Diz Diogo de Couto, na sua Quarta Década da Ásia:
Usa-se o aspecto alegórico, e a comparação entre as guerras anglo-francesas, mas não convém esquecer o aspecto sinistro de uma raça humana ameaçadora Yahoo, nem tampouco o registo da ilha flutuante de Laputa (mais uma vez sinalizamos o blog Portugalliae e a referência à cidade flutuante de Laputa).
O quinto Arquipélago é o de Amboino, que está ao sul de Maluco, tem muitas ilhas, que se governam por suas cabeças (...) Há muitos povos por estas ilhas, em que os filhos comem os pais como são velhos - têm muitos ritos e costumes bárbaros, que nós não relatamos por fugir proxilidade. (...) A sul de Amboino estão as Ilhas de Banda, e a Leste delas perto de 300 léguas, segundo alguns afirmam, está uma ilha de muito ouro, cujos naturais não passam de 4 palmos de alto, e se assim é, são os verdadeiros Pigmeus.
Pouca gente terá lido as Décadas da Ásia de João de Barros, continuadas por Diogo de Couto, e se chegaram a ler este relato, não terá despertado nenhuma especial atenção... passando por mítico.
Acontece que em 2004 foram descobertos na Ilha das Flores, na Indonésia, restos humanos, agora denominados Homo Floresiensis que comprovam a existência de humanos cuja dimensão rondava 1 metro de altura... os tais 4 palmos de altura, que referia Diogo de Couto.
comparação entre um crânio floresensis e um crânio humano microcefálico
Para termo de comparação, lembramos que a maioria das crianças com 3/4 anos tem mais de 1 metro de altura! Esta ilha seria uma autêntica Lilliput povoada por pequenos humanos.
Esta informação recentemente colocada no blog Portugalliae despertou-me a atenção nesta leitura do texto de Diogo de Couto. Conforme José Manuel dizia, os portugueses mantiveram lugares chave na sua exploração do Mundo, enquanto puderam. Após invasão parcial, a ilha das Flores acabou por passar a controlo holandês em 1851. Pela influência dos missionários dominicanos portugueses, a população remanescente tornou-se católica até hoje, e a miscenização levou a que fossem chamados "Portugueses Pretos" pelos Holandeses.
These have no Forts, but depend on their Alliance with the Natives: And indeed they are already so mixt, that it is hard to distinguish whether they are Portuguese or Indians. Their Language is Portuguese; and the religion they have, is Romish. They seem in Words to acknowledge the King of Portugal for their Sovereign; yet they will not accept any Officers sent by him. They speak indifferently the Malayan and their own native Languages, as well as Portuguese.
Texto de W. Dampier, oficial inglês, em 1699
Tudo o que não conhecemos, tem sido epitetado como descrições míticas e fabulosas... e por isso os marinheiros têm tido a fama, ao longo de séculos, de grandes mentirosos.
Face à mentira instituída, a verdade será sempre mentira.
A única maneira de passar a informação tem sido por vezes sob forma ficcional... é aqui que entra Johnatan Swift e as suas populares Viagens de Gulliver (retomadas no cinema em 2010).
Johnatan Swift e as Viagens de Gulliver
O aspecto tenebroso é a extinção... não há nenhuma razão para duvidar do relato de Diogo de Couto, que é corroborado pelo achado de ossadas na Ilha das Flores. Não é nada claro que Diogo de Couto se referisse às Flores, mas sim a outra ilha nas proximidades, adicionando-lhe a riqueza em ouro.
Fala-se do Dodó, e da sua extinção nas Ilhas Maurícias, sob controlo holandês, em 1681, e um pouco menos do Tigre-da-Tasmânia, em 1937... mas o aspecto do genocídio ter chegado ao ponto da extinção de uma raça humana, em tempos recentes, tem contornos tenebrosos.
Extintos: o Dodó das Maurícias e o Tigre da Tasmânia
É na sequência da extinção do Dodó, que aparece o conto de Lilliput e Gulliver em 1726.
Usa-se o aspecto alegórico, e a comparação entre as guerras anglo-francesas, mas não convém esquecer o aspecto sinistro de uma raça humana ameaçadora Yahoo, nem tampouco o registo da ilha flutuante de Laputa (mais uma vez sinalizamos o blog Portugalliae e a referência à cidade flutuante de Laputa).
Finalmente, sobre o contraponto gigante... os Brobdingnag, poderíamos encontrar a referência mítica aos gigantes da Patagónia... também estes extintos.
Convém notar que nos populares mapas de John Tallis, de 1851, a Patagónia permanecia ainda como território inexplorado... habitado por "índios". Pouco tempo depois o estado de La Plata daria origem à moderna Argentina com a brutal anexação desses territórios a sul.
A Patagónia, antes da anexação Argentina, em 1851
No final das viagens de muitos Gullivers, menos bem intencionados, os liliputianos ou gigantes desapareceram do nosso registo. Ora é assim que, ao jeito surpresa, se anuncia que somos afinal a única espécie humana sobrevivente. Poderia ter sido diferente?
Caro Alvor
ResponderEliminarNão! Não poderia ter sido diferente!
Os sinistros Yahoo foram os vencedores!
Eliminaram os Lilliputianos, eliminaram os Gigantes da Patagónia, perante a complacência dos que não sendo sinistros, não abundam nem coragem nem em determinação, e muito menos, em espírito de sacrifício.
Neste contexto, os Yahoo serão sempre vencedores, até ao dia em que nada mais restar, a não serem eles próprios, submersos na sua própria loucura.
Então, na ausência de outro alvo, começarão a exterminar-se a si próprios.
Um abraço
Maria da Fonte
Minha cara,
ResponderEliminarhá um equilíbrio, só que não é estático.
Pode levar mais ou menos tempo até que isso se perceba.
Sabe por que razão os indianos são vegetarianos, não sabe?
Um abraço!