Muito se poderia ainda dizer sobre os Painéis de S. Vicente que voltaram às notícias recentemente:
O último apontamento que juntei em 2018 tem justamente uma nota adicional sobre o restauro onde foi decidido torcer o nariz à rainha D. Leonor.
É preciso clarificar uma coisa - qualquer restauro redunda num certo crime histórico.
Dado um original antigo, o que há a fazer é guardá-lo e não tocar em coisa alguma. No máximo, podem fazer inspecções que não destruam o original.
Claro que não falo em destruições claras como o restauro do Ecce Homo feito em Espanha em 2012 por uma paroquiana. Aliás, os espanhóis parecem gostar de restauros grotescos (como o do astronauta colocado na catedral de Salamanca), que alimentam o turismo. Por muito pequena que pareça a intervenção, o uso de substâncias, que parecem hoje inofensivas, poderá prejudicar técnicas posteriores de inspecção, mesmo que o aspecto seja mantido (... e como vimos nos Painéis não foi).
No entanto, dado o estado a que isto chegou, neste momento a confiança entre o original, e uma cópia substituída pelo original, é uma confiança muito pequena.
De qualquer forma aproveito para fazer duas observações acerca das radiografias que vieram a Público:
1º) Acerca da "ausência de rede" na radiografia
Conclusão:
Poderia dizer que estamos em presença de obras diferentes, em que a radiografada é cópia da outra, e depois o resto são efeitos da treta, tipo photoshop para inventar degradações... mas isso seria levantar suspeitas sobre quem fabricou as imagens, e não há informações para isso. Há apenas inconsistências, que podem ter imensas explicações, cheias de conteúdo vazio.
Fica de parabéns o Clemente Baeta, já na lista dos autores nomeados pelo Público. A sua obra está elencada nos diversos supositórios sobre cada imagem, o que não é nada que me surpreenda, e ele bem saberá que esta constatação não encerra nenhum elogio.
Este assunto tem carácter algo pessoal, que me é difícil de esquecer, e por isso será difícil mudar de opinião. Uma coisa foi deduzir uma hipótese consistente em 2009, e mesmo que fosse com algum cuidado, também não foi nada de exagerado, conforme coloquei noutras coisas, essas sim mais críticas.
Outra coisa, é saber em 2013 do "Manuscrito do Rio", o único documento do Séc. XVI que fala da obra, que confirmava exactamente o que tinha escrito, e quem estava representado como santo era o filho morto de D. João II. Quando se tem uma confirmação desse tipo, se já antes não via muitas possibilidades de mudar de opinião, menos ficaram. Menos ainda ficam, quando vejo que nos 38 supositórios elencados pelo Público, nenhum considera a hipótese mais óbvia.
Termino com as mesmas palavras que deixei há oito anos, e há dois anos e meio atrás:
- É tempo de voltar a fechar a tampa do caixão e dar nova paz a este assunto.
- Apenas reflecte o conceito de normalidade vigente, isto é, não vi gente!
Concordo que muito se poderia dizer, por isso, não acho que deva fechar a tampa. Contra quem quer esconder o óbvio, há que investigar mas também divulgar.
ResponderEliminarMérito ao seu treabalho,
Cumprimentos,
Gmr.
Caro GMR,
Eliminarjá vi que adicionou bastante material ao seu blog, para o qual deixo aqui o link:
carasdospaineis.blogs.sapo.pt
e faço notar outras imagens de tapeçarias em Pastrana, e Zamora, que não conhecia, e são muito interessantes.
Quanto à sua observação sobre divulgar.
Por sorte, para a vida vulgar não preciso deste divulgar.
Os blogs acabaram por se tornar uma espécie de diário com acesso público.
Onde se me pode interessar a opinião alheia, não a procuro, nem a escondo.
Gosto do triângulo de Gaspar Frutuoso:
https://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/saudades-da-terra-2.html
Não, não sinto necessidade de divulgar.
Sinto obrigação de deixar disponíveis as conclusões a que chego, mas apenas para que possam servir de reflexão, ou serem rebatidas/discutidas seriamente.
Não tenho nenhum interesse de querer ser palhaço num circo mediático que dá ou tira Fama, consoante a vontade do domador de leões anestesiados.
Não adianta gritar no meio de uma estádio, só quem está próximo pode ouvir (e não quer ouvir), e quanto ao restante vulgo vai apenas ver um gajo a esbracejar. Até pode ter a atenção da câmara no ecrã gigante, mas o altifalante não é seu... toda a gente está ali para ver o jogo programado.
Obrigado, e continuação de boa investigação.
Relativamente ao desaparecimento da rede:
ResponderEliminarÉ verdade, eles inventaram a rede do nada, ou pelo menos é o que me parece!
Filhos da mãe!!!!
Bem visto, caro Alvor Silves.
Na segunda imagem parece-me também que a espada do indivíduo que está atrás daquele a que o Alvor Silves se refere como D. Pedro... bem... prece-me que fica um pouco cortada...
Cumprimentos,
IRF
Caro IRF,
Eliminaro problema aqui é que me parece difícil concluir que as imagens RX correspondem ao quadro que conhecemos... se isso é problema do RX ou do quadro, pois isso parece mais redundar numa questão de fé, sem outros dados.
Por exemplo, para um artista como Columbano Bordalo Pinheiro, José Malhoa, ou outros, não seria impossível fazer uma cópia com um grau de semelhança enorme, a pedido da Casa Real.
Os painéis só foram expostos ao público muito depois de serem encontrados... com um grau de restauro muito avançado, tendo em atenção que estavam a servir de andaimes(!!) nas obras de Santa Engrácia. Ou seja, havia pés a passarem-lhes por cima? Não sei.
Que os restauros alteram as obras, disso não há dúvidas, mas não sabemos até que ponto.
Por isso, é que também não vale a pena perder muito tempo no assunto...
No caso da espada acima, se reparar na mão que a segura verá que por aí não há problema, eu é que cortei mal para boa comparação. Mas o problema verá logo que a mão do cavaleiro acima mantém as proporções do desenho, mas a mão de D. Pedro parece diferente.
O que está ainda mal explicado é qual foi o RX que fizeram - com que intensidade e frequência, porque isso altera o resultado, e isso poderia explicar o desaparecimento da rede, mas dificilmente explicaria o desaparecimento do cordame e dos discos de cortiça da rede...
Enfim, poderiam retirar-se milhares de RX sempre com resultados diferentes...
Cumprimentos.
Caros,
EliminarViram "todas" as imagens do link do Publico??
As redes estão lá na radiografia, resta saber se é radiografia ou se é imagem em escala de cinza pré-restauro.
Para melhor análise, colocarei um link para verem as imagens à escala real em alta definição, e se quiserem, podem sobrepor para tirar as devidas conclusões sobre se serão compativeis umas com as outras ou não.
Cumprimentos,
Djorge
Link: https://mega.nz/folder/L4NUSJ7C#IVEEmwQqXXElfYl5JXmaDQ
EliminarCumprimentos,
Djorge
Caro Djorge,
Eliminarobrigado pelo trabalho.
Essa imagem a que se refere, dizem eles que é por "reflectografia de infravermelhos" e pode-se encontrar mais sobre isso aqui:
https://irinfo.org/articles-2019/infrared-reflectography-5-1-19-tucker/
É natural que certos quadros surjam sobre outros desenhos inicialmente pensados, etc.
Ao olhar para essa imagem, ainda é pior... porque conforme é dito no Público, umas caras aparecem com uma certeza fotográfica e outras têm traços algo toscos, que nada têm a ver com o quadro final.
O resultado, se corresponde ao que têm no Museu, e vamos supor que sim, dá muito mais a sugestão de alteração. Ou seja, não me parece ser o que se espera naquela quadro, que seria algo deste género:
https://www.opusinstruments.com/introduction-to-infrared-reflectography/
ou ainda qualquer coisa semelhante ao que foi feito com o da Vinci, Dama com Arminho:
https://en.wikipedia.org/wiki/Lady_with_an_Ermine
https://www.vice.com/en/article/5995pb/7-hidden-art-secrets-that-were-uncovered-with-technology
mas o que temos ali é uma mistura, que aparece por cima do quadro, e não se percebe nada do que foi feito... inclusive pode ter sobreposição de imagens.
Que o conjunto dos painéis influenciou Columbano, pois quem pode duvidar ao ver "Cenas de um Baile", de 1891 (poucos anos depois de ter dado com eles):
https://entre_tantoarte.blogs.sapo.pt/columbano-1856
Agora se Columbano ou tantos outros influenciaram os Painéis... pois isso não sei!
Cumprimentos.
Sobre a imagem da reflectografia:
ResponderEliminarNa verdade eu acho que é um misto de tentativa de procurar aumento de audiencias, talvez menos dadas a pesquisas deste genero, (mas que também não entendo por que razão esse "publico" alvo haveria de ser tentado explorar o site), com o nivel mais "limpo" digamos, de reflectografia.
Pelo que entendo, a tecnica funciona por camadas, em teoria, se for aprofundada suficientemente, aparecerão os traços originais, o primeiro "esboço" do artista, que pelo que vejo tenta explorar o equilibrio da peça diretamente sobre a tela (não é raro, mas não o considero "norma" para uma peça destas, talvez, o resultado seja mais uma solicitação de terceiros entenderem ante-mão o que vai ser feito, como por exemplo, um mestre a explicar aos aprendizes como devem representar a cena).
Quanto à imagem de reflectografia, o que me parece ser, é uma sobreposição em escala de cinza do quadro como existe hoje, com o tal primeiro "esboço" resultantes da refletografia sobrepostos.
O resultado é exatamente o que comenta, dá a ideia que os traços são posteriores como se fossem um vandalismo dos mesmos "a posteriori", mas que na minha sincera opinião, não é isso que lá está.
Na verdade, eu acho que o erro é do "O Publico" que quiz demonstrar ao "publico geral" uma imagem que sem os quadros originais sobrepostos, acharam os autores do site que esta poderia não ser entendida.
A sobreposição que fizeram deveria ter a possibilidade de a fazer desaparecer e reaparecer o quadro original para uma melhor compreensão do resultado a reflectografria.
Infelizmente tentaram saltar uma etapa e deu no que deu.
Sobre o site:
O site em si, é estranho pois aparenta não estar concluido, falta o trabalho de campo e os relatorios que o irão acompanhar.
O "BREVEMENTE" que lá está no link da radiografia e da reflectografia, segue um pouco a "moda" de vendas publicitárias, onde não se mostra tudo de uma vez, para o leitor visitar varias vezes.
Não me entenda mal, o maior numero de visitas ao site pode estar a suportar a sua manutenção online.
Se assim for, então que continue, no entanto, anceio pelos ditos relatorios ou explicações.
Sobre a leitura do conjunto:
Relembro, que um "conjunto" de quadros (que por si pode ser a razão das diferenças entre os detalhes no esboço inícial), e que a meu entender não foram "projetados" para serem expostos como estão, sequenciais, mas sim em espelho, uns de um lado de um corredor e outros do outro, com eventuais paralelismos entre eles em tempos diferentes.
Entendo que determinaram a ordem pelo padrão do "mosaico" no chão, que é mais visivel na radiografia, que propriamente no quadro, e que comprova a "sequencia".
No entanto, se eu fosse o autor, não colocaria a mesma personagem principal da minha história em quadro sucessivo, parece-me lógico que 2 tempos, 2 cenarios, 2 argumentos para historias, como as que estão a ser contadas, nunca podem ser contadas bidimensionalmente ou num fio continuo, falta-lhes o espaço, o presente o tempo do observador/pintor.
Penso que se a ideia era contar 2 argumentos para 2 historias, com os respectivos personagens de cada uma, então o observador só se identificará com o presente, se caminhar entre o passado e o futuro, e para isso não podem ambos estar do mesmo lado da parede.
Cumprimentos,
Djorge
Em addenda:
ResponderEliminarPara os que quiserem de facto comparar a imagem da radiografia com a imagem do quadro, podem aceder a este site https://www.diffchecker.com/image-diff/ importar uma das imagens de um lado e a outra para outro lado.
Acabo de colocar no mesmo link lá em cima, 2 imagens em formato JPG para que possam fazer o upload.
A ferramenta permite comparar lado a lado, aplicar um filtro de diferença, sobrepor com imagens translucidas.
Cumprimentos,
Djorge
Caro Djorge,
Eliminarsim a ideia será essa, a de ir buscar sucessivas camadas... caso existam. Mas é preciso não ser iludido entre o que se consegue e o que se aparenta conseguir. Por exemplo, no quadro de Da Vinci, até posso admitir que há variações por diversas camadas de tinta, mas a explicação dada não tem que ser a única. É natural que um esboço a carvão se faça notar por baixo de uma pintura, porque o carvão é um material com propriedades diferentes da tinta, etc...
O ponto principal é que as técnicas vêm já etiquetadas com o resultado e propaganda do que supostamente se conseguiu, em vez de virem etiquetadas com o efectivo método que se usou.
Portanto, nada daquilo é fiável. Faz-me lembrar um alabastro do Egipto que o guia insistiu até à exaustão que comprássemos, e depois do voo, quando chegámos a Lisboa, já só restava areia. Isto foi há 20 anos... poderia arranjar desculpas a dizer que foi do frio do porão de carga, e o diabo a sete, mas a mais fácil é que fomos enganados, e também não foi nada que não tivéssemos previsto.
Aqui é a mesma coisa, o Público deveria ser um orgão de informação e não de propaganda, mas nas escolas de jornalismo já se confundem as duas coisas, até porque uma não subsiste financeiramente sem a outra... e sempre foi assim. Sempre houve algum patrono por trás de quem publicava as coisas, e casos raros em sentido independente e procura de verdade, são tão raros, quanto foi Rafael Bordalo Pinheiro. Não estou a dizer que não há mais pessoas que tentem ser assim, simplesmente aceitam e não se interrogam sobre o que estão a fazer, simplesmente fazem o que é suposto fazerem, sem incómodos.
Na realidade, eu comecei a trabalhar em 2009 sobre a imagem da Wikipedia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Painéis_de_São_Vicente_de_Fora#/media/Ficheiro:Lagos40_kopie.jpg
Mas, a foto que está na Wikipedia é de uma cópia que está no Museu do Forte da Ponta da Bandeira.
A questão é também... quantas cópias há?
Ou ainda, sendo mais drástico, está cá o original?
Cumprimentos.