi o que lhe permitiu desenvolver-se acima de tudo o resto.
      É verdade que os Otomanos ameaçaram a Europa, mas foi justamente o desenvolvimento das descobertas que não lhes permitiu sair do Mediterrâneo e massacrar apenas os eslavos, gregos, e austríacos.
      Não fosse o Índico e o Atlântico mares portugueses/europeus, e a ameaça otomana não seria brinquedo.

      Cumprimentos.

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    2. Colombo.

      Ora, ao ler sobre Vasco Nuñez de Balboa e as suas viagens na wikipedia em castelhano, encontrei isto:

      "En 1508, el rey Fernando el Católico sometió a concurso la conquista de Tierra Firme."

      aqui:

      "https://es.wikipedia.org/wiki/Vasco_N%C3%BA%C3%B1ez_de_Balboa#Viaje_a_las_Indias"

      Achei digno de nota, só isso.

      "Ao mesmo tempo houve iniciativas de Pinzon, Hojeda, Balboa, e Ponce de Leon, em 1513 foi o que subiu mais a norte, antes de Estevão Gomes declarar a costa dos EUA (que pode ter sido visitada por Caboto em 1498)."

      Acho de uma enorme importância esclarecer e documentar a "ordem" das des-cobertas.
      Obrigado pela lista dos Castelhanos, não tinha assim muito presente... parece que até 1520 os Espanhóis só navegaram mesmo nas Caraíbas, desde a Colômbia, Venezuela e Guianas no Sul até à Flórida em 1513, contando com a costa Oriental da América Central e as Ilhas, especialmente Cuba, Hispaníola e Porto Rico.
      Balboa descobriu também o Oceano Pacífico no Panamá em 1513.
      E Pinzón parece ter andado a navegar na costa Norte do Brasil em 1498 e 1499. Parece...

      "A razão pela qual os Espanhóis se restringem a sul da Flórida, quase sempre, é outro mistério...
      Mas não deixa de ser estranho, porque andaram mais preocupados em chatear os portugueses com as Molucas, cruzando o Pacífico desde a viagem de Saavedra em 1529."

      Pois, não percebo o desprezo a que foi vedada a América do Norte.
      Mas tudo bem... porque parece que os Espanhóis "investiram" aí com Estevão Gomes e outros.
      Parece mesmo que a ordem de Carlos V era para esmagar todos os Estados que pudessem ser uma ameaça... Aztecas, Incas e Maias.

      "Os Austríacos percebendo isso, exigiram a separação a que Carlos V foi forçado, deixando ao filho Filipe II apenas a parte não-germânica do império."

      Não foi isto imposição do próprio Carlos V?
      Cansado que estava de tentar um Império Universal, também e principalmente na Europa?
      Pelo menos é o que me ficou na cabeça. E não estou a ver quem mais é que estaria em posição para obrigar Carlos V ao que quer que seja.
      Não esqueçamos: Carlos V era o Austríaco... Carlos V era os Habsburgos.

      Não percebo muito quais os seus motivos para a lógica dinástica que apresenta... mas parece-me a mim que ao tempo de D. Manuel a ideia seria juntar Portugal e Espanha, como depois veio a acontecer, com mau resultado para todos.

      Mas na altura, havia a possibilidade de um Super Estado Católico, sob os Habsburgos ou os Avis, que se fundiriam:

      Portugal;
      Espanha (Castela e Aragão);
      Áustria;
      O Império Romano Germânico;
      Toda a Itália.
      Todas as possessões Europeias fora da Europa, potencialmente todo o continente Americano, toda a Costa (e certamente, posteriormente o Interior) Africano, a seu tempo as Índias Orientais...

      Ficaria apenas de fora a França e as Ilhas Britânicas. E seria apenas uma questão de tempo...

      Atenção, que a Inglaterra não foi invadida pela Holanda. Foi o parlamento Inglês que pediu ao Rei Holandês para intervir e acabar de vez com o Catolicismo na Inglaterra.
      Foi bem mais Portugal invadido pelo Brasil aquando das Guerras Liberais... para depois ser inquestionávelmente invadido por Espanha, França e Inglaterra.

      Não concordo consigo, os Otomanos nunca foram "brinquedo".
      E creio que foi Marrocos que os impediu de chegar ao Atlântico, não Portugal.
      E Marrocos coleccionou sempre, até ser feito protectorado no século XIX, muitos e muitos escravos na Europa, chegando até à Islândia.
      Mesmo quando Portugal era a maior potência marítima, não nos podiamos estabelecer em segurança na costa Algarvia por causa dos piratas Marroquinos.

      Cumprimentos,
      IRF

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    3. IRF (2.ii)
      Estou de acordo com algumas coisas.

      A situação de Carlos V complicou-se, e na altura em que procurei razões da abdicação, não vi nada de muito instrutivo. Creio que li que se tinha dedicado a fazer brinquedos de aviões, estilo Pomba de Arquitas, mas já não sei onde li isso...

      Falar do assunto, em conjunto os Otomanos que tiveram sempre apoio francês, é um puzzle bastante complicado, e exaustivo, para caixas de comentários.

      Quanto à Holanda-Inglaterra, o interessante é que quem ganhou com a "invasão" foram os ingleses!

      Sim, tem razão, Marrocos acabou por bloquear a progressão otomana, e isso foi uma estratégia de Filipe II. Mas convém não esquecer que fortalezas marroquinas continuaram a ser lusas até ao Séc. XVIII.

      Cumprimentos.

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    4. Sim.
      Parece que a "base de poder" em que a Holanda se tinha tornado era demasiado frágil, e tinha de ser transferida para uma base maior, mais segura e defensável: A Inglaterra.

      Estranho como Portugal (e os Europeus) dominava a Costa Marroquino e os Berberes de certa forma dominavam as costas Europeias.
      Provavelmente seria a lógica da época que tornava as costas difíceis de defender...

      Cumprimentos,
      IRF

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    5. IRF (2.iii)
      Não estou a ver qual é a fonte que usa para dizer que os Berberes dominavam as costas europeias. Já referiu isso, mas eu não conheço nada que aponte nesse sentido.
      Pode ter acontecido até ao Séc. XIII/XIV, mas depois no Séc. XIV/XV, duvido muito.

      Cumprimentos.

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    6. Aconteceu até ao século XIX, quando os Americanos se chatearam com esses Berberes e acabaram com o seu poderio.
      Abrindo assim a porta à França para conquistar a Argélia.

      https://en.wikipedia.org/wiki/Barbary_pirates

      https://en.wikipedia.org/wiki/Barbary_Wars

      Acho que também foi isto que li e que me abriu os olhos a muito coisa, interessante esse blog especialmente a quem se interessa por Marrocos, mas o intelecto do blogueiro em questão não desenvolve muito infelizmente:

      https://historiasdeportugalemarrocos.com/2014/04/30/a-republica-corsaria-de-bouregreg/

      Tenho de referir que provavelmente controlo seja uma palavra abusiva.
      Não é que eles controlassem as costas permanentemente, simplesmente tinham o poder de as atacar quando quisessem sem sofrer grande castigo.
      É claro que não se vai ouvir falar muito disto porque não é particularmente políticamente correcto.

      Cumprimentos,
      IRF

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    7. IRF (2.iv)
      Ok, já falei um pouco disso aqui:
      https://alvor-silves.blogspot.com/2017/08/piramide-de-cranios.html

      Mas esses episódios, de pirataria berbére afectaram muito mais o Mediterrâneo, e a sua expressão no Atlântico terá sido residual. Podem ter-se aproveitado de populações costeiras desprevenidas, como as irlandesas, mas tenho muitas dúvidas que tivessem tido muito sucesso em Portugal.

      A fonte da notícia da wikipedia é recente e está aqui:
      https://www.theguardian.com/uk/2004/mar/11/highereducation.books
      e vem de um livro:
      Christian Slaves, Muslim Masters: White Slavery in the Mediterranean,
      the Barbary Coast, and Italy, 1500-1800


      ... que lá está foca no Mediterrâneo, e há umas extrapolações grotescas.
      Mas, sim, houve um perigo imenso de escravatura, especialmente pelos Turcos, nos países eslavos. Um esloveno disse-me que se lembra da avó dele contar que os turcos faziam raides para sacar "jovenzinhos" na região. E se falar com búlgaros ou sérvios, já para não falar dos gregos, eles praticamente põem os turcos como ameaça latente... a coisa não sai da cultura dos povos facilmente.

      Digamos que após a conquista de Ceuta, e especialmente com o fim de Granada, o fenómeno dos piratas árabes no Atlântico terá ficado muito reduzido, e terá sido pior a actuação dos corsários franceses, holandeses e ingleses.
      Porque também não sendo politicamente correcto (os ingleses importam-se pouco), convém não esquecer que esses países comportaram-se como foras-da-lei.

      Cumprimentos.

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    8. Os Turcos continuam os mesmos turcolentos de sempre.
      Enquanto nós trocamos mensagens, despacharam uma frota de navios de guerra para as águas Gregas porque não reconhecem direito ás ilhas Gregas de terem uma zona económica exclusiva.
      A pobre Grécia tem pedido ajuda - especialmente à U.E. - e a situação é tal que a França teve de enviar caças para a região, ficando creio que baseados no Chipre.

      Mas note-se o quase total silêncio da TV que não se cala cú rássixmu!

      Quanto aos piratas da Berbéria, o Atlantico foi dos mais fustigados.
      Os Marroquinos atacavam a partir das actuais Casablanca e Rabat... a sul de Larache e a Norte de Azamor/Mazagão.

      Portugal nunca se impôs nesse hiato.
      Os piratas de Salé eram particularmente perigosos, muitos dos quais eram exactamente Portugueses e outros tantos Judeus Ibéricos.
      O Algarve era uma região muito fustigada, de tal forma que tinham grande dificuldade em se assentar na costa.

      Cumprimentos,
      IRF

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    9. " Ora, pela sua duração - durante 320 anos (de 1561 até 1881) - a exibição de uma pirâmide empilhada com crânios de cristãos decapitados, conhecida como Borj er Rous ("Torre de Crânios"), foi talvez uma das mais longas exibições de impiedade, construída ao largo do castelo Borj el Kebir, à vista de todos os que passassem pela ilha de Djerba."

      Não sabia disto.
      Muito bom post, esse. Obrigado pelo direccionamento.

      Também o exército de D. Sebastião, depois de derrotado, ficou largamente perdido em Marrocos, especialmente os mais pobres... e olhe que eram milhares de homens!
      Se quiser, pode ler este testamento, um bom apanhado da situação:

      https://historiasdeportugalemarrocos.com/2018/08/26/os-renegados-de-alcacer-quibir/

      Cumprimentos,
      IRF

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    10. IRF (2.v): A do turcolento para trucolento, está excelente!
      Sim, a região do Algarve poderia ser afectada, mas foi ainda quando Drake passou por lá, fazendo raides. Eram contingências do tempo, mas não sei de registos de portugueses feitos escravos por ataques na costa nacional.
      É claro, o caso de Alcácer Quibir foi mais devastador... até porque tudo o que deveria funcionar minimamente - como a existência de navios para a retirada e diversas praças em Marrocos, nada disso funcionou.

      Cumprimentos.

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    11. A ideia de que todos seriam afectados menos os Portugueses é absurda.
      Não estou a dizer que é a sua... estou a dizer que é absurda.
      Até ao século XIX - após as guerras dos Americanos contra os Berberes - todas as Igrejas do país - e do Sul da Europa - tinham uma secção especial de esmolas para resgatar os pobres coitados que eram raptados e levados para o Norte de África.
      Há registos de Portugueses feitos escravos.
      Já li que a padeira de Aljubarrota teria sida levada e deixado um príncipe mouro apaixonado... mas acho que isso são só tretas.
      Mas há registo de Portugueses levados, principalmente no Algarve e Ilhas mas também no Costa Ocidental do país.

      Curiosamente, são dificílimos de encontrar... exactamente por serem pouco políticamente correctos. No século XIX estavam bem na presentes na memória popular, especialmente no início...

      De tal forma que a expressão "anda mouro na costa" ficou na língua Portuguesa, especialmente no Algarve.

      Pesquisa rápida na net, seus frutos:

      Aqui:

      https://pt.wikipedia.org/wiki/Piratas_da_Barb%C3%A1ria#Contexto_hist%C3%B3rico

      " "O último resgate geral do reinado de D. João V ocorreu em 1739 e libertou 178 cativos portugueses, 11 por troca com mouros das galés.
      Entre os resgatados do Brasil estava Luísa Maria, mulher negra, natural da Bahia, com 21 anos de idade e dois de cativeiro, e Antônio Fernandes da Silva, marinheiro, natural de Pernambuco, filho de Silvestre Fernandes de Silva, de 27 anos de idade e quatro de cativeiro."
      "Entre quase um milhar de cativos resgatados de Argel nesse período, encontramos reinóis provenientes das ilhas atlânticas, da costa do Algarve (sul de Portugal), das cidades de Setúbal, Lisboa, Peniche e outras zonas portuárias portuguesas. Mas surgiram também cativos naturais do Brasil, prova de que saques e atividades de corso eram realizados em pleno Atlântico e, talvez, até mesmo na costa brasileira."

      https://historiasdeportugalemarrocos.com/2014/02/19/corsarios-mouros/

      http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/Cadernos/2serie/3/07_corsarios.pdf

      Cumprimento,
      IRF

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    12. IRF (2.vi)
      Sim, não tinha visto ainda que esse problema dos piratas berbéres tivesse um impacto significativo.
      Procurarei dedicar um postal ao assunto, depois de ver melhor.
      Obrigado pela sinalização e cumprimentos.

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  2. Não percebi esse seu gráfico (a tabela) da Crónica de Zurara.

    Cumprimentos,
    IRF

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    1. IRF (3-zurara):
      Foi um quadro excel, onde tem os lugares declarados (vertical) e exploradores (horizontal), onde aparecem na Crónica de Zurara, ou seja em que capítulos. Acrescenta referências a bichos, etc.
      Como verá, fala-se do mesmo explorador em capítulos completamente afastados...
      Dinis Dias aparece no cap. 31, mas depois também no cap. 63, 66, e 74.
      Serviu para me orientar, porque a memória de tudo não o permitiria.

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  3. A tese dos castelos Portugueses na Colômbia é interessante, faz sentido, existem indícios... parece-me plausível o suficiente.

    A ideia de que os Africanos na Colômbia foram trazidos por Portugueses não pega...
    Não pela impossibilidade... porque possível é... mas porque é muito mais provável que os Espanhóis os tenham levado.
    Afinal de contas, há várias zonas de possessões Espanholas onde os Africanos como escravos foram e são substanciais.
    Não é que fosse difícil comprá-los, nem que os Portugueses ou outros Europeus se fizessem rogados a vendê-los aos Espanhóis.

    A ideia do paralelismo Europa-América... é interssante, plausível, mas ainda só estou levemente convencido. Enfim... é ler a obra da Duquesa Vermelha de Medina Sidónia... comecei mas achei entediante...

    Não sei que mais lhe diga, portanto, os meus cumprimentos,
    IRF

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    1. IRF (4-afro-colombianos):
      Isoladamente, estou de acordo, mas repare que isto acontece apenas na Colômbia, e numa região específica dela.
      Não tem afro-venezuelanos, nem afro-mexicanos, nem afro-chilenos, ou afro-argentinos, etc.

      Consegue dar-me uma razão concreta para incluir uns e excluir os outros?
      Eu não consigo, e fiquei surpreendido, porque encontrei uma explicação antes de sequer ter pensado no problema. Ou seja, pensei primeiro que a Mina poderia ser ali, que precisavam de fazer transporte, e com quem? Depois lembrei-me de que havia muitos colombianos negros... e foi assim que lá cheguei em 2009.
      Estes dados populacionais que coloquei agora não os tinha em 2009, mas vêm confirmar.

      O outro caso estranho é o do Haiti.
      Esse é bem mais estranho, porque o Haiti é metade da ilha, e a Rep. Dominicana não é tão afro-descendente, sendo mais mestiça.
      O crioulo do Haiti usa palavras portuguesas...

      Bom, mas neste caso, a justificação plausível é o exagero francês que fez uma importação maciça de escravos vindos de África, das partes que foram tirando a Portugal, com Louis XIV. Fez o mesmo na Louisiana. Obteve voodoo nos dois casos...

      Muito agradeço os seus comentários, que são sempre pertinentes, e dão dinâmica ao blogue.

      Cumprimentos.

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    2. Daquilo que sei:

      Os afro-Chilenos (detesto este perfixo...) foram sempre realmente muito poucos.
      Os ""-Argentinos, foram dizimados como carne para canhão nas guerras do século XIX mas eram bastante numerosos em termos proporcionais antes da grande onda de emigração Europeia a partir da segunda metade de 1800.
      Os Afro-Venezuelanos estão por lá, são imensos... mas estão essencialmente misturados e mais concentrados nas grandes cidades.

      É verdade que na Colômbia é diferente, mas não é assim tão diferente!

      "Consegue dar-me uma razão concreta para incluir uns e excluir os outros?"

      A ideia é que aquela região da Colômbia era particularmente agreste, cheia de Malária, etc. O que parece ser verdade uma vez que a maior parte da Colômbia povoada fica em regiões montanhosas...
      A outra parte, a costa Atlântica, também tem muitos Africanos, embora proporcionalmente bastante menos, e parece que foi ali que a Colômbia começou e houve não só uma miscegenação muito precoce entre os Espanhóis e os Índios, que ainda hoje constitui o grosso da população, como foi sempre a porta de entrada dos Europeus - até à era dos aviões - o que veio a aumentar o contingente Europeu naquela região, tal como o contingente "mestiço-índigena".

      A ideia de que só os Portugueses é que podiam levar para lá os Africanos não faz sentido, percebo a origem... mas não faz sentido.

      O Haiti é um país de escravos. A história do Haiti é bem sabida, os escravos revoltaram-se e chacinaram todos os outros.
      A República Dominicana é um país mulato, entre Espanhóis e os seus escravos, construído ao longo dos séculos, e com uma ligeira contribuição indígena.
      Nunca houve uma grande revolta na República Dominicana contra os Espanhóis.
      De facto, a República Dominicana tem sido ao longo dos séculos bastante mais Espanhola e Europeia demográfica e etnográficamente do que aquilo que é hoje.

      Encontrei isto na wiki, vale o que vale:

      https://en.wikipedia.org/wiki/White_Dominicans#Population

      Houve também uma ocupação total da República Dominicana por parte do Haiti que a wikipedia em Inglês designa eufemísticamente da "unificação":

      https://en.wikipedia.org/wiki/Dominican_Republic#Unification_of_Hispaniola_(1822%E2%80%9344)

      E o crioulo do Haiti não usa palavras Portuguesas. É uma deturpação bruta do Francês. O Alvor Silves deve estar a confundir com o Papiamento que é um crioulo Caribenho com fortes influências Portuguesas...

      https://pt.wikipedia.org/wiki/Papiamento

      Possivelmente, com origem na influência de Judeus expulsos para a Holanda.

      Cumprimentos,
      IRF

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    3. IRF (4.ii)
      Creio que, vendo os números "afro-latino-americanos":

      https://en.wikipedia.org/wiki/Afro-Latin_Americans

      apesar da Colômbia se destacar muito dos restantes, há uma presença africana na América Latina, mais significativa do que tinha pensado antes.
      Ou seja, é um factor importante, mas não tão significativo quanto tinha pensado antes.
      Obrigado, pelo reparo.

      Quanto ao Haiti, a influência portuguesa está dita p.ex. aqui:
      https://en.wikipedia.org/wiki/Haitian_Creole

      mas sim, o exemplo do Papiamento é também instrutivo...

      Cumprimentos.

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    4. Relativamente aos Africanos no continente Americano, tendem a seguir um padrão:

      São dominantes nas Ilhas das Caraíbas - com a provável excepção de Cuba e Porto Rico - que foram essencialmente baseadas na escravatura africana.

      Depois, são tradicionalmente bastante significantes, embora minoritários, no Sul dus EUA, no Brasil - especialmente no Leste e Nordeste - e na Colômbia e Venezuela.

      Vão depois diminuindo pelo continente Sul Americano até chegarem a ser praticamente irrelevantes no Chile e nas Terras Altas ainda hoje Indígenas do Perú e Bolívia.

      Quanto ao México e América Central, tendem a ser mais numerosos a Oriente, junto à costa Caribenha do que no Ocidente, na costa Pacífica. Isto não por não terem sido empregues como escravos, mas simplesmente porque aqui a densidade de Indígenas era muito elevada... em regra.

      De salientar também é a zona das Guianas, que é em grande parte constituída a nível populacional por Africanos quase sem "mistura" Europeia, quer genética, quer cultural... parece que foram transladados de África.
      Dizem que é porque fugiram enquanto escravos, muitos ainda recém chegados.
      Eu não sei, mas parece-me provável.
      Até porque grande parte das Guianas também é dominada por Asiáticos (Indianos, Indonésios, etc.) que foram para lá levados depois como, não exactamente escravos... mas serventes semi-escravos.

      Cumprimentos,
      IRF

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    5. IRF (4.iii)
      Meu caro, por vezes a conversa deriva, mas os castelos portugueses continuam a estar em terras colombianas e incas, no mapa de João de Lisboa.
      E não há ali uma única bandeira castelhana ou espanhola, apesar dos nomes. Aliás, em todos os mapas de João de Lisboa só aparecem bandeiras portuguesas e das potências locais. No máximo haverá uma bandeira espanhola mal desenhada, relativa à ilha onde esteve Magalhães, sendo talvez uma inclusão posterior, tal como uma boa parte de nomes e inscrições.

      Portanto, acreditando no mapa de João de Lisboa, e não há qualquer razão para o contrário, fica muito pouco espaço para duvidar da presença portuguesa na Colômbia e de eventuais contactos comerciais com os Incas, que na minha perspectiva definem a razão de abundância de ouro em Portugal, antes de Colombo.
      Senão, de onde é que esse ouro saía?
      Da Mina em África? Mas que Mina era essa, qual era a sua localização?
      Chegava ouro por caravanas, caravanas de ouro no deserto?... de onde?... de Tumbuctu?
      Onde estão essas minas africanas, exploradas antes do Séc. XIX?
      Há uma série de perguntas, que fiz no postal seguinte, que mancam de resposta:
      https://alvor-silves.blogspot.com/2020/08/correspondencia-de-d-joao-ii-2.html

      Aquilo que reconheço é que a quantidade de população africana não deverá ter resultado apenas dessa fase inicial, e pode ter surgido de comércio posterior com os espanhóis, especialmente durante os 60 anos de Filipes.

      A questão da fuga de escravos nas Guianas pode fazer sentido, porque era uma zona mal definida em termos de pertença, estava no limite do meridiano de Tordesilhas.

      Cumprimentos.

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  4. Os tais mapas com os castelos Portugueses na Colômbia e Perú são indícios, algo fortes... mas não estou totalmente convencido.

    Houve e continua a haver ouro na África Ocidental.
    O que não exclui a possibilidade de parte do Ouro ter vindo da América... simplesmente houve ouro na África Ocidental.

    Cumprimentos,
    IRF

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    1. IRF (4.iv)
      Há ouro em muito sítio, descoberto antes e depois, mas onde eram as minas abandonadas, usadas nessa altura, na "Mina"? Quem fazia a mineração? Que vestígios há disso.
      O que protegia o Forte da Mina, na costa, se o ouro era explorado no interior?

      Se há sempre dúvidas para a versão não-oficial, não são muito mais necessárias respostas para a versão oficial?
      Que eu saiba, não há nenhuma prova de que tivesse havido qualquer exploração mineira de ouro na África da "Guiné", nem registos de trabalho mineiro feito ou encomendado por portugueses, nem sequer onde, nem a que profundidade, nem registos de minas abandonadas, etc.
      A estória contada é que chegavam lá, e pronto, deveria chover ouro no Forte.

      O problema é que esse ouro acabou logo e depois de D. Manuel a Mina passou a ser mina de escravos. Mesmo quando os holandeses conquistaram o Forte da Mina, que ouro de lá tiraram?
      Pouco, porque dedicaram-se logo ao tráfico de escravos.

      Cumprimentos.

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    2. Existia a chamada "Costa do Ouro", devia de ser porque havia por lá ouro...

      https://en.wikipedia.org/wiki/Gold_Coast_(region)

      Até houve ainda antes um rei ou chefe tribal daquela zona que foi em peregrinação a Meca, passando pelo Cairo, e que levou consigo muitíssimo ouro e que gastou ouro e mais ouro pelo caminho...

      https://en.wikipedia.org/wiki/Mansa_Musa#Islam_and_pilgrimage_to_Mecca

      (isto foi no século XIV).

      Quem fazia a mineração deveriam ser os próprios africanos que depois trocavam o ouro por panos e espelhos...
      Deve haver vestígios disso porque houve muitos Europeus a instalarem-se na área e a lutar para se instalar na área praticamente até ao século XIX em que foi imposta uma certa ordem na colonização europeia.

      O ouro devia ser trazido pelos Africanos e quando não era os Portugueses lá deviam organizar uma expedição para ver o que se passava.

      "Se há sempre dúvidas para a versão não-oficial, não são muito mais necessárias respostas para a versão oficial?"

      Sim, claro.
      Mas eu não sou perito na matéria e todas as respostas que tenho dado são de censo comum ou de pesquisas rapidíssimas na internet.

      Já disse que é uma possibilidade que algum ouro viesse das Américas ainda no século XV mas negar que houvesse ouro naquela zona de África não me parece bem.
      Não creio que possa dizer coisas como estas:

      "não há nenhuma prova de que tivesse havido qualquer exploração mineira de ouro na África da "Guiné""

      Sabe que ainda hoje no Brasil há extensas regiões cheias de ouro que só não são mineradas porque o Brasil não tem meios e não quer deixar países e empresas estrangeiras a fazer o trabalho?
      Agora... deve também haver outro comércio mais importante. Nem que fosse o de escravos para minerar ouro nas Américas...
      Não sei.

      Quanto a mim este assunto fica encerrado por agora.
      Cumprimentos,
      IRF

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    3. IRF (4.v):
      O argumento está bem apontado, mas eu diria que nem tudo o que luz é ouro:
      https://www.youtube.com/watch?v=csYa2_3ZRcg (reportagem sobre o ouro falsificado no Gana)

      Convenhamos que "mina" seria já indicação suficiente, "costa do ouro" foi redundante, e logo se juntou os nomes "costa dos escravos" e "costa do marfim" (único nome que ficou).
      O que se encontra de exploração de ouro em África até ao Séc. XIX, incide principalmente no Transvaal.
      Não é que não existisse ouro no Gana/Benim, simplesmente quando os holandeses conquistaram o forte da Mina, dali não tiraram ouro nenhum, e passaram a negociar escravos. Aliás havia os "negros da mina", porque vinham pelo Forte da Mina.
      Actualmente o Gana é um grande produtor de ouro (e falso também), mas isso não explica que tivesse deixado de o ser entre 1620 e o Séc. XIX. Não houve propriamente uma grande luta pela Costa de Ouro, o Gana foi depois apanhado aos holandeses pelos ingleses, mas também pouco ouro daí reportaram. O Gana deve é ter sido dos sítios mais pesquisados, pelo facto de lá estar a Mina. E é natural que de entre todos os sítios na costa africana, a Mina estivesse na costa que teria mais.

      A exploração de ouro tem o mesmo problema que os diamantes... tem que se esconder alguma da produção, senão o seu preço desce, tornando irrelevante o esforço de exploração.
      Os diamantes tiveram ainda o problema de terem sido sintetizados em 1954.

      De qualquer forma, tem razão, os argumentos que apresenta são válidos, mas não respondem à complexidade do assunto, tendo em atenção o aspecto histórico.

      Cumprimentos.

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  5. Os Incas trocavam ouro pelo cobre com os espanhóis, depois as mercadorias compradas à China eram pagas em prata pelos europeus, e na Índia? era o ouro que valia mais? e como pagavam os africanos pelas porcelanas chinesas em 1300? porque isto das minas de ouro da Guiné e da prata das Américas é mais complicado do que parece, e está ligado ao meio de pagamento do comércio da época, ouro e prata foram substituídos pelas drogas pagas em dinheiro de papel, o que os europeus queriam das Américas não era ouro mas sim prata para comprarem produtos à Índia e China.


    Cumprimentos
    José Manuel

    Prata

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    Respostas
    1. Essa é uma boa questão, José Manuel.
      Eu creio que a questão da prata apareceu apenas em alternativa, porque Potosi dava prata que nunca mais acabava, e o ouro foi-se finando.
      Não vi que na China ou Índia tivessem preferência pela prata em favor do ouro, simplesmente o ouro foi-se acabando, e a canalização de demasiado ouro para a China, deu origem às Guerras do Ópio, que foi a forma pouco cavalheira, muito traficante, que os ingleses tiveram para resolver esse problema europeu.
      Cumprimentos.

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  6. O Guanín da Guiné na América e os negros dos portugueses encontrados por Colombo…

    Sempre me questionei pelo interesse dos espanhóis pela prata das Américas, ao invés do interesse dos portugueses por o ouro, a prata era mais importante para os romanos que o ouro:

    Tirado da Wiki : (…) sistema monetário romano foi baseado em uma grande quantidade de suprimentos de barras de prata que os mineradores romanos produziram em uma escala sem paralelo antes da descoberta do novo mundo. Alcançando um pico de produção de 200 t por ano, uma reserva estimada de 10.000 t de prata circulou na economia romana por volta do século II, quantidade cinco a dez vezes maior que a quantidade combinada de prata disponível durante a Idade Média européia e o califado Abássida por volta do ano de 800.

    O Império Chinês utilizou a prata durante grande parte de sua história como um meio de câmbio. No século XIX, a ameaça ao balanço de pagamentos do Reino Unido para mercadores chineses demandando pagamento em prata pela troca por chá, seda e porcelana levou a guerra do Ópio porque os britânicos tinham que encontrar um meio de realizar os pagamentos, e decidiram fazê-lo vendendo o ópio produzido nas colônias britânicas para a China.
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Prata

    Terão os romanos ido buscar prata à América? Penso que sim.

    Já tinha comentado que “um Rei Africano fez tratados com os portugueses, era um navegador tinha navios e desapareceu sem deixar rastos… “poderá ter levado esses negros que aqui descreve para a Colômbia Brasil? Penso que o possa ter feito com colaboração dos portugueses antes de Colombo.

    Já é aceite por uma maioria que Colombo não descobriu nada que não se conhecesse, e os portugueses são os mais bem posicionados para terem essa honra da “descoberta” da América:

    A son arrivée dans le “Nouveau Monde”, Christophe Colomb a remarqué qu’il n’était pas le premier à avoir « découvert » les Amériques puisque les indigènes lui montrèrent des tissus et du métal – le guanin – provenant de Guinée. D’autre part, les Espagnols ont établi des contacts avec ces nègres du Nouveau Monde dont l’histoire a retenu quelques groupes : Charruas du Brésil, Karibs de Saint Vincent, Jamassis de Floride… de nos jours, la société d’archéologie américaine reconnaît que le Nouveau Monde reçut des visiteurs venant de l’Ancien Monde dès avant 1492 et même durant la Préhistoire.
    https://associationracines.com/africains-en-amerique-avant-christophe-colomb

    Guanín
    https://en.wikipedia.org/wiki/Guan%C3%ADn

    Cumprimentos
    José Manuel

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    1. Só de salientar que sempre houve muito mais prata a circular do que ouro.
      Mas o ouro sempre valeu mais que a prata.

      Cumprimentos,
      IRF

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    2. Caro José Manuel,
      o seu comentário toca diversos assuntos.
      A mina de Huacanvelica, de mercúrio, foi também uma interrogação para mim,

      https://odemaia.blogspot.com/2010/07/pleiades-3.html

      até perceber que o processo de amalgamação era usado extensivamente, fosse com prata ou com ouro, ou outros metais. Uma amálgama significa justamente a junção com mercúrio:

      https://en.wikipedia.org/wiki/Amalgam_(chemistry)

      Pelo que se vê:
      https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3346781/

      os espanhóis usavam em Potosi mercúrio vindo Huancavelica.

      Conforme observou o IRF, o ouro sendo mais raro que a prata, foi considerado sempre mais valioso, e portanto existir muito mais prata do que ouro, resulta em algo similar a termos mais ferro do que prata. No entanto, o ferro temperado, como o Aço de Damasco, sempre foi preferido como instrumento de guerra, devido a uma superior rigidez, e nesse aspecto a prata funcionou mais como complemento decorativo.

      Quanto ao assunto do rei africano que leva embarcações para a América, há um problema subjacente que é esse site ter intenções de promoção africana, não apresentando nenhuma referência para o que é dito.

      De qualquer forma, é verdade que as estátuas olmecas têm feições negras, ou orientais, podendo levantar a questão de uma presença anterior africana, ou asiática, mas essa seria anterior aos próprios romanos.

      A questão do guanín ser proveniente da Guiné é bastante interessante, até porque esse guanín é uma mistura de metais, e assim seria já um processo mais sofisticado.

      Obrigado pela informação, vou procurar ver noutras fontes.
      Cumprimentos

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