quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Arquitecturas (5)

Num comentário anterior disse que faltaria escrever um Arquitecturas (5), e por isso acrescento este texto. Claro que faltariam muito mais coisas, nomeadamente uma boa indexação, e ainda uma revisão de textos anteriores, adicionando novo material, corrigindo algumas insinuações, etc... Porém, não vejo este trabalho que aqui tive como sendo algo acabado. Convivo bem com os erros, alguns não intencionais, outros nem tanto, e o mais importante é saber justificar as decisões e opções. 
Pouco mais somos do que uma linha de decisões conscientes. Essas decisões podem ser acções ou inacções, mas apenas somos capazes de justificar as que fazemos conscientemente. Do ponto de vista externo, pouco mais se verá que as decisões, e sobre a consciência com que as tomámos, resta-nos uma linguagem ambígua, e uma maior ou menor inibição de revelar o nosso pensamento mais íntimo.
Essa inibição é um resultado da vivência social, e quanto mais inibidora e incompreensiva for a sociedade mais acumulará conhecimento reprimido, escondido num mundo de trevas. Agora, como é óbvio, o conhecimento deve ser informado e enquadrado. O conhecimento não deve servir o propósito contraditório de aniquilar o conhecimento. Da mesma forma que o conhecimento não deve ser negado a quem está em condições de o compreender.

Quem aqui aportar pode cair em frases ou textos soltos que, retirados do contexto, podem levar a interpretações precipitadas. Tratou-se de um estudo pessoal, ziguezagueante, que serve para mostrar dúvidas e incertezas, conceitos e preconceitos. Apesar de cada texto ser razoavelmente autocontido, sofre obviamente do conhecimento circunstancial, ou até do simples estado de espírito, que se foi adaptando, tentando encaixar diversas peças de um imenso puzzle. Também isso é instrutivo.

Interessa-me aqui voltar à questão da cosmogonia, no fim, começando pelo princípio...
Para esse efeito, refiro um mito criacionista chinês, atribuído a Laozi (séc. VI a.C), segundo a tradução disponível na wikipedia:
The Way gave birth to unity, Unity gave birth to duality, Duality gave birth to trinity, Trinity gave birth to the myriad creatures. The myriad creatures bear yin on their back and embrace yang in their bosoms. They neutralize these vapors and thereby achieve harmony.
Este mito procura justificar o aparecimento de tudo, através de um caminho, que pode ser visto no sentido abstracto. É interessante, porque basicamente individualiza a unidade, a dualidade, e a partir da trindade, tudo o resto é consequência.
Podemos ver aqui uma perspectiva de trindade, comum noutras religiões, e mesmo em filosofia, no sentido da percepção cartesiana do "eu", da evidência do "não-eu", e do agrupamento destas duas entidades num conceito maior, eventualmente num "Eu" solipsista, conforme já abordei
Porém, essa visão, que remete o indivíduo para a sua introspecção, é muito própria da filosofia budista, ou ainda mais antiga, do hinduísmo, Veda, ou vedado, entre castidades, castas, árias e párias.

Não faz muito sentido usar analogias de autores que inventam personagens, que se misturam com personagens na sua história, até porque um personagem resistente pode duvidar do autor, e até considerar que o próprio autor não passa de um personagem da sua imaginação... contradições do paradoxo do pensador, porque o pensador não pode conhecer a raiz do seu pensamento.

Passamos pois, para o "vácuo sagrado", como eventual fonte primeva, em qualquer mito criacionista.
O universo intemporal é uma entidade estável e imutável... por definição, por negação do tempo enquanto entidade aniquiladora.
No entanto, ao admitir mudança, surge sempre a questão do que foi antes de ser o que o que é...
Ora, a simples assumpção de inexistência, seguida de existência, define o universo também como a junção desses dois eventos. Passamos do 0 ao 1, definindo o 2 na junção. Será como um shakespeariano "ser ou não ser", a dúvida entre o existir e o não existir, sendo que essa dúvida é já uma terceira nova entidade.
Creio que esta passagem até à trindade é similar ao invocado por Laozi. Bom, e a partir daqui o processo pode repetir-se. Georg Cantor definiu de forma similar a construção dos números naturais.

Porém, enquanto construção puramente abstracta, um simples processo de edificação, resume-se a uma lista de "estados":
 (0): 0
 (1): 1
 (2): 0 1
 (4): 0 1 0 2
 (8): 0 1 0 2 0 2 0 4
(16): 0 1 0 2 0 2 0 4 0 2 0 4 0 4 0 8 
                                                              etc...

Aquilo que vemos é apenas uma sequência numérica, de replicação da estrutura anterior. A estrutura anterior é mantida, e a nova (a negrito) corresponde a uma evolução dessa para o estado seguinte (porque o universo tem que actualizar os conceitos com a nova estrutura). Os números são apenas símbolos que podem ser substituídos pela sua atribuição anterior. Ou seja, é mais rápido escrever 2 do que (01), e mais rápido escrever 4 do que (0102).

Bom, e como se comporta esta sucessão numérica, que emula uma concepção abstracta, de um universo que forçosamente inclui as entidades geradas? A sucessão numérica em causa está directamente ligada a uma representação binária (cf. OEIS), e apesar de poder ser gerada por uma simples linha de programação u = unir(u,2u), começando com u=(0,1), ao fim de algumas repetições torna-se bastante complexa, evidenciando ainda um comportamento fractal.
Podemos mostrar isso num percurso definido por direcções correspondentes aos números obtidos:

esta figura é apenas ilustrativa, mas serve para mostrar a complexidade, imprevisibilidade e não simetria do sistema gerado, ainda que se possam vislumbrar repetições de padrões (fractalidade). Computacionalmente podemo-nos ficar por umas dezenas de repetições, talvez centenas ou milhares, com grandes máquinas... mas tudo isso é nada, porque a estrutura emerge automaticamente, sem limites, pela sua simples definição.
Bom, e do que se compõe a estrutura? Simplesmente de vários estados do mesmo universo. Por isso, cada "partícula" pode ser encarada como um universo num estado mais elementar, e associações mais complexas aparecem em estados posteriores.
Estranho? Não é assim tão estranho, se notarmos que a idealização de uma máquina universal, uma modelação simplificada como sequência de "0" e "1", esteve presente na concepção de Turing.
Tanto poderá ser visto como enigma, como deus ex machina (ou ex mecanica).
Também não será de estranhar, atendendo à própria opinião da escola pitágorica, que encarava o mundo como uma simples manifestação numérica, acrescentando "a vida é como uma sala de espectáculos, entra-se, vê-se e sai-se"... e nesse sentido seria bom evitar a repetição de tragédias.

Importante é também a interrogação no sentido oposto.
Ou seja, assumindo a existência de partes no universo, de que podem elas ser constituídas?
São universos fechados em si mesmos? Então obedecem à própria lógica de um universo.
São outra coisa? Mas o quê, se são obrigatoriamente partes do universo. Só a nossa modelação física nos leva a pensar em constituintes diferentes, vindos sabe-se lá de onde...
Por isso, as partes de um universo, resultam de manifestações do próprio. Também por isso, quando a estrutura ganha consciência pode entender que uma sua parte é um universo fechado em si mesmo (concepção solipsista).
Bom, e como pode uma estrutura abstracta ganhar consciência?
Pode responder-se com outra questão - e como pode uma estrutura física, um corpo humano, ganhar consciência?
Não só. Há algumas pistas não desprezáveis. Não sei, mas creio que na ausência de uma estrutura social, para um indivíduo isolado, não será verosímil a necessidade de uma linguagem. Acaba por ser a linguagem a formatar conceitos no nosso pensamento. A linguagem emerge de uma experiência de vida social, solidifica-se por múltiplas experiências, e pode liquidificar-se mais tarde, com outras...
Como é possível a partir de repetições, de associações, aprender uma linguagem, num cérebro feito de neurónios? Ou seja, a emergência é natural, numa aparente predisposição do cérebro para esse efeito.

Não houve nenhuma evolução especial no sentido de preservar informação por via genética. Há uma parte, que designamos "instintiva", e essa deve ser considerada herdada, e há uma outra parte, que fez aparecer noções ou valores semelhantes, em diferentes culturas, que também pode ser considerada herdada (parcialmente, porque se mistura com a educação).
Porém, o que é mais importante é que a linguagem não se tornou apenas circunstancial, ligada ao que observamos. Tornou-se abstracta, capaz de evidenciar as mesmas conclusões em indivíduos distintos (por exemplo, através da matemática, ou simplesmente em jogos), e capaz de idealizar mundos para além do observado.
Ora, quando as noções abstractas ganham corpo de ciência, para além do homem, como se verifica no caso das noções e conclusões matemáticas, isso indicia que há uma realidade que transcende as habituais concepções físicas, ainda que possa ser inspirada por elas.

Regressando ao modelo de repetição associativa para um universo, convém notar que cada repetição não significa necessariamente um salto temporal... da mesma forma que não se evidenciam ali nenhumas dimensões físicas. A única coisa que se evidencia é sua complexidade emergente, e de como as partes não são mais do que diferentes associações do todo.
Uma coisa é não ter acesso cognitivo ao passado, outra coisa é achar que ele se perdeu irremediavelmente, como se houvesse um "caixote de lixo" temporal.
E se isto é válido para a história, enquanto passado, também é válido para outras incapacidades cognitivas, provavelmente por defeito de evolução na nossa comunicação.

As efémeras certezas acerca das nossas potências podem transformar-se em incertezas face às nossas impotências. Porque as nossas potencialidades surgem-nos como aparentes dádivas, mas nada disso surgiu com certificado vitalício, e maior potencialidade interior resulta de perspectivar adversidades, sem que isso constitua uma negação às actuais faculdades.

14 de Fevereiro de 2013

7 comentários:

  1. Apenas um pequeno detalhe suplementar.
    Já abordei a questão do conjunto universal, que aparenta erradamente envolver um paradoxo, por confusão filosófica. Como é óbvio, não é possível operar fora do conjunto universal (porque se está sempre dentro dele...).
    Como já referi, o conjunto universal pode ser entendido como uno, sendo estável nessa concepção.
    A única questão seria sobre a existência de outra entidade, simplificando: "se aparece primeiro a galinha ou ovo"... a inexistência (o nada) ou a existência (o todo). Mas é justamente essa a terceira entidade - a dúvida, que desenvolverá tudo o resto... conforme Laozi bem ilustrou.
    A forma como isso ocorre será o ligeiro "detalhe" de formação, que exemplifiquei numa forma particular, que evidencia a complexidade subjacente, resultante de uma mera introspecção filosófica. Não coloca minimamente em causa uma certa concepção de Deus, até pelo contrário...

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  2. Sobre a "existência de outra entidade" e o universo:

    Para reflexão,

    Uma mosca vê o mundo de maneira diferente dum humano, 93 % da linguagem comunicativa do humano é corporal, como esperar obter abundante informação escrita do passado se o homem passa a sua via a comunicar entre si como os macacos, e pouco fala. A escrita é uma excepção somente para manipular a macacada sapiens. Existem muitos "Deuses" por aí escondidos por um enorme rebanho de carneiros que são os homens. Para os budistas existem 2 mundos e 22 "dimensões". O Planeta Terra está no mundo dos seres do Sul pois existe outro dos do Norte, tudo isto rodeado pelo Nirvana provavelmente, onde estão uns 30 e poucos Budas bem acordados e atentos... quem se atreve a dizer abertamente que a finalidade do budismo é acabar definitivamente com a existência humana física ?

    Boas leituras
    José Manuel
    Genève - Suisse

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    1. Tem razão, José Manuel, a maioria do nosso processo de aprendizagem dá-se em crianças, onde nos é oferecida uma linguagem rica, e depois pouco mais fazemos que usá-la para o discurso de circunstância. Se a linguagem serviu a macacada, para implantar este "planeta de macacos", essa mesma linguagem permite criar ideias que estão muito para além do mundo material onde nascemos.
      As ciências físicas são uma brincadeira neste mundo material. Sim, podemos associar o início da vida a um caldo inicial, a uma poça de bactérias, de onde surgiu o nosso DNA... mas em parte alguma do genoma das bactérias se poderia alguma vez prever que saíra dali um Hesíodo capaz de imaginar uma Teogonia, uma Odisseia relatada por Homero, etc.
      Isso, por muito que queira a ciência zarolha, não se codificou nos genes individuais.
      A ciência zarolha gosta de explicar o que vê pelo seu olho, mas não explica o aparecimento do olho. O homem, o observador, fica fora de exame. E é um gozo ver os projectos para "estudo do cérebro", com pretensos propósitos médicos (escondendo o lado manipulador), quando é óbvio que não é assim que o "olho" se verá a si próprio.

      O método experimental é o método que as crianças usam para perceber as coisas... experimentam carregar num botão aqui e ali, para ver o que acontece. É uma forma de aprendizagem inicial, e tanto tem de utilidade, como de irresponsabilidade infantil.
      A ciência progrediu com essa curiosidade infantil, mas faltou-lhe o acompanhamento filosófico adulto. A filosofia ocidental estagnou nos gregos, se teve alguma novidade recente, foi pouca e obteve-a de desenvolvimentos matemáticos. Os restantes pensadores andaram a mascarar o conhecimento antigo sob novos formatos, sem nenhuma novidade.
      Chega a meter dó...

      Regressando ao exemplo do caldo inicial, que teria originado a vida, basta notar que qualquer sucesso evolutivo não foi nenhuma proeza individual de uma espécie face às outras.
      Se a Terra não tivesse mudado, extinguido e feito aparecer novas formas de vida, bem poderíamos ainda estar com um caldo de bactérias. Por isso, a falar-se em evolução, ela nada tem a ver com os sujeitos isoladamente, é um resultado conjunto de tudo o que se passou na Terra. Só a perspectiva social individualista leva a esconder isso.
      Foi a Terra no seu conjunto que determinou a evolução da vida, e achar que isso é algo acidental, fruto de uma lotaria, é como achar que o pensamento é um raio que cai na cabeça.

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    2. Essa sabedoria na origem, partindo do Caos e de Gaia, está de alguma forma espelhada na Teogonia de Hesíodo. Difere bastante da concepção oriental, que é mais antropocêntrica, mais introspectiva. Não há apenas respostas pela meditação introspectiva, asceta, típica da primeva filosofia oriental. Esse "conhecer-se a si mesmo" ao incorporar os outros ao mesmo nível, tem que lhe dar sentido no equilíbrio budista. O confronto de oposições é resultado da mecânica lógica. Assim, o que construímos pode ser destruído, mas não é a mesma coisa. A construção é uma ideia complexa, enquanto a sua destruição resulta de uma simples negação do que foi construído. A ideia de destruição é sempre a mesma desde a origem dos tempos, enquanto o que se constrói é reflexo da complexidade gerada no novo tempo. Tão primitiva quanto a destruição só é a opção de nada construir, de nada criar.

      Aquilo que não excluo como hipótese, resultado das simples consequências dedutivas, é que haja um tempo que define um outro tempo. Ou seja, que o universo que vemos se esteja a formar em espiral, passando por onde já passou antes, mas, a cada nova passagem acrescentando informação nova. Quem tem o registo dos tempos está tão confiante nas previsões das repetições, quanto apavorado pelas pequenas falhas nessa previsão. Porque a estrutura do universo leva a essa aparente repetição, previsibilidade, ao garante de uma ordem, mas evolui acrescentando nova percepção, incorpora um aparente caos, que define a cada ciclo uma estrutura cada vez mais complexa.
      Não há limite para as dimensões. Se temos uma limitação física natural, temos também uma ilimitação no pensamento, só condicionada pela estrutura lógica do raciocínio. Só há uma verdade porque não podemos conceber o mesmo "eu" em dois universos. Quando optamos por não agir, abdicamos do universo em que agimos. Só há uma maneira consistente de voltar atrás... é considerar que se tratou de um sonho premonitório, antes dessa decisão. Só que isso está longe de depender do próprio - não há introspecção budista que lhe permita tal coisa.

      Um abraço!

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  3. Essa sucessão numérica não é algo subjectivo e abstracto? Ou seja, não poderei eu ver a criação a partir do nada de outro modo. Por exemplo, 0 inexistência, 1 existência, 01 nova entidade, 010 outra nova entidade, 0101 outra nova entidade , etc? O que me está a falhar?

    Ab

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    1. Sim, é abstracto, mas o abstracto não é subjectivo. Ou, dito de outra forma, se quiser a maior objectividade possível, tem que recorrer a noções abstractas.
      Por exemplo, vendo os vários programas futebolísticos, terá um lance repetido dezenas de vezes, de vários ângulos, e consoante o apetite clubístico, cada qual dirá algo diferente. No entanto, como querem discordar na visualização, entendem-se na linguagem, que é uma matéria abstracta. Poderiam desentender-se na linguagem, e por vezes isso acontece, passando a jogos de retórica, como arte que serve o desentendimento. Só que nesse caso o que se pretende é bloquear a comunicação enquanto forma de entendimento.
      Isto serve apenas como exemplo, porque perante a mesma ocorrência não há nenhuma garantia que todos vejam o mesmo, e há naturalmente situações dúbias. Por vezes parece quase impossível dizer se uma cor é verde ou azul, mas vendo as intensidades RGB (red, green, blue), se o número em verde for maior que o número em azul, pode decidir.
      Sempre que pretendemos maior objectividade recorremos a números.
      Da mesma forma que se quiser saber se a bola entrou na baliza ou não, terá um algoritmo numérico com base nas imagens.

      Desde os tempos da Grécia antiga que há defensores do niilismo - nenhum entendimento é possível, mas isso é o mesmo que não dizer nada. Porquê? Porque, se nenhum entendimento é possível, por que razão haveríamos de entender isso?
      Exemplo dessa palhaçada é a frase socrática "só sei que nada sei", que é uma contradição em si, e só deveria ser vista como uma tentativa de piada... e no entanto foi levada a sério pelos menos sérios.
      Ou seja, sempre houve promotores da desistência de entendimento, atacantes do saber adquirido e da comunicação entre os homens, e estão sempre prontos a manobras de distracção para incautos, puxadas da cartola retórica.

      Façamos a seguinte experiência. Suponha que me quer transmitir "o nada", como consegue?
      Pode escrever "Isto é nada"... mas aí já está a escrever qualquer coisa.
      Pode mandar uma mensagem em branco, mas vai aparecer "João Ribeiro, 30 de setembro de 2016 às ....".
      Portanto nunca me consegue transmitir "o nada" sem usar qualquer coisa como suporte.
      Pode ainda deixar de escrever, mas isso também poderia significar que abandonou a conversa, e portanto não funciona.

      Outro exemplo - peça a um pintor para lhe desenhar "o nada"... se ele lhe apresentar um quadro em branco, então esse quadro em branco é alguma coisa, não é "o nada". Da mesma forma, ele pode não lhe apresentar nada, mas isso também significa que ele não foi capaz, ou desistiu da comunicação.

      Só com a existência é que é possível dar sentido à inexistência, e apenas a uma inexistência parcial, nunca absoluta.

      A sequência tem novas entidades, certo, mas são formadas inevitavelmente pela existência das anteriores.
      Voltando ao exemplo do quadro. O pintor dava-lhe o quadro em branco, e você mostrava-lhe o que via... que era o quadro dele em branco. Entendendo isso, ele desenhava um 2º quadro... que era "um quadro com um quadro em branco".
      Mas aí você dizia-lhe "então e o 1º quadro, mandas fora?"
      Já meio chateado, ele voltava com um 3º quadro, onde desenhava dentro o 1º e o 2º quadro.
      Agora, para o chatear ainda mais, dizia-lhe - "mas agora terás um 4º quadro onde metes os outros 3"... e assim sucessivamente.

      Esse processo está também explicado no texto "banho-maria":

      http://alvor-silves.blogspot.pt/2013/10/banho-maria.html

      ... estas questões estão presentes há milénios, mas nem sempre foram/são bem entendidas.

      Abç

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    2. Sim sim, eu percebi a ideia. Essa sucessão numérica é que me estava a meter espécie.

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