domingo, 25 de agosto de 2019

Mito atlante - de Minos ao Minus.

Já aqui aflorámos a questão de como a Atlântida foi um outro nome para América, ou ainda como Schwennhagen considerava esse mito, falando do domínio ocidental sobre o Mediterrâneo e a Grécia.

Um devastador dilúvio terá ocorrido no final da Idade do Gelo (circa 12 mil anos), que terá mudado os contornos da costa como hoje a conhecemos. 
De certa forma, o assunto encaixa bem nos mitos da civilização minóica, se entendermos que o rei Minos poderia ser ligado ao rio Minus, nome latino, do rio Minho.

1. Antevéspera diluviana
Quando a maioria da costa portuguesa, existente antes do fim da Idade do Gelo, está debaixo de água, a pelo menos 200 (ou até 500) metros de profundidade, numa extensão que pode ir de 100 a 200 Km da linha de costa actual, entender-se-à que todos os eventuais registos de povoações costeiras se terão perdido neste dilúvio do final da Idade do Gelo.

A verde as terras que foram inundadas pelo Oceano aquando do fim da Idade do Gelo.

Um problema essencial seria o de conhecer quem estava no controlo, ou se havia algum controlo na sociedade humana, que se apercebesse dos sinais de futuro - que neste caso apontariam de forma dramática para uma inundação, um dilúvio, inevitável.

As teorias existentes são no mínimo tímidas ao abordar este assunto.
Aceitam um nível superior de entendimento humano no Paleolítico, capaz de produzir verdadeiras obras de arte. Tiveram que aceitar uma estrutura social complexa ao descobrir Gobekli Tepe, uma complexa estrutura religiosa enterrada no meio da Turquia. Até porque foi datada aquando deste evento diluviano, há 12 mil anos. Mas nem sequer tentam estabelecer qualquer história que leve de um ponto ao outro, para não se dizer que omitem deliberadamente este evento diluviano, ainda que o aceitem, provavelmente porque é politicamente incorrecto admitir um verdadeiro dilúvio.

2. Finisterra
Outro ponto importante é a estranha procissão de povos celtas às paragens de Finisterra, em busca de uma parte ocidental aparentemente perdida. O nome não deixando de ser elucidativo para fim da terra, pode esconder os dramáticos eventos diluvianos.

Havia o registo de que os celtas faziam procissão a Lugo, cidade pensada por Octávio Augusto, e que depois, em tempos da Idade Média, retomaram o caminho, deslocando-se a Santiago de Compostela. 
Porquê? O que fazia habitantes de paragens distantes fazer esta procissão migratória?

Como já foi aqui abordado, neste Caminho estava o Minho.
O Minho que banhava Lugo, o rio de que se fez Caminho terminando em Caminha.
O Caminho não era de Santiago, o caminho era o Minho.

Aí se viram as águas subir ao ponto em que a terra contínua que saía do cabo Finisterra, formou uma ilha, ilha ameaçada pela inundação constante, resultante da verdadeira mudança climática.  
A ilha em frente ao Minho que desapareceu com o dilúvio da Idade do Gelo.

3. Minos e Minho 
A civilização cretense terá sido antiga (circa há 5000 anos), mas não tão antiga ao ponto de se colocar na altura deste evento diluviano.
Por isso, podemos enquadrar dois tempos - o tempo antigo, do dilúvio, e o tempo mais recente, da civilização cretense.

Que sentido faz associar todos os mito taurinos, em particular o do Minotauro, a uma ilha onde os touros não eram nativos... e de onde eram nativos esses touros? Não seria da região ibérica, onde na gruta de Altamira foram pintados os seus primeiros registos?

Portanto, uma hipótese natural seria considerar que os primeiros mitos ligados ao Minotauro não apareceram em Creta, mas sim na Europa, na região entre a França e a Ibéria, como é o caso da pintura rupestre do Quinotauro de Chauvet. As quinas, cinco pontas, referiam-se às 3 do tridente de Poseidon e às 2 dos cornos taurinos, e foi remetida a um origem mítica dos Merovíngios.

Ora, o fim da terra, poderá ter sido o fim da enorme ilha em frente ao Minho, que desapareceu ao tempo desse dilúvio pré-histórico. Esse mito foi passando pelos tempos e pode ter sido confundido em épocas diferentes.

Podem os principais mitos associados a Minos, associar-se ao Minho, nesta particularidade?

a) Minos era filho de Zeus e Europa... Europa que tinha sido raptada por Zeus. Uma Europa raptada pelo deus ligado ao tempo atmosférico, e assim à mudança climática em curso. A Europa tinha ficado definida pela invasão das águas, sendo grande parte do terreno raptado pelo avanço do mar.

b) Minos terá pedido a Poseidon, deus do mar, um belo touro que recusou sacrificar. Como castigo, Poseidon convenceu Afrodite a apaixonar a mulher de Minos pelo touro, resultando dessa paixão animalesca, o famoso Minotauro. Pausanias relacionava Pasiphae (mulher de Minos) a Selene, ou seja, à Lua (com o nome Menes - de onde surge o nome "mens" - "meses"). Estão aqui ligadas as 5 pontas, pelo lado de Poseidon as 3 do tridente, e pelo lado dos cornos do touro, as restantes 2.
Acresce que a ligação entre a Lua e os cornos bovinos sempre esteve presente. Era conhecimento antigo, uma ligação entre as marés e a Lua. Uma subida descontrolada do nível do mar poderia ser associado a uma influência pouco natural da Lua.

c) Minos exigia o sacrifício de 7 jovens gregos ao Minotauro, constando que o número 7 correspondia à periodicidade da lua cheia ocorrer em equinócios a cada 8 anos. Isso teria ocorrido até que Ariadne ajudou Teseu a eliminar o Minotauro.

d) Para esse efeito usou o fio de Ariadne, que de forma figurada é entendido como o processo de encontrar uma solução, memorizando e eliminando as tentativas falhadas anteriores.
Ou seja, de forma concreta, sob ameaça de subida das águas, seriam tentadas as mais diversas soluções, eliminando as que não resultavam. Poderiam ter sido tentados sacrifícios humanos, que só foram parados, porque esse processo não acalmava a subida das águas.

e) O Labirinto foi construído por Minos para aí encerrar o Minotauro. Existem moedas cretenses que o apresentam desta forma:
 
... enquanto ao largo da Madeira apareceu a misteriosa e gigantesca estrutura submarina, que não deixa de ser curiosamente parecida. Poderia ter-se construído uma gigantesca muralha para enredar as águas do oceano, e assim pensar que se detinha o seu avanço?

f) Dédalo foi o "engenheiro" chamado por Minos para construir o Labirinto, mas também ficou conhecido na sua primeira tentativa de vôo... Afinal, para além da construção de uma arca, que outras possibilidades se levantariam, acaso o nível das águas não parasse de subir? 

4. Hércules 
De uma ou de outra forma, parece claro que poderia ter existido uma civilização pré-histórica, muito semelhante à civilização minóica, dir-se-ia minhóica, que foi confrontada com o problema do avanço das águas, que terá submergido ilhas significativas ao largo da costa atlântica. Isso poderá ter ficado registado de forma mítica, com maior ou menor deturpação face aos acontecimentos originais.

Hércules também é associado no 7º trabalho à captura do touro, pai do Minotauro. Além disso é considerado que pela sua força extrema teria aberto a passagem no Estreito de Gibraltar, durante milhares de anos entendidos como "Pilares de Hércules". Mais simplesmente do que isso, o avanço das águas tornou efectiva a ligação entre o Atlântico e o Mediterrâneo, e portanto por esse efeito o Estreito foi definido, dividindo a Europa da África. 

5. Creta
A subida de água, o dilúvio prolongado, terá feito temer o fim da humanidade, e um refúgio natural seria o local mais alto que protegesse dessa subida. Como bons candidatos, para além dos Alpes, as montanhas do Taurus seriam mais altas e menos agrestes à civilização existente. Uma certa elite poderá ter feito aí, nas redondezas do Monte Ararat, esse refúgio de um grupo escolhido, enquanto o restante da humanidade teria ficado entregue a si mesmo, perante a fatalidade iminente. 

Poderá isso ter causado uma cisão social insanável, durante milhares de anos... 
Por um lado, uma certa elite, que pode ter feito na Turquia os monumentos em Gobleki Tepe, e que depois os enterrou, de forma propositada. Essa mesma elite teria levado ao definir das primeiras civilizações, no Crescente Fértil, na altura em que o mar recuou, definindo um contorno próximo do actual. Ao contrário da anterior, mais comercial, estas novas sociedades seriam maioritariamente sociedades agrícolas.
Por outro lado, o que restou da sociedade popular, abandonada a si mesmo, foi recuperado na civilização antiga, tendo mesmo levado ao seu reestabelecimento na ilha de Creta.
A memória da civilização antiga, engolida pelo mar, seria lembrado nessas paragens, com os seus monumentos, com a sua lembrança do touro, bem latente em Cnossos. Cnossos já não seria nosso, mas talvez a lembrança do nome tenha ficado naquilo que foi Nosso

Mais tarde, os povos celtas, outra parte dessa sociedade perdida e recuperada, teriam ainda a lembrança de fazer romaria à ponta de Espanha, ao fim da terra, onde outrora ficara a ilha engolida pelo mar. Ao tempo dos romanos foi o Calix Janos, e no tempo medieval foi o Calix Iago, de peregrinação a Santiago.
Ficou esse Caminho do Minho, pelo rio Minho que findava em Caminha.

8 comentários:

  1. Boa noite caro Da Maia,

    Mas não podemos descurar que o caminho de São Tiago tenho a sua razão de ser na descoberta das suas ossadas e essa seja a verdadeira razão do caminho. Bem, na verdade as ossadas serão sim de São Prisciliano mas desse a igreja de Roma não gostará muito mas o celticismo sim...
    Bem mas o que achei piada foi:

    "Minos terá pedido a Poseidon, deus do mar, um belo touro que recusou sacrificar. Como castigo, Poseidon convenceu Afrodite a apaixonar a mulher de Minos pelo touro, resultando dessa paixão animalesca, o famoso Minotauro."

    Será por aqui que surge a expressão "um par de cornos" quando existe um situação de infedilidade entre um casal?

    Tudo bem consigo? Essas férias?

    Um abraço

    JR

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    1. Olá, caro João.

      Pois, é uma excelente hipótese, mas quase exclusiva do português.
      Creio que noutras línguas não é muito comum usar "corno" para infidelidade.

      Este mito mostra como os gregos não tinham grande contenção na sua imaginação "pornográfica", contemplando várias situações de zoofilia. Sexo com um touro é elevar a fasquia quase para o exemplo mais bizarro que se poderia imaginar. Já isso tinha sido usado com Zeus no rapto de Europa, e também a situação de Zeus disfarçado de ganso para seduzir Leda e gerar Helena de Tróia e irmãos.

      Os gregos/romanos eram danados para a brincadeira... não estamos a ver judeus, árabes ou cristãos, permitirem tais devaneios no equivalente de Zeus, suprema divindade do Céu.

      Quanto à descoberta de 3 ossadas, feita pelo eremita Pelayo
      https://es.wikipedia.org/wiki/Ermitaño_Pelayo

      convirá lembrar que a associação a São Tiago e 2 discípulos foi mais uma questão de fé, de decreto eclesiástico local, do que propriamente uma análise DNA das vítimas, ao estilo CSI da Idade Média.

      Houve uma vontade de chamar peregrinos para a Reconquista ibérica, e o Caminho de Santiago, recuperado do Caminho de Janos, terá servido de pretexto.
      Daí também se ter usado o epíteto "Santiago Matamoros" e invocar o santo para a matança dos mouros, nas diversas batalhas que os espanhóis tiveram com os árabes.

      Sim, parece claro que os peregrinos de Santiago iam em busca de alguma espiritualidade relacionada com São Tiago, mas já se sabe que o rebanho vai para onde os pastores o mandam ir...
      O problema aqui é que já este caminho tinha antecedentes, anteriores a Augusto, e essa razão em nada poderia ser ligada ao Apóstolo de Jesus, pois que à época nem seria ainda nascido.

      Na minha opinião, e isso não escrevi aqui, mas escrevi antes, a razão da peregrinação celta estaria associada ao culto a Janos enquanto Lugo personagem celta similar - ver aqui:
      https://alvor-silves.blogspot.com/2014/09/colcha-2.html

      Abraço,
      da Maia

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  3. Procurei pelo blog o melhor local para colocar este link, pareceu-me ser aqui o mais recente postal que fala deste assunto.

    Parece que encontraram alguma coisa fora do lugar a -2m.

    Ver link: https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/descoberto-em-ilhavo-primeiro-sitio-pre-historico-subaquatico-do-pais

    A noticia, é melhor se lermos as entrelinhas, ignorando o conteúdo, no título lê-mos "Descoberto... primeiro sítio ...".

    Abraço,
    Djorge

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    1. Obrigado pela sinalização.
      Uma profundidade de 2 metros não é nada, mas dá já para sinalizar o que deveria ser óbvio - o nível do mar não se manteve estático durante os diversos milénios...

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  4. Sim a profundidade é pouca, mas a distância da frente de mar à época é relatada na noticia como 60km do local para OESTE.
    Seria um exercício engraçado, determinar com estes dados como seria o resto da costa, mapeando o recuo da frente mar neste 60km com o ponto de referência o Rio Bôco.

    Um abraço,
    Djorge

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    1. Sim, há essa referência ao nível médio do mar estar a 60 Km da linha de costa actual, mas isso não corresponde aos 2 metros, seriam nesse caso 100 a 200 metros abaixo do nível actual.
      Esse exercício está feito mesmo aqui - o segundo mapa corresponde exactamente ao que seria essa linha de costa, segundo os dados que estão disponíveis.
      Aliás o que é estranho é que há um significativo degrau de altitude justamente aí, e por isso, mais metro menos metro, a costa praticamente não mudaria muito.
      Abraço.

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  5. Göbekli Tepe. Um conjunto de investigadores da Universidade de Edimburgo descobriu no santuário de Göbekli Tepe, na Turquia, aquele que é agora considerado o calendário mais antigo do mundo. Com cerca de doze mil anos e localizado num pilar do primeiro templo da história, esta descoberta pode ajudar a desvendar parte da história da humanidade. E até a reescrevê-la.

    O que este calendário parece comprovar é um evento de que muitos cientistas falavam mas que nunca tinha sido ainda confirmado. O embate com a terra de um cometa há cerca de 10 a 13 mil anos, que causou uma pequena idade do gelo, que terá durado cerca de mil e 220 anos, e acabou também com os animais de grande porte. Conhecida como Dryas Reciente, terá mudado o planeta e sido o ponto de partida para o início da civilização. A confirmarem-se os dados do calendário do templo turco, o cometa não só embateu com a Terra, como causou esse impacto, e ainda obrigou a que a civilização se readaptasse depois ao clima frio que se prolongou por mais de um milénio.

    https://observador.pt/2024/08/09/com-cerca-de-12-mil-anos-foi-encontrado-o-calendario-mais-antigo-do-mundo-que-pode-desvendar-historia-da-humanidade/

    Cumprimentos
    José Oliveira
    Genève-Suisse

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