quarta-feira, 30 de março de 2011

da vinda a Hespanha de Nabucodonosor

Título do Capítulo XXVIII da Monarchia Lusitana, de Bernardo Brito (1596):
- Das guerras que houve na Lusitania entre os Celtas, e Turdulos, e da vinda a Espanha de Nabucodonosor.

Este título nada teria de especial, excepto não haver qualquer registo, ou plausibilidade histórica, de alguma vez os Babilónios terem chegado à Hespanha - pelo menos de acordo com a historiografia oficial.

No texto Ebreus do Ebro já falámos da possível presença hebraica em Hespanha, e que tal registo teria sido perdido na deportação dos judeus que Nabucodonosor empreendera.

Segundo Bernardo Brito, a vinda a Espanha de Nabucodonosor é confirmada por Estrabão, Plínio e Josefo, entre outros...

A história que Brito conta é a de que Nabucodonosor começou a executar a vingança na Catalunha, na costa marítima do Ebro, e progressivamente vai até Caliz (Cadiz). A vingança seria da ajuda hispânica que lhe teria prolongado o cerco a Tiro por 13 anos e a necessidade de tréguas. Para Brito, Caliz é uma colónia fenícia, tal como Cartago, que teria conseguido convencer os povos vizinhos nessa assistência a Tiro. Para Brito, os babilónios vão trazer judeus que largam na Hespanha, formando povoações no Reino de Toledo, nomeadamente em Lucena. Não explica nenhuma razão plausível para esse transporte migratório.
O cativeiro judaico na Babilónia. (imagem)

O importante, é reparar, mais uma vez, como a História mundial omite por completo esse desembarque babilónio na Península Ibérica, operação militar audaciosa, mas que segundo Brito teria sido rechaçada.

Coro dos Escravos - Nabucco, de Verdi.

terça-feira, 29 de março de 2011

Traffic Signs

ATTENTION to ALL
PHOENICIAN, GREEK, ROMAN seamen!

All ships, quadrirreme, navis lusoria, etc...
 when passing the Pillars of Hercules
PLEASE TURN RIGHT

This is just a temporary restriction 
for no more than one or two thousand years.

THINK ABOUT THE FUTURE
HELP US KEEP OUR HISTORY BOOKS
PLAIN AND SIMPLE 

Traffic Control acknowledges your cooperation!

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... if you are puzzled about the new traffic control in our lives, 
perhaps it is time to think how old it must be:
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quarta-feira, 9 de março de 2011

alvodemaia (2)

O blog Alvor-Silves vai fazer uma pausa durante algumas semanas... 
Ficam aqui em formato PDF os textos publicados, durante os últimos tempos.

ALVODEMAIA - 2011 (Volume 2)
  
Número 1    ------------------------   Número 2   ------------------------    Número 3


Blog Alvor-Silves - 2010 (Tombo 1)


-------- textos anteriores -------

domingo, 6 de março de 2011

Bolhão

Godefroy de Bouillon foi na prática o primeiro Rei de Jerusalém...
... e foi ainda tio do Conde D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques, ou seja foi o seu tio-avô.
Godofredo de Bolhão (1058-1100)


A investigação é de Damião de Góis, que tendo acesso aos documentos em França, acabou por reconstruir a linhagem do Conde D. Henrique, pai do fundador de Portugal.
(...) o Conde dom Anrique da parte femenil descende por linha directa dos Reis Daragam [de Aragão] & quanto à linhagem da parte do pai, que é o mais importante, foi pelo modo seguinte. No ano do Senhor de 1019 faleceu Geofroi Duque da Lorraina, & por não deixar filhos sucedeu no ducado seu irmão Gozellon Conde de Bulhom, a este Gozelllon sucedeu Godefroi o brioso, ou barbudo, seu filho: que reinou 26 anos e teve grandes guerras com o Imperador Anrique III, as quais acabadas casou uma sua filha única herdeira, por nome Idaim com Eustácio Conde de Bolonha-sobelo-mar em França, & lhes deu logo em casamento o Condado de Bulhon, do qual casamento procederam Godefroi de Bulhom & Baldoim, reis bem aventurados de Hierusalem, & Eustácio (...)
Convém interromper aqui a citação para explicar algumas confusões habituais. 
Primeiro, confunde-se Boulogne na França com Bouillon na Bélgica ou ainda na Mancha, já para não falar da confusão com a Bolonha italiana. Essa confusão entre Boulogne-sur-mer e Bouillon encontra-se nos historiadores, já que Godefroy de Bouillon era originário de Boulogne-sur-mer, mas teria vendido Bouillon ao Bispo de Liège para participar nas crusadas. O mais natural é que seja sempre Boulogne (... sobre o mar), a actual cidade francesa.
As confusões não terminam aqui, pois não consta Santa Ida (Idaim) ter sido filha única de Godefroi, o barbudo. Para além disso, Damião de Góis vai invocar um segundo casamento de Eustácio II, com D. Mahual - será desse casamento que surge o pai do Conde D. Henrique:
(...) e por morte de D. Idaim mãe destes príncipes, casou Eustácio, Conde de Bolonha, com D. Mahual, filha de dom Giral Conde de Mosalanda, o qual condado jaz entre as ribeiras da Mosa e da Mosella & corria terras de Lorraina, Lucemburgo, Lemburgo & Treuer até à ribeira do Rim (...)  
Desta filha do Conde de Mosalanda (ou Duque, como alguns têm por opinião que era) houve o Conde de Eustácia de Bolonha Guilhelme, barão de Ioynuilla, & quando estes três irmãos Godefroi de Bulhom, Baldoim, & Eustacio foram à guerra de ultra mar, sendo já seu pai falecido, Guilhelme barão de Ioinuilla irmão mais moço, por ordenança deles ficou por governador do ducado de Lorraina, porque o condado de Bulhon vendeu Godefroi ao Bispo de Liege, para despesas destas guerras, & a cidade de Metz em Lorraina, que era sua, vendeu aos mesmos da cidade, o qual Guilhelme de Ioinuilla por morte dos seus irmãos sucedeu no ducado de Lorraina, & foi casado com Allis filha de Tibaut Conde de Champagne da qual senhora houve três filhos. Thierry (ou Thiodorico) que por sua morte sucedeu no Ducado de Lorraina, & Anrique, & Geofroi, que nas guerras da Síria fez grandes proezas, este dom Anrique filho segundo do Conde Guilhelme foi pai del Rei Dom Afonso Anriquez, a quem el Rei D. Afonso VI de Castela  deu o condado Destorga pelos muitos serviços (...)
É claro que aqui as confusões são demasiadas... porque Guilherme de "Ioinuilla" não consta de registos como irmão de Godofredo, Balduíno ou Eustáquio. Supostamente o Conde D. Henrique é filho de Henrique de Borgonha. Passa assim a haver uma versão com borgonha e outra sem borgonha...   

Porém, Damião de Góis, que sofrerá vários problemas com a Inquisição, é muito claro... 
- D. Afonso Henriques teria como tio-avôs Godofredo e Balduíno, de Bouillon, ou seja (em bom português) do Bolhão!
O mercado do Bolhão, no Porto.

A importância à época de Godofrey de Bouillon, é clara... em 1099, com a reconquista de Jerusalém pelos cruzados que lidera, fica como regente, recusando o título de Rei, por considerar que esse título era de Deus. Realmente o primeiro Rei de Jerusalém será o irmão Balduíno (Baldouin, Baldwin), que aceita o título. Ambos seriam irmãos de Guilherme, ou seja, o avô de D. Afonso Henriques.

sábado, 5 de março de 2011

Mapas de Dieppe (2)

Quando o Cardeal Saraiva escreve um texto sobre o Infante D. Henrique, é claro que não pode deixar de se queixar das pretensões francesas sobre os mesmos territórios africanos. No seu estilo sarcástico, ataca uma referência do Padre Labat à presença de marinheiros de Dieppe para além do Senegal e Serra Leoa, em 1364. Esse comércio teria levado mesmo à construção de uma igreja na zona da Mina (segundo d'Avezac, ocorrida em 1383).
Enuncia facilmente as razões, que se resumem basicamente ao facto dos franceses não se terem pronunciado sobre a existência de descobertas suas, aquando da divisão de Tordesilhas, ou do anti-meridiano. Só muito depois, os franceses teriam começado a referir esses descobrimentos... mas faltavam-lhes monumentos que comprovassem a evidência de tal presença anterior, afirmando feitorias de Cabo Verde até à Mina.  

Este problema ocorre quando a História é construída sob uma fábula de jogos e problemas políticos... Depois, quando a posição se torna dominante e vencedora, é fácil aparecer com uma versão para a reescrita dessa História. Fariam sentido estes relatos dos marinheiros de Dieppe?
- Claro que sim!
Nada impedia as navegações ao sul do Bojador, tirando as imposições internas na Europa!
Como é fácil observar a navegação pelo Mediterrâneo, do Estreito de Gibraltar até à Terra Santa era superior à navegação pela costa de África até à Serra Leoa... 
Semelhantes distâncias marítimas a partir do estreito: 
até à Terra Santa (linha vermelha), e até à Serra Leoa (linha branca)

Tanto mais que o Mediterrâneo tinha a dificuldade adicional de navegação sob ataque muçulmano que começava logo na passagem do Estreito (até à conquista de Gibraltar e Ceuta, no Séc. XV, ambos os lados estavam sob controlo muçulmano). E como é óbvio, a navegação nunca seguiu a linha de costa... seria ridículo seguir pela costa espanhola, francesa, ou ainda contornar a península italiana.
Por isso, é óbvio que as navegações até à Guiné do Infante D. Henrique longe de serem primeiras, estavam ainda longe de se referir apenas à Guiné africana. Como vimos dizendo, há mais de um ano, Guiné era um termo que se aplicava inicialmente a vários territórios, muito em particular à América. Quando D. João II diz que as descobertas de Colombo estão no seu senhorio da Guiné, é fácil perceber a extensão do termo.

A importância relativa do Infante D. Henrique é quase a mesma de Colombo... ambos tiveram uma chancela do poder que lhes daria ao longo da História a prevalência de descobrimentos, apenas correcta no sentido do termo "descobrimento = retirar do encobrimento instituído".  
Sob esta perspectiva, o papel do Infante D. Henrique é muito maior do que tudo o que se segue... é ele o primeiro a conseguir a autorização de alargar o conhecimento oficial do mundo europeu, desde a Antiguidade, antes restringido ao espaço ptolomaico.

A continuidade desses descobrimentos só vai ser quebrada pela persistência em não revelar a parte americana acima da Califórnia, e a Austrália. Esse hiato é quebrado pela viagem de Cook... 

Tal como no caso dos mapas de Pedro Reinel, em que os territórios americanos aparecem ocultados, mas podem ser vistos pela rotação dos mapas, volta a ser necessário ocultar a Austrália nos novos mapas. Já apresentámos como Buache e Brouscon fizeram isso... há outros casos portugueses, também!

Porém, um exemplo simples de verificar obtém-se usando dois mapas de Dieppe, voltando-se a repetir a técnica de Reinel (motto deste blog). 
O autor usa dois mapas, faz uma inversão e reflexão... obtendo-se directamente:
- Até as paisagens dos mapas distintos colam... o que há mais a dizer?
Os mapas de Dieppe contêm ilustrações interessantes, conforme já explicámos aqui (... há seis meses atrás).
O que se torna claro nestes mapas é porque razão a visita de Tasman em 1642 apenas revelou a parte ocidental/norte, onde se encontrariam os aborígenes. A parte oriental da ilha, não "descoberta" por Tasman, aparece assim povoada por "europeus", conforme se torna "claro" pelo seu aspecto.

- Quem são?
Já aqui explicámos que o Senado de Cartago tinha decretado pena de morte a quem fosse para os territórios paradisíacos. Haveria sempre o perigo iminente de que fartos da opressão do poder, os navegadores decidissem ser refractários e fazer vida numa ilha paradisíaca. Foi o que aconteceu com a Bounty (ver também filme ganhador de Oscar em 1935)...

Porém, isso foi uma situação pontual. Poderia perfeitamente acontecer algo muito mais organizado e coordenado... ou seja, haver um grupo razoavelmente grande, revoltado com a situação opressiva na Europa, liderado por capitães (ou ainda aristocratas, ou um príncipe...), que teria visto como possibilidade efectiva definir um novo reino, afastado da opressão imperial europeia. Melhor ainda, oferecia-se com um excelente clima! 

Isto seria um teste ao longo braço do Senado do Império Ocidental... 
Até que algum reino se dispusesse a terminar com essa faceta refractária, haveria um autêntico "Reino Pirata" situado algures na Austrália. Não estando sob domínio ocidental (tal como Fusang), não seria reconhecido, e o território ficou sob ocultação (mesmo a parte declarada por Tasman).
Até que, após a Guerra dos Sete Anos, passados 60 longos anos após o Longitude Prize, um dos participantes notabilizado na Batalha das Planícies de Abraão, o capitão James Cook, tem finalmente autorização para viajar e traçar mapas da Austrália.
Batalha das Planícies de Abraão, 1759 - morte do general Wolfe.
(uma enorme torre, supostamente de Québec, 
avista-se ao fundo, entre as nuvens, à esquerda)

Depois, como já referimos ocorre o episódio da extinção dos "aborígenes da Tasmânia", consumada na Black War... é de assinalar que no mapa de Dieppe, a Tasmânia está então representada como "ilha de gigantes", e o desenho indicaria a prática de canibalismo. É mais um problema de Gulliver...

Aos ingleses tinha sido outorgada a parte final da descoberta... 
Descobertas que começam com o Infante D. Henrique, mas também com a escravatura reintroduzida na bula papel que consagra a si os domínios da Guiné... Descobrimentos que continuam com os espanhóis, após Colombo, mas com uma quase extinção dos Aztecas, Incas, Maias, etc... Terminam na Austrália e na parte ocidental da América do Norte (cf Fusang), de forma igualmente dramática. O avanço que parece surgir, tem uma descompensação na ética e moral cristã...

Napoleão surge assim após as últimas descobertas inglesas... fora de tempo! Poderia ter sido Magno, como Alexandre, porém o Corso juntou-se ao Carnaval, no bloco dos napoleões retintos...

 

quinta-feira, 3 de março de 2011

Lago Tritonis

Na descrição de Heródoto faz-se referência a um grande Lago Tritonis que separava a Líbia... notando que para os gregos o nome Líbia era usado para toda a África.
Tratava-se de um lago com mais de 2 000 Km², abaixo de Cartago, e onde se associa uma parte da aventura de Jasão e dos Argonautas. Com a suposto nível do mar mais elevado, e usando uma imagem que já aqui colocámos a propósito da ilha Eritheia, localizamos facilmente o que seria esse Lago Tritonis:
Tal como no caso do mítico lago Parime, que encontrámos nesta imagem (referida aqui), aparece aí o mesmo lago aqui identificado. Há aliás um certo consenso em associar Tritonis ainda à restante planície salina Chott el-Jerid (sul da Tunísia), ocasionalmente inundada.

A lenda de Jasão fala já de uma entrada que nessa altura poderia começar a ser condicionada pela subida da maré. Jasão teria ficado nos baixios do Lago Tritonis, e não conseguia sair desse lago, até que Triton apareceu e lhe ofereceu um canal para passar. 
Atendendo a que viagem de Jasão era suposto ter ficado pelo Mar Negro, este seu aparecimento no Lago Tritonis, invocado por Heródoto, fica um bocado despropositado na interpretação que se quis fazer pela sucessiva troca de nomes posterior.  Daí a necessidade de juntar na Arménia, no Cáucaso, as províncias: Colquida (Colchis), Iberia e Albania. O espaço era pequeno, mas foram todas bem arrumadinhas (ver aqui)...

Usamos ainda a tradução de Heródoto (disponível aqui):
The Carthaginians also relate the following: There is a country in Libya, and a nation, beyond the Pillars of Hercules, which they are wont to visit, where they no sooner arrive but forthwith they unlade their wares, and, having disposed them after an orderly fashion along the beach, leave them, and, returning aboard their ships, raise a great smoke. The natives, when they see the smoke, come down to the shore, and, laying out to view so much gold as they think the worth of the wares, withdraw to a distance. The Carthaginians upon this come ashore and look. If they think the gold enough, they take it and go their way; but if it does not seem to them sufficient, they go aboard ship once more, and wait patiently. Then the others approach and add to their gold, till the Carthaginians are content. Neither party deals unfairly by the other: for they themselves never touch the gold till it comes up to the worth of their goods, nor do the natives ever carry off the goods till the gold is taken away.
Esta descrição de comércio dos cartagineses é muito semelhante à que encontramos descrita por Duarte Pacheco Pereira... e poderia reportar-se tanto a trato com povos em África, como até com povos na América... afinal já referimos a ida de cartagineses a paragens americanas, cf. Cândido Costa, que detalha mais esta hipótese ligando-a a Ophir, no seu texto posterior "Duas Américas" (que está obviamente offprint). Diz Cândido Costa: 
"Num escrito de Aristóteles (De Mirab. Auscult. Cap. 84) diz-se que foi o receio de ver os colonos sacudirem o jugo da metrópole cartaginesa e prejudicarem o comércio da mãe pátria que levou o senado de Cartago a decretar pena de morte contra quem tentasse navegar para esta ilha. Aristóteles descreve também uma região fértil, abundantemente regada e coberta de floresta, que fora descoberta pelos cartagineses além do Atlântico" [cf. templaria.org]
Esta menção de Aristóteles é aliás encontrada frequentemente citada. 
Interessante é a menção de Heródoto a alguma subserviência devida ao Rei dos Medos:
These be the Libyan tribes whereof I am able to give the names; and most of these cared little then, and indeed care little now, for the king of the Medes. One thing more also I can add concerning this region, namely, that, so far as our knowledge reaches, four nations, and no more, inhabit it; and two of these nations are indigenous, while two are not. The two indigenous are the Libyans and Ethiopians, who dwell respectively in the north and the south of Libya. The Phoenicians and the Greek are in-comers.
 Não ter medo dos Medos pareceria então estranho... A divisão entre Líbios e Etíopes, era feita em termos de norte (Líbios) e sul (Etíopes), juntando-se depois os colonizadores Fenícios, com Cartago, e os Gregos com Cyrene. A cidade grega de Cyrene não terá a importância histórica de Cartago, mas Cyrene teve um templo de Zeus de grandes dimensões (superior ao Parthenon):

Atlantes
Ao descrever a parte oeste da Líbia, ou seja o oeste de África, Heródoto descreve os Atlantes, enquanto habitantes próximos do monte Atlas:
Once more at the distance of ten days' there is a salt-hill, a spring, and an inhabited tract. Near the salt is a mountain called Atlas, very taper and round; so lofty, moreover, that the top (it is said) cannot be seen, the clouds never quitting it either summer or winter. The natives call this mountain "the Pillar of Heaven"; and they themselves take their name from it, being called Atlantes. They are reported not to eat any living thing, and never to have any dreams.
Estes hábitos alimentares, em particular não comer carne de vaca, eram reportados ao culto egípcio de Isis, e extensivos a toda a Líbia. A referência aos Atlantes próximos do Atlas está ainda no mapa de Dionisio Periegetes.
A nomeação de Atlantes, do Atlântico, e da Atlântida, acaba por ser toda reportada não só a Atlas, à montanha, mas também ao mítico pai das Pleiades... titã condenado a suportar o mundo nos seus ombros. A sua rebelião contra os novos deuses, acabou nessa condenação que só foi aliviada temporariamente por Hércules... 
A zona geográfica associada aos mitos é a mesma - o Atlas e os Pilares de Hércules estão na mesma zona geográfica, e da mesma forma surgiria a menção à Atlântida.

A barreira do Bojador
Heródoto até aos Atlantes conhece os povos que habitam a crista de areia, depois deles não possui informação. Este limite, colocado ao nível das Canárias, torna-se sintomático até que surgem as explorações portuguesas... Apesar disso, conhecem-se expedições desde os cartagineses, que exploraram a costa africana. 
Qual a razão deste limite ancestral colocado ao nível do Bojador?
Na prática não há nenhuma barreira difícil de transpor, se esquecermos a mitologia fantasiosa.
A parte sul, atribuída aos Etíopes, aparece assim proibida não apenas à exploração, mas mesmo à menção... tal como no caso do Senado de Cartago, aparece decretada uma proibição implícita.

Redução Geográfica
Não deixa de ser interessante a evidência de redução geográfica... os romanos vão introduzir a África (inicialmente a Oeste) e restringir o nome Líbia para o território entre Cartago e o Egipto. Da mesma forma a Etiópia passará a designar exclusivamente a zona sob o Egipto. A outra evidência de redução geográfica é a junção de toda a Cólquida, Iberia e Albania, ao enclave caucasiano, como já referimos.
Só estas trocas seriam suficientes para grande confusão, mas haveria muitas mais... o problema vai sendo cumulativo, sustentáculo da ocultação e segredos.


quarta-feira, 2 de março de 2011

Piri Reis & Oronce Fine

Começamos com Diogo de Couto (Quarta Década da Ásia):
Entre eles [Papuas] há alguns tão alvos e louros com Alemães, e com o Sol são muito cegos: há entre eles muitos surdos, e segundo a informação que há destas ilhas, correm de longo de uma grande terra, que dizem que se fecha no Estreito de Magalhães, porque alguns pilotos castelhanos navegaram de longo dela mais de quinhentas léguas.
Quinhentas léguas são mais de 3000 Km, e por isso a descrição pode naturalmente corresponder à costa da Austrália. Esta citação enquadra-se numa outra feita por Piri Reis(*), em inclusão no seu mapa na parte sul:
"In this country are found white-haired creatures like this, as well as six-horned cattle. The Portuguese had written this on their maps." [tradução de Paul Lunde, Aramco]
Junto estas duas referências a "louros" (ou albinos), já que por razões que ficaram evidentes no texto de Ramusio, as navegações para a parte austral teriam ficado condicionadas/proibidas. 
Ou seja, dois continentes austrais poderiam ser perfeitamente confundidos... Austrália e Antártida, afinal ilhas de forma não muito diferente... excepto no clima! Uma confusão propositada entre as duas levaria a mapas em que a actual Austrália era omitida. Aliás ambos os nomes são próprios de continentes no sul, e nada melhor do que a confusão ser levada a cabo por uma casa da "Áustria", os Habsburgos. 
Por isso consideramos apropriado os ingleses chamarem "Ostrich" às avestruzes... tal como a diferença entre o nosso Perú e o Turkey se observa no dia de "acção de graças" americano.

É nesse sentido de confusão que numa outra legenda de Piri Reis aparece:
"There is no trace of cultivation in this country. Every­thing is desolate, and big snakes are said to be there. For this reason the Portuguese did not land on these shores, which are said to be very hot." 
Esta citação deixa alguma confusão, já que seria estranho referir-se a uma Antártida, mas é agora perfeitamente apropriada para uma Austrália.

Claro que estes mapas portugueses terão desaparecido, e por isso temos que recorrer ao mapa que Piri Reis tenta reeditar (ilustrado com muitas caravelas...), e compilando vários mapas que dispunha, alguns portugueses, outros do tempo de Alexandre:
Parte sul do mapa de Piri Reis

Colocámos uma linha negra, que é a linha do alinhamento de Gizé, já que há uma rosa-dos-ventos (quase sobre a ilha de Sta. Helena), indicando um alinhamento com as ilhas de St. Tomé e a linha dos Camarões. Isso permite dividir a parte correspondente à América do Sul e à parte Antárctica (confundida com a Australiana). Como Piri Reis admite usar mapas do tempo de Alexandre Magno, temos que levar o problema para tempos remotos... onde a linha de costa poderia ser diferente:
Ilustramos, com pontos verdes, uma linha de costa antiga, com o mar abaixo do nível actual. Vemos que nesse caso a linha do continente sul americano seguiria um contorno semelhante ao descrito pelo mapa de Piri Reis. Na falta de nova informação, poderia estar a seguir um mapa antigo, para descrever essa parte austral. Notamos ainda que, tal como no caso do mar das Caraíbas, há uma forte depressão no sentido directo, nesta zona do Estreito de Magalhães, até às Ilhas Sandwich... (seta verde). Poderia perfeitamente reflectir um embate anterior, colocando o equador nesta zona (não necessariamente como referido aqui), em tempos ainda mais remotos... Isso significaria, é claro, tempos de uma Antártida quase tropical.

Essa associação parece ficar ainda mais clara neste excelente mapa de Oronce Fine (Orontius Fineus), perfeitamente datado de 1531:
Mapamundi de Oronce Fine (1531) [cf. theastralworld]

A parte austral (representada no mapa à direita) seguiria um contorno quase antárctico, conforme prolongamento previsto na ponta sul americana, mas está claramente incorrecta, aproximando-se mais da topografia da Austrália, resultado dessa propositada confusão austral-antárctica.
Aqui os geógrafos usavam por um lado a informação difundida por Vespúcio, sobre esse continente austral, que tinha sido rodeado pelos marinheiros portugueses (conforme diz e desenha Ramusio), e por outro lado a informação da grande ilha australiana - que na nossa opinião poderá ter sido designada inicialmente como Taprobana (antes do problema Ostrich e das associadas cabeças na areia).

É claro que os espanhóis, que navegaram todo o Pacífico, podiam bem protestar em 1835 no El Instructor (já aqui mencionado sobre a invenção catalã do barco a vapor), dizendo: 
"en nuestro numero anterior probamos evidentemente que los celebres navegadores modernos no han hecho descubrimiento alguno de importancia en el espacioso Mar Pacifico, desde la America hasta las costas de Asia, que no haya sido previamente descubierto por los Españoles, y que todo el merito á que son credores está reducido á esplorar las costas de aquellas islas, y fijar sus verdaderas longitudes".       [pág. 87]
É óbvio que nada disto seria considerado... quando há quádruplas alianças a actuar posteriormente, na península ibérica. E por isso, nem portugueses, nem espanhóis, devem ter considerado oportuno falar numa prioridade sobre descobrimentos antárcticos. O Tratado da Antártida, de 1959, vai para além da aparente posse territorial, e terá muito a ver com os buracos... de ozono (O3 ou Ω3).

Piri Reis é especialmente interessante pelo que foi transcrito nas legendas. Usando ainda a mesma tradução de Paul Lunde, é dito por Piri Reis que Colombo teria usado o já citado mapa de Alexandre Magno. Revela ainda que esse mapa teria chegado à posse dos "francos", que fugiram do Egipto pela invasão árabe de Amr ibn al-As, em 641 d.C. Esses refugiados, a terem chegado à França devem ter desembarcado certamente na Austrásia... (de Brunildas e Pepinos).

Mais estranhamente, Piri Reis fala de uma prévia invasão dos "francos", que estariam assim em território egípcio antes da invasão árabe! Ora, nessa época apenas é conhecida a presença bizantina, e só pouco antes da invasão árabe, o Egipto esteve sob um breve período de controlo persa - sassânida. No entanto, lembramos que os vândalos chegaram a Cartago, pelo que não há razão para estes ou outros francos/godos não terem atacado e tomado controlo de parte do Egipto.
Esta ligação dos francos ao Egipto e Médio-Oriente justificaria ainda as muitas ordens militares sediadas em França, que partiram depois na reconquista da Terra Santa... já para não falar da visita napoleónica.

Paul Lunde refere que o mapa atribuído a Alexandre deveria ser de Ptolomeu, o geógrafo, que os árabes tenderiam a fazer confusão com Ptolomeu I... mais uma confusão!  
Como já fizemos aqui referência do achado em Montevideu, na vila de Dores, referente a túmulos com referências a Ptolomeu I, é óbvio que ajuda à confusão um outro Ptolomeu ter sido depois a referência principal na geografia e astronomia. 
Para além disso o contexto é claro... Piri Reis diz que Alexandre (dos "Dois Cornos"... assim conhecido no Islão), Alexandre Magno, "navegou por todos estes mares e escreveu tudo o que viu e ouviu".


terça-feira, 1 de março de 2011

Heraclito & Democrito

Um tema que acabou por fazer algum sucesso, ao longo dos séculos posteriores, foi quadro de Bramante de 1477, conhecido sob o título Heraclito "choroso" e Demócrito "risonho"...
Como é fácil perceber, há algo de errado com o quadro:

Primeiro, mal se percebe que o suposto Heraclito esteja a chorar, pelo contrário parece estar a sorrir... 
Há umas lágrimas acrescentadas a branco, para forçar o sentimento alterado!
Porquê?
Repare-se no globo... não no globo, mas na parede por detrás do globo!
É fácil perceber que houve uma alteração tosca na sequência de tijolos, e que haveria uma esfera maior, que foi substituída por um novo globo.
Além do mais foi disfarçado o dedo de Demócrito que apontaria, ou equilibraria, o anterior globo desenhado. O que vemos é um óptimo globo segundo a representação de Ptolomeu, o que seria natural em 1477, uma vez que a "Boa Esperança" só viria em 1488.
As setas verdes notam a delimitação do anterior globo,
A seta vermelha mostra a posição do dedo que falta.

O que teria representado antes?
Atendendo a que os patronos do Tempietto em Roma, próximo importante trabalho de Bramante, foram os fervorosos reis católicos Fernando e Isabel, presumimos que não seria conveniente estar lá representada uma certa parte, depois chamada América.
Por isso é o lado ocidental, que fica choroso, mais uma vez a esperança, a Hesperia, iria ficar ocultada... pelo menos foram libertadas as rodas das quadrigas.

Fomos encontrar no blog controversia um texto sob o nome "As lágrimas de Heraclito ou o riso de Demócrito" em que revela um texto do Padre António Vieira, na altura vítima da inquisição, sob protecção da rainha Cristina da Suécia. 
Trata-se de um debate sobre este tema, em que outro padre jesuíta, Cattaneo, diz: "Demócrito fez fez o juízo mais sábio, pois se não convenceu os interlocutores, pelo menos não os aborreceu".
Por sua vez, Vieira argumenta em favor de Heraclito: "Quem conhece verdadeiramente o mundo, chora; quem ri ou não chora, não o conhece"

Face a isto, este retrato de Donato Bramante:
tem o perfil certo!

Nota adicional: Almeida Garrett lançou uma publicação com este nome, e dizia (em jeito de epígrafe):
"Heraclito chorava e Demócrito ria, eu farei outro tanto". Acrescentando: "Eu escrevo para homens de bem. Heraclito chorará com eles sobre os males da nossa pátria; Demócrito rirá também com eles das loucuras dos nossos semelhantes". 
E apropriadas as palavras desses e destes tempos: "Não serão muitos os leitores, que não são tempos estes que abundem de tal gente, mas enfim, com os outros nunca se entendeu Heraclito, nem Demócrito, e muito menos se entende.... o Redactor"
...
(continua aqui)