sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cáspio

Não nos chegaram mapas dos geógrafos antigos, ainda que certamente os haverá guardados... e um dos candidatos naturais será a biblioteca do Vaticano.
Porém, pelas descrições encontram-se incertezas nas descrições de alguns pontos importantes, e que dada a proximidade de contacto, com gregos e romanos, não deveriam oferecer grandes dúvidas.

Um deles é o Mar Cáspio... nuns casos era considerado lago, noutros casos mar:
- Heródoto, Ptolomeu: consideravam-no como lago;
- Hecateu, Dionísio Periegetes, Pompónio Mela, Estrabão: consideravam-no como mar ligado ao oceano (a norte ou a nordeste).
Mapa-reconstrução de Estrabão - ligação do Mar Cáspio ao Oceano

A ligação do Cáspio ao Oceano parece difícil ser proposta sem razão.
Por isso, consideramos um simples mapa orográfico, que põe em evidência as altitudes dos diversos pontos no globo:
A verde estão representados os locais de mais baixa altitude até 500m, altura que já é representada por um beije acastanhado até valores superiores a 1500m, já a branco.

Isto torna evidente que grande parte da Europa de Leste, em particular a grande extensão russa está colocada a uma altura razoavelmente baixa. Para tornarmos a situação mais clara identificámos todo o registo de baixa altitude (essencialmente a verde) com o registo do oceano, obtendo-se o seguinte cenário (computação automática):
Situação orográfica com um incremento do nível do mar nalgumas centenas de metros

Ou seja, basicamente toda a Europa de Leste, e grande parte da Rússia desapareceria com um incremento do nível do mar nalgumas centenas de metros. A Europa ficaria basicamente reduzida a uma ilha ligando as cadeias montanhosas da meseta ibérica pelos Alpes ao Peleponeso. A Índia passaria a ser uma ilha... e nesse caso talvez se devesse chamar Taprobana!

Não é necessário porém exagerar a situação ao ponto anterior, para que se compreenda como uma menor subida do nível do mar poderia deixar o Cáspio ligado ao Oceano:

Neste mapa fica evidente uma separação Europa/Ásia que é definida pelos Urais, mas também pela depressão que ligaria o Cáspio ao Oceano, pelo norte. Ou seja, a inexistente separação entre os dois continentes ficaria assim evidenciada, com algumas consequências explicativas, que até aqui têm ficado por explicar.

(i) Havendo uma continuidade entre a Europa e a Ásia, como se justificaria a significativa diferença entre as características dos povos asiáticos e europeus, sem uma clara continuidade pelas estepes russas? Com um nível do mar mais elevado, haveria um efectivo isolamento entre os dois continentes, a menos de passagem pelos Himalaias/Tibete... Uma Índia reduzida a uma grande ilha Taprobana, deixaria ainda o Nepal e o Tibete como zonas quase costeiras.

(ii) A invasão dos Hunos, que ensombrou a Europa com o pesadelo asiático, pode ter sido consumada pela consolidação da paisagem, em que a taiga russa ganhou terreno a esse espelho de água do Cáspio. Com o recuo das águas esse mar teria-se desvanecido, numa evolução pantanosa que ainda caracteriza a taiga siberiana.
(De forma semelhante, em Portugal uma parte significativa da paisagem foi ganha ao mar pela consolidação de grandes extensões de areia, com pinhais. As coníferas são também as árvores que definiram a taiga.)

(iii) A localização de algumas cidades, no interior da Ásia, no Afeganistão, no Cazaquistão, como Astana, teriam uma razão de relevância diferente nessa conexão marítima para um Cáspio mar. Uma significativa parte da rota da seda poderia ser resultado de uma remniscência dessa ligação marítima.

(iv) Curiosamente, neste segundo mapa, a América do Sul aparece desenhada com um lago interior, conforme indicado em mapas do séc. XVII, o chamado Lago Parime supostamente lendário... Curiosamente aponta ainda para uma grande entrada no rio da Prata, conforme aparecia exagerado em mapas portugueses iniciais.

Uma boa parte dos vestígios arqueológicos situam-se em pontos interiores, que nada teriam para uma escolha particular. Porém, na perspectiva diluviana, com o nível do mar algumas centenas de metros acima do actual, uma boa parte desses locais, agora interiores, seriam locais costeiros. Progressivamente a descida do nível do mar, consolidada com vegetação, pode ter permitido uma fixação posterior, em pontos mais baixos.

Desertos e areia...
Há ainda uma outra questão razoavelmente complexa, e que diz respeito à excessiva quantidade de areia em desertos interiores. A areia é tipicamente resultante da acção prolongada da erosão marítima, e é difícil encontrar outra força erosiva que permita reduzir uniformemente pedras em grãos minúsculos.
Areias no deserto Gobi - Mongólia... onde chega a nevar!

Esta hipótese diluviana, em que o nível das águas esteve prolongadamente alto, permitiria justificar a presença costeira de zonas internas, como o Deserto de Góbi, ou mesmo o Deserto do Saara. Seria essa presença marítima que teria produzida grande quantidade de areia. Com o progressivo recuo das águas, e por acção de ventos, estas paisagens foram consolidadas em grandes dunas, nalguns casos - quando o clima não permitiu a consolidação da paisagem com vegetação.
Porém, na maioria dos casos terá havido uma consolidação que progressivamente foi levando à paisagem actual.

Como exemplo entre nós, basta reparar que há uns duzentos anos Alfeizerão era considerado um bom porto marítimo, e agora está a uns 5 Km da costa... ou então ver como a Figueira da Foz foi ficando com uma praia de grandes dimensões. A fixação desse terreno arenoso com pinheiros seria uma ideia semelhante à que D. Dinis teve relativamente à parte de Leiria.
Alcobaça teria sido muito provavelmente uma cidade costeira, antes do progressivo assoreamento... mas isso são outros mapas, que guardamos para outra altura!  

2 comentários:

  1. Caro Alvor

    Foram cerca de 120 metros.
    A subida das águas, durante o degelo, claro!

    Maria da Fonte

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  2. Cara Maria da Fonte,

    esse valor é baseado numa certa teoria, em que tudo esteve quase sempre na mesma, e só houve a idade do gelo.
    Ora se admitirmos que houve uma alteração da posição do eixo de rotação, na tal linha de Gizé, o continente gelado seria toda a América do Norte... onde caberia muito mais gelo do que na Antártida!

    Os registos humanos, míticos ou não, indicaram algo bem pior do que 120 metros...

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