sábado, 24 de dezembro de 2016

Merry "Kiritimati"

Uma das ilhas baptizadas com um nome natalício foi um atol no meio do Pacífico, conhecido como ilha "Christmas", e cujo nome passou a ser Kiritimati, a partir da semi-independência das ilhas Kiribati em 1979, fazendo antes parte dos territórios britânicos no Pacífico, e fazendo agora parte da chamada Commonwealth.
Planta do atol Kiritimati, a ilha Christmas.
O apontamento curioso, para não dizer grotesco, bizarro, ou absurdo, é que o conjunto de letras "Kiritimati" deve ser lido como "Christmas"... ou pelo menos como "K'rismas".
Simplesmente, missionários do Séc. XIX decidiram inventar uma conversão da fonética local para letras latinas, e acharam que o som "s" se deveria escrever "ti". Assim, o nome "Christmas" dado à ilha pelos ingleses, passou a escrever-se nessa conversão bizarra como "Kiritimati".
Portanto, os locais indígenas devem ler "Kiritimati" como "Christmas", mas qualquer pessoa externa lerá o nome de forma obviamente diferente, segundo os sons habituais. Se agora os habitantes de Kiritimati quiserem de novo usar o nome que os estrangeiros lêem, devem ter que escrever ainda de outra forma...

Isto parece piada, de mau gosto, mas faz parte de uma receita de confusão persistente, na maioria dos casos propositada, e que foi quase sempre levada a cabo por religiosos, com a pseudo-motivação de converter os infiéis, mas que favoreceu sempre a confusão das línguas, e da compreensão entre povos. Afinal, os detentores do código descodificador ficariam sempre em vantagem, e os alvos ficariam sujeitos à confusão generalizada, visando mudar uma compreensão da sua língua original.  
Os exemplos conhecidos são múltiplos e os nativos noutros tempos fomos nós. 
Desde os Ch que tanto se liam "k" como "sh", os W que tanto se liam "u" como "v", os V que tanto se liam "u" como "v", ou os "b" que passam a "v", os I que tanto se liam "i" como "j", os C que tanto se liam "c" como "g", ou se lêem como "s" em "ce" ou "ci"... são tantos os casos de tentativa de confusão, que é um prodígio, ou mera especulação, tentar-se fazer alguma etimologia dos termos.

Em 1957-58 o atol de Kiritimati foi alvo de experiências nucleares por parte dos britânicos que, tal como os americanos e franceses, também usaram a sua parte da Polinésia para o efeito. No caso de Kiritimati, os indígenas nem tão pouco foram evacuados, e fizeram assim parte dos efeitos secundários da experiência nuclear.
Operações Grapple X, Y, Z com bombas H inglesas em Kiritimati
Nessa altura, não parecia haver grandes preocupações ambientais, agora teme-se pelo efeito que o «aquecimento global» possa ter na submersão dos atóis no Oceano Pacífico. 
Fica especialmente caricato juntar os dois acontecimentos com uma distância de 50 anos.
Se não estivéssemos habituados à completa desinformação, e a uma propaganda que chega a rondar o ridículo, até poderíamos levar o assunto a sério... porque como é óbvio, territórios de baixa altitude estarão sempre sujeitos a iminentes inundações - seja por causas naturais ou humanas.
No entanto, a campanha do «aquecimento global», tal como a campanha «anti-terrorista», têm simples propósitos de controlo de expectativas e gestão de medos na população mundial, e tornam-se mais ou menos ridículas, consoante as circunstâncias (normalmente fabricadas pelos próprios promotores).

Finalmente, um outro ponto interessante com Kiritimati, é que estando numa longitude próxima do Havai, tem um fuso horário diferente - com um dia de diferença!  Uma característica partilhada com outras ilhas de Kiribati (que se deve ler "Kiribas"... num som similar a "Caraíbas" - nome a que talvez não seja estranha uma reclamação espanhola da descoberta). 
Assim, estas pequenas ilhas beneficiam da notícia sazonal, muito adequada ao turismo de massas, de serem as primeiras a entrarem no «Ano Novo»... espera-se que com comemorações menos explosivas que as fornecidas antigamente pelos britânicos.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Sensabor do saber

A. Griboyedov
O embaixador russo Aleksander Griboyedov foi assassinado em 11 de Fevereiro de 1829, quando uma multidão enraivecida, atiçada por mulahs em fervor religioso, irrompeu pela embaixada russa em Teerão, aniquilando a guarnição de cossacos que protegia a embaixada, e chacinando praticamente todo o pessoal da embaixada.

O contexto foi o final duma guerra entre o Império Russo e o Persa, e que terminou em 1828 com uma derrota persa, e consequente perda de territórios caucasianos, que fariam parte da Rússia até à desagregação da URSS.

Como o assassínio de um embaixador poderia ser um pretexto para nova guerra, o xá persa viu-se forçado a enviar o seu neto à corte do Imperador Nicolau I, oferecendo o Diamante do Xá, uma gema com 88 quilates (17.74 gramas), que pertencia aos xás desde 1591 (e que entre as suas inscrições, uma era do Xá Jahan, construtor do Taj Mahal). O diamante pertence agora ao espólio do Kremlin.
O diamante do Xá (ver entrega no filme "Russian Ark", 2002)
Griboyedov não ficou apenas associado a esse trágico episódio, já que um seu livro "A infelicidade do espírito" (uma tradução literal, talvez melhor ilustrada como "sensabor do saber") apesar de censurado, foi um sucesso, precursor da literatura russa, com uma sátira à nova aristocracia, surgida após as guerras napoleónicas. A infelicidade dos espíritos da sua embaixada foi compensada por um diamante, oferecido com pompa e circunstância. Até porque em 1829 a Rússia estava já envolvida noutra guerra, com a Turquia, para acesso da sua frota naval do Mar Negro aos estreitos... interrupção resultante das guerras de independência grega, ou sérvia, onde a Rússia também se envolvera.

Esta informação pode ser recolhida de diversas fontes, e surge no contexto do assassinato do embaixador russo na Turquia, ocorrido na passada segunda-feira, dia 19. Temos que recuar quase dois séculos para um incidente diplomático deste calibre.

No caso de Griboyedov, a reacção russa foi cautelosa, não assacando culpas excessivas ao xá persa.
Suspeitou-se então de eventual motivação britânica para manter uma guerra russa com a Pérsia, o que tem o seu sentido, atendendo ao conflito que sucedeu, na Guerra da Crimeia (1853-56), que visou manter a marinha russa limitada ao Mar Negro. 
Perante o colapso do poder otomano, a Inglaterra e França pretenderam então limitar uma expansão russa que pudesse ameaçar a própria conquista de Istambul, e o controle dos Estreitos - do Bósforo e Dardanelos.

A ascensão e solidificação de uma Rússia ocidentalizada foi o grande tranquilizante para uma Europa Ocidental, que de outra forma se poderia ver ameaçada constantemente pela pressão de uma expansão oriental. 
Desde o tempo da invasão dos Hunos de Átila, que foi considerado que a falta de um travão a Oriente, poderia implicar uma invasão oriental às portas de Roma. Essa ameaça esteve bem presente por parte de Genghis Khan, que planeou uma invasão da Europa. Os príncipes russos foram incapazes de resistir ao avanço mongol, e a guerra chegou a paragens polacas, húngaras e até alemãs. A mesma ameaça foi em seguida tomada por Tamerlão, que se via como sucessor do império mongol.
Desde o momento em que o conflito Ocidente/Oriente foi traduzido também pelo conflito religioso entre cristianismo e islamismo, que se tornou claro que haveria uma vulnerabilidade europeia por dois ou três caminhos. O caminho ibérico - pelo norte de África, que terminou numa invasão árabe da península ibérica, de que só se libertou por completo no Séc. XV. O caminho turco - pela conquista de Constantinopla, e ataque pelos balcãs até à Áustria. E finalmente, o caminho russo, mais exposto pela grande fronteira, fronteira europeia que terminaria onde terminasse a fronteira russa.

Portanto, a edificação de uma Rússia ocidentalizada, partilhando uma monarquia com as monarquias ocidentais, foi um passo fulcral para o estabelecimento global do Ocidente. Com a grande expansão de Pedro, o Grande, para oriente, levando as fronteiras ocidentais até paragens orientais, a Europa cuidou de proteger a sua fronteira mais vulnerável, às expensas dessa aliança russa. No entanto, ao mesmo tempo que criou uma nação de dimensões monstruosas, ocupando uma boa parte de dois continentes, cuidou para que essa nação estivesse limitada no seu papel de posto avançado europeu, evitando que tomasse para si ambições globais próprias - algo que só aconteceu quando a Rússia se transformou em URSS.
Note-se como foi bem diferente o processo que se passou no Norte de África, que era uma zona tão romanizada, como outra qualquer. No entanto, após a expansão islâmica, nunca mais o Norte de África veio a fazer parte englobante de um desenvolvimento ocidental. As monarquias marroquinas, argelinas ou tunisinas, eram árabes, sem qualquer contacto efectivo com o ocidente. 
Não tivessem tido sucesso os monges de S. Cirilo em cristianizar os povos eslavos, e poderíamos ter também estados islâmicos na Europa oriental. Mas ainda assim, durante a Idade Média, o último posto avançado ocidental era ainda definido pelos limites alemães e polacos, e os cavaleiros teutónicos combatiam pela defesa dessa fronteira oriental. 
Ao englobar e partilhar casamentos com as monarquias eslavas, a Europa expandiu-se para oriente, apesar de diferenças entre o cristianismo romano e ortodoxo. O mesmo nunca ocorreria pelo lado norte-africano que, perante o colapso islâmico, acabou por ver os reinos do magrebe reduzidos a colónias ou protectorados das potências europeias. Tivessem as monarquias europeias a mesma política de abertura, e não de segregação, a nível de casamentos, e os reinos norte-africanos não seriam encarados como territórios a colonizar... seriam tidos como partes iguais, como antes tinham sido, fazendo todos parte do antigo Império Romano. No entanto, no planeamento de partilha de despojos, na divisão colonial do Séc. XIX, a parte norte-africana seria reduzida à sua situação geográfica africana, pronta para o espartilho colonial, e não como um território igualmente herdeiro da colonização romana.

Depois, é fácil entrar nos clichés e informação condicionada pelos órgãos de comunicação ocidentais, e à contra-informação que surge de partes opostas. Basta escolher o lado da informação para se encontrar a informação que se adequa ao propósito.
As queixas sobre as vítimas inocentes de uma guerra, tanto se podem referir às mortes causadas em Aleppo por mísseis sírios com apoio russo, como antes podiam ser alocadas a americanos ou franceses (como no caso do massacre de Tokhar) que apoiavam os rebeldes... ainda que certas notícias tivessem praticamente negligenciadas pelos meios de comunicação ocidentais.
Numa guerra de desinformação, acaba por ser fácil escolher lados errados, é só escolher ler um lado da informação, e ignorar o contraditório. As consequências são quase sempre as mesmas... é um saber que se constrói pelo não querer saber.


sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

de Calisto ao contrário Pólo (3) - alto Pulo, de águas mornas

Na expedição do Almirant Byrd, denominada "Highjump" (alto pulo), um piloto comandante, David Bunger, descobre no interior da Antártida, um conjunto de lagos não congelados, que foi depois chamado o Bunger Oasis.
A descrição é assim relatada no documentário "The Secret Land", onde praticamente a descoberta é apresentada em registo vídeo (minuto 28:00):

Bunger leans forward in amazement. His eyes have caught sudden an unbelievable change in scenery.
The universal white has turned to a chocolate-brown dotted with blue.
A cameraman goes into action. 300 square miles of land without snow. 
Land that might be in New Mexico or Arizona. 
Pictures alone will prove Bunger has discovered a warm oasis in the shadow of the pole.
It is for such supreme moments as this that men brave the hardships of exploration. The astounding undreamed fact is that they are over a chain of warm water lakes, whose shores, except for small patches, are free of ice and snow.
Commander Bunger circles the largest lake in sight, five miles long. Comes in to make a landing, water temperature must be recorded, sample was taken. He finds the water fresh. Temperature 38ºF (3º C). On the shores, vast deposits of coal and of minerals of the utmost importance to civilization.



Documentário "The Secret Land" (Antarctica) (ver 28:10)
Imagem do Bunger Oasis, conforme o vídeo, onde se vêem lagos e terra não congelada.

O Almirante Byrd deu especial significado ao Bunger Oasis: dizendo: ‘… one of the most remarkable regions on earth. An island suitable for life had been found in a universe of death.
No caso do "Bunger Oasis" há mesmo medições que apontam para temperaturas que podem atingir 20ºC, sem congelar, mesmo no inverno polar antárctico. Não será propriamente nenhum "Shangri-La", como alguém afirmou ter sido pelo almirante alemão Karl Dönitz, mas contrasta com o terrível clima antárctico,

Apesar de estar longe da área da Nova Suévia, reclamada pelos nazis, a área tinha características semelhantes a outras partes da Antárctida, que não são tão geladas quanto se pretendia assumir (por exemplo, enquanto lago é agora dado um grande destaque ao Lago Vostok, subterrâneo)
Antárctida: Lago Radok (no verão, resultante do degelo glaciar) - imagem
(ver ainda vídeo - Lake Shield?)
Por seu turno, a Wikileaks decidiu há um mês enviar fotos da Antárctida, onde não se vendo nada de completamente surpreendente, houve alguns casos que prendem a atenção:
Antárctida (wikileaks) pinguis e um glaciar que derrete provocando grandes cascatas
Antárctida (wikileaks) um veleiro em águas antárcticas - cores em tempos passados ou ousadia presente? 
Ainda dentro desta sequência polar... a Antárctida foi este ano visitada pelo patriarca russo Kirill, por Obama, e também por John Kerry (Novembro, em dia eleitoral), acrescendo que o astronauta Buzz Aldrin (já em Dezembro) foi evacuado com problemas de saúde, e comentou sobre as semelhanças com a exploração em Marte (além de outras coisas).
Curiosamente, não é de desconsiderar que possa ser um bom lugar para filmagens...  e nada melhor que chamar um especialista, para aferir de possíveis novas localizações para cenários.
McMurdo - vales secos, na Antárctida,,, com a tonalidade
ajustada parecem um deserto, terrestre ou marciano.
______ 17/12/2016

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

de Calisto ao contrário Pólo (2) ... a uma velocidade incrível

Passam hoje 7 anos de que comecei a publicar na internet aquilo a que chamei tese de Alvor-Silves, e que eram essencialmente algumas das evidências contra a tese dos descobrimentos como nos foi (e ainda é) ensinada e divulgada. Curiosamente foi nestes últimos dias que o blog disparou em número de visitas... primeiro americanas, depois russas.
Adiante. 
É entretanto o dia em que a Google lembra o 105º aniversário da chegada de Amundsen ao Pólo Sul, e portanto, calha bem com o tema que se tem discutido!

"El Mercurio", um jornal chileno, dá conta desta notícia em 5/3/1947
  • Adm. Byrd declared today that it was imperative for the United States to initiate immediate defence measures against hostile regions. The admiral further stated that he didn’t want to frighten anyone unduly but that it was a bitter reality that in case of a new war the continental United States would be attacked by flying objects which could fly from pole to pole at incredible speeds. Admiral Byrd repeated the above points of view, resulting from his personal knowledge gathered both at the north and south poles, before a news conference held for International News Service.
- Portanto, o Almirante Byrd dava conta de "objectos voadores", que poderiam viajar de Calisto ao contrário pólo... a uma velocidade incrível, usando a expressão de Camões.
- Por outro lado, há 4 anos atrás, o primeiro-ministro russo Medvedev, respondendo a uma pergunta sobre a visita de ET's ao nosso planeta, disse que bastava ver o conhecido filme "Men in Black"

Alguém notou que, não há apenas a charada do filme americano, há também o documentário russo (de 2001), que apresentei no blog Odemaia, que também se chama "Men in Black"... e que trata da questão dos nazis poderem ter desenvolvido discos voadores na Antárctida.

Tendo visto isso, fiquei a pensar melhor como se poderiam conjugar as diversas informações... ainda que parecessem meio desconexas.
Tendo em atenção as linhas de campo magnético terrestre:
podemos ter uma ideia do que se pode passar, se usarmos um magneto invertido, face ao campo magnético terrestre. 
Ou seja, conforme ilustrado na figura, se imaginarmos o "ovni" como um imã (o pequeno pentágono), sendo oposto a outro imã (o campo magnético terrestre), ele é repelido, enviado para fora, e pode seguir a linha magnética, entrando em órbita, indo parar ao pólo oposto, por atracção. 
Portanto, de Calisto ao contrário Pólo... a uma velocidade incrível.
Porém isso só seria praticável se o "ovni" desenvolvesse um campo magnético semelhante ao da Terra. 
Vendo o bom documentário do Canal História sobre Magnetismo, ficamos a saber que hoje são desenvolvidos, em laboratório, campos magnéticos um milhão de vezes superiores ao da Terra.
Não seria certamente preciso tanto... bastaria gerar um campo magnético da ordem de grandeza do terrestre para gerar uma grande repulsão, e empurrar um "ovni" de um pólo ao outro.

O princípio é básico... mas como é óbvio, é apenas uma suposição da minha parte.
Sendo básico, poderia ter sido pensado e desenvolvido à época. 
Como é dito no documentário russo, os discos voadores, voando apenas por princípios aerodinâmicos, nunca atingiriam grandes velocidades na horizontal... porém usando uma impulsão na vertical, e a ajuda do campo magnético terrestre, contra elecroimãs que seriam controlados pelo piloto, poderiam aproveitar as linhas do campo magnético, para entrarem em órbita, e aparecer no pólo oposto.
Que outra indicação há disto?
No documentário russo "Men in black", há uma foto de um piloto que estaria num disco voador nazi Haunebu (que é dito não usar combustível convencional), indicando que poderia estar equipado para vôos espaciais:
Piloto do disco Haunebu com um estranho capacete (vídeo 28:00-29:00)
Esta hipótese faz ainda sentido, porque o equipamento espacial não seria porque os nazis estivessem naquele momento interessados em viagens espaciais, mas porque tinham que seguir o rumo das linhas magnéticas, que estava para além da atmosfera terrestre, sendo necessário o respectivo capacete hermético. 
Em resumo, o aparelho tinha um dispositivo electromagnético, que funcionava especialmente bem próximo dos pólos. Electricamente era gerado um campo magnético em que a parte inferior do disco ficava com carga em oposição à do pólo terrestre. Isso catapultava-o para o espaço, pela linha magnética, indo cair no pólo oposto... 
Partindo da Nova Suévia, não seria de Calisto ao contrário Pólo, seria o oposto, do Austro ao contrário Pólo. Justificava-se o interesse da base antárctica, porque colheria de surpresa os inimigos pelo lado do pólo norte, com a base colocada no pólo sul.
E, como temia o Almirante Byrd, poderiam fazer esse percurso, em órbita, a uma velocidade incrível. 
Talvez não seja por acaso que os avistamentos ocorriam especialmente em zonas mais setentrionais, ou em zonas mais meridionais, ou seja, onde pudessem mais facilmente usar a repulsão magnética, contra o campo terrestre.
Não é a única explicação, mas supondo que a informação que "anda por aí" tem algum substrato verdadeiro, parece-me conjugar as diferentes informações numa coisa com algum sentido, que não exija ET's, portais, ou a hipótese da Terra Oca.

Não deixa de ser curioso ainda que João de Lisboa, uma das principais fontes, nos mapas que usei há 7 anos atrás, tenha publicado o Tratado da Agulha de Marear, onde era apresentada a primeira explicação consistente do uso das variações do magnetismo terrestre na navegação... ou ainda que Bartolomeu de Gusmão argumentasse que o seu balão usava o magnetismo terrestre, e que ao mesmo tempo Alexandre de Gusmão sugerisse que a sua Passarola poderia ser usada para navegar nos Pólos.
Ou seja, não é de excluir que houvesse uma ideia antiga, talvez ligada às Vimanas (que a sociedade nazi VRIL estudou, nas suas pesquisas esotéricas do hinduísmo e arianismo), que preconizasse o uso do campo magnético terrestre como forma de realizar viagens.

domingo, 11 de dezembro de 2016

de Calisto ao contrário Pólo

A propósito da Nova Suévia (NeuSchwabenLand) a província inventada pelos nazis na Antárctida, (de que falei no blog odemaia, no contexto as expedições do Almirante Richard Byrd), convém notar que esse território se encontra praticamente ao sul de África.
Mais precisamente, encontra-se a 69º ou 70º de latitude sul, lembrando que o Cabo da Boa Esperança está a 35º S. Ou seja, a viagem para sul, de São Tomé ao Cabo da Boa Esperança, teria a mesma extensão de latitude, do que uma viagem desse cabo até às paragens antárcticas da Nova Suévia.
A questão remanescente é muito simples...
... teriam tido os navegadores portugueses a capacidade de fazer a viagem para sul, atingindo a Antárctida, no mesmo ponto onde os nazis desembarcaram em 1938-39?

Como não há registo, e o consenso será que não, "porque sim", inventando razões com o mar alto, o clima frígido, etc, vamos contextualizar.
Falamos de uma viagem de 35º para sul. Os espanhóis tiveram carreiras regulares entre as Filipinas e o México, ao longo do Pacífico, sem escalas, que correspondiam a 130º. Isto para não falar em Fernão de Magalhães, que terá ido do Sul do Chile até às Filipinas, numa distância muito maior, e também sem escalas (reconhecidas). Portanto estamos a falar de extensões 4 a 6 vezes superiores, em mar alto, sem escalas, e onde pelo menos no caso de Magalhães, não podemos dizer que não tivesse experimentado o frio antárctico.
Todas as dificuldades de orientação no imenso Pacífico parecem desaparecer para Fernão de Magalhães, como que por magia. E se no Oceano Atlântico ele parece obrigado a seguir a linha da costa argentina até ao Estreito de seu nome, depois a viagem (muitíssimo mais complicada) ao longo do Pacífico, não tem orientação costeira, mas parece ter sido um passeio no parque, que ninguém comenta. Ora o mais natural seria seguir na direcção da Nova Zelândia, que ficaria a 110º de diferença em longitude (com menor distância do que o grau equatorial), ou da Austrália, caso soubesse da sua existência, ou então na direcção da Nova Guiné. Seja como for, durante o Séc. XVI houve uma extensa terra a sul, chamada Terra Magallanica.

Porém, interessa-nos aqui apenas tornar evidente que nada tinha de "dificuldade assombrosa" atingir a costa Antárctica, quando se navegava pela Patagónia, ou pela Terra do Fogo, e depois se faziam grandes extensões no Pacífico, sem linha de costa, nem escalas.

Já sabemos que não é politicamente correcto citar Ramusio (1560) que, conforme já referimos dizia o seguinte (traduzindo):
... [o Rei de Portugal] não quer que saiba nem esta nem muitas outras coisas. E sobretudo, é proibido navegar para além do Cabo da Boa Esperança, em linha direita para o Pólo Antárctico, onde é opinião expressa de todos os pilotos portugueses que se vê um grandíssimo continente de terra firme, o qual corre nascente e poente, sobre o Pólo Antárctico. E dizem que doutra vez um excelente homem florentino, dito Amerigo Vespuccio, com certos barcos do dito Rei a encontrou e correu por um grande espaço, mas que depois foi proibido que algum aí possa andar.
Portanto, só restam dúvidas para quem as quer ter.
Conforme dizia Ramusio, os portugueses seguiram a linha da costa da Antárctida, e cartografaram-lhe o contorno. Depois, por causa das insanas proibições, começaram na confusão habitual de misturar o continente austral - Austrália, com o continente mesmo austral - Antárctida.
Vespúcio deu com a língua nos dentes, e falou demais, e em vez de ficar com fama ligada à Antárctida (o continente não cartografado pelos Antigos), ficou com fama ligada à América (que supostamente, também não era conhecida dos Antigos... pois!)

Agora, como o continente antárctico aparece à navegação com enormes paredes glaciares, com mais de 10 metros de altura, nalguns casos... a sua exploração interna foi sendo adiada, e os portugueses nem seriam os melhores para paragens geladas. Porém convém notar que até ao Séc. XVI a temperatura era mais alta, e não haveria provavelmente o mesmo contorno da costa, podendo haver até algumas partes "verdes" no continente antárctico.

Qual a razão da proibição?
Para os que não acreditam nas proibições, e acham que a história vendida, é uma História séria, teriam aqui mais um problema sério, em explicar «navegações proibidas», mas o assunto terá uma explicação simples... simplesmente a Antárctida (tal como a Austrália), teriam vistas, que não era bom serem vistas. Ou seja, vestígios claros de presença antiga naquelas paragens!
Pior, no caso da Antárctida, poderia haver mesmo pessoas congeladas, em excelente estado de preservação, tal como se poderá ainda hoje encontrar algum desgraçado explorador português congelado na Antárctida. Nesse sentido, todo o degelo, "todo o aquecimento global" aparece como muito incomodativo, porque nem sempre é fácil conter todo o pessoal desbocado, que veja alguma coisa que não devia ter visto.

Damos como exemplo, uma notícia que apareceu este ano (26 Julho 2016):
Ou seja, uma suposta equipa do Smithsonian teria descoberto três crânios enlongados na Antárctida.... mas com efeito a notícia apareceu mais vezes, havendo questões sobre a existência do investigador Damian Waters, que é mencionado no vídeo, podendo o vídeo ser uma simples fraude... ou não.

Voltando ao relato de Ramusio de 1560, lembramos que D. Sebastião ainda não tinha começado o seu reinado, e se há menino que poderia ter vontade de completar a exploração cartográfica (que Pedro Nunes tinha classificado como "nem sequer deixar de fora um rochedo, um ilhéu, ou baixio") seria "o desejado".
Como vimos sobre a Passarola o projecto de visitar "as regiões mais vizinhas dos Pólos", continuava bem presente no reinado de D. João V, pelo que é natural que D. Sebastião não tivesse conseguido a proeza, ou não conseguisse tê-lo feito saber às gerações posteriores.

Terminamos com uma referência ao décimo canto dos Lusíadas, onde se fala do pólo sul.
Camões coloca Tétis a revelar ao Gama o futuro passado, num presente ainda mais passado, dizendo:

» Vês a grande terra que, contínua, vai de Calisto ao seu contrário pólo?
» Que soberba fará a luzente mina, do metal, que a cor tem do louro Apolo?
» Castela vossa amiga, será digna de lançar-lhe o colar ao rude colo
» Várias províncias tem de várias gentes, em ritos e costumes diferentes

... que é como quem diz: - Vês a América, que continuamente vai do pólo norte ao pólo sul? - a soberba humana será acesa pela sua Mina, de ouro. Castela irá lançar-lhe uma coleira ao rude pescoço, aos vários povos, rituais e costumes diferentes.

» Mas que onde mais se alarga ali tereis parte também com pau vermelho nota
» De Santa Cruz o nome lhe poreis, descobri-la-á a primeira vossa frota 
» Ao longo desta costa que tereis, irá buscando a parte mais remota
» O Magalhães, no feito com verdade português, porém não na lealdade

... e Tétis continua: - Ficareis com Santa (ou Vera) Cruz, na parte onde a América mais se alarga, com o seu pau brasil, e ao longo desta vossa costa, vereis o Magalhães buscando a parte mais remota, um feito português, excepto na lealdade.

» Desde passar a via mais que meia, que ao Antartico pólo vai da linha
» Duma estatura quase Giganteia, homens verá de terra ali vizinha
» E mais adiante o estreito, que se arreia, com nome dele agora, o qual caminha
» Para outro mar e terra, que fica onde com suas frias asas o Austro a esconde


Passando mais de metade (45º) do caminho que do Equador vai ao Pólo Sul, verá os Patagões, quase gigantes, E mais abaixo, o Estreito de Magalhães, que leva a outro mar (Pacífico) e terra (Austrália? Antárctica?), que com frias asas o Austro (ou Austríaco) a esconde.

______________
Nota (12.12.2016) 
- Foi corrigido o texto (parte relativa à equipa ser do Smithsonian não é fiável).
- Uma planta feita pelos alemães, onde se vêem os postos nazis em NeuSchwabenLand (a direcção do pólo sul é para cima).
planta nazi da "Nova Suévia" (território antárctico entre longitude 5ºW e 25ºE) (ampliar) 

- Outros links, fornecidos por Bate-n-avó, com material de interesse 
(nomeadamente sobre o livro "Dos Açores à Antárctida" de Rainer Dahenhardt):
- Links adicionais (por J. Manuel)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Restauração da Restauração

De um dicionário:
flipar: Perder a calma ou o juízo (ex.: o sujeito flipou).
... e é atribuído com origem inglesa de flip (virar, saltar).
Que os portugueses podem ter flipado com a viragem governativa que ocorreu em 1580 não será uma novidade, e temos uns certos Filipes relacionados com o assunto, começando com este:
Filipe II de Espanha, o primeiro dos três flips que nos fliparam.
Já falei abundantemente sobre a perda de independência, e não vou repetir o assunto.
Uma das marcas da anterior governação foi um ataque à Restauração... curiosamente em dois aspectos diferentes - o serviço de restauração teve imposto acrescido, e o feriado da Restauração foi cortado do calendário. Depois, de o novo governo restaurar o anterior imposto da restauração, finalmente foi hoje restaurado o feriado da Restauração. Já não era sem tempo!

Poderíamos supor que a palavra inglesa "flip" seria antiga, de raiz germânica, ou algo semelhante. Porém, não é bem assim... indo ao dicionário de etimologia inglesa, vemos que a origem desta "viragem" está apontada para 1590-1610, altura em que Filipe II reinava, e tinha forma mais antiga como "fillip" ou ainda como "fyllippe".
flip: (1590s) "to fillip, to toss with the thumb," imitative, or perhaps a thinned form of flap, or else a contraction of fillip (q.v.), which also is held to be imitative. Meaning "toss as though with the thumb" is from 1610s. Meaning "to flip a coin" (to decide something) is by 1879. (...)
fillip: (mid-15c.) philippen "to flip something with the fingers, snap the fingers," possibly of imitative origin. As a noun, from 1520s, fyllippe.
Um problema inglês com Filipe II, ainda antes da ameaça de invasão pelo ataque da Armada Invencível, tinha sido desde logo o casamento em 1554 com a rainha inglesa Maria Tudor, famosa como "Bloody Mary", pelo catolicismo fervoroso e perseguição aos protestantes ingleses.
Este casamento é ilustrado na moeda seguinte:
Moeda inglesa de 1 xelim de 1554, comemorando Filipe II casado com Maria Tudor, rainha inglesa.
Portanto, bastava virar a moeda para se entender que a Inglaterra poderia passar a ser incluída num dos vastos domínios que Filipe II, ou um sucessor de ambos, poderiam herdar. Em 1554 Filipe ainda não é Imperador, só será com a abdicação do pai, Carlos V, em 1556.
No entanto, quando Maria Tudor morre em 1558, sem filhos, a sucessão inglesa cairá em Isabel I, com quem Filipe II tentará ainda casar, mas sem sucesso, começando depois as hostilidades entre Inglaterra e Espanha. 

No espaço de 60 anos em que Portugal fica sob domínio Filipino, Lisboa nunca consegue tornar-se na capital do alargado império espanhol, como era pretensão da maioria da sua nobreza. O império espanhol é atacado de forma decisiva pela Guerra dos Trinta Anos. Quando atinge a sua máxima extensão é também quando entrará em rápido declínio. O casamento por interesse e sem interesse, das duas potências ibéricas, provocou um divórcio irremediável. Nunca mais foram completamente independentes, suplantadas pela crescente força francesa, inglesa, e até holandesa.
A Holanda que não existia formalmente em 1580, passou a ser uma ameaça em 1640 a todo o império português, procurando substituir-se aos portugueses em todas as colónias.
Mas o caso talvez mais significativo é o da Espanha, passados dois séculos. No Séc. XIX, quando as potências europeias partilham o mundo colonial, a anterior grande Espanha estava reduzida praticamente ao seu território europeu, após a libertação colonial de Bolivar e San Martin.

Após 17 anos da Guerra da Restauração, em 13 de Fevereiro de 1668, a Espanha finalmente abdica da tentativa de recuperar o território português. Terá sido a última vez que Portugal, com o Marquês de Marialva, teve um exército capaz de defender um estado independente.
Marquês de Marialva, D. António Luís de Meneses

A independência de Portugal será, depois de Afonso VI, e especialmente depois de D. João V, uma dependência da Inglaterra, e toda a conjuntura maçónica irá reduzir as potências ibéricas à sua impotência, perante o crescimento das novas potências, especialmente inglesa e francesa (e após Napoleão, a alemã).

Ter a visita de Filipe VI de Espanha na véspera da restauração do feriado da Restauração, não deixa de ser caricato, quando ambos os países reduziram a sua independência, a uma quase total dependência das políticas económicas da União Europeia.

domingo, 27 de novembro de 2016

Atapuerca, uma acta pouco limpa

Para o grandioso processo, da evolução humana, existe em Espanha, perto de Burgos, um local - Atapuerca - que poderá ser considerado como uma Acta de evolução humana, concatenando ossadas, quase continuamente, desde remotos tempos - anteriores a Neandertais, datados de ~ um milhão de anos, até à época medieval. 
Sierra de Atapuerca - escavações arqueológicas, onde foram encontradas as mais antigas ossadas europeias.
Foi neste local que se definiu uma nova espécie humana, denominado Homo Antecessor, considerado como ancestral do Homem de Neandertal, ou do Homo Heidelbergensis (até então considerado o mais antigo na Europa).

O aspecto menos limpo dos achados relativos a estes hominídeos primitivos, é que terão sido encontradas provas concludentes de que praticavam canibalismo, especialmente de crianças e jovens, e não seria algo relacionado com nenhuma "justificação" ou "necessidade"... simplesmente fazia parte da sua dieta alimentar:
Esta prática foi encontrada em mais do que um nível de ossadas, revelando que foi uma prática que perdurou durante esses tempos antigos.

Outros registos de canibalismo têm sido encontrados, relativamente a Neandertais, que mostram que houve famílias sujeitas a uma prática canibal. Algo que é habitualmente pouco mencionado, e que como é óbvio, também foi (e ainda é...) praticada pelo Homo Sapiens.
Neanderthals darkest secret - El Sidrón
(produção: Terra Mater Factual Studios)

Casos de canibalismo ocorrem entre primatas, nomeadamente orangotangos, bonobos, ou chimpanzés, eventualmente por disposição do corpo por morte, mas no caso de chimpanzés, é de notar que a maior parte da dieta alimentar consiste em macacos mais pequenos.
Portanto, não será de estranhar por completo, que primitivos hominídeos usassem a prática canibal.
Já mencionei isso, num outro postal "O Tonante (2)" (... dieta paleolítica), e não vejo como se possa excluir que a prática de domesticação animal, que depois se seguiu, não pudesse ter começado antes por uma "domesticação" interna à espécie, para fins alimentares.

Uma outra questão pré-histórica associada, será a de saber se, durante a Idade do Gelo, existiu alguma forma de escravatura instituída. Podendo ainda considerar-se que uma separação de descendência, entre escravos e não-escravos, poderia ainda ter levado à formação de subespécies ou raças aparentemente diferentes.
Os primeiros registos históricos conhecidos - por exemplo, sumérios, são registos que envolvem desde logo uma contabilização de escravos, pelo que a escravatura é muito anterior. Sendo admissível pensar que poderia ter sido uma sociedade agrícola, neolítica, a necessitar de produção baseada em escravos, o registo poderá ser bem mais antigo, e mergulhar em tradições do paleolítico.

No entanto, há aqui uma curiosidade factual.
Havendo vontade expressa de uma certa elite se destacar, cuidando que apenas fosse conservada na elite uma raça pura, ou apurada, caso fosse possível, em sinal contrário, às raças escravizadas, poderem continuar a cruzar-se entre si, então o resultado ao fim de algum tempo seria previsível.
Ou seja, a raça apurada tenderia a tornar-se infértil, e mais sujeita ao desaparecimento, do que as raças que continuavam a permitir cruzamentos indiscriminados.
Aliás, no momento em que essa raça purificada se viesse a extinguir, só restariam elementos das restantes raças, que permitiam uma maior diversidade de cruzamentos. Por exemplo, durante a Idade Média, quando as famílias reais tenderam a ser bastante elitistas nos cruzamentos, os problemas genéticos começaram a aparecer no sangue real, mostrando como a natureza não autorizava ser ultrapassada na selecção natural, por uma selecção humana, artificial.

Em conclusão, podemos considerar suspeita natural que aquilo que levou o Homo Sapiens a impor-se perante as diferentes subespécies de hominídeos terá sido uma capacidade reprodutiva muito alargada, entre subespécies muito diferentes, que terá determinado depois uma certa normalização.
E se no caso de muitos animais, uma antiga pequena mudança de aspecto terá determinado espécies completamente diferentes, isso não terá ocorrido da mesma forma no caso humano.

O que restou de tradições canibalistas, com origem pré-histórica, foi ficando reduzido a pequenas tribos isoladas, e cada vez mais isoladas, ao ponto de serem ignoradas. Não é até de excluir que algumas exigências alimentares religiosas - proibição de alimentação com carne de porco, pudessem ter origem num repúdio longínquo de qualquer cheiro que pudesse lembrar práticas de antropofagia.
Atapuerca poderá ter assim enterrado, um dos últimos processos menos limpos da evolução humana, quando a dieta alimentar não estava minimamente ligada a nenhuma dieta moral.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

dos Comentários (25) - conspiração veneziana?

Surge este texto a propósito do comentário de MBP a um outro comentário de Maria da Fonte, que coloquei nesse postal, e que de certa forma falava de uma possível "conspiração" financeira veneziana, que poderia estar ainda na origem da maçonaria internacional.

Em particular, MBP destacou um vídeo:
«Gostaria também de partilhar as fontes que recentemente tenho usado para analisar o enquadramento deste período (mas não só) que se resumem ao trabalho realizado pela fundação La Rouche. Deste enorme trabalho destaco para já este vídeo do historiador Webster Tarpley, e que teve ressonância na minha pessoa pelo facto de colocar a Epistemologia como alvo prioritário do "ataque" à verdade, coisa que o Jung também defendia mas de outra forma.» 
"The Venetian Conspiracy" by Webster Tarpley

Como não é muito habitual ver um trabalho de fundo sobre os bastidores, do que é publicitado e divulgado como verdades inquestionáveis, questionando o trabalho científico de dois "monstros consagrados da ciência", como foram Galileu e Newton, é especialmente interessante ver Webster Tarpley reduzir estas duas figuras a papéis menores, de simples agentes a soldo dos conspiradores venezianos. Mais notável, dá nomes, segue os registos, e aponta culpados para essa conspiração veneziana que transferir o poder para o Império Britânico, então em processo de formação, com a rainha Isabel I. 
Desses vários nomes apontados, destacam-se especialmente dois - Paolo Sarpi (1552-1623), e depois Antonio Conti (1677-1749). 
Quanto a Sarpi está documentado que foi patrono de Galileu, e quanto a Conti terá defendido Newton na disputa que houve com Leibniz, mais tarde, sobre a invenção do cálculo diferencial e integral.
Mas Tarpley não fica por aqui, diz algumas coisas que eu já sabia e outras que foram novidade. Vou enumerar alguns casos, que são suficientemente elucidativos, como se não soubéssemos já de tantos outros (... que vão das máquinas a vapor, às baterias eléctricas, presentes desde a Antiguidade). 

Galileu e o Telescópio
Por exemplo, começando com Galileu, Tarpley questiona a "sua" invenção do telescópio, algo que já é aceite, pois sabe-se da existência de telescópios na Holanda em 1608, em pelo menos três casos (um Hans Lippershey, outro Zacharias Janssen, fabricantes de óculos em Middelburg, e ainda de Jacob Metius of Alkmaar). No entanto, para preservar o mito diz-se que Galileu melhorou os aparelhos holandeses, com o propósito original de observar os planetas.
No entanto, Tarpley aponta Leonardo da Vinci como já tendo usado um telescópio para estudar planetas, como aliás podemos ler aqui:
Isaac Newton developed the design for his reflecting telescope in 1668. Newton's idea of building telescopes using mirrors instead of lenses was not new. The magnifying effect of concave mirrors had been put to practical use as reading aids by medieval monks centuries before (c. 1300). Leonardo da Vinci had used concave mirrors to study the planets more than a century earlier (1513). 
A referência é a Newton e não a Galileu, porque se fala do telescópio reflector, que é normalmente creditado a Newton, 60 anos mais tarde, mas que é aqui atribuído a Leonardo da Vinci, um século antes de Galileu, e 155 anos antes de Newton.
Acreditar que Leonardo da Vinci era um génio, é uma simplificação do problema... tal como Leonardo se "inspirou" em tantas coisas de Vitrúvio, é bem natural que estivesse apenas a transcrever outros tantos trabalhos "perdidos" no incêndio da Biblioteca de Alexandria. 

Não é fácil entender como foi possível a humanidade ter ficado presa durante mais de mil anos, com conhecimento encerrado em "livros proibidos", mas esta particularidade foi ilustrada por Umberto Eco no romance/filme denominado "Nome da Rosa".
Com efeito, como diz MBP, não é difícil concluir que o problema é essencialmente filosófico (ou epistemológico), como tinha dado conta o Padre Agostinho de Macedo, ao criticar a maçonaria (ver os textos "de natura deorum", que escrevi no Odemaia).
Tendo esse antecedente, depois as "descobertas", ou melhor "redescobertas", foram convenientemente creditadas a alguns "génios", que pouco mais foram do que serviçais úteis, para tentar libertar o conhecimento guardado pelo Vaticano, durante milénios.

Não haverá muitas dúvidas que, dada a qualidade da produção vidreira romana, seria muito estranho que os Romanos não tivessem telescópios de grande qualidade. Ou, como diria Lewis Carroll, de forma enigmática, na sua Alice no País das Maravilhas: 
«I must be shutting up like a telescope.»
(Devo-me estar a calar/fechar como um telescópio.)
... e foi isso que se terá feito, toda a gente se calou, como se calaram os telescópios durante milénios.

A gravidade do problema
Tarpley é especialmente incisivo na crítica a Newton, sendo sabido e reconhecido que o seu interesse especial era pela Alquimia - o que leva Tarpley a classifícá-lo como herdeiro da Magia Negra dos antigos magos da Caldeia ou Babilónia. 
Tal como Copérnico e Galileu, ao defender o heliocentrismo, não estavam a dizer nada que não tivesse sido dito por Aristarco de Samos, quase dois milénios antes, e que Pedro Nunes terá classificado de "irrelevante" para a Geografia (conforme é); também a Newton a única maçã que lhe terá caído na cabeça terá sido uma maçã dada por maçãos. Que Kepler tinha enunciado as leis do movimento planetário, e a diferença é pequena, não há grande dúvida... mas se Kepler se socorreu das observações cuidadas de Tycho Brahe, essas observações seriam disponíveis desde a Antiguidade, pelo mesmo desde o tempo dos Caldeus.
As considerações sobre a queda dos graves, começadas por Galileu, eram especialmente graves porque a gravidade era ter o assunto arrumado e esquecido, ainda que muito antes Duarte Pacheco Pereira faça considerações similares a Galileu.

Integrar e diferenciar
Outra polémica a que Tarpley dá destaque é a da disputa de Newton com Leibniz, que terá sido Antonio Conti a resolver favoravelmente a Newton.
Convém lembrar a este propósito que o cálculo matemático ficou durante dois milénios preso a construções com régua e compasso... ainda que outras abordagens tivessem sido propostas, nomeadamente por Arquimedes, ou pelo seu antecessor Eudoxo. Se essa linha tivesse sido seguida então pelos gregos, todo o cálculo redescoberto por Descartes, Leibniz e Newton, pertenceria à Antiguidade. 
No entanto, para diferenciar a malta, foram colocados problemas "milenares", como a famosa "quadratura do círculo", cujo interesse era muito mais causar uma dificuldade excessiva, com interesse limitado. Esse problema só foi resolvido no Séc. XIX, e estou convencido que demorou mesmo muito tempo a ser resolvido... Não sei se foram problemas resolvidos pelos próprios a que são creditados, ou foram resolvidos algum tempo antes por outros anónimos, caídos convenientemente no esquecimento.  
A resolução desses problemas milenares corresponde ainda a um desenvolvimento ímpar da tecnologia a nível mundial. Subitamente, o que estava escondido apareceu, umas coisas atrás das outras, sendo particularmente notável as décadas de transição antes e após 1900. A paragem desse desenvolvimento terá ocorrido com a 1ª Guerra Mundial, e especialmente com a 2ª Guerra Mundial, dado que a Alemanha não respeitou a paragem, e continuou a libertar o "génio" da garrafa, contrariando outras ordens... integrando não apenas o génio, mas também se diferenciando pelo mau génio!
Portanto, também me parece que, no máximo, Leibniz estaria a repisar descobertas antigas, mesmo que não o soubesse. Ou seja, se Tarpley salienta a fraude de Newton, não me parece que Leibniz esteja isento de suspeição similar. Convém ainda notar que há conclusões que Pedro Nunes apresenta, e que muito dificilmente seriam deduzíveis sem conhecimento do tal cálculo, que só seria descoberto no século seguinte.

A conexão Veneziana
A relação deste assunto com uma conexão veneziana, que eu saiba, é mérito de Tarpley, dado que estabeleceu até quais os personagens venezianos que serviram de promotores, nomeadamente de promotores da ascendência do Império britânico. Por outro lado, também pelo lado de Veneza temos todo um historial da banca, ligado a acontecimentos chave, que a Maria da Fonte relatou. Portanto, essa conexão poderá estabelecer-se.

Mas podemos ir um pouco mais longe, notando que a região do Veneto, era anteriormente conhecida como Gália Cisalpina, onde Celtas se impuseram a Etruscos. E esta ligação aos Venetos, é tanto mais particular, já que os Venetos habitavam ainda a região da Normandia, e segundo Júlio César, eram hábeis navegadores (ver Conan-o-bretão). Não é ainda de excluir que estes mesmos Venetos não fossem mais que uma remniscência fenícia, resultado de navegações ao longo da costa atlântica e mediterrânica.
Essa é a parte mais antiga, de conexão mais dúbia, mas já é mais claro que no decurso das invasões bárbaras, e a pretensa queda de Roma, uma variante do poder cortesão romano tivesse feito de Veneza um ponto estratégico para combater uma Roma que seria o centro de um obscurantismo cristão. As frequentes disputas internas em Itália pelo controlo papal, entre Génova e Veneza, foram outro desses aspectos.

No entanto, nesta conexão não há propriamente uma ligação que se prenda à região de Veneza. Ou seja, não se exporta facilmente um controlo com base numa cidade estrangeira. Por isso, se outros reinos acabaram por adoptar essa influência veneziana, não foi por comungarem de ideias para uma pátria em Veneza. O que se parece encontrar é um ponto comum de filosofia/região, que usou Veneza como posto de influência, mas terá origem noutro lugar.

Aditamento (18/11/2016):
Coloco nos comentários um texto integral de Webster Tarpley, que aborda os mesmos assuntos, e cujo PDF pode ser lido aqui: Schiller Institute (Archive, 1995).

terça-feira, 1 de novembro de 2016

dos Comentários (24) - abalos

Na História Universal dos Terramotos de Joaquim José Moreira de Mendonça... obra de 1758, cujo título completo é:

História Universal dos Terramotos que tem havido no mundo, de que há notícia, desde a sua Criação até ao Século Presente: com uma narração individual do Terramoto do 1º de Novembro de 1755, e notícia verdadeira dos seus efeitos em Lisboa, todo Portugal, Algarves, e mais partes de Europa, África, e América, aonde se estendeu: e uma dissertação física sobre as causas gerais dos terramotos, seus efeitos, diferenças e prognósticos, e as particularidades do último.

Mendonça, para além de descrever parte do que se tinha passado em 1755, vai buscar uma extensa lista de ocorrências. Se não estava já compilado, o trabalho seria enorme, mesmo para os 2 ou 3 anos que demorou a escrever a obra, após o sismo de 1755.

Ora, já falámos abundantemente do golpe maçónico, engendrado pelo Marquês de Pombal, na ocasião do sismo, dos fogos que consumiam a cidade, perante uma inoperância total, e presumida propositada, bem como das notícias de um maremoto, que verdadeiramente teria ocorrido no grande sismo de 1531, altura em que se construiu o Bairro Alto. O mesmo sismo de de 26 de Janeiro de 1531 que terá servido descrições falseadas de 1755, ao ponto de se ter ocultado da memória o registo de 1531 até reaparecer em documentação trazida a lume na revolução republicana. Trazida a lume... é a expressão quase certa, porque da mesma forma que foi trazida, voltou a ser "queimada", e ainda hoje o sismo de 1531 é ensombrado pelas descrições convenientes transportadas para o de 1755. 
Porque, só tolos, académicos crédulos, ou coniventes, podem recusar que o Bairro Alto tinha já o famoso planeamento em quadrícula, e que o natural em caso de maremoto seria a população habitar um "bairro alto", e não insistir em habitar a "baixa pombalina".   

A propósito dos sismos em Itália, que depois de Áquila voltaram a ocorrer em Amatrice, e agora de novo, Olinda sinalizou-nos então por email, a notícia de um sismo em 382 d.C. que teria submergido algumas ilhas ao largo do Cabo de S. Vicente.

Mendonça refere esse sismo da seguinte forma (página 26):
382 d.C.  Neste ano houve um Terramoto por quase toda a orbe, no qual padeceram muito as terras marítimas de Portugal,. Subverteram-se ilhas, de que ainda ao presente aparecem algumas eminências defronte do Cabo de S. Vicente. Laymundo (Livro 6), segundo Bernardo de Brito, se conforma muito com o que refere Eutropio. Talvez, que fosse nesta ocasião que desapareceu a Ilha Eritreia que esteve na Costa da Lusitânia, segundo Pompónio Mela (Livro 3) e outros.
... e no blogue Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo, podemos ler um extracto de um livro de Luis Mendes Victor, sob o título "Sismologia e a dinâmica planetária", que acrescenta:
A existência de ilhas ao largo de S. Vicente é assinalada por Estrabão nos seguintes termos: o litoral adjacente ao promontório sagrado (Cabo de S. Vicente) forma o começo do lado ocidental da Ibéria até à boca do Tejo e o começo do lado meridional até à foz de outro rio chamado Anas (Guadiana)... Este cabo (promontório Sagrado) marca o extremo ocidente não só da Europa, mas de toda a terra habitada... Artimidoro, que diz ter estado naquele sítio, compara-o na forma de um navio; segundo ele, o que ainda mais faz lembrar um navio é a proximidade das três ilhotas de tal modo colocadas, que uma figura o esporão, e as outras duas com o duplo porto assaz considerável que formam, figuram epótides do navio. São estas as ilhas que, segundo Eutrópio, desapareceram em consequência do sismo e maremoto. No que se refere à ilha Eritreia que frei Bernardo Brito conjectura que tenha desaparecido por ocasião deste terramoto, não pode ser localizada com precisão, pois parece ter havido mais do que uma com o mesmo nome. (Moreira, 1991)
Como referi então, a coisa que mais se aproxima com possíveis ilhas próximo do Cabo de S. Vicente será o Banco de Gorringe (mapa de detalhe)... sendo que há outros bancos que meteram água em negócios submersos, dada tendência a afundar as poupanças dos contribuintes.  
Banco de Gorringe, imagem com uma raia eléctrica.
Como curiosidade adicional, Mendonça refere igualmente um grande sismo em 33 d.C, dizendo o seguinte:
33 d.C. O Terramoto sucedido na morte de Cristo, foi o maior, que tem experimentado o Mundo. Foi sentido em todo o Globo terráqueo. Ainda que Orósio, seguindo Plínio (Livro 2, cap. 84) pretende que fosse neste a destruição referida das cidades de Ásia, Tácito e Dion põem aquela fatalidade no consulado de Celio Rufo, e Pompónio Flaco, que foi no ano 20 d.C., segundo Eusébio no seu Chronicon. Neste violentíssimo terramoto, diz Santo Agostinho, que foram subvertidas onze cidades na Trácia. Também dizem que se abriram o monte Alvernia na Toscana, e o promontório de Gaeta em Nápoles. É muito provável que no mesmo terramoto se precipitou no mar uma parte da cidade de Tyndarida. Desta fatalidade escreve Plínio, atribuindo-a só às águas, que tinham cavado o monte em que estava fundada. Laymundo diz que foi muito formidável em Portugal, porque se mostravam rochas abertas desde aquele tempo. 
Como não me ocupei dos diversos relatos, e apenas fiz referência a alguns terramotos listados após a fundação da nacionalidade, junto agora os outros terramotos listados por Mendonça, e que afectaram território nacional.

Começa o relato de um sismo que teria dado origem ao mito grego do Dilúvio de Ogiges, e do Deucalião, e que teria ocorrido em 1815 a.C. Sobre Espanha começa por dar conta da grande seca, ocorrida cerca de 1030 a.C, e que poderia ter durado 26 anos, afectando menos a zona da Galiza, Astúrias e Cantábria. Adiciona que em 880 a.C. teria ocorrido um grande incêndio dos Pirinéus, tendo chegado ao ponto de fundir metais. Mas o primeiro registo que dá em Espanha é de um terramoto ocorrido cerca de 500 a.C. que abrira rochas e descobrira metais, e antes disso tem o cuidado de dizer (pág. 8):
Das Berlengas, ilhas e rochedos, fronteiros à Costa de Portugal, há tradição que foram Terra Firme deste Reino. Algum dos antigos Terramotos fez baixar a terra na parte, que cobriu o mar, como sucedeu noutras regiões do mundo. É muito provável que estas Ilhas e as chamadas Strinia, e Ophiusa, que ainda existiam defronte do Cabo de Espichel, quando Hamilcon veio a Espanha, e depois se submergiram, foram as famosas Ilhas Fortunadaas, e a dos Deuses, que celebraram tanto os Antigos, entre as quais foi muito conhecida a Erithia, Ao erudito Marinho pareceu, que todas estas ilhas foram antes Costas de Portugal, e que separadas por algum terramoto foram depois de muito séculos de existência, ilhas submergidas por outro. O que parece sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente. O promontório chamado dos geógrafos antigos de Magnum é hoje pouco metido ao mar, para merecer por antonomasia, o nome de grande. Devemos supor com Marinho que o mar roubou dele muita terra. 
Se as ilhas Strinia e Ofiúsa eram vistas ao tempo de Hamilcon, será talvez nos registos dos terramotos de 245 a.C. e de 216 a.C., que afligiram a Espanha, ou ainda no grande terramoto em 60 a.C, que se poderá ter alterado a situação, dizendo a este propósito "o mar excedendo os seus ordinários limites cobriu muitas terras (...) a gente se retirou a habitar campos e montanhas". Não era ainda tempo do Marquês que conseguia convencer o pessoal a habitar a Baixa, apesar do grande maremoto...
Ainda que tenhamos que dar o devido desconto a estes relatos mais antigos, normalmente há aqui muita névoa da época, que teria também uma alguma sinalização de faroleiro.
Numa parte parece claro que Mendonça estava certo - "sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente", e diríamos mais, entre 30 a 60 Km ou mais para ocidente.

A razão não terão sido os terramotos, como abundantemente Mendonça refere, mas hoje já se começa a aceitar, pelas "conversas do clima", que durante a Idade do Gelo, a extensão territorial era muito maior, em particular fazendo entrar a Costa ocidental europeia no Oceano Atântico.

Foi ficando sempre na população alguns mitos de ilhas perdidas no tempo, submergidas por fenómenos naturais, desde a submersa Atlântida até à perdida Avalon, ou ainda as Hespéridas, dos pomos de ouro, confundidas talvez com as Caraíbas.
Curiosamente em português, usa-se a expressão "abalar" com o significado duplo de estremecer, ou de partir.
Como ainda não mencionei muito Avalon, cito a wikipedia sobre a etimologia do nome:
All are etymologically related to the Gaulish root *aballo- (as found in the place name Aballo/Aballone, now Avallon in Burgundy or in the Italian surname Avallone) and are derived from a Common Celtic *abal- "apple", which is related at the Proto-Indo-European level to English apple ...
Portanto, poderá haver uma raiz do nome Avalon que se relaciona com "maçãs", o que tendo em atenção que as ocidentais Hespérides tinham o moto das "maçãs de ouro", também entendidas como "laranjas", não deixa de ser curioso.
Seja por causa de um "abalo" sísmico que motivou um "abalar" para outras paragens, seja porque as maçãs caíam por abalar ou abanar a árvore, há uma diferença significativa entre maçãs que abalam, e pêros ou pêras que esperam... porque pêras, adequam-se mais às Hesperas, às Esperas, moto de D. Manuel, que juntou à Esfera, enquanto SPERA, na esfera armilar. E a seu tempo acabou a Spera e foi feita a Sphera na circum-navegação por Magalhães. As Hespérides puderam então ser associadas às ilhas ocidentais paradisíacas das Caraíbas, e tudo parecia correr bem, se não houvessem sempre novas Hesperas e Esperas a cumprir. As maçãs ligam ainda ao deus celta Abellio, identificado ao grego Apolo, afinal o deus solar, quando os pomos eram de ouro. Apolo que se ligava ao culto da Pítia, pela morte da famosa serpente. Fica assim o encobrimento, o cobre da cobra, dos cobres que cobram, e o abalo das maçãs.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Mitologia e Mintologia

Ao contrário do que se poderá pensar, a História não deve ter como primeiro intuito saber a verdade do passado, deve sim recusar a mentira que seja plasmada em qualquer contradição ou absurdo.

Pode parecer a mesma coisa, mas não é.
O exemplo mais gritante é a versão oficial da descoberta da Austrália, onde nem é preciso falar dos portugueses... Simplesmente é escrito que os holandeses declararam a descoberta da metade ocidental da ilha, levando então o nome de Nova Holanda, e esteve assim, em banho-maria, durante mais de 100 anos, até Cook ter cozinhado a descoberta da metade restante.
Se houvesse uma justificação minimamente credível para esse desinteresse, por exemplo, uma proibição de navegações, etc... poderia fazer algum sentido. Mas não, somos simplesmente levados a aceitar que os Holandeses nunca se interessaram pela parte australiana oriental... porque sim!
Importa para isso a falta de documentação, de provas, de achados, etc... e mostra como esse processo histórico, é um processo exclusivamente burocrático. Ora, foi isso que a Academia instituiu - uma história feita pela burocracia, que obviamente nada tem a ver com o que entendemos como História.

Esta História que é ensinada aos petizes está assim cheia de contradições, absurdos, inconsistências, mas passa por reflectir uma realidade passada, que é apenas uma ficção burocrática conveniente, porque é essa a documentação disponibilizada.
Desde o início que pensámos em explicações alternativas, tendo em atenção o reequilíbrio de poderes na Europa Ocidental, com a derrota ibérica na Guerra dos Trinta Anos, o que levou a um reescrever da história. O mais natural é que os territórios por declarar estivessem por definir entre os novos competidores "autorizados" - especialmente França e Inglaterra. Com a futura prevalência inglesa, pela vitória na Guerra dos Sete Anos, e a derrota final de Napoleão, no Séc. XIX foi instituída essa versão oficial, que dava aos ingleses o mérito oficial de descobrirem o que faltava declarar no Oceano Pacífico - não só a Austrália e Nova Zelândia, mas também toda a Costa Ocidental Americana, acima da Califórnia.
Sim, o ridículo e absurdo foi tão grande, que ao contrário dos mapas do Séc. XVI, os mapas dos dois séculos seguintes chegaram a apresentar a Califórnia como ilha. Mesmo sendo oficialmente desconhecida, a California manteve os nomes hispânicos, de Los Angeles a San Francisco.

Repare-se que não estamos a falar de navegações complicadas - essas eram feitas inúmeras vezes todos anos, das Filipinas ao México, cruzando o enorme Pacífico, em carreiras regulares, pelo menos desde 1550... e isso está bem documentado.
Estamos a falar do simples reconhecimento costeiro, acima da Califórnia (inclusive), que impediu um desenho fidedigno da América, durante os 200 anos seguintes. Não precisaria de barcos... poderia fazer-se caminhando a pé, pela costa, num percurso que demoraria menos de um ano. Certamente que foi feito, mas sobre isso não existe qualquer documentação...

A ausência de documentação não é um problema do passado, é ainda um problema do presente, porque só a teimosia imbecil de não querer reconhecer o óbvio, insiste em inventar histórias para ocultar uma História verosímil.

E o que é uma História verosímil?
Ora, o único caminho para a verdade é a recusa da mentira, porque ao recusar todas as contradições, todas as mentiras, o que resta é inevitavelmente aquilo que poderemos dar como verdadeiro, até melhor hipótese. Certamente que o caminho não é dar como fidedignas documentações parciais, que fazem uma história da carochinha conveniente aos poderes instalados.
Não haveria nenhum problema com isso... se não fossem inconsistentes entre si, ou absurdas para o bom senso. Não o são tanto, quando os historiadores se centram em pequenos aspectos históricos, e normalmente ignoram, ou fazem por ignorar o contexto global.

Talvez porque os nossos antepassados tenham visto tantas vezes a História ser trucidada pelas historietas convenientes aos "vencedores", prefiram usar a Mitologia, onde a história é assumida como parcialmente ou totalmente inventada. É melhor isso do que a Mintologia, em que a mentira impera no registo histórico, fazendo-se passar por verdade.

Aliás, a diferença entre "História" e "história", é apenas ilusão académica de que ao escrever História com "H" maiúsculo, ganha maior dignidade... mesmo sendo ausente de uma credibilidade, que perdeu.
- História tornou-se num simples "Isto, ria"!
Porém, não há distinção na língua portuguesa entre histórias.
Verdadeiras, ou inventadas, todas são  "histórias", e essa é uma opção correcta.
É opção correcta, e a credibilidade da história mede-se sempre pela sua consistência.
Numa mera novela, um personagem órfão pode aparecer nos últimos episódios acompanhado dos pais... sem necessidade de justificação.
Tudo depende do critério do espectador, se é exigente ou não!
Só que a História tem um propósito auxiliar, que é servir de orientação para o futuro.
Se aceitarmos contradições e arbitrariedades na descrição do passado, mais facilmente seremos confrontado com as mesmas contradições e arbitrariedades no futuro.

Conforme vimos, as revoluções usaram apoio popular, mas não tiveram génese popular... foram na maior partes das vezes "uma encenação de mudança para manter tudo na mesma". Além disso, devido à falta de conhecimento histórico consistente, os mesmos erros são repetidos, vezes sem conta. E não será "primeiro como tragédia e depois como farsa", como terá dito Marx, quase sempre é como tragédia, ainda que nos bastidores se encene a enorme farsa.
É a falta de conhecimento e compreensão do processo histórico que permite alimentar revoltas, vinganças, e todo o tipo de animosidades, que vão mantendo a população entretida, entre ficção e realidade.
Cada indivíduo preocupa-se mais com o número de chicotadas que leva, relativamente aos vizinhos, e assim estão longe de questionar tão pouco a escravatura a que todos estão sujeitos.

Por exemplo, em 1930, no meio de uma recessão enorme, em que a economia parecia definhar, Keynes, que fez bastantes previsões correctas, fez uma previsão completamente incorrecta:


Keynes, em 1930 previu
15 horas como semana laboral do final do Séc. XX 

No entanto, quando até o MRPP, esse partido de perigosos revolucionários, pede em outdoors a passagem da semana de 40 horas para a semana de 35 horas (e muitos acham isso irresponsável), vemos como os escravos se habituaram às chicotadas e sentem falta dessa dedicação que os capatazes colocam nas suas costas.
A previsão de Keynes estava absolutamente correcta, tendo em atenção a conquista das 40 horas semanais, ainda no Séc. XIX, nos EUA.
Depois tudo foi regressão... ou talvez como veio a dizer:
Capitalism is the astounding belief that the most wickedest of men will do the most wickedest of things for the greatest good of everyone

De facto, num desregrado sistema capitalista, é natural que vençam os mais perversos, fazendo as coisas mais perversas, e não será certamente para benefício da humanidade, mas exclusivamente para benefício local, próprio. Mas não é só isso...
O artigo do The Guardian culpa os workhaolics... ou seja, as pessoas preferem receber mais, trabalhando mais, do que usufruir do descanso. Esse é um lado da questão, mas a principal razão parece-me ser outra - o problema principal é que os capatazes não controlariam tão bem os escravos, dando-lhes descanso. 
Porque o objectivo do escravo não é partir pedra, é estar ocupado a partir pedra... para nem sequer ter tempo para pensar em revoltar-se da sua condição. E como os capatazes não querem que a pedreira seja uma colónia de férias, de trabalho leve, nem saberiam como controlar tanto escravo, sem os pôr a trabalhar, reduzem-se à sua ignorância, e insistem na única receita que conhecem... a do chicote, que funciona, e onde são bons. Basta eleger o melhor escravo pedreiro, colocar o seu nome em parangonas na pedreira, todos os outros vão invejar aquele modelo de escravo, que poderá até ser um dia capataz.
Tudo o que há a fazer é culpar os escravos preguiçosos, da falta de produção, mesmo que num terreno em anexo, longe dos olhares, a produção de pedra acumule em pirâmide... porque a produção é simplesmente dez ou vinte vezes maior que as necessidades.
E não interessa aqui saber se na pedreira, os capatazes são pedreiros livres, e os outros são escravos, porque todos acabam por ser escravos do sistema tradicional que conhecem. O que interessa mesmo aos senhores são as gemas preciosas, e por ignorância, nem capatazes, nem escravos, percebem quais elas são. Todos estão entretidos demasiadamente entre si. Os escravos não concebem um mundo sem a pedreira e as chicotadas, e o máximo que ambicionam é ter umas costas menos carregadas que os outros. Outros querem ser capatazes, e é o mais longe que conseguem ver, porque nem tão pouco puseram os olhos nos senhores, que mantêm todo o sistema. Para esses desconhecidos, é indiferente se os escravos se revoltarem e depuserem os capatazes... a única coisa que interessa é manterem-se na sombra, para não serem alvo de represálias, mesmo que sejam forçados a mudar os capatazes. 
Só que todo este sistema, que agrada ao escravo feliz, ao perverso capataz, e aos instalados senhores, baseia-se numa ilusão de realidade, reduzida à pedreira... e o mundo é muito mais que uma simples pedreira, na posse de uma meia dúzia de senhores, cheia de escravos dominados por uns tantos capatazes.
E o problema das ilusões é que são muito engraçadas, até que um dia a realidade bate à porta... e se nada aparenta prever que nada vá mudar, há umas pequenas coisas que indiciam que não será bem assim. Porque... o universo é como é, e para ser como é, precisa de ser consistente, e isso não se compadece com ilusões perenes. A pequena grande diferença é que há agora quem saiba disto... e por consequência, o universo sabe disto.