Resultado de um comentário de Djorge sobre uma questão aqui deixada em 2017,
- Ouvi..... que um arqueólogo (espanhol, se não me falha a memória) que costumava fazer explorações no Egipto, encontrou pontas de setas egípcias no Gerês.
Djorge deixou o link para um catalogo do Museu Nacional de Arqueologia:
Antiguidades Egípcias (1993, Luís Manuel Araújo)
O catálogo começa com esta fotografia histórica de António Beato de 1869, inserida numa expedição onde segue também Eça de Queirós, mas vai concentrar-se numa expedição ao Egipto onde a Rainha D. Amélia se deslocou com os dois príncipes em 1903.
Aliás há uma fotografia da rainha com a comitiva junto às pirâmides de Gizé:
Aliás há uma fotografia da rainha com a comitiva junto às pirâmides de Gizé:
A rainha está ao centro, em posição mais elevada, sentada num dromedário (e para quem não experimentou... andar de dromedário, não é algo que seja um brinquedo para as costas). Noutra fotografia aparecem os príncipes D. Luís Filipe, o mais velho, que será assassinado com o pai em 1908, e o futuro D. Manuel II:
Leite de Vasconcelos que dirigiu o Museu de Arqueologia, decidiu comprar em 1909 uma série de objectos egípcios, a que se juntaram outros apresados a um navio alemão na 1ª Guerra Mundial, e que depois da intenção de devolução portuguesa, ficaram doados pela Alemanha... não sei bem se o Egipto teve alguma palavra no assunto, mas como sabemos, no contexto colonial parece que isso não interessava para nada.
Conforme Breno explicou aos Romanos, antes de Roma ser grande... "Vae Victis", que é como quem diz - "Ai dos vencidos!"... porque o pagamento de dívidas dos vencidos, seja em prata, ouro ou couro, é sempre feito nas balanças dos vencedores, para satisfazer os seus balanços.
Roma aprendeu bem essa lição, quando um século depois obrigou Cartago a uma dívida que apenas serviu para retardar algumas décadas a sua aniquilação completa.
Poderia Roma continuar a explorar uma fonte fácil, de trabalho quase gratuito, para alimentar a sua riqueza, deixando Cartago sobreviver num permanente endividamento?...
Poder, poderia, mas não o fez, pois conforme Catão sempre alertava, deixar Cartago renascer teria o perigo inevitável de voltar a ter um general cartaginês como Aníbal a ameaçar Roma.
Assim, como resultado de Cartago ter pago a dívida durante 50 anos, o que poderia dizer o governo cartaginês aos seus concidadãos?
- Desculpem lá qualquer coisinha, mas vamos ter que continuar a pagar, durante os próximos 50 anos?
- Mas, não pagámos a dívida toda? Qual é o problema afinal?
- O problema é que se não continuarmos a pagar somos aniquilados...
Ora aqui, a malta rasgava as vestes e partia para batalha, como fizeram, tendo os cartagineses acabado mortos ou escravizados para o resto da sua vida. Da sua cidade, cultura e língua, terá restado... zero!
Haveria alternativa? Sim, uma muito engraçada.
O governo cartaginês iria falar ao Senado Romano e dizia-lhes:
- Percebemos qual é o vosso problema, mas deixem-nos sobreviver... prometemos educar os nossos petizes de forma a que eles vos admirem e nunca vos hostilizem.
- Então e como vão convencer os vossos concidadãos a trabalharem sempre para nosso proveito?
- Inventaremos corrupções internas, que delapidem o nosso tesouro, que irá directamente para vós!
- Isso é capaz de fazer algum sentido. Mas o vosso problema é que os vossos filhos não são parvos.
- Deixaremos que uma certa elite romana se instale em Cartago, e será essa que irá definir que os melhores cargos vão para os piores de nós... o povo, desconhecendo a história, permanecerá iludido que o problema está nas suas elites, incapazes de se gerirem sem corrupção e degradação.
- Mas isso já foi tentado?
A esta pergunta, os cartagineses não iriam responder, mas portugueses e espanhóis, desde há quase quatro séculos, sabem bem como a receita funciona!
Por isso, quando vem uma vacina de Roma, há que convencer o povo a baixar as calças?...
Por isso, quando vem uma vacina de Roma, há que convencer o povo a baixar as calças?...
Adiante.
O que Djorge fez notar e muito bem, foi esse problema caótico de organização, que os portugueses nunca são capazes de resolver... e passo a citá-lo:
- Típico da desorganização mediterrânica, aparentemente existem pontas de setas agrupadas em caixas que não se sabe ao certo de onde vieram, como transcrevo (página 61): "Quais são exactamente os 22 amuletos entrados em 1903 (!) por depósito do "Exmo Sr. J. J. Judice"? Onde estão ao certo as seis pontas de seta trazidas por Leite de Vasconcelos do Egipto em 1909, misturadas com os milhares de pontas que o Museu possui?"
Olhando para as 400 páginas do catálogo, houve algumas fotografias que não deixaram de me causar alguma admiração, dada a sua proveniência egípcia... mas só vi as pontas de seta naquela citação e não em nenhuma fotografia.
Os objectos que me parecem oferecer alguma dúvida sobre a sua proveniência, estando normalmente indicado "proveniência desconhecida", são estes, entre outros:
É claro que no Egipto houve vários períodos, desde o Império Antigo até à época helenista, após a invasão de Alexandre Magno, a época romana, ou ainda posterior, já cristã copta, antes da invasão árabe.
De qualquer forma deixo aqui este registo de objectos, que me pareceram um pouco fora daquilo a que estamos habituados a associar às colecções egípcias. Mesmo sendo encontrados no Egipto, não deixam de ser algo invulgares ao nosso preconceito sobre a cultura egípcia, e não deixa de ficar a hipótese que no meio da confusão típica nos registos nacionais simplesmente as coisas estejam mal etiquetadas... e ali pelos mármores esteja um graffiti feito às escondidas por um filho de algum empregado do museu!!
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