sexta-feira, 22 de junho de 2018

O eco

A palavra "ecologia" é remetida ao grego com "oikos" (casa) e "logia" (estudo), enquanto "eco" é uma palavra grega ligada a som "ekhe".

Como o eco é uma reflexão do próprio som, o termo ecologia adequa-se bem, sem andanças gregas. 
As "logias" são justamente "lojas" de conhecimento, pelo que a ecologia enquadra uma loja de conhecimento dos ecos da acção humana. Um desses primeiros conhecimentos foi entender que ao gritar num vale, estaria sujeito a ouvir como resposta o seu eco. Da mesma forma terá rapidamente entendido que outras acções na natureza teriam um eco, um reflexo, na sua vivência futura, em particular na futura abundância ou ausência de caça.

A experiência ecológica na pré-história resultou no desaparecimento de mamutes, bisontes, leões, e muitas outras espécies existentes na Europa. A excessiva caça humana teve um reflexo, que levou ao fim dessas espécies, mais do que qualquer outra razão. Aliás, a agricultura e a domesticação, terão sido um principal factor para evitar o desaparecimento de muitas outras espécies animais.

Haveria um conhecimento ecológico primitivo?
Conforme já referi em comentário, nos aborígenes da Austrália conta-se esta história:
Tjilbruke viveu como mortal e foi um a quem a lei foi confiada. O seu sobrinho, Kulutuwi foi morto como punição de quebrar a lei, por ter morto uma fêmea emu. Tjilbruke levou então o corpo do sobrinho pela costa da Península Fleurieu até à terra Ngarrindjeri perto de Goolwa. 
Este pequeno apontamento parece mostrar uma lei draconiana na protecção das fêmeas emus, o que poderia visar evitar a extinção completa dos emus na Austrália.

Povo Kaurna - monumento a Tjilbruke e Kulultuwi, no Sul da Austrália.

Tjilbruke era um mortal a quem a lei tinha sido confiada. Mas, por quem?
De onde surgia essa lei antiga, que todos seguiam?

O que parece possível, plausível, é que o desaparecimento de espécies, por excessiva caça, tenha começado por ocorrer em ilhas próximas, na Melanésia. E que aí tenha nascido essa consciência ecológica, que teria sido depois passada às tribos australianas.

Mais do que isso. Tem sido hipótese de trabalho considerar que a origem da civilização ocidental tenha começado na Melanésia. Arriscaria falar nas ilhas de Java, Molucas ou Timor, se tal fizesse mais sentido do que outras quaisquer. Faltaria falar de todo um continente, que se estendia do sudeste asiático até à Austrália, e que hoje se encontra submerso... mas que não estava antes do degelo que terá ocorrido há 12 mil anos.

O mito de Afrodite
Na Teogonia dos deuses do panteão grego, o aparecimento de Afrodite é curioso, porque a deusa do Amor é suposta resultar da castração do Céu pelo Tempo, ou seja, de Úrano por Cronos, saindo da espuma das ondas, que a queda dos genitais provocara.

Porém a parte mais curiosa é o seu aparecimento de dentro de uma concha gigantesca.
Podemos ver isso num fresco de Pompeia, ou numa terracota do Séc. III a.C.:


Em ambos os casos se nota a dimensão exagerada da concha, que envolve Afrodite. No entanto, na segunda imagem, da terracota, podemos ver que a concha parece também sugerir asas.
Isso verifica-se em diversas outras terracotas do mesmo período (por exemplo, aqui ou aqui).

Acresce a isto a identificação de Afrodite à deusa suméria Inanna (ou Ana), que é por vezes representada com asas, conforme podemos ver na figura seguinte:
Inanna - deusa suméria encarada como equivalente a Afrodite.

Ora, podemos tomar como casual a ideia exagerada de ter uma pessoa dentro de uma concha, mas o problema é que sendo exagerado e impensável na Grécia ou Suméria, ocorria justamente nas ilhas do Pacífico:
Conchas gigantes - Palau - Ilhas Carolinas.

Dessa forma, a origem do mito grego pode perder-se na deusa suméria Inanna, mas parece ir bastante mais além, encontrando eco nas gigantescas conchas, de existência real, capazes de albergar uma criança.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Elias, e lias, Ilias

Quem visita Micenas, dito melhor, Mukenas, procura imediatamente a porta dos leões, onde tirei a fotografia seguinte, fazendo aparecer um alinhamento com o monte Sara (ou Zara).
Centrando-me mais com a porta, do que com o caminho, saliento na foto, com marcador amarelo, a semelhança alinhada entre o triângulo dos leões, com o ângulo do topo da montanha sul:
Porta dos Leões - Micenas, com o Monte Sara atrás (foto com anotações).

Micenas está enquadrada entre o monte Sara, a sul, e o monte Elias, a norte (Agios Ilias, ou Profitis Ilias), que dominam a paisagem em redor, conforme se pode ver na imagem seguinte:


Micenas - ladeada a norte pelo monte Elias, e a sul pelo monte Sara.

Este alinhamento é ainda visível no tholos, chamado Tesouro de Atreu (Agamémnon seria filho de Atreu), que está um pouco deslocado da antiga cidade. Os muros de entrada nesse suposto túmulo, alinham quase perfeitamente com o mesmo monte Sara. O alinhamento poderia dizer respeito a um eventual templo que se encontrasse sobre o monte Sara, e que entretanto possa ter desaparecido.
 
Tesouro de Atreu - um tholos, enterrado sob monte artificial, alinha, para quem se coloca 
na entrada com o monte Sara - cujo topo aparece ligeiramente deslocado à direita.

Os nomes Sara e Elias certamente se podem referir aos personagens bíblicos, não havendo grande dúvida sobre Elias que aparece com o prefixo Agios (santo/anjo) ou Profitis (profeta). Porém o nome Elias escreve-se em grego Ilias, sendo Ilios o nome grego de Tróia... e daí a obra de Homero se chamar Ilíada. Assim, não deixa de ser curioso aparecer o nome de Tróia, de Ilias, num monte adjacente a Micenas.

Um outro ponto importante é que actualmente Micenas está bastante afastada da linha de costa. No entanto, todo o relato da Guerra da Tróia é um relato de potências navais, capazes de juntar um milhar de navios para resgatar Helena. Seria bastante estranho que Micenas não dispusesse de um porto operacional, de onde Agamémnon armasse os seus barcos em direcção de Tróia.
Olhando para o relevo perto de Micenas, vemos que se trata agora de uma grande planície, mas que em tempos, com o nível do mar mais elevado, toda essa parte formaria uma grande baía, conforme podemos ver na figura seguinte:

Micenas (círculo vermelho) e o relevo circundante. Possivelmente à época da Guerra de Tróia, 
o contorno da costa, com o nível de mar mais alto, seguiria a linha azul. Ou seja, Micenas seria uma cidade costeira.

O que vemos nas construções de Micenas é ainda uma característica típica de muitos monumentos megalíticos, mais comuns na orla atlântica. Grandes pedras, megalitos, de tamanhos e formas diferentes, basicamente unidos pelo seu peso. A porta dos leões não difere muito de um dólmen ibérico. 

Ainda que a tradição tenha colocado Tróia a três dias de viagem de Micenas, mesmo com ventos fracos, a expedição que demorou 10 anos, e afastou os gregos das suas mulheres, dificilmente encontra justificação na Ásia Menor. Conforme já notámos, os gregos inicialmente foram levados para as paragens da Ásia Menor, quando ainda não sabiam onde era Tróia. Por isso, para a parte restante dessa história deixo o link da página anterior: