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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Tolomeu a eito

Ao transcrever uma parte do manuscrito de João de Barros, sobre as "Antiguidades de Antre Douro e Minho", não pude deixar de sorrir quando ele, por uma ou mais vezes, escreveu:

Tolomeu em vez de Ptolomeu.

Se escreveu Tolomeu é porque provavelmente não pronunciava o "p", como nós o fazemos com tantas outras palavras. No entanto, e até tê-lo visto escrito por Barros, não tinha reparado no significado de "tolo meu" em Ptolomeu. Certamente que Barros não o fez com o propósito jocoso, mas aquele erro perdido num manuscrito não publicado, valeu um sorriso, a quinhentos anos de distância.
O que mais me surpreende em Barros, e noutros escritores antigos, era a sua coloquialidade e o seu à vontade com o erro. Tão depressa escreviam um nome de uma forma, como de outra. Interessava muito mais o som do que a escrita. Talvez soubessem que era mais natural manter-se a correcção na língua falada, do que na língua escrita. Esses manuscritos antigos têm habitualmente várias incorrecções, que não pareciam causar o mínimo embaraço aos autores. Curiosamente, somos hoje muito mais ortodoxos e intolerantes com pequenos erros de escrita, do que fomos no passado. 

O som pt é raro na nossa língua, sendo normalmente remetido a origem grega... ou até egípcia.
A vontade de suprimir consoantes, como ocorreu nas últimas revisões ortográficas, tratou de acabar com algumas das últimas ocorrências do som "pt".
Não desapareceu em "optar", porque ninguém diz "otar"; não desapareceu em "apto", porque se confundiria com "ato"... já de si confundido com "acto"; também não desapareceu em "rapto", sob pena de ficar "rato"; nem em "captar", sob pena de ficar "catar"; nem em "inapto" que se confundiria com "inato", etc.

Curioso é o caso de "concepção" que, por via do aborto ortográfico, passou a escrever-se "conceção", confundindo-se desnecessariamente com "concessão", já que a primeira vem de conceber e a outra de conceder. Este caso é curioso, porque "concepção" já tinha sofrido antes um tratamento para se ver livre do "p", escrevendo-se "conceição".
A designação "Nossa Senhora da Conceição" era antes "Nossa Senhora da Concepção", invocando a concepção "sem pecado" de Jesus Cristo. Portanto, se a ideia era verem-se livres da consoante muda, poderiam ter usado o que já existia... assim, ficamos com três grafias diferentes para a mesma palavra: concepção, conceção, e conceição. 
Seria pelo menos assim coerente com a palavra "conceito", que antes se escreveu "concepto" (como em inglês, "concept").

Mas não é apenas neste conceito que vemos que temos uma velha mania de substituir o "i", onde outros usaram consoantes. Comparando com a língua inglesa, mais respeitadora da assinatura latina, vemos como foi tudo a "eito":

- conceito - concept
- respeito - respect
- defeito - defect
- eleito - elect
- seita - sect
- aceita - accept
- efeito - effect
- perfeito - perfect
- colheita - collect
- suspeito - suspect
- rejeito - reject
- sujeito - subject
- direito - direct
- peitoral - pectoral
- leitura - lecture

... e a lista continuaria, mostrando como a forma tradicional das nossas consoantes mudas não foi uma simples omissão, tendo-se optado pelo uso sistemático de um "i" alternativo, em formas assim escritas há mais de 500 anos atrás.  
Se foi a eito, nem sempre ficou feito num oito
Repare-se que mantivemos o octógono, não lhe chamando oitógono. Porém, para octava dissémos oitava, e agora em vez de Octávio, escreveremos Otávio em vez de Oitávio. Também não optámos por seguir a tradição antiga, escrevendo direitor em vez de diretor, ou escrevendo reito em vez de reto (mas dizemos escorreito...).
Portanto, o que mais entristece é esta completa falta de consistência, de coerência, sendo certo que, com mudanças em cima de mudanças, as coisas podem tender a voltar ao original. Não se pense que é culpa moderna, pois já antes ninguém escrevia seite em vez de sete. Nem se pense que isto favorece a origem latina do português, porque as coisas não são assim tão simples. O que se nota é que a população foi cumprindo obedientemente directivas, ou direitivas, vindas do topo.

Regressando ao Tolomeu... para finalizar. O caso do Egipto poderia levar-nos a um Ejeito forçado, mas indo ao grego, vemos que se deveria ler Αίγυπτος, ou seja Aíguptos, já que a transliteração latina modificou os "u" upsilon em "y" ipsilon, passando o som "u" a valer como "i" (os franceses conseguem fazer uma mistura entre "u" e "i" que seria adequada). 
Ora, ocorre que o som "Guptos" é também remetido ao Império Gupta, que floresceu na Índia entre os séculos IV e VI, ou seja, na mesma altura em que a religião católica se iria impor como religião oficial e única do Império Romano. Aliás, a parte católica do Egipto ficou conhecida como "Copta", o que é de forma muito natural a mesma variante do nome, com a habitual alteração do "g" em "c".

O Império Gupta é considerado um período particularmente brilhante na Índia, do ponto de vista científico e literário, sendo neste reino que se considera ter aparecido a numeração (árabe) posicional, depois trazida pelos árabes para a Europa. Curiosamente, também os Guptas apreciaram templos em forma piramidal, ainda que este seja escavado na rocha de Ellora, e não composto de múltiplas pedras-tijolo empilhadas.
Ellora - Kadesh - um templo Gupta
Isto principalmente para fazer uma observação...
Se temos uma ideia do que aconteceu aos judeus com o crescimento do cristianismo e islamismo, no Médio Oriente, é muito mais nebuloso todo o registo do que se terá passado no Egipto. 
Até ao tempo de Cleópatra, sabemos que o legado antigo era preservado pela dinastia Ptolomaica (ou melhor, Tolominha), mas a partir daí, e especialmente com o crescimento do cristianismo, só passamos a ouvir falar dos Coptas cristãos. 
Quando Constantino declarou o cristianismo oficialmente, já tinha desaparecido, ou desapareceu por completo a velha religião egípcia no meio desse processo. Porque quando no Séc. VII o Egipto é invadido pelos árabes, parece que não se registou nenhum êxodo para as paragens ocidentais.
Tal como os registos de Axum e Lalibela, talvez Ellora e outros pontos na Índia, fossem resultado duma diáspora egípcia, levada para outras paragens, e manifestando-se de forma diferente.

sábado, 21 de novembro de 2015

Seguindo os pés de Barros (4)

Finalizando a transcrição das origens toponímicas segundo João de Barros:
continuamos de S, terminando em Z.

Optei por não fazer comentários, sob pena de não terminar esta transcrição... onde procurei minimizar erros de interpretação do texto, sendo também para mim claro que Barros comete vários erros, mas não se parece incomodar demasiado com isso. Há sempre duas posturas - as dos que nada fazem, e por isso limitam-se a criticar o que é feito, e os que procuram fazer alguma coisa, sabendo-se sujeitos às falhas de ignorância própria e sobretudo alheia.

Deixo apenas o exemplo de Vila Real, supostamente associada ao santuário de Panóias, algo que João de Barros esclarece, por ter tido acesso ao foral de D. Dinis, que fundará a cidade.

É suposto encontrarem-se inscrições em latim em Panóias, num sítio antes chamado Valnogeiros... porém Barros é claro sobre o assunto:
« (...) aí estão em pedra letras antiquíssimas, antes dos Romanos, que se não podem ler.»

Ora, conforme se pode ver há em Panóias muitas letras latinas que se identificam bem, e até remetem a um certo Calpurnius Rufinus como autor do texto em latim. Segundo a Wikipedia terá havido um pequeno problema com as inscrições no Séc. XIX (e Barros, não podia prever que passariam a ser legíveis passados 3 séculos). Por isso, houve quem tivesse esculpido o restauro... diz-se que apenas numa das inscrições, mas os novos escultores não contariam com este manuscrito, não publicado, de João de Barros. 

Ou seja, o que se poderá ler hoje em Panóias será provavelmente uma falsificação do Séc. XIX, esculpida por cima do que estava escrito antes (e que "não se conseguia ler" - segundo Barros), simulando assim um texto conveniente em latim. Dessa maneira poderia-se remeter a inscrição para tempos romanos, e não anteriores. Calpurnius há muitos, Rufinus menos, talvez o mais conhecido seja o tradutor Tirano Rufino.

Portanto, João de Barros neste, e noutros pequenos apontamentos, mostra como se tem caminhado com pés de barro na propositada negação ou destruição do património nacional.
Haverá desculpas?... Há sempre! A retórica serve a confusão, e quando não há escapatória, passa a afirmar-se um propósito secreto ou místico, para iludir como controlo superior o que foi afinal um simples e mero descuido. 

___________________

S
Sancta Maria del Puerto - vila do Reino de Galliza chamava-se Iria Flavia como diz Volaterrano e Siculo.

Silves - cidade do Reyno do Algarve, parece que lhe chama Ptolomeo Ossonoba.

Salamanca - cidade conhecida, alguns querem dizer que se chamava Sentica, mas Ptolomeo chama-lhe Salmantica e Sentica é Ledesma.

Segovia - cidade no Reyno de Lião, chamavam.lhe Serguntia, ou Secobriga como diz Volaterrano. Antonino a chama Secovia.

Serra Morena - chamava-se Mons Marianus, e Saltus Castalonencis [Castulonencis]

Simancas - chamava-lhe o Itinerário Septimanca.

Sevilha - chamava-se Hispalis do nome do Rey Hispalo que afundou [a fundou]. E os mouros lhe puseram o nome Sevilha, os quais a tiveram por muito tempo, até que lha tomou El Rey D. Fernando, chamado o Sancto.

Soria - cidade na província Terraconense se chamava Numantia como diz Fr. Antonio Venero [Alonso Venero] no Enchiridion fol.42 

Segura - vila na mesma parte chamava-se Guadamor como diz Annio.

Santiago de Galliza - cidade muito conhecida chamava-se antes Compostela quasi te??res Composita, porque despois ali achou o corpo do glorioso apóstolo Sanctiago se fez aquela povoação, que então era piquena e lhe chamaram assi, mas Volaterrano diz que está onde se chamava Flavium Brigentium, e tudo pode ser.

Segre - rio. Chamava-se Sicoris.

Setubel [Setúbal] - vila da Lusitania, diz Anio de temporibus cap. 4º, que foi edificada por Tubal neto de Noé, primeiro Rey de Espanha e dele tem o nome.

Santarem - vila na Lusitania conhecida, tem este nome pouco há desde que a tomámos aos Mouros haverá 400 anos. E dizem que se lhe pôs de Sancta Eiria que aí jaz. E os Mouros lhe chamaram Quibir Castro, que quis dizer Castelo Grande onde eles muito tempo moraram. Os Romanos lhe chamavam Scalabis segundo diz o Itinerário Imo [Ilustríssimo ?]. E antes que fosse tomada aos Mouros se chamava Sanctarem porque Sancta Eiria foi muito antes que os Mouros tomacem [tomassem]  Espanha, dequem o lugar tomou o nome. Aly Julium Praesidium.

Sintra - vila conhecida, seis léguas de Lisboa pelo norte está onde Ptolomeu chama Monte da Lua.

Salobrenha - chamava-se Salobrina, segundo Annio.

T
Tunes - cidade de África a que os Mouros puseram este nome, chamava-se Cartago, Ptolomeo diz que antes disto se chamou Adrumetum [Hadrumetum].

Tarifa - vila na Baetica, uns dizem que se chamava Carteia, outros Barbisola, e Lucio lhe chama Belon. Ptolomeo parece que lhe chama [...] .

Tejo - rio de Lusitania, chamou-se Tagus do nome de um rei muito antigo de Espanha, mas segundo Barroso se chamava Orma, Tagorma.

Tui - cidade de Galliza, junto do Minho, chamavam-lhe Tude e os moradores Tudenses, Imo Tyde [Ilustríssimo Tyde ?] a Tydeo Diomedes e assim se escreve nos livros antigos.

Talaveira  [Talavera ?]- chamava-se Talabrica, assim como Lacobriga, Mirobriga  [ ... ??? ]

Torrijos - vila na Lusitania, diz Siculo que se chamava Turris Julia.

Tortosa - chamava-se Dertosa.

Tangere [Tanger] - cidade em África no Reino de Marrocos, diz Antonio de Nebrija, que se chamava Tigis, e outros dizem Tagosta, mas esta é Targa, pátria Augustini, porem o mais certo é que se chama Hippona do que S. Agostinho se chamou Bispo Hipponen.

Tarragona - diz Annio que Tubal neto de Noé que foi o primeiro rei de Espanha lhe pôs este nome, por ser província de muito gado e que os    chamam ao ajuntamento de gado Tarracona.

Toledo - cidade chamava-se Toletum, e tão bem Carpetana, et Carpetani Populi assim o diz Antonio de Nebrija.

Traslos montes [Trás os Montes] - comarca, não sei qula foi o primeiro que lhe pôs este nome, parece moderno porque está na parte de Galliza, e chama-se assim porque está acima dos Montes do Marão, e Gires [Gerês] que partem esta comarca dantre Douro e Minho.

Trusilho [Trujillo] - vila de Castella, Turris Julia.

Tordesilhas - vila chama-lhe o Siculo Turris Silana.

Touro [Toro]- cidade chamava-se Sarabis como diz Antonio Venero [Alonso Venero ?].

Tamega - rio dantre Douro e Minho, chamavam-lhe antigamente Tamaca, aos do redores Tamacanos.

Tentuguil [Tentugal] - segundo quer o Itinerário chamava-se Eminio porque está dez mil passos de Cuimbra, como ele diz, e por ali caminhavam de Cuimbra para o Porto.

Torres Vedras - vila na Lusitania, quer dizer velhas a diferença de novas, porque os godos chamavam por velho vetro, assim como Ponte Vedra, Monvedro, alguns querem dizer que se chamava Turduli veteres, porque a província aonde está assim se chamava, como diz Ptolomeo, e Plinio, e Strabo, o selo que esta vila tem diz Sigilum oppidi de Turribus Veteribus["Selo da cidade de Torres Velhas"]

U (V)
Ubeda - vila na Espanha Tarraconense. Antonio de Nebrija cuida ser Almeria, o que não parece porque Volaterrano lhe chama Abdera e Siculo diz que parece aquilo a que César nos Comentários chama Ulla.

Verga - chamava-se Brigetium

Urgel - em Aragão, diz Volaterrano que se chamava Urecsa, mas Siculo lhe chama Ilergetum.

Vouga - rio da Lusitania, chamava-lhe Ptolomeo Vaccus, ou Vagus

Vilebe - em Catalunia chamava-se Vicus Aquarius.

Vaena [Baena]  - cidade na Baetica chamava-se Julia Regia, como dizem Siculo, e Volaterrano. e o que viram aí em pedras antigas escritas.

Valhedollid [Valhadolide] - todos concordam que se chamava Pincia. Vallis oletana a Junioribus dici solet.

Vila Nova de Cerveira - junto ao Minho ao sul, chamavam-lhe Cervaria.

Viseu - chamava-se Visontium na Lusitania. Volaterrano.

Viscaia [Biscaia] - (olim) Celtiberia, Viscainha: Celtiber.

Viana - vila de Portugal na foz do Lima, parece que lhe chama o Itinerário Salaniana, mas Florião do Campo não lhe muda o nome em estoutra história verisimil [verosímil], dizendo que a edificaram os Franceses de Viana de França.

Villa Real - em Portugal é nome moderno que lhe pôs El Rei D. Dinis que a fundou entre dois rios e por isso dizem alguns que se há-de chamar Rial, mas eu vi o foral de sua fundação que lhe chama Villa Real, sabia-se. Chamar aquela terra Panoias de umas antigualhas que estão dali uma légua onde chamam Valnogeiros, e aí estão em pedra letras antiquíssimas, antes dos Romanos, que se não podem ler. 

Valensa [Valença] - retém o seu nome antigo, e é edifício dos Gallos que a edificaram â imitação de Valença de França, como Diana e Baiona.

X
Xires dilla fronteira [Xerez de la Frontera]  - se chamou Munda. Siculo.

Xativa - no Reino de Aragão, se chamava Setabis, como diz Annio.

Z
Zamor - cidade de África, chamava-se Assamor como diz Florião do Campo,.

domingo, 8 de novembro de 2015

Seguindo os pés de Barros (3)

Continuamos a sequência de origens toponímicas feita por João de Barros:

agora segue da letra M até R (apenas com uma entrada nessa letra).
___________________

M
Minho - rio mui conhecido que parte agora o Reino da Galliza do de Portugal, chamão-lhe todos Minius.

Mértola - vila de Lusitania, chamou-se Julia Mirtilis.

Mondego - rio que passa por Cuimbra, todos lhe chamam Munda, mete-se no mar em Buarcos. Junto deste rio havia uma cidade chamada Munda, que não sabemos hoje onde é. Strabo [Estrabão] no livro 3 de Situ Orbis lhe chama Muliades, donde parece que vem Mondego e não de Munda. Mondego inter montes dego id est curvo, porque donde nasce, que é na Serra da Estrella, sempre corre antre montes e serras muito altas até cerca de Cuimbra, e eu o vi com olhos indo para a cidade da Guarda.

Malegoa [Málaga] - dizia Aretro que se chamava Salduba, mas Ptolomeo lhe chama Malica

Murcia - na Baetica diz Aretro que se chamava Murgis.

Marquena [??] - vila na Boetica, diz o Siculo que se chamava Ategua, da qual fala César nos Comentários.

Mantagis [?? montargil] - castelo na Lusitania chamava-se Magna Calabria segundo o diz Siculo.

Montayo  [? Moncayo] - em Galiza chamou-se Mons Caci, porque nela morou Caco, que Hércules matou.

Moura - vila na Lusitania, Morum.

Monviedro [Murviedro] - diz Antonio de Guevarra por longos argumentos que se chamava Saguntum, onde Annibal teve cercada a gente daquela vila, e lhe resistiram animosamente, sem nunca se lhe quererem dar, e estiveram muito tempo cercados donde saiu o adágio da fome saguntina, e agora lhe chamam Monvedro que significa monte velho ou muro velho, alguns tiveram que Saguntum fosse Çamora [Zamora] mas esta é a verdade que todos têm.

Medina - é vocábulo arávico [arábico], e quer dizer vila ou cidade, e tem o acento na última syllaba, e por este nome ser comum o puseram os Mouros a muitos lugares assim como a Medina del Campo de Rio Seco, Sidonia, Celi, e deste modo os Gregos põem este vocábulo polis, que quer dizer cidade, com adição de outro nome, assim como Constantinopolis, Heliopolis, Andinopolis, e assim os Alemãis põem o vocábulo Burg, que quer dizer cidade, vila ou castelo, tirado do Grego Pyrgos [torre], assim como Lucemburg, Friburg, Braudeburg. De maneira que Medina é nome comum que se conhece pelo adjunto, e estas medinas de Castela tinham outros nomes antigos, e estes lhe puseram os Mouros e ainda em este Reyno há lugares chamados Almedina, assim como em Cuimbra a porta dalMedina que quer dizer porta daVila, do que chamam os Mouros a uma enfermidade dos pés como bichos, como nascem no Brazil, uma meden que quer dizer vea servil, a qual os Gregos chamam crasanculum que quer dizer serpentina.

Mancha de Aragão - se chamava Espartaria.

Munhecar [Almuñecar] - na Bética, chamava-se Munda, segundo Annio.

Moos [Mós] - vila detrás dos montes [de Trás os Montes] entre Freixo e Atune, tem um muro muito forte e antigo, e na porta da vila uma pedra com duas mós, e por isto se chama assim.

Monção - vila antiga de Portugal junto do Minho, tão bem parece que de Caco lhe ficou aquele nome, posto que o não vi escrito.

Malega [Málaga- vila na Andaluzia, do muito melg'o [melgaço] nela, um se chamava melaria, outros lhe chamavam Meraria, mas Antonio chama-lhe Malica, e parece que Meraria deve ser outra, Anio chama-lhe Salduba.

Madrid - chamava-se Mantua Carpentanea segundo Siculo.

Marialva - alguns dizem que se chamava Mary arua que é "Campos de Mário", vila é na Lusitania conhecida, e tem ali pedras antigas onde vi letreiros que dizem Marius. E uma era muito grande, a par de uma casa feita de pedras, todas que tomam toda a largura da parede.

N

Nóbrega - vila em Portugal, ou Castelo duas léguas de Bragua [Braga]  chamava-se Juliobriga, como diz Antonio e é dos edifícios de Brigo Rey.

Nemon [??? - vila na Lusitania sobre o Douro, vinte léguas do mar, parece que lhe chama Ptolomeu Nemobriga e é povoação alta, forte, e antiga segundo dos edifícios parece.

Neva [Neiva]  - Castelo. O rio chamava-se Nebis.

Navara [Navarra - Reino, chamava-se Celtiberia, e os povos Celtiberos, ou Celtas.

Oviedo - cidade na parte de Terracona chamava-se Teva segundo Volaterrano e Siculo.

Oria - cidade, Orium.

Oropisa - era Orospeda : Annio.

Osuna - chamava-lhe Ursaona.

Osma - diz Ptolomeu que se chamava Villuca, mas Siculo lhe chama Uxunia e diz que assim o sente Plinio.

Orense - cidade em Galliza junto do Rio Minho, chamava-se Auriense na Chancelaria de Roma, e diz Siculo que se chamava Olvea, outros dizem que se chamava Ansiloquia de um grego que a fundou, e os Romanos lhe chamaram Aqua Calida, por as caldas que tem, e agora Orense, do ouro que nela se cava, os Godos lhe chamaram Ounes.

P

Pombal - vila na Lusitania sete léguas de Coimbra, para o poente tem Castelo em monte alto, e pela conta do Itinerário parece que se chamava Celium, porque por ali faz o caminho para Braga e não por o Rabaçal.

Pamplona - cidade de Navarra chamou-se Pompeleia quasi cidade de Pompeio, porque ele a edificou, segundo Volaterrano.

Palencia - chamava-se Palancia.

Ponte de Lima - vila de antre Douro & Minho, chamava-lhe Ptolomeu Forum Limicum, e os moradores dali chamavam-se Limici. Mas o Itinerário parece que lhe chamava Limia, este nome parece que se lhe pôs por ela estar junto daquella ponte no Rio Lima que é mui grande, e sumptuosa das maiores de Espanha.

Portugal - é nome moderno que se não escreve pelos antigos como já disse, e tomou novo nome do Porto e de Gaia, de quem este nome pôs primeiro há muitas opiniões como direi.

Ponte Vedra - vila de Galiza chamava-lhe o Itinerário Ponte Venis.

Povoa de Vazi [Póvoa de Varzim- vila do termo de Barcellos parece que lhe chama Ptolomeu Volubriga, posto que ele errou o sítio de Galliza e dos rios dela. Parece edifício de Barcino, capitão de Cartago.

Pinhel - vila na Lusitania, parece que lhe chama Ptolomeu Pinetum.

R

Rosis - vila de Aragão, chamava-se Roda.


sábado, 17 de outubro de 2015

Seguindo os pés de Barros (2)

Prosseguimos a sequência de origens toponímicas de João de Barros, iniciada aqui:


sobre o qual poderíamos fazer várias considerações intermédias, mas que preferimos deixar como encontramos, dando para já só um especial destaque à justificação singular para o nome de Lisboa:

Lisboa << Olisippo << Olos + Hippo = Tudo + Cavalos

ou seja, Barros adopta a teoria de que Lisboa resultaria do grego para significar "tudo cavalos", recordando a lenda regional das éguas que acasalavam com o vento.
____________________________________________
G
Gaya [Gaia] - Castelo junto do Douro no cabo da Lusitania uma légua do mar, alguns dizem que o edificou Gaio César e que lhe pôs aquele nome. Mas o Itinerário lhe chama Calém, donde o Reino tomou o seu nome e não dos Gallos, e daí se chamam Portugueses e não Portugaleses.

Gadix [Cadiz] - cidade no reino de Granada, chama-lhe Plínio Axim.

Guadiana -  Rio notável que parte a Bética da Lusitania, chamava-se antigamente Anas, e outros lhe chamavam Anabis, e os mouros lhe puseram este nome porque Guadem em arábico quer dizer água, e a misturaram com Ana, que tinha primeiro.

Gibraltar - chama-lhe Volaterrano e António, Calpe, e tão bem se chamou Eraclia. E os mouros lhe puseram este nome assim como a Gibraleon, porque Gibra em arábico significa altura, no que está este lugar.  

Guarda - cidade em Portugal se chamou Egitania, que é nome gótico d'el rey Egita, godo que a fundou. E teria eu que os mouros lhe puseram este nome porque é lugar mui forte. No letreiro da ponte de Alcântara está este nome da Guarda com sua ortografia, cuido que lhe chama Elitania, Eletaneum. Erasmo na colecção dos apotemas lhe chama Ciania, e Valerio Max. lhe chama Ciania.

Guadalquibir [Guadalquivir] - Rio na província Baetica que corre por Sevilha e se mete no mar chamava-se antigamente Baetis e Tartessus, mas os mouros desde que tomaram a Espanha lhe puseram este nome, porque como este rio seja o maior de Espanha, chamaram-lhe Guadalquibir que quer dizer em seu arábico dizer Rio grande ou Água grande.

Granada - cidade na Baetica chamava-se Sengilia como diz Marco Aretro, outros lhe chamam Liber, e dela parece que fala o Concílio Ilibertino que nela se fez, que está no volume dos Concílios Ilibertinos, e ainda agora tem uma parte que chamam d'Elvira, que os godos assim nomeavam. Depois os mouros lhe puseram este nome por ser cidade excelente, e boa, e cheia, como o Romão a que os latinos chamam malum punicum, e eles granada. Outros dizem que lhe chamam Granada pelos muitos romeiros da qual é tão abastada, que as tapadas herdades são delas.

Giro [Girona] - na cidade do Reino de Aragão chamava-se pelos romanos Gerunda

Guadalaiarra [Guadalajara] - vila junto ao rio Turia, os mouros mudaram este nome à vila, e ao rio, porque Jarra quer na sua língua arábica dizer pedra, e porque aquele rio tem muitas pedras lhe chamaram assim, daqui fica em Castela. E em algumas terras e lugares de Portugal chamarem hoje aos seixos e pedras redondas guijarrões.

Galliza [Galiza] - chamava-se antes Callacia e Callecia e não com G, como dizem os letreiros de Braga onde era o Consistório de Galiza.

Grijó -  mosteiro três léguas do Porto ao sul, chamava-se Igrejoula em tempo dos Godos, que devia ser pequena cousa, depois cresceu a devoção, e viu-se acrescentar em muita renda e corruptamente lhe chamam agora assim.

Guimarais [Guimarães] - diz Florião do Campo que se chamava Araduca, e posto que o não afirme, pode ser pela ara de Nerva que está daí a uma légua, que direi em seu lugar.

J 
Jeras [Geraz do Minho] - é um vale muito fresco que está junto do Castelo de Lanhoso ao qual Ptolomeu chama Jerabriga, e daqui veio chamar-se agora aquele vale Jeraz.

Jaem [Jaén] - cidade em Terragona, chamava-se Xerez como Aretro diz, mas Siculo e outros lhe chamam Monteza, e os mouros lhe puseram este nome porque Jaem em arábico quer dizer abundância de riquezas.

L
Longroiva - castelo na Lusitania a par do rio Douro, vinte léguas do Porto, chamava-lhe Ptolomeu Langrobriga, e neste lugar parece que o assenta.

Lisboa - sita na Lusitania junto do Tejo, chamava-se Olissippo, como dizem Plinio & todos, e outros lhe chamaram Ulixia, porque dizem que Ulixes [Ulisses] a edificou, e agora corruptamente lhe chamamos Lisboa, e assim lhe chamavam os mouros até que lha tomámos. Mas parece ser falso dizerem que se chamava Ulixea de Ulixes, porque se assim fora, disseram Ulixipo ou Ulixea e não Olissippo, mas a verdade é que se chamou Olisippo com O e um L e um I latino e um S e dois PP e chamou-se assim como diz Valla por ser abastada de cavalos, porque olos em grego quer dizer toda, e hippos cavalos, porque há tantas éguas e cavalos junto do Tejo na Ribeira de que nasceu fama entre os escritores antigos que concebiam as éguas do vento junto deste Rio, donde ainda até agora chamam a certas éguas Zébias quasi concebidas do vento Zéfiro, e por esta cópia de cavalos lhe foi posto este nome, que quer dizer toda de cavalos. Nós, corrompendo o nome lho mudámos em Lixboa por nossa linguagem, por ser terra tão boa, e nos apartamos do nome antigo Grego, e creio eu que os mouros lho começaram a mudar, porque já quando lha tomamos se chamava assim. Mas outros nomes gregos temos de entre nós (?) assim como tio, miolo, trepesa, artisa, tostão, cara.

Lima - Rio de antre Douro e Minho, chamava-lhe Ptolomeu, Plínio, e Strabon, Limius, alguns lhe chamaram Lethes, como direi mais adiante.

Lião [Léon] - cidade em Terragona, chamava-se Legio Germanica, donde todo o reino tomou o nome que se chama Leão.

Lugo - cidade em Galiza, chamou-se Lucus Augusti, e a gente lucenses, segundo Volaterrano.

Leyria [Leiria] - cidade na Lusitania chama-lhe Ptolomeu Leria. Tomou este nome de uma mulher que a senhoreou, que se chamava assim.

Lexa - cidade de Granada chamou-se Losta como diz o Siculo.

Lamego - cidade na Lusitania, junto ao Douro, quinze léguas do mar segundo a descrição de Ptolomeu parece que lhe chama Lacobriga, porque ele põe dois lugares quase de um nome, Langobriga e Lacobriga. E o primeiro é Longrovia e este é Lamego, e desde que houve Reis em Portugal, sempre lhe chamam assim, e alguns forais velhos de latim lhe chamaram Lameco, mudando o G em C quasi tudo é uma coisa.

Lanhoso - é castelo em alto entre Douro e Minho e duas léguas de Braga, ao qual segundo já disse, chamava Ptolomeu Jerabriga, e parece-me que está na terra antigamente chamada dos escritores Bibali, e que é a que chamavam Bivalium por serem dois vales muito frescos e viçosos.

Lerida - cidade em Aragão chamava-se Ilerda como todos dizem, e os povos Ilergetes.

Lagos - vila do Algarve, chamava-se Lacobriga, e os povos daquela parte Lagobritas. Plu[tarco] in vita Sertorii.



quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Seguindo os pés de Barros (1)

João de Barros, no seu pouco conhecido "Livro das Antiguidades":

Libro das antiguidades e cousas notáueis de Antre Douro e Minho, 
e de outras muitas de España e Portugual. 
Por Ioão de Barros & Composto no año de 1549.

... começa por referir o propósito de servir como "testemunho de vista" para futuros escritores curiosos sobre Portugal:
E ainda que esta minha ajuda seria fraca para o que esta terra merece, contudo quis eu ser o autor para que quando alguém mais curioso quisesse escrever coisas de Portugal mais particular, muito do que aqui é feito, pudesse saber esse pedaço dela, e de mim, como testemunho de vista tomar, e suprir o que deixou Ptolomeu, e outros.
Nesse sentido, e como a obra está acessível apenas no manuscrito original, começo pela transcrição usando a mesma ordem alfabética que o autor. João de Barros cita essencialmente Ptolomeu, Plínio, mas também os Itinerários de Antonino, a que terá tido acesso privilegiado, e ainda obras mais contemporâneas de Rafael Maffei (Volaterrano), ou de Florian de OcampoDe Censibus de Siculo, parece ser obra do então celebérrimo e agora desconhecido Pedro Gregório Siciliano, que escreveu sob bula papal de Nicolau V.

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A
Andaluzia - província de Castela, sabia-se chamar Boetica, do nome do Rio Boetis, a que agora chamamos Guadalquibir. Também parece segundo Plínio que se chamavam os povos daquela terra Andalongenses. Esta província foi tomada pelos Vandalos, de cujo nome foi primeiro chamada Vandaluzia, como diz Volaterrano, Outros dizem que se chamava assim por estar antes da província da Lusitania, quasi anteLusitania, segundo Mario Aretro; cada um siga o que melhor lhe parecer.

Ave - é Rio __ três léguas do Porto, mete-se no mar em Vila do Conde. Chamava-se Avis, e Avon segundo Plínio.

Alhariz - vila do Reino de Galiza, tomou este nome de Alarico, Rei Godo que a fundou. Está a três léguas de Chaves.

Almafala - vila em Riba de Coa na Lusitania, é nome Arábico, que quer dizer arraial de gente.

Alfama - uma parte de Lisboa é nome Arábico e Hebraico, porque uma com assento na Vltª, quer dizer banho de água quente. É porque na Alfama há muita compra de água quente, e muitas casas de água, e ao tempo dos mouros as havia, por isso lhe chamaram Alfama, a que o Gregos chamam termas, que significa águas quentes de natureza, cuja quentura se causa de minas de enxofre por onde corre. E por isso a água do Chafariz d'El Rey sai quente, e faz pé branco como liga de enxofre.

Alcalá de Henares - todos concluem que se chamava Complutum, Ptolomeu e Plínio.

Águeda - Rio na Província de Lusitania além de Coimbra, chama-lhe Ptolomeu Gatta.

Avilla [Ávila] - cidade em Espanha chamava-se segundo Plínio Obila.

Astorga - cidade na Espanha Terraconense chamava-se Astruria como diz o Itinerário & Asterica, os Godos lhe chamavam Roma.

Aranda - em Castela: Arunda.

Alvor - vila no Reino do Algarve, sabia-se chamar Porto de Aníbal, como diz Flor_

Algecira [Algeciras] - no Reino de Granada, é nome Arábico chamam-lhe Sola, como diz Antonino.

Arzila - cidade de África, chamava-se Zelis. Segundo Antonino e segundo Ptolomeu Zelia, e segundo Estrabão chamavam-lhe Abila. Parece boa conjectura que Zelis seria Cilee e Zelia seria Arzila.

Almada - em vida del Rey D. João o 1º, chamava-se Almadão

Algarve - é Reino misturado com Portugal que os Mouros partiram tendo Espanha, e é nome Arábico, Algarbi quer dizer poente.

Alcacere - cidade de África é nome Arábico, dizem que se chamava Exiliza.

Alemquer [Alenquer] vila, oito léguas de Lisboa. Ptolomeu parece que lhe chama Jerabriga, segundo o lugar onde assenta, e o Itinerário assim lhe chama e a põe 30 000 passos de Lisboa, que são oito léguas.

Alcaçar do Sal [Alcácer do Sal] todos assentam que se chamava Salacia na província da Lusitania.

Aveiro - vila na Lusitania junto ao mar na foz do Rio Agueda, parece que Ptolomeu lhe chamava Aritium, mas o Itinerário lhe chama Talabriga, porque diz que de Coimbra a Talabriga são cinquenta mil passos, pelo caminho de Lisboa que são doze léguas. Florião lhe chama Lavara, o que não me parece, porque Lavara é um lugar pique no sobre-o-mar no termo da Cidade do Porto, que hoje chamam assim.

Abrantes - vila na Lusitania junto ao Tejo, parece que Ptolomeu lhe chama LacobrigaInferis igit...
Mas segundo opinião do Autor a duas léguas da Vila de Abrantes, no seu termo mesmo, está um julgado que chamam Bretobel, e Ptolomeu põe ali uma vila a que chama Bretolium. Parece que esta deve ser Abrantes, parece que se lhe corrompeu o vocábulo de Bretolium Abrantes.

Almeirim - é nome arábico, assim como Alcoentre, Alcanede, Alverca, Alfizirão [Alfeizerão].

B
Bouga [Vouga] - na Lusitania além de Coimbra, que se mete no mar, chama-lhe Volaterrano Vacca e Antonino Vaccus.

Badaioos [Badajoz] - cidade na Boetica, pouco há que se chamava Vadalhouce [Badalhouce] e Ptolomeu chama aos daquele província Pacenses dos quais parece que fala a lei em Lusitania ff. de Censibus, diz o Siculo que se chamava Pax AugustaPacenses são os de Beja, quod Julia Pax dicebat.

Burgos - cidade na província Terraconense diz Antonino Venero que se chamava Musburgi, e assim parece que lhe chamava Tolomeu, mas o Siculo diz que se chamava Avia.

Baeça - chamava-lhe Antonio de Nebrija Biacia.

Birvista - chamavam-lhe Virovista.

Beja - em Lusitania se chamava Paça, e Pax Julia. O Doutor André de Resende escreveu era da antiguidade desta cidade um douto tratado.

Braga - chamou-se Bracara Augusta dos Imperadores para diante, e antes deles Bracara, e os moradores Bracantos.

Barcellona [Barcelona] - cidade em Catalumnia na foz do rio Rubricato chamava-se Barcinon segundo Ptolomeu e segundo Marineo, Siculo, Barcine Faventia.

Beyra [Beira] - comarca deste Reino, não veio a minha notícia como, nem quem, lhe pôs este nome, parece por que confina com Castela e isso lhe chamaram Beira desde que este reino é partido.

Bargança [Bragança] - cidade de Portugal, cabeça do Ducado chamava-se Brigetium, ou Brigantium.

Blaves - vila de Aragão chamava-se Blanda, como diz M. Aretro.

Barcellos - vila de Entre Douro e Minho, parece que lhe chamava Ptolomeu Cenobriga na Guineia [província] dos Celerinos. Vercelos dizem os livros antigos quasi versus caelum. E chamam a Cernãocelhe  [Sernancelhe] lugar da Beira in oppido cernocaelum. Outro Vercelos é em Piamonte. 

Beiara [Béjar] - cidade da Lusitania dizem Aretro e Siculo que se chamava Culmentaria, e Antonio Nibrija chama-lhe Beiarra com dois R.

C
Caminha - vila em Portugal na foz do Rio Minho parece que lhe chama Ptolomeu Eminium.

Carmona - cidade na Bética, chamava-se Augusta ferma e Astigicolonia como dizem Antonio e Volaterrano.

Çaragoça [Saragoça] - cidade de Aragão, dizem Mario Aretro e Siculo que se chamava Saldiba, e foi edificada por El Rey Juba, e Volaterrano diz que se chama Flama Caesarea Augusta, ou Augusta Caesarea, como diz Ptolomeu.

Calahorra - cidade de Terragona donde foram naturais S. Domingos e Quintiliano, chamavam-lhe Colagurium e diz Mario que não sabe se por ventura seria Calatayud.

Cabo despichel [Espichel] - em Lusitania chama-se Barbaricum promontorium (Ptolomeu).

Coria [Curia] - cidade na Lusitania, Caurium.

Cavado - rio que corre junto de Braga chamam-lhe todos Cavus.

Cuenca - cidade na província de Terragona [Tarragona] chamava-se Concia, e Valeria e Cauca.

Cartagena - chamou-se Nova Cartago porque Asdrubal a edificou vindo de Cartago, mas Antonio diz que Nova Cartago se chamava Spartaria, que esta se chama Cartago vetus.

Ciguensa [Siguenza] - chamou-se Serguntia e não Saguntum.

Cabo de S. Vicente - lugar conhecido no Reino do Algarve, chamam-lhe os cosmógrafos Sacrum Promontorium, onde era este o lugar que se chama Sarges [Sagres] e antes se chamava assim. E desde que ali veio estar o corpo de S. Vicente de Valença de Aragão lhe chamaram o nome que tem.

Calis - cidade na Boetica chama-se Gadis, Gadir, Gaditana, e Eritrea (Siculo e Florião do Campo). E segundo a mim, me parece estes nomes tão mudados, segundo os possuídores, porque os Latinos chamaram a qualquer Ilha cercada de água Giaris, e daqui se chamou Gadir corruptamente, e os Mouros chamam à ilha pequena Gezir. E assim chamavam às Liziras de Santarém, e nós corrompendo o Arábico lhe chamamos Leziras. Depois os Castelhanos lhe chamaram Caliz.

Castello da Feira - em Lusitania chama-lhe o Itinerário de Antonio Langobriga

Carpio [El Carpio] - vila, Carbulo.

Camnia - em Aragão chamava-se Lastania, segundo Mario, Siculo e outros muitos.

Ceita [Ceuta] - cidade de África, chamava-se Septa, quasi coisa cercada porque o mar "a tinge" de toda a parte, mas Volterrano diz que tomou aquele nome de dois nomes iguais, o Itinerário lhe chama "Septe Irmãos" porque tem derredor sete montes. Justiniano lhe chama Septa, os Mouros como quer que quebram a sua fala nos dentes lhe chamaram Ceuta, e nós agora Ceita. E na tomada desta Cepta diz o cronista que acham em escrito por Mouros mui sábios que Ceta em Arábico quer dizer começo de formosura, e que foi fundada por um neto de Noé.

Coimbra - quase que retém ainda o seu antigo nome, posto que dos antigos uns lhe chamaram Conimbrica, como diz o letreiro da Ponte da Táboa, e outros lhe chamam Colimbrica. Nunca vi que lhe chamasse Conimbriga, e cada um destes três nomes pode ter sua razão. E derivaram Conimbrica de Conus, que quer dizer Pirâmide, porque o monte onde está o parece, ou de Colis que quer dizer monte alevantado [colina]. Ou de Brigo, rei de Espanha donde outros lugares tomaram o nome. Como é cidade muito antiga que parece que os Gregos fundaram de primeiro (Fr. Roiz de Sá de Meneses escreveu sua antiguidade, e de suas insígnias um breve tratado).

Chaves - vila de Portugal na província da Galiza, segundo Ptolomeu, dizem que tomou este nome do Imperador Cláudio, mas segundo vi por letreiros que ali estão os Romanos lhe chamavam Aquis Flavis, porque estão ali uns banhos, e fontes quentes, e aos vizinhos lhe chamavam aquaflavienses. E era lugar muito frequentado dos Romanos, e de Braga vinham ali pousar indo para Roma. E pelo caminho há calçadas antigas e piares [pilares] com letras que declaram as léguas que há até esta vila, e nela há muitos epitáfios de defuntos e outros letreiros.

Celorico - é um concelho nesta Guineia [provincia] de Entre Douro e Minho, cinco léguas de Guimarães ao sul, e segundo o seu edifício parece que é obra antiga, e posto em monte alto, e creio que este deve ser o que Ptolomeu chama Celiobriga, que em seu tempo era cabeça dos Celerinos, que estão naquela parte. Segundo ele os assenta e pelo tempo se corrompeu o vocábulo que não divirja muito.

Corunha - vila da Galiza chamava-se Corona, e os povos daquela terra Coronenses, como diz Siculo e Antonio diz Coronium, e Florião diz que se chamava Clunia.

Çamora [Zamora] - diz Volaterrano que se chamava Egitania, o que não me parece porque Egitania se chamava a cidade da Guarda, e ora se chama na Chancelaria de Roma, e aí estão dois lugaras antigos que se chamam Idanha Velha, e Nova, que tomou este nome de Igitania e dizem que tomou este nome del Rey Egita [Egica] Godo: Mas o Siculo diz que Çamora se chamava Sispona, outros querem dizer que se chamasse Saguntum, o que é falso. Outros dizem que se chamava Sentica como Florião do Campo, nas decretais lhe chamam Zamora que parece nome Arábico, como Zamor.

Cezimbra [Sezimbra] - vila da Lusitania, chama-lhe Ptolomeu Cetobrix,e Calepino Cetobrica.

Corduva [Cordova] - cidade na Boetica chamava-se Colduba, mas muito hás Séneca, Mela, e Martial, que foram de lá naturais, lhe chamaram Corduba.


Coa - rio na Lusitania, que se mete no Douro, e é grande rio mas não vi quem lhe faça menção.

Condexa [Condeixa] - vila três léguas de Cuimbra ao poente onde os Romanos tiveram grande habitação, e há ali grandes letreiros, e epitáfios, e se chamava Condensa.

Castro Marim - vila no Reino de Portugal, no Algarve, a que parece que Ptolomeu chama BalsaCastrum marinum e Castrum viride [Castro Verde] no Campo de Ourique são nomes antigos. E Castro Marim foi a cabeça da Ordem de Cristo antes que se tresladasse a Tomar, e parece que ad arcendos hostes [para repelir] ali estava naquela parte convenientemente em frontaria de castelos dos Mouros.

Ciudad Rodrigo - cidade na Lusitania em Castela, chamam-lhe na Chancelaria Apostólica Civitatensis, parece que Ptolomeu lhe chama Desbriga

Calatayud - em Aragão, dizem muito que é onde Ptolomeu chama Bilbilis terra de Martial, o que Siculo nem aprova nem reprova. 

Castello Rodriguo [Castelo Rodrigo] - vila na Lusitania em Riba de Coa, dizem que foi edificada por El Rey D. Rodrigo, derradeiro dos Godos, e uma torre está aí junto do Mosteiro da Giar [Mosteiro de Santa Maria "de Aguiar"] que é fama que ele foi.

D
Douro - rio insigne que reparte a Lusitania de Galiza, detém seu nome porque lhe chamam Durius.

Denia - vila na pCuincia [província] de Cartagena, diz Siculo que se chamava Dianium.

E
Esija [Écija] - cidade na Bética diz Siculo que chamava Astigis.

Ebora [Évora] - cidade na Lusitania chamava-se Elbora, Ebura, é muito antiga, e parece ser edificada del Rey Hibero, Annio [Annio de Viterbo] diz que lhe chamavam Ubida. O mestre André de Resende, varão douto do nosso tempo fez de sua antiguidade uma notável digressão.

Ebro - rio de Espanha chamava-se Hibero do nome do segundo Rey de Espanha, segundo diz Annio [Viterbo].

Espanha - tomou este nome de um Rei antigo dela que se chamava Hispan, e depois se chamou Hiberia do Rio Hebro, e depois Hispéria.   F [Florian de Ocampo].

Freixo de Espada Cinta - vila em Portugal na Guineia [província] Terracona [Tarraconense], creio que tomou este nome de um que se chama Freixo, que a edificou na destruição de Espanha, e era primo de D. Rezendo [Rosendo de Celanova] que jaz em Cellanova, que fundou o Mosteiro do Monte em Cordova, e trazia por armas uns feixes com uma espada e as pôs nesta vila donde lhe chamam, e isto é o porque a geração dos Freixes em Galiza traz esta espada por armas.

Favaios - é uma vila na parte de Galiza, e agora em Portugal na comarca de Trás os Montes, chamou-se Flavia como dizem letreiros antigos que ali vi. Parece que Ptolomeu lhe chama Flaviobriga, daqueles que edificou el Rey Briguo [Brigo].


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Oportunamente espero ter a possibilidade de completar a transcrição desta lista que Barros organizou. Nem interessa muito saber se as suspeitas de Barros foram confirmadas, se concordamos com elas ou não, se eram conhecimento difundido e acessível, ou se as fontes de Barros eram fidedignas. Interessa que Barros sentiu necessidade de organizar a lista, e percebe-se bem a razão.