sábado, 29 de dezembro de 2018

Alvo de Maia - volume 9

Está feita a acta de 2018.
Um PDF de 393 páginas para juntar às anteriores, fazendo um total de 3303 páginas.

Alvo de Maia - Volume 9 (2018)
Para que serve isto?
- Para nada.
É apenas uma prenda que faço a mim próprio, de atar tudo num PDF, agradecendo as contribuições dos leitores, em particular do José Manuel de Oliveira, João Ribeiro e David Jorge.

Todos os volumes estão disponíveis em

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Fim da Evolução - do multicelular ao multianimal (2)

O processo de fotossíntese permite às plantas retirar energia do Sol...
... porém, na "criação", os animais foram daí excluídos.

Todos os animais? ... bom, há raras excepções.
Algumas lesmas marinhas absorvem cloroplastos de algas que ingerem, ficando capazes de realizar fotossíntese, e assim depender directamente do Sol como fonte de energia.
São casos disso:
Costasiella kuroshimae (lesma encontrada nos mares do Japão)

Pteraeolidia ianthina (lesma encontrada nos mares da Austrália)

Havendo esta possibilidade de criar animais capazes de obter energia solar, parece ideia um pouco perversa da "criação" dar aos animais um tubo digestivo como processo de alimentação.
Não terá sido tão perversa enquanto os animais se alimentaram de plantas, mas começou a sê-lo quando se começaram a alimentar uns dos outros.

Energia
Não houve nenhuma evolução objectiva quando os animais optaram por matar para extrair energia. Os maiores seres, e mais possantes, são herbívoros, como é o caso do elefante em terra, ou de baleias no mar. A chita pode ser o animal mais rápido, mas ao contrário de impalas e antílopes, são incapazes de aguentar essa velocidade de topo, mais do que um ou dois minutos. Portanto, a circunstância de animais se alimentarem de outros animais não tem propriamente uma justificação trivial.

A necessidade de energia foi outro presente evolutivo.
Há seres, como sapos ou salamandras, capazes de congelar até 6 meses uma hibernação praticamente total, e recuperam como se nada se tivesse passado. Mas, na maioria dos casos, os animais nem sequer podem tirar férias da refeição diária... comer por uma semana num dia não lhes dá uma semana de folga nas necessidades alimentares, dá-lhes apenas uma semana de fome.

Todo o movimento definido pelos indivíduos, que altera o movimento definido pelas leis naturais, é pago em energia, ao ponto da própria existência ser cobrada.
A mãe Natureza usa a energia como moeda de troca na sua economia da sobrevivência.
Todos os dias os animais pagam pela sua existência, pela energia, sendo forçados a aniquilar outros seres vivos no processo. Vendo a Natureza como modelo exemplar, como muitos gostam de ver, isto corresponderia a um chefe exigir que a sobrevivência dos seus súbditos só acontecesse se outros fossem sacrificados.

Mas a questão energética pode ser resumida a um simples ponto.
A evolução temporal determina uma sequência de acontecimentos, não dando existência a qualquer outra. O custo de ter uma configuração em favor de outras, é um preço energético.
Se não existissem seres vivos, as trocas energéticas ocorreriam sem eles, mas não teriam a complexidade que a sua luta pela sobrevivência os obrigou a definir. A opção por uma acção, ou até a escolha por nenhuma acção, provoca uma evolução material que é paga energeticamente. Se os seres vivos desistissem do jogo energético, a evolução material decorreria sem eles, porque simplesmente iriam perecer.

Ser superior
O que emerge então dos agrupamentos sociais, ou multianimais?
É-nos clara a identificação de agrupamentos celulares enquanto seres vivos bem definidos.
A individualidade dos agrupamentos sociais não se distingue de forma tão evidente.
Porém, desde o momento em que as espécies foram definidas distintamente, cada uma delas passou a poder considerar-se como um agrupamento social.


"Murmuração" - efeito conjunto de um bando de pássaros.
O efeito conjunto ultrapassa qualquer vontade ou plano individual dos pássaros.

Na prática esse agrupamento social reduzia-se na maioria das vezes a um agrupamento familiar, e nessa ideia de família, de passagem de ADN de umas gerações para outras, podemos ver uma primeira tentativa de eternização. Os indivíduos teriam um tempo de vida limitado, mas atendendo à sua descendência, passava a haver uma componente secundária de prolongamento no tempo, na vida de filhos, de filhos de filhos, etc, para além da existência dos próprios.

Este aspecto de eternização, na constituição de uma entidade superior ao indivíduo, que era a família, foi uma criação natural, associada à própria evolução. Foi assim natural que os primeiros grupos sociais humanos estivessem praticamente ligados apenas por uma filiação, que era herança do próprio processo natural. Também se vê o mesmo tipo de ligação nas colónias de formigas ou abelhas, que partilham o mesmo ADN, onde os elementos podem ser encarados como extensão de uma mesma individualidade genética.

Acima deste aspecto trivial, herdado naturalmente, nos homens começou a manifestar-se a criação de outras entidades, para além da simples assinatura genética. Um desses aspectos foi a religião. Criaram-se fortes ligações, que não estavam ligadas ao ADN biológico, passando a estar mais ligadas ao ADN intelectual. Outro aspecto foi a conexão cultural ao aspecto comunitário, ao aspecto nacional. Passou a ser habitual ver indivíduos fazerem sacrifícios pelo bem comum.

É claro que uma estrutura social passou a ter uma força descomunal, que em muito ultrapassava a força dos seus indivíduos. A evolução humana caminhou no sentido de criar esses monstros sociais, capazes de impor vontades com a força organizada de muitos.
Poder-se-ia concluir que o poder se resumia muitas vezes à vontade da liderança, mas na prática esses monstros sociais ultrapassavam qualquer poder individual. O líder teria uma certa discricionariedade na sua actuação, mas como em qualquer acção de um grupo, o resultado era mais do que a soma das partes. Os elementos começam a funcionar em nome de um ideal abstracto, e já nem formulam os seus raciocínios sem atender à reacção dos outros. O líder pode ser aquele que está mais próximo da vontade do grupo, mas é totalmente incapaz de controlar toda a acção, ao ponto de ver a sua vontade menorizada, face a uma vontade maior que lhe é transmitida pelo agrupamento.

Eles
No meio de todo este processo social, começam a surgir acções que não são efectivamente responsabilidade de ninguém em particular, acabam por ser resultado da incapacidade dos indivíduos de se afirmarem. É claro que podem ser explorados por elementos nos bastidores, levando a uma designação comum de um responsável indefinido que são "eles", mas que na prática pode não ser ninguém em concreto. São mais acções que resultam de equilíbrios, conveniências, ou medos pessoais, que deixam que certos acontecimentos evoluam num sentido e não noutro.
As estruturas sociais ganham vida própria, acima dos indivíduos, tal como a estrutura celular tem uma vida própria, muito para além da vida individual de cada uma das células. Tanto poderá parecer caricato admitir que se define um individualidade numa estrutura social, para além da individualidade dos seus membros, como ignorar que o resultado das acções individuais nessa estrutura vai para além da vontade pessoal dos seus elementos. Por exemplo, o grau de violência de um grupo pode ser contagioso e levar os seus membros a atitudes que individualmente não tomariam, porque não sentiriam uma necessidade de afirmação artificial, exacerbada nas relações pessoais dúbias que se estabelecem.

É fácil antecipar que, tal como as células animais perderam a sua individualidade, para definir depois uma individualidade do seu conjunto, também as estruturas sociais possam tender para o mesmo resultado, quando para o grupo o que interessa é o resultado do conjunto, e muito menos o destino individual dos elementos no processo.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Fim da Evolução - do multicelular ao multianimal (1)

Um dos interessantes aspectos evolutivos é a abnegação individual das células animais.

Lembrando a origem celular, os animais começam por ser uma única célula, chamada ovo.
No entanto, ao fim de pouco tempo, essa única célula vai-se duplicando sucessivamente, e no final de contas, no caso humano, estima-se que o número total de células, formadas a partir da primeira, a partir do ovo, sejam 37 biliões (... em inglês "triliões"), ou seja, há 5000 vezes mais células num homem, do que a totalidade de homens na Terra.

Se tão cientes estamos da nossa individualidade, então em que célula estamos nós?
Há alguma célula no corpo humano que possa reclamar tal importância, que sem ela deixaríamos de ser? Bom, é claro que não... mas não é claro porquê.

Com efeito, sabe-se que as células vão sendo substituídas, ou morrendo, sem darmos conta do processo. O mais natural é que as moléculas do ovo inicial já nem estejam no nosso corpo. Portanto, aquele "eu" que se associa ao corpo físico, fisicamente não se associa a nada de concreto.

A única característica que os organismos multicelulares partilham entre as suas células é terem todas a mesma codificação do DNA. As células podem ser extremamente diferentes - entre um neurónio que é comprido, e uma célula de Merkel, que está na pele, na extremidade do nervo, o ponto comum é esse material genético.
No entanto, duas células de Merkel de fulanos diferentes são praticamente semelhantes, enquanto a única coisa em comum entre o neurónio e uma célula de Merkel, será a ligação pelo axónio.
Aliás o ponto chave da medicina é que praticamente de um fulano para o outro, tudo é muito semelhante no funcionamento, e se prevalecesse alguma individualidade nem a medicina exisitiria.

Do unicelular ou multicelular
A questão fundamental neste aspecto dos seres eucariotas, que vão desde amebas, unicelulares, até plantas e animais, é que as células são individualizadas por um núcleo. Simplesmente houve alguns seres eucariotas que não evoluiram em organismos complexos, permaneceram como células únicas, e não formam nenhum organismo, como é o caso das amebas. Com efeito, a maior cadeia de DNA não é a humana, é justamente a de uma ameba, a Polychaos dubium:
A ameba Polychaos dubium tem um genoma 200 vezes maior que o humano.

A questão evolutiva é perceber a vantagem da associação celular, em que as células desprezaram a sua individualidade para definir uma nova individualidade, enquanto grupo ou organismo.
Enquanto uma ameba sobrevive sozinha, uma célula num animal só sobrevive enquanto o animal viver. Não haveria especial razão para as células perecerem todas quando o animal morre, excepto que, falhando a sua completa dependência na alimentação sanguínea, perderam toda a sua capacidade de encontrar subsistência autónoma.

Uma célula animal é um ser social. Tem um lugar e uma função específica na estrutura do organismo. A sua operacionalidade é crucial para certas funções, algumas vitais. A moeda de troca nesta organização extremamente complexa é a rede sanguínea, que funciona como uma rede comercial que garante a alimentação de todas as células. Uma falha nesta alimentação leva à morte celular, os tecidos tornam-se putrefactos, e todo o organismo arrisca perecer se as suas partes não estiverem saudáveis. Ou ainda, por quebra do protocolo de obediência celular, algumas células tornam-se rebeldes, desenvolvendo uma estrutura cancerígena, em que voltam a gozar de uma liberdade temporária, até que o seu sucesso é a falência do organismo, o que finalmente redunda num completo insucesso para todas as células, obedientes ou rebeldes.

Social - do animal ao multianimal
Não é difícil perceber que há um ponto comum na associação celular com vista à formação de um organismo animal, com alguns animais que evoluiram num sentido social. Tal como as células perderam a sua individualidade em favor de um organismo superior, de que faziam parte, também formigas, térmites, abelhas ou vespas, ganharam características sociais, em que cada indivíduo passava a funcionar como uma célula, e a colónia passava ganhar características próprias de um novo organismo.

Porém, nada disso é tão significativo quanto o que veio a acontecer no caso humano.
O aspecto social ganhou uma importância tão marcante que os indivíduos, tal como as células, passaram a ter uma subsistência quase completamente dependente de uma rede comercial.
As redes comerciais começaram a funcionar como fluxos sanguíneos que alimentavam cidades e aldeias. Os indivíduos começaram a especializar-se em certas tarefas, tal como as diferentes células são especializadas em diferentes tarefas, consoante o órgão a que pertençam.

Porém, o aspecto mais curioso é que mesmo em termos de filosofia social, surgiu o comunismo, onde a individualidade era colocada bem abaixo da colectividade, como se estivesse a ser formado um organismo superior, bem mais importante que as células individuais.
Não interessa tanto perceber se essa colectividade era apenas um meio de dar uma extensão de poder aos indivíduos que detinham o poder, interessa notar que todos os mecanismos presentes na passagem da individualidade para sociabilidade, parecem ser copiados do processo que levou as células a decidirem pela pertença a organismos multicelulares.

O ponto interessante é que da estrutura multicelular surgiu uma nova entidade, um organismo que assumiu em si a individualidade perdida pelas células... da mesma forma que a individualidade perdida pelas pessoas numa sociedade comunista seria herdada pelo Estado. Poderá questionar-se então se essa nova entidade que se forma pela fé das pessoas num organismo social, ganhará ela própria uma consciência autónoma das pessoas que a constituem? Enfim, tal como a consciência humana nada parece estar ligada a qualquer "consciência celular", poderia esta evolução em agrupamento multi-animal levar a evolução a um nível superior?
Ora, é claro que não, mas não deixará de haver quem julgue de forma diferente, mesmo que nenhuma razão objectiva se ligue ao assunto.

domingo, 9 de dezembro de 2018

Colete Amarelo, festa brava, Colete Vermelho (2)


Tanto podem bovinos ir com campinos a seguir, como campinos a manobrar e os bois a acompanhar. 

Matança na Galícia
Entre Fevereiro e Março de 1864, na Galícia (Polónia), ocorreram uma quantidade impressionante de assassínios de nobres polacos, estimada em mais de 1000 vítimas, feita por camponeses descontentes com a sua condição de servidão feudal. - Este é o lado em que se vê a manada a correr descontrolada, matando as famílias nobres que os oprimiam e deixando uma quantidade impressionante de órfãos.

No outro lado - a história registou que essa manada campesina que parecia correr descontrolada, era conduzida por "campinos" do império austríaco, que pagavam aos camponeses em troco das cabeças dos nobres, conforme cena ilustrada pela figura seguinte:
Austríacos pagam aos camponeses pelas cabeças, e ficam com os órfãos dos nobres polacos. (Quadro de Jan Lewicki)

O problema é que a Polónia estava repartida (p.ex. entre Áustria e Rússia), e a parte "galega" que correspondia a esta Galícia, tinha acabado de provocar uma revolta na capital Cracóvia (ver "Krakow uprising"), onde os nobres tentavam reclamar uma independência polaca. Tiveram pouco sucesso, com a intervenção russa e austríaca, mas o lado sinistro foi outro.

No campo da "grande coincidência", o movimento libertador dos povos ganhou um grande impulso com a chacina de mil polacos, senhores feudais que oprimiam os camponeses. Também favoreceu os austríacos, é claro... e esse foi o ponto ilustrado pelo pintor polaco, mas só mentes carregadas de teoria da conspiração poderiam pensar que os austríacos, no pico da civilização de Viena, no meio das valsas do Danúbio, iriam patrocinar uma Matança na Galícia

Revolta da Maria da Fonte
Ainda estavam mal secas as lâminas do sangue polaco e eclode, na Póvoa de Lanhoso, a revolta minhota. As comparações estão bem patentes no cartaz seguinte, onde é feita a invocação polaca:
Liberdade, Guarda, Nacional, 
15 de Março de 1846
Póvoa de Lenhoso, Princípio da Revolução

Guerra aos Tiranos. Paz ao bom Governo
Província do Minho. Nossa Polónia

De Grécia e Roma os feitos espantosos
O mundo conhecido acobardarão
Porém agora os feitos protentosos
São do Minho, que a Pátria, Libertarão.
Cabraes - víboras
Dedicado aos Heróis da Província do Minho
_________________________________________________

A descrição da revolta iniciada simbolicamente por uma Maria da Fonte Arcada, é dada pelo próprio ministro Costa Cabral, alvo da cólera popular, nas palavras que dirigiu um mês depois aos deputados:
 .... há uma conspiração permanente contra as instituições actuais, contra a ordem estabelecida, e mãos ocultas que manejam estas conspirações, [mas reconhece que a sublevação em curso no Minho] é uma revolução diferente de todas as outras, que até hoje têm aparecido, porque todas as outras revoluções têm tido por bandeira um princípio político, mais ou menos, mas esta revolução é feita por homens de saco ao ombro e de foice roçadora na mão, para destruir fazendas, assassinar, incendiar a propriedade, roubar os habitantes das terras que percorrem e lançar fogo aos cartórios, reduzindo a cinzas os arquivos! [e Costa Cabral continua, reconhecendo que é uma revolta sem chefe, na qual pontifica] a mais ínfima classe da sociedade, executada por um bando de duas mil e quatrocentas a três mil pessoas, armadas com foices roçadoras, alavancas, chuços, espingardas, com tudo quanto eles podem apanhar.
Costa Cabral (20 de Abril de 1846) - wikipedia

Assim, a moda da Polónia passou ao Minho como se a Galícia fosse a Galiza, e em Março de 1846,  se os camponeses da Galícia andavam a matar, os camponeses do Minho andavam a saquear.

A revolta em Portugal levou a uma pequena guerra civil entre cartistas (direita, no governo) e setembristas (esquerda) coligados a miguelistas (extrema-direita), guerra chamada Patuleia... que acabou em 1847 com uma intervenção externa no quadro da Quádrupla Aliança (Portugal, Inglaterra, Espanha, França) que condicionou a Península Ibérica depois de Napoleão. 

Primavera dos Povos
Com estes antecedentes, é convenientemente esquecida a Revolta da Maria da Fonte, no quadro das revoluções que despontaram em 1848, não porque as antecede, porque a Matança da Galécia também antecede, mas simplesmente porque sim... 

Afinal, o Manifesto do Partido Comunista surgiria logo em Fevereiro de 1848, publicado por Karl Marx e Friedrich Engels, que em 1847 tinham fundado na Alemanha a Liga Comunista. 
Já havia uma estrutura político-filosófica para enquadrar os movimentos de revolta popular, e para a narrativa da insatisfação popular, não interessavam nem os pagamentos austríacos aos camponeses, nem revoltas de minhotas religiosas desenquadradas do propósito. O manifesto comunista surgiu como legenda, para que depois se lessem as irrupções populares com o conveniente libreto.

É claro que desde o fio ao pavio, a chama que animou este protesto popular foi acesa pela maçonaria. Apagou e acendeu protestos, de forma mais ou menos atabalhoada, e tão coordenadamente quanto só conseguiria uma estrutura de poder internacional, já muito fortemente implantada.

Bom clima em Katowice
Katowice fica a pouco menos de 80 Km de Cracóvia, e a 172 anos da matança. 
Enquanto o clima em Paris aqueceu em pancadaria pelo aumento do combustível, realizava-se neste fim de semana, em Katowice, o Congresso das Mudanças Climáticas...

O frio não foi anti-climático nos protestos fantoches em Katowice. 

Festa brava, onde o frio animou a palhaçada natalícia, e ao mesmo tempo que se tiritava de frio, os coerentes manifestantes reclamavam contra o suposto/previsto/anunciado aumento de temperatura. Que se aumentem pois os combustíveis fósseis, que os manos do colete amarelo tratam do outro tratamento... Como sempre, um reino de caos para manipular mesquinhos interesses de sobrevivência no poder.

sábado, 8 de dezembro de 2018

Colete Amarelo, festa brava, Colete Vermelho

Há 170 anos, em 1848, a Europa foi contagiada pela "Primavera dos Povos"... uma série de revoluções em diferentes capitais que, fomentando algumas mudanças de governo, basicamente deixaram tudo na mesma, se exceptuarmos os milhares de mortos, e uma mensagem de bastidores.

Este tem sido um cenário histórico colocado a par dos bravos desacatos do Colete Amarelo, ocorridos em Paris, no passado fim-de-semana e repetidos moderadamente neste.

Não é de estranhar que a moderação tivesse ocorrido uma semana depois, dado o número de efectivos policiais e militares, chamados para patrulhar a capital... que incluíam tanques estilo chaimite:
Neste fim de semana as ruas de Paris ficaram plenas de forças policiais e militares.

Coletes amarelos em pose de rendição... lembrando a posição de rendição no liceu de Mantes-La-Jolie:

 
151 jovens estudantes de Mantes-La-Jolie foram presos nesta quinta-feira, 6 de Dezembro.

Ao ver estas imagens, só me lembrei de um vídeo premonitório dos Arcade Fire, resumo de um filme  distópico dirigido por Spike Jonze, apresentado depois no Festival de Berlim de 2011:

Arcade Fire - The Suburbs (2010)

Para contar esta história apropriadamente, convém notar que na lista de revoluções de 1848 não aparece a Revolução da Maria da Fonte, mas aparece a Matança da Galícia, ambas em 1846.

Bom, com efeito, recuamos ainda mais... e vamos começar com o culto de Mitra:

Consta que o culto de Mitra teria sido tão influente no império romano que se media em popularidade com o cristianismo, antes da adopção da religião cristã por Constantino. Na figura vemos a cena típica desse culto - Mitra executa o sacrifício taurino, na presença do deus Sol, para quem se vira; enquanto o touro está virado para a deusa Lua, representada com os cornos do crescente lunar. Um corvo está junto ao Sol, um caranguejo ataca o touro nos testículos, um cão e uma cobra bebem o sangue taurino. Mitra usa o barrete frígio, que o liga a Àtis, a Páris de Tróia, ou aos reis magos.
Como já mencionei algumas vezes, esta figuração indicia reflectir o fim do calendário e culto lunar, e a sua substituição pelo calendário e culto solar.

Os mais típicos homens de barrete ligados ao touro são, em Portugal, os campinos ribatejanos.
Além disso, ainda que o seu barrete não seja frígio, o seu típico colete levou à instituição das "festas do colete encarnado".
Acontece que, também os artistas ligados à maçonaria passaram a pintar a liberdade munida de um barrete frígio, como no caso típico do quadro de Delacroix, em que lidera os movimentos revolucionários populares. Não é o caso destes proletários que, mais seduzidos pela melodia do que pela letra, de uma canção de não conhecem, arranjaram-se com os coletes de segurança, de quem é vítima de um acidente social, e passaram a ser conhecidos por isso mesmo.
Não tanto por aqueles que vão pela festa, os 150 jovens do liceu de Mantes-La-Jolie experimentaram a dureza de um estado policial  afamado pela sua brutidade e falta de jeito, sendo as primeiras vítimas colaterais do processo.