Na continuação da descrição da viagem de Filipe II, Lavanha fala de Salvaterra e Almeirim, dizendo:
O parque natural da Arrábida é uma zona razoavelmente pequena, mas com paisagens fascinantes, que encerram algumas estelas/inscrições à vista de todos, mas razoavelmente mal identificadas ou ignoradas. A zona deveria ser suficientemente rica em material arqueológico, mas não parece haver notícia de exploração sistemática com resultados significativos... o que se vem tornando habitual.
De Salvaterra foi sua Majestade aos 9 a Almeirim, 2 léguas de Salvaterra, lugar onde os Reis de Portugal só iam passar os Invernos, e onde para sua habitação fundaram uns grandes paços com deleitosos jardins. E pela mesma causa edificaram nela casas os senhores e fidalgos que seguiam a Corte, com que se fez uma povoação em que toda a Corte se alojava; hoje são campos onde foi Troya, o mesmo fora dos Paços se senão repararam.
Lavanha alude a que seriam então campos onde antes fora Tróia, sem especificar a sua localização. Mas é curioso colocar aqui essa menção, a propósito de um possível abandono dos paços de Almeirim.
Antes disso falava de Setúbal, da seguinte forma
É uma das maiores e mais assinaladas vilas de Portugal, por causa do seu porto formado no rio Cadão, que ali entra no Oceano, e de uma língua de terra que o mar há estreitado.
O rio Cadão passará a Çadão e a Sado, sendo ao tempo dos romanos Calippo, o que dava a consistência à lenda de Ulisses e Calipso, filha de Gorgoris.
Lavanha fala então da língua de terra, que hoje é Tróia, dizendo que seria essa chamada Cetobriga (de Ceto, peixe grande), associando o nome a "cidade de pescadores", invocando as ruínas com os tanques (que seriam para salgar os grandes peixes: atuns, corvinas), e outros edifícios de onde se tiravam estátuas, colunas, e inscrições, guardadas na casa do Duque de Aveiro. Continua, dizendo:
A estas ruínas chama o vulgo Troya, com que quer dar a entender que são da povoação que ali houve. A qual destruída (de que a causa se não sabe) se mudaram seus habitantes à outra banda do porto há mais de quinhentos anos, onde hoje está a vila do mesmo nome de nova Cetobriga, corrompido em Cetobra, e com maior corrupção Cetobala, e Setuval, como hoje se chama a Colónia de Cetobriga, e não povoação de Tubal.
Lavanha é suficientemente ambíguo. Apenas atribui a associação à população residente, e se levanta essa possível identificação de Tróias, acaba por dizer noutro sentido que Setúbal não estaria associada a Tubal.
Convirá notar que será apenas após os descobrimentos que se torna evidente uma investigação histórica, com base em historiadores romanos, que procura levantar uma grandeza ibérica esquecida. Isso foi alvo de imediatas críticas, que levaram a uma anulação completa do assunto após o séc. XIX, associando este tema apenas a uma empresa propagandistica dos Habsburgos em Espanha, e assim ignorando as extensas fontes utilizadas e citadas, nomeadamente por Fr. Bernardo de Brito.
Houve talvez demasiado exagero pelo lado ibérico, o que levou a uma exagerada reacção com epicentro nos outros centros culturais europeus, especialmente franceses.
Uma associação que apareceria contraditória seria ligar a Tróia de Homero à Tróia de Setúbal.
Sendo considerado que Ulisses forma Lisboa no seu regresso da guerra de Tróia, esta cidade não estaria na Lusitania, nos domínios do Rei Gorgoris. Acresce que a península de Tróia não tem qualquer semelhança geográfica com a descrição da Tróia de Homero, embora o mesmo já não se possa dizer do outro lado, de Palmela à Serra da Arrábida (também dita Rábida).
Lavanha reporta a conquista de Palmela e Sesimbra (Cezimbra) por D. Afonso Henriques em 1165, por resistência intermitente do rei mouro de Badajoz, e portanto muito depois da conquista de Alcácer do Sal em 1158 (cf. questão de Ourique).
Convirá notar que será apenas após os descobrimentos que se torna evidente uma investigação histórica, com base em historiadores romanos, que procura levantar uma grandeza ibérica esquecida. Isso foi alvo de imediatas críticas, que levaram a uma anulação completa do assunto após o séc. XIX, associando este tema apenas a uma empresa propagandistica dos Habsburgos em Espanha, e assim ignorando as extensas fontes utilizadas e citadas, nomeadamente por Fr. Bernardo de Brito.
Houve talvez demasiado exagero pelo lado ibérico, o que levou a uma exagerada reacção com epicentro nos outros centros culturais europeus, especialmente franceses.
Uma associação que apareceria contraditória seria ligar a Tróia de Homero à Tróia de Setúbal.
Sendo considerado que Ulisses forma Lisboa no seu regresso da guerra de Tróia, esta cidade não estaria na Lusitania, nos domínios do Rei Gorgoris. Acresce que a península de Tróia não tem qualquer semelhança geográfica com a descrição da Tróia de Homero, embora o mesmo já não se possa dizer do outro lado, de Palmela à Serra da Arrábida (também dita Rábida).
Lavanha reporta a conquista de Palmela e Sesimbra (Cezimbra) por D. Afonso Henriques em 1165, por resistência intermitente do rei mouro de Badajoz, e portanto muito depois da conquista de Alcácer do Sal em 1158 (cf. questão de Ourique).
O parque natural da Arrábida é uma zona razoavelmente pequena, mas com paisagens fascinantes, que encerram algumas estelas/inscrições à vista de todos, mas razoavelmente mal identificadas ou ignoradas. A zona deveria ser suficientemente rica em material arqueológico, mas não parece haver notícia de exploração sistemática com resultados significativos... o que se vem tornando habitual.
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