domingo, 28 de fevereiro de 2016

Geografia antiga da Lusitania (1), por Bernardo de Brito

Bernardo de Brito começa assim o segundo capítulo da sua
É este reino de Lusitania ocupado de muitas, e mui grandes serras, que o fazem inexpugnável a toda a nação estrangeira, querendo os naturais tomar a peito a sua defesa...
... lembrando que o monge de Alcobaça escreve em período do rei Filipe II de Espanha, que não seria das alturas mais fáceis para clamar a inexpugnabilidade da pátria, e indirectamente criticar os conterrâneos, que não tomaram a peito a sua defesa. 
Mais à frente afirma ainda que as pedras de Sintra choravam pela glória passada. É claro que Bernardo de Brito poderia argumentar que se referia apenas à ausência de Filipe II da corte lisboeta, mas tivessem outros portugueses o mesmo empenho na espada que ele teve na pena, e as coisas não se teriam ficado pela pena de 60 anos sob domínio espanhol.

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por Bernardo de Brito

Capítulo II - Montes

É este reino de Lusitania ocupado de muitas, e mui grandes serras, que o fazem inexpugnável a toda a nação estrangeira, querendo os naturais tomar a peito a sua defesa; o primeiro dos quais, chamado dos antigos Cico, é a serra do Algarve, que serve de apartar este reino do restante de Portugal, e começa junto a Castro Marinho, continuando seus cumes até se lançar no mar Oceano, junto ao lugar de Algazur [Aljezur] (e nosso Resende tem para si que este monte é tronco da serra Morena).
Serra de Monchique, pico da Foia com 902 m. Seria conhecida na Antiguidade como Mons Cico, que derivou em Monchico, dando o actual nome. Brito associa-a a toda a serra algarvia, mas hoje a serra de Monchique designa a parte ocidental, usando-se as designações Espinhaço de Cão, e Caldeirão, para partes seguintes. Há ainda o Monte Figo, perto de Olhão, que era uma importante referência para a navegação. (foto)
Depois deste monte, se segue o que Ptolomeu e Strabo chamam Barbarico, e nós hoje serra da Rabida [Arrábida], no qual se colhe grão finíssimo para tingir panos, e sedas, e daqui a levam para muitas partes fora de Espanha, tendo por experiência ser esta mais fina que todas as outras.
Serra da Arrábida, seria o Monte Barbarico, a que à época de Brito se escrevia serra da Rábida. (foto)
Havia no Allemtejo, pouco distante da cidade de Evora um Monte, que Appiano Alexandrino chama de Venus, e no tempo de agora se chama Pumares, o qual já naquele tempo era muito cheio de olivais, e vinhas, de que no tempo de agora tem ainda muita parte (porque do sítio e coisas desta serra temos tratado assaz na Monarquia, não há para que alargar com mais leitura).
Serra da Ossa, que seria o Monte de Vénus, a que Brito nomeia como Monte Pumares. Do culto dedicado a Venus (e Cupido), passou um dos montes a ser conhecido como Monte da Virgem... e por estranho que pareça, seria provavelmente o Monte de Vénus. (foto: Anta da Candeeira, Aldeia da Serra, Serra de Ossa)
Segue-se depois deste, o monte Hermínio Menor, a quem os moradores da serra da Estrella (que é o verdadeiro Hermínio) deram este nome, como já deixámos contado acima, e agora é a a serra de Marvão, onde há lugares mui grandes, e bem povoados, e a serra em si é abundantíssima, de minas de ouro e prata, e outros metais menos estimados, principalmente chumbo, de que Plínio faz menção, quando fala dos moradores de Meidobriga, cujas ruínas estão hoje nas fraldas desta serra, como notou nosso Resende em suas Antiguidades Lusytanas. 
Serra do Marvão, que aparece nesta foto como uma "arca de Noé" encalhada na montanha, diz Brito que foi entendida como sendo o Hermínio menor. A suposta vila romana Meidobriga deverá ser a que hoje se identifica como Amaia. Ambos os nomes terão existido, mas Meidobriga também é colocada mais a norte, no Côa, em Freixo de Numão.
Segue-se desta parte do Tejo o monte que os antigos chamaram da Lua, e nós agora Serra de Sintra, assaz nomeada e conhecida em Portugal, por ser a vila deste nome ordinária recreação dos Reis de Portugal, onde tinham paços sumptuosíssimos, que hoje duram, chorando pela glória que já se viram. Na parte em que esta serra se lança no mar, estiveram antigamente uns templos de Idolos, dedicados ao Sol e Lua, e hoje duram ali algumas pedras com letreiros romanos, que dão notícia do que digo.
Serra de Sintra, como Monte da Lua, não oferece novidade, tal como o templo referido por Francisco de Holanda.
(foto: Anta de Adrenunes ... onde foi colocado um marco geodésico de cimento no topo da anta! )
Depois desta serra achamos logo o monte Tagro, segundo o chama Varro, ou Sacro, como sente Columella, e nós hoje chamamos Monte Iunto, foi antigamente famosa esta serra entre os Autores, pela fama vulgar que havia, de conceberem nela as éguas do vento, a qual fábula como já tocámos acima, teve princípio da muita ligeireza dos cavalos, que aqui nasciam, dado que alguns tenham por coisa certa, o emprenharem e parirem do vento.
Serra de Montejunto, segundo Brito seria o Monte Tagro ou Sacro... onde varia bastante com a interpretação de Francisco de Holanda, que considerava uma designação alternativa da Serra de Sintra. Também por isso o mito das éguas do vento não era colocado em Montejunto. (foto: ruínas do primeiro convento de dominicanos em Portugal)
É este monte quase um com a serra de Albardos, ou de Minde, onde no tempo de agora há gentil raça de cavalos, que se estimam por serem fortes, ligeiros, e mui sofredores de trabalho. Além disto há nela grande criação de vacas, e outro gado miúdo, as carnes do qual são excelentes pela bondade dos pastos; colhe-se nela algum grão, e colher-se-ia muito mais, se houvesse curiosidade nos moradores. Tem canteiros de pedra branquíssima e singular para edifícios, e no fim da serra há minas de azeviche, mui fino, donde se lavram brincos de muita estima.
Serra dos Candeeiros, que chegou a ser chamada Serra de Albardos, nome que caiu em desuso; e mais a norte, junto a Fátima, toma o nome de Serra de Aire ou Minde. Uma boa parte da serra está cheia de muros, de cerca de 1 metro de altura, que dão-nos notáveis imagens "tipo-Nazca" em território nacional. Já andei por lá, sem concluir coisa nenhuma... a disposição dos muros parece anárquica, mesmo para finalidade de pastorícia (na maioria dos casos os muros estão fechados, sem nenhuma abertura) (foto). Sendo claramente natural, a noção de serra, formada por montes piramidais colados, é ali notável.
O mais famoso monte da Lusytania, e que é como origem e fonte donde se derivam todos os mais, que há entre o Tejo e Douro, é o Hermínio maior, chamado em nosso dias Serra da Estrella, assaz conhecido e nomeado em toda a Espanha. A grandeza deste monte é notável, porque a maior parte do ano estão seus cumes cobertos de neve, e quando na força do verão se permite subir ao alto, anda ocupado de grandes rebanhos de ovelhas, que acodem ali da província do Allemtejo, atraídos dos muitos pastos que há nas várzeas e prainos, que ficam no mais alto da serra. Os moradores antigos deste monte eram homens ásperos, e duros de condição, indómitos pelas armas, mui rústicos no trajo e modo de vestir, amigos de roubar o alheio, e pouco fiéis no que tratavam. As mulheres tiveram antigamente menos polícia e gentileza, que agora têm, e foram notadas, como toca Alladio, de pouco continentes, e que facilmente se enamoravam de qualquer estrangeiro que viam na terra. Mas esta condição fácil é já mudada com o tempo, porque as mulheres que vivem nela, dado que pela maior parte sejam formosas, e de carões lindíssimos, são por extremo continentes e virtuosas.
Há no mais alto desta serra duas lagoas de monstruosa grandeza, uma das quais é tão funda que se lhe não pode sondar o lastro. e afirmam os moradores da terra, que algumas vezes se vêem nelas tábuas de navios, e outras coisas semelhantes. Sua água é doce, como de fonte, mas escura e triste, e pouco saborosa ao gosto. Não se cria em nenhuma dessas lagos nenhum género de peixe, nem coisa viva. 
É esta serra em muitas partes fertilíssima de frutas, e todas de gosto singularíssimo, e tem por seus vales muitas fontes de água clara, e de gentil sabor. Há nela muito pouco pão, centeio e quase nenhum trigo, e qualquer destes que há, colhe-se com muito trabalho dos moradores da terra, por sua grande aspereza. 
Deixou o nome antigo de Hermínio, e chamou-se da Estrella, por causa (como diz Resende) de há aí rocha altíssima, que está quase no mais alto da serra, o cimo da qual se remata em feição de uma estrela, da qual os pastores, que ali vêm ordinariamente, vieram a dar nome a toda a serra.
Serra da Estrela, era o "Hermínio maior". Em 1881 a Sociedade de Geographia irá conduzir uma expedição ao topo liderada por Hermenegildo Capello, onde ia ainda o médico Sousa Martins, integrado na moda dos Sanatórios (ver ex. Águas Radium). Desse ano de 1881 resulta a imagem da Torre (da antiga Torre, depois demolida e/ou substituída pela actual). Daquela imagem da torre fica claro que a construção teria certa história antiga... e como último vestígio de antiga obra humana no topo da serra, desapareceu, ficando apenas estranhas formas naturais do tor serrano. A expedição terá ainda colocado um ponto final nas fábulas sobre as lagoas da serra que Brito e tantos outros contavam. Foi notícia recente o "sumidouro" do Covão dos Conchos, que remeterá o excesso de água dali para a Lagoa Comprida, por canalização feita no ano 1955. Quanto à "rocha altíssima com forma de estrela"... não a encontrei.

O monte que Salviato, discípulo de São Martinho, chama Tapeio, é o que vulgarmente chamamos serra de Ansião, posta sobre o Rabaçal: ainda que alguns com melhor conjectura, têm para si ser outro monte, que fica sobre a vila de Soure, que ainda hoje se chama Porto Tapeo. Há nele algumas povoações de pouca conta, onde a gente vive pobremente; é este monte assaz conhecido, e nomeado pelos dificultosos passos, e ruins caminhos que tem, para gente que caminha por ele.
Serra do Ansião, na acepção de Brito, deveria incluir serras vizinhas como a serra de Sicó, de que deixamos uma imagem das enormes Buracas do Casmilo (que já tínhamos mencionado). O nome Tapeio, que Bernardo de Brito menciona para esta serra/monte, passou hoje a Tapéus, como freguesia no concelho de Soure. Existe ainda a Vila Romana do Rabaçal, perto de Penela, com surpreendentes mosaicos do Séc. IV, esta villa é pouco conhecida, por comparação à vizinha Conimbriga.

Há também na Lusytania um monte de maravilhosa grandeza, que os antigos chamaram Alcoba, e nós agora partindo-o em diferentes nomes, o fazemos diferente em muitos lugares, chamando uma parte dele serra de Besteiros, outra Alcoba, como os antigos o chamaram; e assim em outras partes, até se juntar com a serra de Monte de Muro.
É a maior parte desta serra, pelos altos, estéril, e de mui pouco pão, e o mantimento ordinário do moradores é algum milho, que colhem, e pouco centeio: é em muitas partes despovoada e a gente que vive nos lugares que se habitam, é comummente pobre, e que vive com necessidades, imitando neste particular e na pobreza de vestir, aos antigos povoadores daquela própria terra, que (como diz Alladio) andavam quase nus, e se mantinham de ervas cozidas em leite.
Os vales deste monte são em algumas partes fresquíssimos, e abundantes de frutas de espinho, e outras de várias castas. Há também neles abundância de colmeias, donde se tira mel singularíssimo, que se leva por muitas partes do Reino.


Serra do Caramulo, cujo nome antigamente seria Alcoba, que Brito junta à parte da serra de Besteiros. Uma zona onde as formações naturais têm jeito para iludir mão humana, nos empilhamentos singulares (ver Rota dos Caleiros à Lupa).
Quase junto com esta serra, fica logo a que vulgarmente se chama Monte de Muro, e os antigos com pouca diferença chamavam de Mons Maurus; toma grande distância de terra e seus altos são asperíssimos, habita-se alguma parte dele, com trabalho dos moradores, porque a terra dá muito pouca cevada, e quasi nenhum trigo, e o mais que tem é centeio, de que vivem miseravelmente. Não se cria em todo ele vinho, nem fruta que possa trazer recreação aos moradores.
A gente é grosseira e rústica em seu trato, veste pobremente e o vestido vulgar é burel grosseiríssimo. As mulheres são pouco para cobiçar, porque além da pobreza, que costuma dar pouco lustre, têm elas de si tão pouco nas feições naturais, que entre mil se não achara uma que tenha mortas cores de formosura: são robustas, trabalhadeiras, e amigas de grangear sua vida, castas pela maior parte, e desamoráveis para os estrangeiros. Os homens são robustos, sofredores de trabalho, e se tiveram exercício nas armas, fizeram grande efeito na guerra. Criam-se neste monte muitas vacas bravas, de pequenos corpos, mas mui fortes para trabalhar, e para comer de gosto singularíssimo: tiram delas alguma manteiga, que ordinariamente lhe serve de azeite. Faz menção deste monte nosso Laymundo no terceiro livro, e Resende no primeiro.


Serra de Montemuro, com o seu mais alto pico - Talefe ou Talegre, a quem Brito chamava Monte de Muro, associando à designação latina antiga Mons Maurus. A região está agora cheia de hélices eólicas, que vão servindo as rendas energéticas, triplicando a produção nacional, para nada... No topo, mais uma torre, de pedras empilhadas (tal como a antiga torre da Serra da Estrela), mas coberta com uma película de cimento, passando assim por marcos geodésicos bem mais recentes - até que a película de cimento começa a cair - neste e noutros casos. 
O Gerez, chamado dos antigos Iurezum, começa na província de Entre Douro e Minho, e caminhando por ele algumas léguas, se mete pela Galiza a dentro. É monte de grande altura e asperíssimo em algumas partes, não é povoado pela sua aspereza. Tem um grande número de veação, como são cabras selvagens, corças, porcos monteses, veados, e alguns ussos [ursos]. Há nesta serra vales de muita ervagem, por onde correm fontes de água belíssima, e que foram de maior estima; se estiveram em lugares povoados, onde a gente se aproveitara de sua frescura.
Serra do Gerês, segundo Brito teria como nome antigo Iurezum. O pico da Nevosa tem um marco geodésico muito mais discreto (foto), e omitimos aqui a cascata ou o mosteiro de Pitões das Júnias. Mas mencionamos em Vieira do Minho, na fronteira do Gerês nacional, a notável Igreja de Nª Srª da Lapa, datada de 1694 (foto), onde certamente se procedeu à devida limpeza interior (mas onde a tentação de escrever no tecto herdaram-na os párocos... com um "rogai por nós...").

Outros muitos montes há em Portugal, famosos por sua grandeza, de que não faço menção particular, fazendo-a de outros montes,  porque o meu intuito é só falar das que têm nomes antigos, e andam celebrados entre os Historiadores, que alego nesta primeira parte.

______________ (continua) ______________

NOTA: Um apontamento final, para notar que a visão sobre as cadeias montanhosas, descrita por Bernardo de Brito, e seus contemporâneos, era semelhante à dos rios. Conforme se vê na descrição da Serra da Estrela, ela era entendida como um pico principal, uma raiz montanhosa, dos quais todas as restantes elevações contíguas seriam apenas um seu prolongamento.
Terminou de incluir as figuras e as legendas com comentários ao texto, finalizando com Vieira do Minho, porque quando falei do Caminho do Minho, que terminava em Caminha, esqueci-me de mencionar esta Concha, esta Vieira (do Minho), no texto col-chas (ou antes, no com-chas) sendo esse caminho do Minho, alternativo ao de Santiago, ou ainda ao anterior caminho de Lugo, o Callix Ianus, 
02-03-2016

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Retratos & Retractos (3)

O livro de Bernardo de Brito, cujo link volto a colocar

Elogios dos Reis de Portugal com os mais verdadeiros retratos que se puderaõ achar

não começa com D. Afonso Henriques, mas sim com o pai, o Conde D. Henrique. 
Faço notar isto de novo, porque há quem se satisfaça em ler apenas a informação transcrita... mas isso não dispensa a consulta do original.
Por exemplo, Bernardo de Brito lança a suspeita de que D. Duarte teria sido vítima de peste através de uma carta que tinha recebido... do tipo "atentado por carta com antrax", suspeita que nunca tinha visto colocada em mais nenhum lado.
Assim, como é natural, Brito junta uma descrição física dos diversos reis, e não apenas dos que transcrevi (... e para quem gosta de opinar, sem se dar ao trabalho de o ler, tem as cópias coloridas dos retratos).

Nesse livro também se acrescentam dois reis da dinastia filipina, mas optei por começar em D. Afonso Henriques e ficar pelo D. Sebastião. Como o início com o Conde D. Henrique gera normalmente mais interesse do que o fim com o Cardeal D. Henrique, junto aqui a tal informação acessível à distância de um clique.

Conde D. Henrique
Logo na página 5, diz Brito:
"Foi o Conde homem grande de corpo, de presença alegre & venerável, teve o cabelo louro e os olhos azuis, como diz na sua história, & o mostra um retrato de iluminação antiga que temos numa bíblia de mão antiquíssima, onde na primeira folha do Prologo está a figura do Conde armado como aqui vai: salvo a coroa de louro, que por não ser Rey & ser tão vitorioso me pareceu acrescentar-lhe, & a banda que por o retrato ter um modo de roupa que não entendemos bem sua postura se lhe pôs do modo que vai."
Conde D. Henrique, na obra de Bernardo de Brito.
Encontramos ainda outras representações do Conde D. Henrique e D. Teresa, mais alegóricas do que concordantes no aspecto:

Representação medieval (à esquerda) e renascentista (à direita)

Assim, por exemplo, se a figura à esquerda (... mais antiga), sugere cabelo alourado para o Conde D. Henrique, enquanto a figura à direita, sugere cabelo mais escuro; curiosamente passa-se o oposto no que diz respeito a D. Teresa!
No entanto, quando se chegou a apontar o Conde D. Henrique como filho do Rei da Hungria, conforme diz Duarte Galvão:
(...) e D. Anrique sobrinho deste Conde de Tolosa [Toulouse], filho segundo-génito de uma sua irmã, e del Rey da Hungria, com quem era casada (...)
poderá ter havido mais ou menos sugestões de representações capilares adequadas à sua região de origem. Ora, Brito diz que "segundo a melhor opinião" seria "natural de Besançon, filho de Guido Conde de Vernol & de Ioanna filha de Geroldo, Duque de Borgonha", e claramente não segue Duarte Galvão, nem segue a tese de Damião de Goes, já aqui abordada.

Num comentário, João Ribeiro sugeriu que a diferença de tonalidades entre pai (louro de olhos azuis) e filho (cabelos e olhos castanhos), poderiam dar alguma sustentação a um mito de que D. Afonso Henriques seria filho de Egas Moniz e não do Conde D. Henrique.
Acontece que D. Teresa de Leão era filha de Ximena Moniz, concubina de D. Afonso X de Leão e Castela. Portanto, uma simples inspecção faz ver que D. Afonso Henriques era também Moniz, pelo lado do bisavô materno - Munio Moniz, conde do Bierzo. Parece-me bastante mais complicado, distinguir fisionomicamente esse avô, do pai de Egas Moniz, ou seja Munio Ermiges, também ele nobre, Senhor do Ribadouro. Lembro que por esta época a referência Moniz ou Muniz, era usada apenas para indicar os filhos de alguém chamado Munio, tal como Henriques era o patronímico dos filhos de um Henrique.

Outros retratos
Interessou-me especialmente chamar a atenção sobre esta obra de Bernardo de Brito. Sendo mais ou menos inventados, se os historiadores modernos desdenharam o que puderam sobre Brito, acabaram por usar muitas vezes os retratos que ele compilou nesta obra, à falta de outros.
Porém, volto a realçar que ao mesmo tempo Bernardo de Brito acaba por fazer um resumo da História de Portugal, sob a forma de elogios aos reis.

Em particular, Brito fala da ida do Conde D. Henrique à Terra Santa, no sentido de participar, não na Cruzada de Godofredo do Bulhão (... seu irmão, segundo Damião de Goes), mas sim numa Cruzada seguinte, acompanhado de Hugo de Lusignan.

Há uma série de outros retratos, atribuídos a Melchior Tavernier, em 1630, ou seja, uns 20 anos depois da obra de Brito, onde poderemos ver de novo a influência dos seus retratos, até na pose estranha de D. Pedro I, por exemplo. 
Uma novidade aqui é a inclusão de vários retratos de rainhas e concubinas...






Melchior Tavernier, em 1630

... mas talvez a principal novidade será a indicação do Conde D. Henrique como Conde de Limburgo, uma cidade belga, e esta localização mais se associaria à versão de Damião de Goes, já que Limburgo não seria longe das paragens de Boulogne-sur-Mer.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Retratos & Retractos (2)

Continuamos os retratos, que foram mais retro-actos, inspirações em descrições passadas, mas que no caso da Dinastia de Avis, que se segue, não deveriam oferecer grande dúvida, já que não havia propriamente falta de pintura e pintores em Portugal ao tempo dos descobrimentos.

Houve, isso sim, uma grande capacidade de sumir com tudo o que existia... e tal não se justifica apenas pela cobiça espanhola em período filipino, pela cobiça francesa em período napoleónico, ou mesmo pelo sismo de 1755. Tal justifica-se especialmente por actuação interna, sempre presente, e sempre convenientemente ignorada.

Aproveito para falar ainda nos Painéis de S. Vicente, porque vem a propósito de alguns rostos em questão... mas não tenciono voltar a esse assunto, que considero "resolvido". 

D. João I
Diz Brito: "Teve o rosto comprido, mais magro que gordo, a testa pequena, o cabelo preto, & não muito basto, trouxe-o sempre comprido & muy concertado, os olhos teve pretos pequenos & de muita viveza, seu retrato temos antigo, & quasi de seu tempo, ainda que por ser tirado em velho não mostrará tudo conforme a relação da Crónica, mais que nuns longes, que se podem ver na figura que aqui vai esculpida."

D. João I (à esquerda na Sala dos Capelos, que é praticamente idêntica à de Brito, à direita)

Neste caso, como já discursei sobre a presença dos rostos da Dinastia de Avis nos Painéis de S. Vicente, e como nem considero mudar de opinião sobre eles... apresento aqui a "versão sem barba", considerando devidamente estranho que Bernardo de Brito tenha considerado os rostos noutros túmulos, mas não faça referência ao túmulo de D. João I no Mosteiro da Batalha, no que diz respeito a D. João I ou a D. Duarte.

D. João I (nos Painéis, segundo Alvor-Silves, comparado com iluminura da época e com rosto no Mosteiro da Batalha)

D. Duarte I
Segundo Brito: "Seu retrato nos ficou de seu tempo, & deles vi dois conformes, um, que ficou em uma tábua pequena no Mosteiro da Batalha, donde o tirou o Cardeal D. Henrique & outro que tenho em meu poder tirado deste, que tenho por muy autêntico, tanto por sua antiguidade, como por condizerem suas feições com as próprias que descreve sua história."


D. Duarte (à esquerda na Sala dos Capelos, que é praticamente idêntica à de Brito, ao centro, e à cópia colorida, à direita)

O mesmo comentário que fiz antes... ou seja, o rosto que está no túmulo de D. Duarte não apresenta barba, e por várias razões considero-o muito identificável ao do Painel de S. Vicente. Mais uma vez, Bernardo de Brito omite o rosto esculpido no Mosteiro da Batalha, talvez por ser a sua versão sem barba.
D. Duarte (nos Painéis, segundo Alvor-Silves, comparado com o rosto no Mosteiro da Batalha)

D. Afonso V
Diz Brito: "Seu retrato tirei assim dos mais apurados, que há no Reino, como doutro que houve de França, tirado no tempo que lá andou, muy conforme com os que cá temos."
 
D. Afonso V (à esquerda na Sala dos Capelos, que é praticamente idêntica à de Brito, ao centro, bem como à cópia colorida, à direita)

Também neste caso, há uma figura correspondente nos Painéis de S. Vicente... no chamado "painel dos frades", que evidencia farta barba e cabelo, e que poderá facilmente corresponder a D. Afonso V, mas é a própria posição na sequência de destaque das 3 figuras, que levou à fácil identificação da composição na lógica de representar o "painel dos frades" como reis antecessores de D. João II.

Há, é claro, várias outras razões explicadas por todo o contexto dos Painéis, e que aqui omito, remetendo para essas páginas anteriores. 
Para que não fiquem dúvidas relativamente à minha posição sobre a representação geral dos Painéis de S. Vicente, exposta antes, a minha convicção mantém-se a mesma, ou é ainda maior... e sinceramente, dada a confirmação pelo "Manuscrito do Rio", algo que só li depois, parecem-me todas as outras hipóteses - abundantemente veiculadas, numa completa fantasia, sem pés nem cabeça.

D. João II
Segundo Brito: "Foi homem de meia-estatura, bem proporcionado, como mostra este retrato, que se tirou de outro seu, que está no Mosteiro de S. Domingos de Lisboa, onde está pintado no altar de Nª Senhora com a Rainha sua mulher. O escudo se lhe acrescentou porque ele o reduziu ao modo em que hoje está, com 5 dinheiros em cada escudo & 7 castelos no escudo vermelho, a que chamamos Orla: sendo antes semeado de quantos cabiam & tendo cada um dos escudos pequenos 30 dinheiros."

 
D. João II (à esquerda na Sala dos Capelos, que difere pelo escudo, da imagem de Brito, ao centro,  e da cópia colorida, à direita)

Comparando com a imagem dos Painéis, sem barba, é talvez uma das que mais se afasta desta representação barbuda, e que se prende com todo o simbolismo da morte do filho Afonso, onde determinou rapar a barba, um gesto que foi acompanhado por todo o reino. Por isso, nessa altura considerei outras imagens que haviam sido atribuídas a si:

D. João II enquanto figura central dos Painéis (à esquerda) e duas representações comparativas (a central é supostamente um seu retrato em vida).

Portugal, esse grande sumidouro de tudo o que é registo histórico, terá perdido esse retrato de que falava Bernardo de Brito, como estando no Convento de S. Domingos de Lisboa. Por algumas semelhanças, o da Sala dos Capelos poderá ser candidato a cópia directa, dada a ausência de escudo, que Bernardo de Brito inclui por iniciativa própria. No entanto, dada a cópia directa posterior (a tempo de D. Pedro II ou D. João V), podemos presumir que o quadro do altar de S. Domingos "sumiu" durante o período filipino.
Nestas coisas não se deve perder esperança, porque os Painéis foram encontrados 400 anos depois, servindo então de plataforma para as obras de restauro na Santa Engrácia... Assim que foram encontrados, logo Columbano Bordalo Pinheiro seguiu a conclusão óbvia, mas achou-se conveniente propalar outra história absurda, e manter os Painéis no estatuto de "mistério". 
O funcionamento deste país é um absurdo pegado, desde há 500 anos a esta parte, para não dizer mais.

D. Manuel
Sobre D. Manuel, diz Brito: "Foi el rey de corpo meão, mais sobre o pequeno que grande, a barba teve castanha escura, o nariz curto rombo & grosso, a boca grande & grossa, mas muy corada: sendo velho trazia a barba rapada, como está esculpido no vulto de pedra sobre a igreja de Belém, que se fez pelo próprio natural, com tanto artifício que diziam alguns antigos que só lhe faltava falar & dali se tirou o retrato que aqui vai esculpido.

D. Manuel (à esquerda na Sala dos Capelos, ao centro a imagem de Brito, e à direita a cópia colorida... todas similares)

O que é interessante nestas descrições de Bernardo Brito é que ele de certa maneira considera que o seu testemunho poderá sobreviver mais do que as representações de quadros ou esculturas que vê... quer no caso do quadro do altar de S. Domingos - que viria mesmo a sumir; quer no caso da escultura na Igreja dos Jerónimos, que ainda permanece:
A estátua de D. Manuel nos Jerónimos, de que fala Bernardo de Brito.
D. João III
Diz Brito: "Era de presença Real, cheia de Majestade, tanto que algumas pessoas lhe indo falar se perturbavam: seu retrato se conserva em diversas partes, muito ao vivo, em particular no mosteiro de Belém, em uma tábua que está no coro, posta no pé de um devoto crucifixo, na qual está também o príncipe seu filho & muitos irmãos seus retratados excelentissimamente. E daí se tirou esta medalha, sem outra diferença mais que o ceptro e a coroa, que lá não tem & eu lhe fiz por aqui, à imitação dos outros retratos."

D. João III (à esquerda na Sala dos Capelos, ao centro a imagem de Brito, e à direita a cópia colorida... similares, excepto talvez na coroa e ceptro, que Brito acrescentou)

No blog "do porto e não só" está uma detalhada análise da pintura ao tempo de D. Manuel e D. João III, mas não encontrámos um quadro que corresponda à descrição do que fala Bernardo de Brito - poderá ser outro caso de actuação do sumidouro nacional.

D. Sebastião
Acerca de D. Sebastião diz Brito: "Seu retrato, depois de muitas diligências, me veio à mão por via de uma pessoa nobre & muy curiosa & amiga de conservar a memória de sua pátria, do que se esculpiu o que aqui pus."
D. Sebastião (à esquerda na Sala dos Capelos, ao centro a imagem de Brito "sem coroa", e à direita uma versão diferente)

O quadro que encontro com mais semelhança, relativamente ao exposto por Brito é um que está na wikipedia... mas com "coroa". Extremamente curioso, porque Brito afirma várias vezes adicionar a coroa quando faltava, e neste caso parece fazer o oposto! 
D. Sebastião (Museu de Évora)
Depois, como todos sabemos, o Portugal histórico idealizado entrou em estado comattoso, e tal qual bela adormecida, passa por sonhos de um passado glorioso misturado com pesadelos de corjas reinantes.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Retratos & Retractos (1)

Bernardo de Brito, em 1603, no seu
vai apresentar uma série de retratos dos reis de Portugal, justificando a origem e processo de composição das figuras antigas.

Começa por citar Píndaro, que se queixara do destino dos reis da Media, já que apesar do florescimento dos Medos em seu tempo, não teria chegado nenhum relato de historiadores, escultores ou pintores, sobre esses grandes monarcas.
Acrescento, que "a coisa" é tanto mais notada, quanto para ilustrar personagens antigos, se procura naturalmente ir buscar alguma representação antiga, porque, mesmo sendo essa posterior nalguns séculos, se crê que "será melhor do que nada", baseada em algo mais substancial do que ilustrações posteriores... a menos que se creia em inspirações de origem sobrenatural.

Como sobre Bernardo de Brito caiu o conveniente estigma de desconfiança sobre tudo o que fez, mas como são muitos os que apreciam os retratos dos reis na Sala dos Capelos em Coimbra, ou outros retratos que circulam, não se sabendo bem a origem de inspiração dos mesmos...  poderia acontecer que alguém observasse que a Bernardo de Brito teria bastado visitar a Universidade de Coimbra. 
Só que, as coisas são como são, e se a sala existia no tempo de Bernardo de Brito, não havia nenhum quadro de nenhum rei de Portugal...  foram compostos em 1655-56 pelo pintor dinamarquês Carl Falch, Com que base? 
Bernardo de Brito explica...

De seguida iremos colocar as figuras inclusas na obra de Bernardo de Brito, ladeadas pelas constantes nos quadros da Sala dos Capelos, e por outros quadros de que não consigo lembrar/apurar a origem, mas que como se compreenderá são cópias ilustradas do trabalho de Bernardo de Brito (esses outros quadros terminam com D. Pedro II, logo terão sido provavelmente feitos no seu reinado ou no seguinte, de D. João V).

D. Afonso Henriques
D. Afonso Henriques (à esquerda: Sala dos Capelos, ao centro em Bernardo de Brito, e à direita uma clara cópia) 

Acerca do retrato diz Bernardo de Brito o seguinte:
"Foi o Rei D. Afonso homem grande de corpo & quase agigantado, teve o cabelo castanho & muy comprido, a boca grossa, o rosto & nariz comprido, os olhos castanhos claros & grandes, sendo velho foi calvo na fronte & todas as suas coisas foram cheias de Majestade & grandeza de ânimo, seu retrato ficou do tempo de D. Manuel, que o mandou tirar quando trasladou seu corpo do primeiro lugar a outro em que agora está & de pedra o mandou esculpir sobre a mesma sepultura: difere do esculpido...
... e argumenta que preferiu seguir o da pintura.

D. Sancho I
Aqui Brito diz também que "o seu retrato se imitou do que D. Manuel fez tirar do natural":
 
D. Sancho I (à esquerda: Sala dos Capelos, ao centro em Bernardo de Brito, e à direita a clara cópia) 

D. Afonso II
Brito diz agora que o "seu retrato nos ficou, de quando el Rey D. Sebastião abriu sua sepultura acrescentando-lhe de mais a coroa que fiz pôr em cada retrato"

D. Afonso II (à esquerda: Sala dos Capelos, ao centro em Bernardo de Brito, e à direita a clara cópia) 

Este é um caso em que é claro que os outros copiam os desenhos de Brito... porque, poderia argumentar-se que tinham tido acesso às mesmas fontes (ao retrato mandado fazer por D. Sebastião)... só que Brito decide acrescentar a coroa, e os outros seguem-no, concluindo-se assim que já não tiveram acesso ao original de D. Sebastião.

D. Sancho II
Neste caso, diz Bernardo de Brito: "o retrato se tirou da verdadeira Relação da Crónica antiga, onde estão suas feições particularizadas, & de um que teve o Infante D. Fernando, pai de D. Manuel, que condiz muito com sua história, ainda que o vi já muito danificado."

D. Sancho II (à esquerda: Sala dos Capelos, ao centro em Bernardo de Brito, e à direita a clara cópia) 

Estes quadros, são praticamente todos iguais...

Afonso III
Diz Brito: "seu retrato houvemos do que D. Sebastião mandou tirar do corpo embalsamado, quando lhe abriu a sepultura & conforma muito com outro que veio de França a este Reino quando a Rainha mãe pretender direito nele por morte do Cardeal D. Henrique, alegando ser descendente deste Rei por via de um filho seu que houvera da Condessa Matilde, coisa de fundamento leve como se mostrou no sucesso."
D. Afonso III (à esquerda: Sala dos Capelos, ao centro em Bernardo de Brito, praticamente iguais; e o da direita é distinto) 

Os dois primeiros são iguais, mas o outro é diferente, e poderá ser inspirado "no quadro que veio de França". Como estamos vindo a concluir, é natural que o da Sala dos Capelos siga a representação de Brito, e já não o original do tempo de D. Sebastião.

D. Dinis 
Diz Brito: "Seu retrato ao natural se tirou em tempo de D. João II, de que nos ficou o transumpto, muy conforme em tudo com o que descreve a crónica antiga, & com o vulto que está em cima de sua sepultura, como se pode ver nesta figura, que se fez à imitação de ambos."

D. Dinis (à esquerda: Sala dos Capelos, com a Rainha Santa Isabel, ao centro em Bernardo de Brito, e o da direita é cópia)

Neste caso, o quadro da Sala dos Capelos é bastante diferente, sendo até original na inclusão da Rainha Santa Isabel, não sendo inspirado no quadro mandado fazer por D. João II.

D. Afonso IV
Diz Brito: "Seu retrato se formou da relação de sua crónica por ser o mais verdadeiro transumpto, & os que há de pincel diz conformarem muito da verdade, & de um que em seu tempo se tirou em o retábulo antigo do mosteiro de Odivelas, que se pintou em seus dias & no painel dos Reis Magos estavam ao vivo ele & seu filho Pedro, adorado ao menino Jesus, donde se aproveitou o escultor para formar o rosto como aqui vai exprimido muito ao vivo."

D. Afonso IV (à esquerda: Sala dos Capelos, ao centro em Bernardo de Brito, e à direita uma clara cópia) 

Também neste caso, o quadro da Sala dos Capelos é razoavelmente diferente, mas também não é muito diferente do de Brito.

D. Pedro I 
Diz Brito: "Seu retrato se tirou da formosa figura que ele em vida mandou fazer pelo natural, em cima de sua sepultura, & da relação da sua crónica, & memórias antigas que são as que mais sem suspeita descobrem a verdade: porque uns retratos que comummente se tem por seus ornados com camisa de abanos & guarnição (coisa que naqueles antigos tempos se não usava, nem usou muito depois) & com a vista & olhos atravessados, bem se deixa de ver, ser coisa de fantasia, & pintada de imaginação, ao gosto de quem a mandou fazer, & não imitada do natural."
D. Pedro I (à esquerda: Sala dos Capelos, ao centro em Bernardo de Brito, e à direita ambos cópias) 

Sendo a única referência de Brito a escultura de D. Pedro I no túmulo de Alcobaça, os outros usam até a mesma pose que Brito definiu, parecendo claro que ambos o copiam.

D. Fernando
Diz Brito: "Do corpo & rosto foi muy gentil homem & de Real presença, o rosto teve comprido muy bem tirado, a boca muy corada, o cabelo quasi louro, alvo do rosto, os olhos formosos castanhos claros, conforme diz a Crónica antiga, donde se formou sua figura, & de alguns retratos mais conformes com a verdade dela, ainda que não achei nenhum mais antigo que 1473, que é muito semelhante ao que aqui vai figurado."


D. Fernando (à esquerda: Sala dos Capelos, ao centro em Bernardo de Brito, e à direita talvez ambos cópias)

Ao contrário dos outros dois, Brito não coloca "muita barba" em D. Fernando, mas exceptuando isso, parecem ambos cópias de Brito, ou do quadro de 1473, onde se inspirou.

(continua)