quinta-feira, 25 de abril de 2019

Do 11 de Setembro ao 25 de Abril

25 de Abril.
Este dia é comemorado em Itália como dia da libertação do "nazi-fascismo", já que nessa data em 1945, Milão e Turim caíram do controlo alemão, e três dias depois Veneza e toda a Itália ficava liberta da presença nazi. Coincide ainda com a comemoração veneziana do dia de São Marcos, de que aqui falámos ainda sobre a festa do botão de rosa
Festa do botão (bocolo) de São Marcos
Tradizione centenaria vuole che il 25 aprile a Venezia, festa di san Marco (che dal dopoguerra casualmente coincide con la festa della Liberazione dell'Italia dal nazifascismo), a fidanzate e mogli venga offerto un bocciolo (in veneto bòcolo) di rosa rossa, in segno d'amore.
 
Cartaz anunciado o 25 de Abril em Itália. Praça de São Marcos com um bocolo humano.

Convém notar que no cartaz vemos a papoila, e não se prende aqui com o Anzac Day, lembrança do desembarque em Gallipoli, em 25 de Abril de 1915... de que aqui também falámos, e que tem como flores associadas a papoila ou o cravo vermelho.

Coincidência notável, de Gallipoli a Veneza, da Itália a Portugal, passando por Londres, ou Viena, o 25 de Abril guardou as suas flores, papoilas ou cravos vermelhos.

Ainda me lembro que a acompanhar o ramo de flores em Maio era questão crucial acompanhar o ramalhete com uma papoila. Se na altura era vista como símbolo de liberdade, creio que só o percebi depois, talvez ao tempo de perceber que de outras papoilas saía ópio, invocando outras libertações de espírito. 

11 de Setembro.
Em 11 de Setembro de 1973, a CIA supervisionou o golpe de estado no Chile, que colocou o general Pinochet no poder, terminando no mesmo dia com o suicídio do presidente eleito, Salvador Allende.
Como é bem sabido, se havia coisa que estava bem presente na cabeça dos portugueses, era o carácter letal, e fora de controlo, a que este tipo de movimentações dava lugar.
 
Salvador Allende tentando escapar ao golpe. Bombardeamento do palácio presidencial. Pose de Augusto Pinochet. 

Também neste caso temos uma data que liga diversas lembranças, mais pelo aspecto sombrio. Desde a fracassada independência catalã, em Barcelona, ao golpe de estado no Chile, até aos atentados de Nova Iorque. A esta data não se associariam flores...

Do 11 de Setembro ao 25 de Abril, em sete meses, o que mudaria seria quase uma inversão.
De um golpe que tirava um governo eleito e colocava uma ditadura militar, para um golpe que retirava uma ditadura e pretendia colocar um governo eleito. 
Na América do Sul, seguir-se-iam movimentações destinadas a cimentar ditaduras militares, através da chamada Operação Condor, enquanto a Europa da NATO veria cair as últimas ditaduras existentes (Portugal, Grécia, Espanha).

Como se conjugavam eventos tão díspares e quase de sinal contrário?
Em 1973 a Inglaterra entrava na CEE, juntamente com a Irlanda e a Dinamarca. A CEE passava de 6 a 9 países. Os 3 próximos países prontos a entrar vão ser justamente os que saem desse regime ditatorial, ou seja, a Grécia, Portugal e Espanha. O novo crescimento da CEE, já UE, dá-se com a entrada da Suécia, Finlândia e Áustria. A UE está assim pronta para acolher os restantes países, acabadinhos de sair do Pacto de Varsóvia. Ou seja, no lado europeu, provavelmente sob orientação inglesa, procurou-se evitar conflitos e fazer transições democráticas pacíficas... tendo colapsado apenas no caso da dissolução jugoslava.
No lado sul-americano, a estratégia foi bem diferente, e a estratégia terá ficado a cargo da linha mais dura da CIA, a linha do 11 de Setembro. Com a queda do muro de Berlim, a necessidade de apoio aos regimes ditatoriais sul-americanos, foi-se desvanecendo, ainda que Cuba continuasse a influenciar os movimentos comunistas.
No final dos anos 90, na transição para o novo milénio, não havia razões para manter a especulação financeira, que tinha servido e sido especialmente eficaz para destruir a economia soviética. Excepto que, uma vez criado o monstro financeiro, ele decidiu justificar a sua existência, nem que para isso fosse preciso criar um perigo efectivo de terrorismo, conhecido como... 11 de Setembro.

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