Uma casa típica dos anos 60 tinha umas imagens vindas de África. No caso concreto, na casa dos meus avós estava um quadro-fotografia a preto e branco de umas magníficas cataratas, que fui achando serem as Cataratas de Victoria, pois é como se não houvessem outras em África.
Cataratas do Duque de Bragança, é um nome do passado, porque passaram chamar-se "Quedas de Calandula", após a independência de Angola, nome que é talvez ainda menos conhecido mesmo hoje.
Quedas de Calandula, com 100 metros de altura, rio Lucala (afluente do Quanza, Angola). (... chamavam-se até 1975, cataratas do Duque de Bragança)
Prefiro o nome Calandula, mas a necessidade dos angolanos se desprenderem de nomes coloniais, terá feito perder alguma atenção sobre uma grande atracção turística, já que apesar de não terem a dimensão das Quedas de Victoria, são habitualmente classificadas como "as segundas de África".
A fotografia que me lembro era mais notável, mas de qualquer forma o site
monsoondiaries.com tem um vídeo e fotos ilustrativas, igualmente notáveis:
Estas quedas de água não são caso único em Angola, há outras, por exemplo na fronteira com a Namíbia, no rio Cunene, na região de Cuando-Cubango, encontram-se outras que foram igualmente famosas - as Cataratas do Ruacaná:
Quedas do Ruacaná (fronteira Angola-Namíbia)
No entanto, é preciso ter em atenção que no caso do Ruacaná estas quedas de água dependem agora do caudal do Cunene que é controlado pela barragem a montante. Só quando há descargas, na época das chuvas se poderá ter fotografias com tanta água, senão a água libertada é razoavelmente escassa.
Segredo do Cubango
Vem isto a propósito de explorações feitas por Serpa Pinto em Angola, na época em que eram populares as "redescobertas" do continente africano, feitas por Livingstone, e depois por Stanley, Brazza, e outros, entre os quais entrou Serpa Pinto, desde 1869.
Alexandre Serpa Pinto
Estas explorações portuguesas tiveram um aspecto algo controverso, definido pela necessidade de reclamar a presença oficial em paragens onde sempre haviam estado, para efeitos de reconhecimento externo. Em 1877, Serpa Pinto integra a missão inicial com Capelo e Ivens, de chegar a Moçambique, mas diverge de ambos e vai mais para sul, acabando na África do Sul, em Pretória.
Sobre Capelo e Ivens já falámos:
A divergência entre Serpa Pinto, e os outros dois (Capelo e Ivens), acabou por levar à separação da exploração e a diversas críticas, nomeadamente sobre uma informação que Serpa Pinto apresentou de um certo "
Segredo do Cubango", que não teria revelado, passando a ser usado com desdém e detracção pelos seus opositores (ver por exemplo "
As conferencias e o itinerario do viajante Serpa Pinto", de M. F. Ribeiro, pág. 292).
Esse segredo do Cubango já não seria na região de Cuando-Cubango, seria mesmo na actual região do Botswana, apesar de se relacionar com o rio Cubango, cuja maior parte do percurso é ainda angolana.
A questão é que há um enorme
delta do Cubango (ou Okavango), onde o rio desagua... ou melhor, desaparece no deserto do Calaari, e em parte no lago Ngami. Isto deve-se a evaporação, transformando a região num grande pantanal, que é considerada uma das "
maravilhas naturais de África".
Gambusinos e Chilindró
A forma como acabou por ser encarado o segredo do Cubango, é algo semelhante à forma jocosa como foi evoluindo a noção de gambozino em português...
Gambusino em espanhol colonial reportava aos garimpeiros que procuravam ouro, especialmente na Califórnia, no Séc. XIX, e de certa maneira associa-se à piada de que não iriam encontrar nada. Com efeito essa foi uma manobra de falsa propaganda, destinada a atrair uma boa parte da população, para territórios que necessitavam de colonização rápida (ver também o texto sobre
Fusang e a
fossanguice associada).
Isso terá consistido num de muitos planos da maçonaria, em difundir mensagens enganadoras, um pouco na réplica de "
com papas e bolos se enganam os tolos". Ou seja, nunca esquecendo, nem perdoando, as bulas papais que permitiram aos estados ibéricos dividir o mundo em dois.
Gambusino - é um garimpeiro.
Gambian Mexicanism describes miners and small-scale miners. It also describes the American gold seekers who during the nineteenth century gold rush explored the terrain of the United States and Canada. The Gambusinos who came to the fevers of gold were not trained to recognize the mineral or areas of potential wealth, so they depended largely on their fate. Very few gambusinos were enriched with gold fevers. The gambusinos acted both individually and collectively. In the early years of the gold rush, the ore could be collected from the river beds. The selection was made visually, using a screen to separate the sand and other minerals. When the gold of the rivers ran out, the gambusinos began to associate to explore other sources of the mineral, resorting to the traditional mining and developing techniques like the hydraulic mining.
Chilindró. Esta é outra interessante noção popular que ainda se relaciona com todas as tramas com que a maçonaria acabou por nos presentear, ligando-se neste caso, segundo me parece, ao panóptico de Bentham, uma prisão cuja forma era um cilindro:
https://alvor-silves.blogspot.com/2013/02/panoptico-ou-ovo-de-colon.html
Ler este texto, já com oito anos, não deixa de ser instrutivo...
Acontece que cilindro também se escreveu como cylindro e acidentalmente chylindro. Era essa a forma sugerida por J. Bentham para o encarceramento prisional:
Porquê? Porque assim bastaria um guarda em posição central, para poder ter acesso a todo o movimento dos prisioneiros, nas suas células, com todo o interior visível. Um sonho do déspota encarcerador!
Na minha opinião, a maçonaria só foi ainda mais longe quando iludiu os cidadãos que eram livres, e os convenceu de que deveriam inventar sistemas para que ficassem ainda mais presos e sem possibilidade de fuga. Quem ganhou esse concurso, teve a imediata recompensa de passar a viver nele... como preso, é claro, para certeza que nem tal génio conseguiria fugir!
Que "as paredes têm ouvidos", já o sabemos há muito tempo, o que nunca foi claro é que tivessem associado aos múltiplos olhos e orelhas, algum cérebro funcional. O mais que vemos, será uma sucessão infindável de actos abomináveis, próprios de bestas insanas, cujo destino, assim como das anteriores, será a inevitável e completa extinção. Pode demorar muito, mas é inevitável...
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02.05.2021