No início do Séc. XVII, a Holanda desenvolveu um particular gosto por tulipas, cujos bulbos podiam até ser comercializados com o valor de moeda. Uma das tulipas, denominada Semper Augustus foi negociada a valor recorde, uma pequena fortuna inalcançável ao normal cidadão holandês.
Esta importância das tulipas foi retomada em romance de 1850, de Alexandre Dumas, "A Tulipa Negra", talvez querendo alertar para o episódio, dado o peso que a especulação financeira retomava no final daquele século.
O fenómeno, que atingiu o pico máximo e o colapso em 1637, é chamado tulipomania, e tem características especulativas muito semelhantes a posteriores crises bolsistas.
Está documentada nesta altura uma forte publicidade e o aparecimento de "contratos de futuros". Estes contratos de futuros eram negociados com expectativas sobre o crescimento económico do valor dos bulbos de tulipas. O aumento dos preços permitia convencer a pagar alto pelo valor de tulipas que se iriam vender no futuro.
Estes mesmos contratos de futuros estiveram na origem da recente crise financeira de 2008, e não são por isso uma invenção recente, conforme é por vezes pensado. São uma arma financeira que permite o enriquecimento rápido de uns poucos, e a ruína abrupta de muitos mais... dito em poucas palavras, permite uma transferência e concentração de riqueza.
Por estranho que pareça, as pessoas parecem alertadas para os esquemas em pirâmide, ou outros contos do vigário, que aparecem aqui e ali (antigamente em cartas, hoje em emails), mas essas cautelas parecem desvanecer-se quando o intermediário aparenta uma credibilidade institucional.
As tulipas chegaram à Holanda originárias da Turquia, numa altura em que a jovem República Holandesa começava a crescer, recebendo o papel de potência marítima, para o qual foi crucial a emigração de muitos judeus, expulsos de Portugal e Espanha. Estes judeus, por sua vez, tinham a mesma origem remota que as tulipas que iriam ser negociadas na Holanda.
Aliás, convirá referir que este espírito capitalista, que desflorava nas tulipas holandesas, não terá tido muito provavelmente a sua estreia na Holanda. O primeiro registo de economia capitalista parece ter sido exercido pelos Khazares, da parte da Tartária contígua ao Mar Cáspio (que inclui as caucasianas Iberia e Albania), onde também surgiram os Otomanos que iriam arrasar Constantinopla.
Estes Khazares controlavam grande parte do comércio oriental, feito pela chamada "Rota da Seda", evitando o inicial bloqueio árabe, e a sua conversão ao judaísmo parece ter-se adequado à sua natureza de comerciantes. Sugere-se ainda que os Ashkenazi (basicamente os judeus europeus, de tez mais branca), são descendentes da emigração da Khazaria, que começou com o fim do império Khazar, basicamente desde o Séc. XI, tendo o seu apogeu com o fim da Idade Média, após a queda de Constantinopla. Podemos dizer que saíram da Iberia caucasiana em direcção à Ibéria atlântica, e depois à Holanda, onde foram reencontrar as tulipas nativas.
Bom, e se as tulipas lhes eram especialmente valiosas, por muito que fosse predominante o papel comercial judaico, na Holanda teriam que fazer um reinício, quase do zero. Porém, a nova Republica Holandesa permitia um sistema económico capitalista, que lhes era familiar, e que dominariam particularmente bem. Chegados sem bens notáveis, em breve consumariam uma transferência de riqueza que lhes permitira dominar a sociedade holandesa, em particular através da sua influência na Companhia das Índias Orientais, mas também através destes novos mecanismos especulativos, como foram os contratos de futuros feitos com tulipas.
Um simples bulbo de planta passava em dois ou três anos a valer mais que o ouro, e esta paranóia induzida aos holandeses terá permitido acumular fortunas a quem dominava perfeitamente as nuances do sistema capitalista.
A Holanda acaba por se definir como crucial para os acontecimentos seguintes. Curiosamente são os holandeses que fundam Nova York com o nome Nova Amsterdão, e o seu último governador, Peter Stuyvesant, é quem vai construir uma muralha que deu nome a Wall Street...
Porém esta muralha não resiste à nova Inglaterra de Carlos II (já casado com Catarina de Bragança), e em 1664 os ingleses acabam por conquistar esse território americano. A pequena Holanda não parece conseguir competir com a nova força da Inglaterra.
No entanto, alguns 25 anos mais tarde, em 1689, três anos depois da morte de Carlos II, o novo rei Jaime II, seu irmão, acaba por ser deposto através de uma invasão naval holandesa, comandada por Guilherme de Oranje, na chamada "Revolução Gloriosa". O pretexto que uniu o parlamento inglês ao soberano holandês, contra o rei legítimo, teria sido a crescente tolerância ao catolicismo.
Esta foi a única invasão que a Inglaterra sofreu desde Guilherme I, em Hastings (1066), e curiosamente seria levada a cabo por outro Guilherme. Porém, neste caso não houve praticamente resistência, devido ao apoio do parlamento, pelo que a revolução também traz o epíteto "sem sangue".
O que mais glorioso teve esta invasão de Guilherme III foi o crescimento do país invadido, e o declínio do país invasor. A Holanda acabou por perder o seu aspecto dominante, e a transferência de riqueza, que já se tinha visto ocorrer dos reinos ibéricos para a Holanda, passou da Holanda para a Inglaterra. O mundo financeiro que iria dominar os próximos séculos seria sediado na City de Londres, até passar depois para a muralha de Stuyvesant, Wall Street. A dimensão da Inglaterra permitia uma armada sem rival, para uma política global, algo que seria muito mais difícil de concretizar na frágil Holanda. Um mesmo rei permitiria essa transferência mais comodamente...
As províncias ultramarinas holandesas acabaram por ser anexadas pelos ingleses, mais tarde ou mais cedo. A Austrália manteve-se escondida até à chegada de Cook, bem como a própria Nova Zelândia, que tem o seu nome derivado de Zeeland, a província "conquistada ao mar" pelos holandeses. O facto da ilha ter nome derivado do holandês não parece importar na tentativa de atribuição a Cook.
Assim, a Holanda que sonhou os futuros nos bulbos de túlipa, acabou ver no futuro apenas uma lembrança do seu poder passado.
A mesma esperteza que transformou bulbos de túlipa em ouro, acabou por se manifestar de forma mais contundente na transformação da moeda. A moeda ligava-se ao ouro, que por tradição, desde a Antiguidade, era considerado um elemento valioso. No entanto, no Séc. XX, após a 1ª Guerra Mundial, e especialmente após a 2* Guerra, em Bretton Woods, vai terminar essa ligação ao metal. Já há muito que o gado servira de moeda de troca, e do pecuário saiu a palavra pecuniário, na tradição grega, ou que o sal servira de moeda de troca romana, de onde saíra a palavra salário. Quando se emitem as primeiras notas de papel, há uma promessa de ligação a um metal depositado, mas essa ligação vai-se desvanecer.
O dinheiro reduz-se a uma troca de confiança assinada em papel de nota, em papel de acções, etc... deixará de ter correspondente em ouro. Tem correspondente em produtos e serviços pela confiança adquirida, mas também há uma "confiança imposta", que serve de "imposto" imperial.
Os bulbos de tulipas caíram porque a sua vulgarização levou a uma inevitável desvalorização, o mesmo ocorreu quando o mercado foi inundado recentemente por "contratos de futuros" sem futuro. Criaram-se perspectivas de fortuna para muitos, como se todos estivessem contentes por ir ganhar a lotaria, sem se dar conta que teriam que dividir o prémio entre si, e que não havia um grande prémio para cada um. Assim, acabamos por ter uma dívida mundial superior em muitas vezes ao produto bruto gerado. Parece importar pouco que o que foi emprestado simplesmente não existia, e que por isso quem o fez, tomou para si, a crédito, o futuro de todos, que não lhe pertencia, diluindo-o nesses contratos.
Assim, as novas gerações acabarão por ver o seu futuro hipotecado pelos contratos de futuros cobrados pelos bulbos de túlipa que a geração anterior contraiu, iludida pelo poder das flores.
Publicidade ao investimento em tulipas e a famosa Semper Augustus (wiki).
Esta importância das tulipas foi retomada em romance de 1850, de Alexandre Dumas, "A Tulipa Negra", talvez querendo alertar para o episódio, dado o peso que a especulação financeira retomava no final daquele século.
O fenómeno, que atingiu o pico máximo e o colapso em 1637, é chamado tulipomania, e tem características especulativas muito semelhantes a posteriores crises bolsistas.
(evolução exponencial dos preços entre 1634 e 1637)
Está documentada nesta altura uma forte publicidade e o aparecimento de "contratos de futuros". Estes contratos de futuros eram negociados com expectativas sobre o crescimento económico do valor dos bulbos de tulipas. O aumento dos preços permitia convencer a pagar alto pelo valor de tulipas que se iriam vender no futuro.
Estes mesmos contratos de futuros estiveram na origem da recente crise financeira de 2008, e não são por isso uma invenção recente, conforme é por vezes pensado. São uma arma financeira que permite o enriquecimento rápido de uns poucos, e a ruína abrupta de muitos mais... dito em poucas palavras, permite uma transferência e concentração de riqueza.
Por estranho que pareça, as pessoas parecem alertadas para os esquemas em pirâmide, ou outros contos do vigário, que aparecem aqui e ali (antigamente em cartas, hoje em emails), mas essas cautelas parecem desvanecer-se quando o intermediário aparenta uma credibilidade institucional.
As tulipas chegaram à Holanda originárias da Turquia, numa altura em que a jovem República Holandesa começava a crescer, recebendo o papel de potência marítima, para o qual foi crucial a emigração de muitos judeus, expulsos de Portugal e Espanha. Estes judeus, por sua vez, tinham a mesma origem remota que as tulipas que iriam ser negociadas na Holanda.
Aliás, convirá referir que este espírito capitalista, que desflorava nas tulipas holandesas, não terá tido muito provavelmente a sua estreia na Holanda. O primeiro registo de economia capitalista parece ter sido exercido pelos Khazares, da parte da Tartária contígua ao Mar Cáspio (que inclui as caucasianas Iberia e Albania), onde também surgiram os Otomanos que iriam arrasar Constantinopla.
A extensão do império Khazar até ao Séc. X.
Estes Khazares controlavam grande parte do comércio oriental, feito pela chamada "Rota da Seda", evitando o inicial bloqueio árabe, e a sua conversão ao judaísmo parece ter-se adequado à sua natureza de comerciantes. Sugere-se ainda que os Ashkenazi (basicamente os judeus europeus, de tez mais branca), são descendentes da emigração da Khazaria, que começou com o fim do império Khazar, basicamente desde o Séc. XI, tendo o seu apogeu com o fim da Idade Média, após a queda de Constantinopla. Podemos dizer que saíram da Iberia caucasiana em direcção à Ibéria atlântica, e depois à Holanda, onde foram reencontrar as tulipas nativas.
Bom, e se as tulipas lhes eram especialmente valiosas, por muito que fosse predominante o papel comercial judaico, na Holanda teriam que fazer um reinício, quase do zero. Porém, a nova Republica Holandesa permitia um sistema económico capitalista, que lhes era familiar, e que dominariam particularmente bem. Chegados sem bens notáveis, em breve consumariam uma transferência de riqueza que lhes permitira dominar a sociedade holandesa, em particular através da sua influência na Companhia das Índias Orientais, mas também através destes novos mecanismos especulativos, como foram os contratos de futuros feitos com tulipas.
Um simples bulbo de planta passava em dois ou três anos a valer mais que o ouro, e esta paranóia induzida aos holandeses terá permitido acumular fortunas a quem dominava perfeitamente as nuances do sistema capitalista.
A Holanda acaba por se definir como crucial para os acontecimentos seguintes. Curiosamente são os holandeses que fundam Nova York com o nome Nova Amsterdão, e o seu último governador, Peter Stuyvesant, é quem vai construir uma muralha que deu nome a Wall Street...
Porém esta muralha não resiste à nova Inglaterra de Carlos II (já casado com Catarina de Bragança), e em 1664 os ingleses acabam por conquistar esse território americano. A pequena Holanda não parece conseguir competir com a nova força da Inglaterra.
No entanto, alguns 25 anos mais tarde, em 1689, três anos depois da morte de Carlos II, o novo rei Jaime II, seu irmão, acaba por ser deposto através de uma invasão naval holandesa, comandada por Guilherme de Oranje, na chamada "Revolução Gloriosa". O pretexto que uniu o parlamento inglês ao soberano holandês, contra o rei legítimo, teria sido a crescente tolerância ao catolicismo.
Esta foi a única invasão que a Inglaterra sofreu desde Guilherme I, em Hastings (1066), e curiosamente seria levada a cabo por outro Guilherme. Porém, neste caso não houve praticamente resistência, devido ao apoio do parlamento, pelo que a revolução também traz o epíteto "sem sangue".
O que mais glorioso teve esta invasão de Guilherme III foi o crescimento do país invadido, e o declínio do país invasor. A Holanda acabou por perder o seu aspecto dominante, e a transferência de riqueza, que já se tinha visto ocorrer dos reinos ibéricos para a Holanda, passou da Holanda para a Inglaterra. O mundo financeiro que iria dominar os próximos séculos seria sediado na City de Londres, até passar depois para a muralha de Stuyvesant, Wall Street. A dimensão da Inglaterra permitia uma armada sem rival, para uma política global, algo que seria muito mais difícil de concretizar na frágil Holanda. Um mesmo rei permitiria essa transferência mais comodamente...
As províncias ultramarinas holandesas acabaram por ser anexadas pelos ingleses, mais tarde ou mais cedo. A Austrália manteve-se escondida até à chegada de Cook, bem como a própria Nova Zelândia, que tem o seu nome derivado de Zeeland, a província "conquistada ao mar" pelos holandeses. O facto da ilha ter nome derivado do holandês não parece importar na tentativa de atribuição a Cook.
Assim, a Holanda que sonhou os futuros nos bulbos de túlipa, acabou ver no futuro apenas uma lembrança do seu poder passado.
A mesma esperteza que transformou bulbos de túlipa em ouro, acabou por se manifestar de forma mais contundente na transformação da moeda. A moeda ligava-se ao ouro, que por tradição, desde a Antiguidade, era considerado um elemento valioso. No entanto, no Séc. XX, após a 1ª Guerra Mundial, e especialmente após a 2* Guerra, em Bretton Woods, vai terminar essa ligação ao metal. Já há muito que o gado servira de moeda de troca, e do pecuário saiu a palavra pecuniário, na tradição grega, ou que o sal servira de moeda de troca romana, de onde saíra a palavra salário. Quando se emitem as primeiras notas de papel, há uma promessa de ligação a um metal depositado, mas essa ligação vai-se desvanecer.
O dinheiro reduz-se a uma troca de confiança assinada em papel de nota, em papel de acções, etc... deixará de ter correspondente em ouro. Tem correspondente em produtos e serviços pela confiança adquirida, mas também há uma "confiança imposta", que serve de "imposto" imperial.
Os bulbos de tulipas caíram porque a sua vulgarização levou a uma inevitável desvalorização, o mesmo ocorreu quando o mercado foi inundado recentemente por "contratos de futuros" sem futuro. Criaram-se perspectivas de fortuna para muitos, como se todos estivessem contentes por ir ganhar a lotaria, sem se dar conta que teriam que dividir o prémio entre si, e que não havia um grande prémio para cada um. Assim, acabamos por ter uma dívida mundial superior em muitas vezes ao produto bruto gerado. Parece importar pouco que o que foi emprestado simplesmente não existia, e que por isso quem o fez, tomou para si, a crédito, o futuro de todos, que não lhe pertencia, diluindo-o nesses contratos.
Assim, as novas gerações acabarão por ver o seu futuro hipotecado pelos contratos de futuros cobrados pelos bulbos de túlipa que a geração anterior contraiu, iludida pelo poder das flores.
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