Alvor-Silves

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Estado da Arte (2)

Depois de ter escrito o texto anterior, encontrei um bom documentário da BBC sobre Arte Rupestre, apresentado por Nigel Spivey, da Universidade de Cambridge.


[Dez. 2020: O vídeo desapareceu da internet, um resumo escrito é dado neste link]

O documentário tem o mérito de dar ênfase a questões importantes, ainda que depois tenda a concentrar-se numa conjectura como resposta - ou seja, o que seria desenhado nas cavernas seriam descrições de estados de transe dos xamãs.

Bom, mas este assunto da pintura tornou-se numa questão de um milhão de dólares, valores atingidos nos leilões de pinturas abstractas desde o início do Séc. XX. Ignorando pertenças de ídolos, raramente encontramos outros objectos, sem ser quadros, cujo valor de mercado é astronomicamente superior ao valor dos materiais ou dos processos utilizados na construção. 

Uma das revelações feitas neste documentário, e que foi para mim uma surpresa, foi a história de um turco, no início do Séc. XX, que não associava o animal à pintura realista de um cavalo. Ou seja, para esse turco, fundamentalista, de uma religião islâmica que proíbe a representação em pinturas, a pintura do cavalo, por mais realista que fosse, nada tinha a ver com o animal. 
O animal era tridimensional, e a pintura era apenas um boneco bidimensional.

Mas vejamos um caso mais concreto.
Em Espanha não há só Altamira, e em El Castillo podemos encontrar um esboço numa parede:
Cave de El Castillo (Espanha, perto de Altamira)

Será que o pintor troglodita, num certo estilo minimalista de Picasso, procurou evidenciar a cabeça de um auroque, usando apenas dois traços? Ou ainda melhor, será que todas as pessoas vêem naqueles dois traços uma cabeça bovina, ou haverá quem, tal como o personagem turco, não associa aqueles traços a nenhuma representação animal. De facto, olhando novamente para a imagem, a curva à esquerda poderia ser um traço em forma de 2 ou de Z. 
Portanto, é preciso um certo clique de contexto... Em pinturas rupestres, evidentemente as letras estão excluídas, e os nossos olhos procuram figuras que sugiram animais, sendo essa associação feita. 
Noutro contexto não seria assim... e por isso uma certa surpresa é entender que precisamos de alguma educação para associar às imagens o que elas representam, por muito realistas que possam parecer.


PLANTAS
El Castillo é uma gruta muito interessante, até porque a datação oficial têm-na colocado como uma das mais antigas, anterior até às grutas francesas, com cerca de 40 mil anos... ou seja, mais em épocas de Neandertais do que Homo Sapiens, levantando algumas interrogações sobre se seriam esses os autores originais das pinturas (nesse ponto, de remeter algumas das pinturas a Neandertais tem-se destacado J. Zilhão - ver por exemplo o artigo Spanish cave paintings world’s oldest says new dating tech ).

Talvez o mais surpreendente em El Castillo consiste em representações com pontilhados e "estruturas quadrangulares", conforme podemos ver nas figuras e vídeo seguintes:



Estas imagens foram retiradas do vídeo sobre El Castillo

Texnai Digital Archive (empresa japonesa)

Desconheço se a Nigel Spivey também se ofereceria interpretar estas estruturas como resultado da representação de imagens vistas em estados de transe. Ainda que essa ideia possa fazer algum sentido nalguns casos, está muito longe de servir como panaceia, parecendo servir mais como tentativa de reduzir toda a pintura rupestre a estados de alucinação sem significado especial.
Não negligencio de nenhuma forma o papel que os xamãs tiveram na evolução humana, como já aqui abordei, simplesmente não considero que parou em tempos remotos... transformou-se mas nunca se alterou a essência desse controlo ou influência sacerdotal nas decisões políticas, mesmo actuais.

Voltando aos quadrados de El Castillo, esses lembram outros quadrados, e avançamos muitos milhares de anos para Çatal Huyuk (ainda assim reportada com mais de 8 mil anos):



Çatal Huyuk - possível planta da cidade - figuras originais e desenho
(imagens daqui e daqui)

A questão é que em Çatal Huyuk, por muito que se tenha tentado desprezar o significado deste mural (a esse propósito, consultar Portugalliae), verificou-se que os quadrados apresentados correspondiam muito bem à planta dos edifícios da própria cidade desenterrada, ou citando directamente M. Tomczak: "A wall painting from one of the shrines, dated to 6200 BC with an error margin of less than 100 years, depicts the plan of the city and corresponds very accurately to the arrangement of the houses as they were excavated."

Bom, o que isto tem a ver com as pinturas de El Castillo?
Lá está... falta-nos o contexto explicativo, e cada um pode ver o que quiser. Se forem os "alienados" do Canal História, certamente que podem ali ver planos de dispositivos ou veículos espaciais! Pelo lado do documentário da BBC, talvez sejam representações de visões de xamãs em estados de transe.

Está já clara qual é a minha opinião - poderiam bem ser representações de estruturas habitacionais, provavelmente em madeira, onde os pontos seriam meras pessoas. Ou seja, poderia ser uma simples planta dos edifícios existentes, ou simplesmente planeados.

O problema é que, dada a profunda ocultação a que fomos sujeitos educacionalmente, tendemos a ver mapas e plantas como um produto recente, como se as construções antigas não requeressem um planeamento igualmente ponderado e colocado no "papel", antes de ser levado a efeito.

Não estou a pretender que é a única hipótese com sentido. Também poderia fazer sentido pensar-se que as cavernas funcionavam como prisões, e cada ponto representava um dia preso, ou que aquilo era uma espécie de tabuleiro do jogo do galo, que iam jogando para passar o tempo... tudo isso, e mais uma centena de possibilidades.

A questão que coloco é simples.
Tinham ou não os romanos uma planta de Roma, ou os atenienses uma planta de Atenas, etc.?
Se tinham, já alguém as viu?


Plantas romanas (Museu da Cidade de Roma)


Existiam de facto plantas de Roma em pedra, em mármore... e pergunto, quantas cidades de hoje tem a sua planta gravada em mármore, ou em pedra?
No entanto, como vemos, o que chegou dessa obra monumental de 18 x 13 metros em mármore, foram minúsculos fragmentos partidos. Para além disso, quantas pessoas têm a noção de que os romanos faziam plantas como hoje fazemos? Por que razão esta informação fica perdida num recanto de um museu, sem qualquer destaque?


Horror-a-mapas
Horror a mapas foi a manifestação de uma doença que consumiu a humanidade, e cujos principais doentes estão longe de estar curados. Destruir plantas de cidades foi só um dos muitos aspectos, mas na sua fase mais crítica levou à destruição de todas as imagens que representassem não apenas deuses, mas também imagens da realidade circundante.
Basta atendermos às directivas judaicas ou islâmicas na arte, para compreendermos a forma brutal como foram reprimidas todas as manifestações de imagens, o que levou então ao exemplo caricato do sujeito turco que não associava o cavalo à imagem do cavalo. Grandes pintores árabes ou judeus, antes do Séc. XX estavam proibidos de exercer... e mesmo os outros só começaram a poder recuperar o fino traço da Antiguidade, depois do Renascimento.
Portanto houve ordens... dos "deuses", ou "astronautas", ou mais simplesmente de alguns magos ou xamãs de serviço, para que fossem reprimidas e destruídas todas as representações, especialmente por imagens. Ainda hoje essas ordens são levadas a sério pelos radicais islâmicos... mas está longe de ser só aí que está a doença, que é mais profunda. Afinal, uma das maiores forças do poder pretende ser negar uma correcta informação sobre o passado.

Dito isto, ouso dizer, sem grandes problemas, que em nada me espantaria encontrar um bom mapa da Europa pintado numa caverna com 10 ou 20 mil anos... é claro que não seria bem desta Europa, porque o nível do mar não seria o mesmo.

Mas isso é outra conversa... de qualquer forma, lembro que foi a pequena Maria que sinalizou os "touros" de Altamira. O pai, o Marquês Sautuola, foi depois ridicularizado no Congresso de Pré-História, realizado em 1880, em Lisboa. Um dos principais opositores, Cartilhac, seria eleito curador da Academia dos Jogos Florais... a célebre academia Occitana, que referimos no texto anterior.
Na sua região occitana, uma outra pequena Bernadette ficara famosa uns anos antes, em Lourdes, pelas visões numa gruta, onde seria erguido um dos maiores monumentos ao culto mariano. Alguns anos mais tarde, também numa região de muitas grutas, outros jovens com outras visões marianas, e um novo local de culto, Fátima.
Curiosamente, e serve isto para fazer esse reparo, tirando as gravuras de Foz Côa, que mal se vêem, conheço apenas em território nacional uma inscrição pintada na Lapa dos Gaviões, e outra na Gruta do Escoural. Devo dizer que já entrei em grutas não abertas ao público, quando era mais jovem, e também nunca vi nada... Aparentemente, o desígnio artístico deve ter perdido ímpeto quando se passava a fronteira de Espanha para Portugal.

domingo, 26 de julho de 2015

Estado da Arte

"Estado da Arte" é uma expressão usada normalmente para dar conta da situação em que se encontra uma certa parte do conhecimento, geralmente designada como "arte".
Iremos procurar dar aqui sentido a uma outra interrogação, que não tem nenhuma resposta conhecida... pelo menos que faça sentido.

O maior problema que aqui ficou por resolver, é ilustrado assim:
Pintura Rupestre na Caverna de Font-de-Gaume, datada com 20 mil anos.

Se as restantes pinturas rupestres são notáveis, esta composição evidencia uma sensibilidade e um grau de abstracção surpreendentes. Os chifres não foram desenhados para corresponder a uma realidade observada, as pernas são estreitas e demasiado curtas, e sobretudo é uma cena que só uma alma muito insensível pode associar a "caçadas"... 
Diz-se que Picasso, depois de visitar a Caverna de Altamira terá dito: 
- Depois de Altamira, tudo é decadência...
A questão é muito simples. 
Depois de se atingir os píncaros da pintura, o que fazer nos 20 milhares de anos seguintes?

Tal como Font-de-Gaume, Lascaux, Chauvet, etc... uma grande parte dos mais notáveis registos de pintura rupestre estão na região Occitana, que em tempos romanos foi designada Aquitânia
Durante a Guerra dos Cem Anos, uma parte chegou a ser designada como Guyenne, ou Guiana, província que chegou a mãos dos Lancastre, e já aqui mencionámos que esse nome poderá ter sido corrompido em português para Guiné, pelos filhos de Filipa de Lencastre. 

Parte da região é conhecida como Languedoc, "langue d'Óc", em occitano "lenga d'Óc"... o que de certa forma corresponde a dizer "língua de Ó" - ou abreviadamente "linguadó", como alternativa ao nome Romance (designação das línguas românicas). 
Porquê o linguado? - Falamos da parte vocal, e não da parte bocal, do Romance. 
Podemos ver esse peixe como uma versão camuflada de uma raia (sendo que já falámos de Cronos e Raia... no contexto, da Raia miúda!)
Linguado usando o mimetismo como camuflagem na superfície.

Esta língua do Ó, ou dos Ós (ou ainda, se quisermos, língua de Oz) seria muito provavelmente a raiz de onde saíram as restantes línguas "latinas"... o que nem é especular coisa nenhuma, já que se assume o desvio das restantes num certo "Romance", a língua provençal.
E sim, estou a entrar moderamente em "jogos florais", porque foi em Toulouse criada a primeira Academia em 1323... a Academia dos Jogos Florais, em resposta à brutal repressão contra o movimento cátaro na Occitânia. 

Esta técnica do "jogos florais" não é bem como ler ao contrário "amor" em "roma", até porque por via das dúvidas, de "roma" sai também a palavra "romance"... que não é bem amor. Seria mais gerar-se aqui uma discussão entre escrever palavras "occitanas" ou "oxitanas". 
A querela poderia parecer minudência.
Por exemplo, procurar rebuscada relação com o osso occipital, na retaguarda do crânio... sabendo que os Neandertal, habitantes das paragens occitanas, tinham esse osso bem mais saliente. 
Noutra versão, oxitanas" poderia ler-se como uma manifestação política grega actual, no sentido de "Oxi, o tanas!"... entendendo que o "não-oxi" no referendo grego foi uma farsa! Convém relembrar que Tanas é a divindade primitiva, de onde derivam os nomes como "lusi-tana", "mauri-tana", etc.

Eram assim os jogos florais, alimentados por poetas, onde uns liam uma coisa, e outros, outra. Coisas próprias de tempos em que a chama ardente era mesmo a das fogueiras inquisitórias contra os cátaros occitanos. Mas, as coisas são como são, e não me é difícil ver muitas mais relações florais... porque afinal com dois Ós (oo) faz-se um oito (8), ou "octo" na língua de óc. E por aí adiante, com oc-culto, com oc-cidente, com mais ou menos óculos (que é como quem diz oc-olhos), e tantas outras palavras formadas com o prefixo latino "oc", entendido como "por razão de...". E, é claro, todo este jogo floral pode ser entendido como oco.

Para o que interessa, toda a região do sul de França teve um papel activo nas Cruzadas, sendo o porto de La Rochelle a base naval dos Templários, antes da sua extinção... sendo ainda mais significativa a própria Cruzada Albigense contra os Cátaros, levada a cabo pelo rei de França, que arrasou a ideia de cisão do Deus do Antigo Testamento, Jeová, do Deus do Novo Testamento, Jesus. Isto seria uma ideia particularmente mal vista pelos judeus, já que os cátaros remetiam o mal para o pai Jeová, e o bem para o filho, Jesus.

Madalenas
Não falamos de Maria Madalena, nem dos bolos a que se chamam madalenas, cujo formato é uma significativa vieira, de inspiração antiga no culto de Vénus.

A questão principal são os 20 mil anos, que separam os traços dos pintores trogloditas, dos traços dos pintores modernos.
Se em tempos remotos foi lançado o desafio aos pintores futuros... o Estado da Arte pareceu não ter evoluído de sobremaneira.
Alguém foi capaz de desafiar na pintura, os cervos de Font-de-Gaume?
Quando a técnica atingiu o apogeu, o que restou aos pintores modernos?
- Passaram do impressionismo aos movimentos mais abstractos, tornaram o traço mais grosseiro, menos realista. Mas será que alguma dessas tendências seria novidade, com efeito?
O que vemos nas pinturas rupestres não são também muitas vezes temas abstractos?
E os rostos humanos?
Por que razão escapavam de tema os rostos humanos, a quem com segurança desenhava de forma notável os animais que via?
Será que não houve nenhum pintor, durante todos esses milhares de anos, que não pintou sequer um rosto humano, com a mesma perícia com que desenhava bisontes e cervos?
Poderia ser proibido, certo, mas mesmo assim... haveria tal proibição capaz de impedir um rapaz de pintar a cara da sua amada, quanto mais não fosse por saudade, ou para impressioná-la?
Durante milhares de anos, em tantas grutas descobertas, e não se encontra um esboço?
De vestígios humanos pintados, só encontramos mãos impressas?
Pois, uma coisa é encontrar... coisa completamente diferente é conseguir divulgar a descoberta, nos nossos dias de ocultação. Se tal coisa existe, ou foi passada a ácido, ou ainda está bem escondida.

Bom, mas o que aconteceu aos habitantes das cavernas? Desapareceram?
O que é interessante é que nessa mesma região do Sul de França, restam habitações "trogloditas"... ou seja, algumas casas que foram feitas aproveitando as saliências da rocha.
É o caso do "Abrigo da Madalena", que acabou por dar nome a toda a Cultura Magdaleniana, associada aos Cro-Magnons no período final da Idade do Gelo.
Abri de la Madaleine - Sul de França (Tursac, Dordogne)

Talvez o caso mais bem conservado será a "Casa Forte de Reignac"

Esta "casa forte", só teve janelas abertas no final da Idade Média, e só recentemente passaram a autorizar a visita a uma sala e a um quarto. Apesar da habitação ser denominada "troglodita", porque se traça permanência humana até aos tempos paleolíticos, esta casa certamente vedaria o acesso a um interior de grutas pré-históricas, só possível de concretizar mediante autorização dos proprietáriso.

Certamente que a população muito mudou, mas não se poderá pensar que alguns dos habitantes da região poderiam traçar as suas origens a épocas perdidas na noite dos tempos?
- Afinal, nem os romanos levaram todos os gauleses como escravos, e sabe-se dessa contínua permanência de habitantes, desde tempos remotos.
É claro que isso se poderia afirmar para todos os povos... mas quando se mantêm casas na rocha, cujo acesso interior leva certamente a cavernas e galerias usadas desde o Paleolítico, estamos com uma continuidade, e preservação do local de habitação, a tempos da Idade do Gelo.

Entre o Estado da Arte, em que ficaram as pinturas rupestres, será que não podemos ser levados a pensar num outro "estado", num estado em que à arte era dada uma importância crucial, e que se poderá ter mantido em continuidade, desde a Cultura Magdaleniana até aos nossos dias... mantida por Magos e Magdas?
Claro que não há nenhuma evidência concreta nesse sentido... tirando uma propositada história de continuada ocultação, permanecendo em quase todas as civilizações de que nos chegou registo.

E nem tão pouco podemos dizer que cenas com fauna animal, como a de Fonte-de-Gaume, tenham desaparecido da pintura. Aliás, encontramos até exemplos disso nos Romanos.
Frescos romanos (1)

... no entanto, estes fragmentos de frescos, são apenas alguns dos múltiplos registos, que podemos encontrar entre os romanos, e cuja qualidade lembram tempos mais recentes da pintura:
Frescos romanos (2)

A maior parte encontram-se hoje em pedaços, mas alguns que restaram, dão-nos ideia de qual foi a força erosiva que esteve em presença, quando se tratou de apagar registos antigos
Frescos romanos (3)

... ou seja, numa boa parte dos casos, a força erosiva em presença, não foi nenhuma ruína natural - foram apenas homens munidos de escopros! E essa mesma força, continua a mandar no Estado da Arte.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

História "alienada", ou "ali é nada"?

O canal História tem difusão quase mundial, por integrar praticamente todos os serviços de TV por cabo. Para além de ter passado a integrar rubricas de lojas de penhores, tem sistematicamente apostado na difusão da teoria dos "deuses astronautas", lançada por Erich Von Däniken em 1968, há já quase 50 anos.

Nas caixas de comentários já abordei este assunto com o José Manuel, até com respeito ao próprio personagem Däniken, que vê agora no final da sua vida, uma divulgação surpreendente, com uma legião de seguidores, personagens que vão dos mais aos menos ridículos.

A atitude da academia perante as referidas bizarrias é simplesmente ignorar, e não havendo espaço ao contraditório, há já quase uma meia dúzia de anos que o canal História insiste nesta linha "alien", ou melhor, "alienada". 

Apesar de "alienada" e "ali é nada" serem expressões homófonas, o significado é diferente.
A teoria pode ser "alienada" e ali haver qualquer coisa, ou não ser alienada, e não haver mesmo nada.
Nesse aspecto prefiro a versão "alienada" às versões que assumem "ali é nada".

Porém, convém distinguir a substância da mera aldrabice.
Estar aqui a discorrer sobre o nonsense da série "Ancient Aliens" seria uma imensa perda de tempo. Tudo faz parte do espectáculo, e do negócio rentável envolvido. No meio da encenação acabamos por ter conhecimento de algumas coisas, que de outra forma provavelmente nunca notaríamos. 

Entretanto, como é natural, houve quem se tivesse dedicado a rebater praticamente tudo:
de Chris White
Ancient Aliens Debunked - (full movie) HD


Intro ( 0:00 ) Puma Punku ( 3:38 ) The Pyramids ( 22:41 ) Baalbek, ( 37:40 ) 
Incan sites ( 55:33 ) Easter Island ( 1:01:33 ) Pacal's rocket ( 1:05:36 ) 
The Nazca Lines ( 1:13:10 ) Tolima "fighter jets" ( 1:21:16 ) Egyptian "light bulb" ( 1:27:01 ) 
Ufo's in ancient art ( 1:36:08 ) The crystal skulls ( 1:46:38 ) Ezekiel's Wheel ( 1:58:17 ) 
Ancient nuclear warfare ( 2:11:16 ) Vimana's ( 2:20:50 ) Anunnaki ( 2:32:52 ) 
Nephilim ( 2:54:37 ) Conclusion ( 3:07:10 )

Trata-se de um filme de mais de 3 horas, que ainda não vi na totalidade, mas vi alguns tópicos, nomeadamente alguns tratados neste blog. Talvez depois na caixa de comentários escreva algo mais detalhado sobre cada um dos tópicos.

Não nos fechando às nossas convicções iniciais, é um filme que merece ser visto. Mas, como não há bela sem senão, se faz uma boa e severa crítica a algumas afirmações do programa "Ancient Aliens", inclusivé demonstrando que são ali ditas mentiras descaradas, por outro lado não deixa de incorrer em defeitos que critica.

Começando por Puma Punku, ou Tiahuanaco, fiquei surpreendido com as diversas "mentiras" apontadas ao programa, pois desde a dureza da pedra à precisão dos recortes, tudo é sempre afirmado com grande peremptoriedade. Mas é de facto caricato um dos personagens da série estar a tentar mostrar um perfeito ângulo recto, quando por isso mesmo, se vê que não é perfeito...
No texto Tiahuanaco Liliputiano já tinha notado que as dimensões do monumento eram muito mais reduzidas do que aparentavam, agora surgem mais estas novidades que este filme "desmascara", e que desvalorizam a "importância misteriosa" da mítica cidade inca. Claro que quando não podemos confirmar, ficamos apenas sujeitos ao contraditório dos que nos informam, nem sequer sabendo se ainda estão lá ou não as pedras originais...

Passando à frente, e sobre o assunto das "lâmpadas egípcias" figuradas em Dendera, parece-me claramente que o filme tenta simplificar o problema que tratei aqui no texto Lucerna. Primeiro porque ignora propositadamente a "pilha de Bagdad", como prova de electricidade em tempos antigos, e depois para tentar mostrar que há fuligem nos tectos dá como exemplo de limpeza numa parte que não é câmara subterrânea, conforme relatado pelos "alienados". A interpretação do desenho pode ser facultativa, e não tem que representar nenhuma ampola de vidro, mas ainda é mais discutível que não seja ambígua como representação.
Por isso, este é um dos casos em que o autor se esforça tanto por contrariar a tese dos outros, que cai nos mesmos erros de raciocínio claramente tendencioso. De qualquer forma, não seria por isso que as lâmpadas egípcias me merecem crédito. O que me deixa mais convencido nesta matéria é o texto de Rafael Bluteau em 1717 - que volto a citar:
Maravilhosas, mas tristes, inúteis, e sempre fúnebres foram as tão celebradas lâmpadas ou lucernas inextinguíveis dos Egípcios. Que maior maravilha, do que luz perene de uma incombustível matéria, sempre ardendo e sempre luzindo, sem socorro de novo alimento, porque sem consumo do primeiro?
... e Bluteau estaria longe no tempo e no espaço da descoberta de Dendera, para sequer pensarmos em tal afirmação como sendo mera especulação sua.

Os restantes assuntos só levemente foram aqui mencionados... mais nos comentários. Por exemplo, o assunto dos "crânios de cristal" vi-o sempre da mesma forma que vejo os emails de "banqueiros do Niger" que me querem dar dinheiro. Puro preconceito - não acreditei naquilo nem nos emails dos "banqueiros", pronto. Mas, não é preciso o crânio de cristal para nada. Basta termos visto aqui como os romanos processavam vidro delicado, induzindo filtros dicróicos (texto dos Comentários (5)), algo aparentemente mais complicado do que a manufactura do crânio de cristal.

É especialmente curioso ver que esta substituição de Deuses por Aliens é motivada pela crença científica moderna. Quis-se banir a religião, mas como ela é inata, acaba por manifestar-se de maneira semelhante. Um ateu ferrenho é capaz de negar deuses e anjos, argumentando que "nunca foram vistos", mas já admitirá a existência de vida extraterrestre, sem nunca a ter visto! Admite uma vida num espaço mais largo que a Terra, porque foi ensinado a pensar dessa forma, tal como antes eram ensinados a acreditar num espaço mais largo que a Terra, chamado Céu, onde viviam os anjos.
Portanto, esta mudança de "deuses" para "extraterrestres" não é nenhuma mudança, é vestir os mesmos conceitos, de poderes superiores externos, com outra roupagem.
Se os cientistas modernos fossem mesmo cientistas, deveriam admitir com o mesmo grau de probabilidade - quer a existência de vida noutro espaço (extraterrestres), quer a existência de vida noutras dimensões (anjos)... e se não o fazem, é por mero interesse político, ou mais vulgarmente, por simples ignorância. Nada tem de objectivo admitir uma possibilidade e não a outra.
Mais objectivo é prescindir das duas, e colocar o problema de onde ele nunca saiu - da Terra, e de uma hierarquia que a comandou desde o início das civilizações - de xamãs a magos, de sacerdotes a maçons.

Os "alienados" dos "Ancient Aliens" podem cometer diversos erros graves, mas nada é comparável à versão dos "oficializados" académicos que consideram aceitável historicamente terem-se passado mais de 150 anos entre a descoberta da Austrália Ocidental e a descoberta da Austrália Oriental.
Nisso, a teoria oficial é tão ridícula, que faz os mais malucos parecerem gente séria e credível.
Mesmo com todas as imprecisões, e até falsidades, é melhor saber da existência de coisas "suspeitas" por via de uma história alienada, do que se querer omitir dizendo que ali não há nada. Depois do fumo, podemos averiguar se há alguma chama, ou não.