domingo, 1 de dezembro de 2019

dos Comentários (58) Ninigret e Newport

Em novo comentário de José Manuel Oliveira é referido o Forte Ninigret, a que se juntam na mesma região de Rhode Island, as estruturas Newport Tower ou Dighton Rock.

Como creio que nunca falei aqui destes assuntos, é ocasião de o fazer.

(1) Dighton Rock

O grande calhau estava no meio do rio Tauton, antes de ser levado para o museu.
É claro que se notam inscrições de origem humana, mas dificilmente se consegue concluir alguma coisa sobre o que lá está escrito, a menos que a pessoa esteja munida de grande fé. Durante algum tempo, as inscrições estiveram mesmo marcadas a tinta, o que pré-condicionava a leitura.
O assunto foi ligado à presença de Miguel e Gaspar Corte Real, por Edmund Delabarre em 1912.
Há outras interpretações que vão desde inscrições índias, fenícias, nórdicas, ou até chinesas...
Um grande entusiasta da teoria da origem portuguesa das inscrições foi o médico Manuel Luciano da Silva, que também foi promotor do museu que contém a pedra.

Há quem considere muito relevante este achado, e deu-se grande importância ao assunto.
A principal razão da sua fama é que dali não se vai concluir coisa alguma, o que é excelente para quem quer deixar tudo como está, deixando algum espaço de mistério aos curiosos. Podem se perder anos e anos a discutir sobre o que está, esteve, ou poderia ter estado escrito.
Como se entenderá, nunca mencionei o assunto, porque nada dou por ele...

A chamada Newport Tower é uma peculiar construção antiga, que foi ficando como monumento de Newport. As suas origens eram antigas, descrita em 1741 como um antigo moinho.
Também Edmund Delabarre e depois Luciano da Silva consideraram que este era mais um monumento de origem portuguesa, nomeadamente referindo-se as semelhanças da estrutura à charola do Convento de Tomar.
Ora acontece que existe um moinho inglês em Chesterton, que data de 1632 e é bastante semelhante na estrutura à Torre de Newport.
  
Torre de Newport. Moinho de Chesterton. Charola do Convento de Tomar. 

As semelhanças são de tal forma grandes, que a partir do momento em que vi o moinho inglês, deixei de pensar noutra hipótese.
Poderá argumentar-se que o material usado num caso e noutro são bastante diferentes, podendo aí haver semelhanças com algumas construções portuguesas feitas de xisto, mas nem há construções portuguesas semelhantes à torre de Newport (com possível excepção da charola de Tomar).

Qualquer comparação minimamente objectiva dará uma clara vantagem à teoria do moinho inglês.
Não quer isto dizer que seja uma conclusão definitiva, mas também sobre este assunto passei a dar pouca atenção à hipótese de se ter tratado de uma construção portuguesa.

Ainda em Rhode Island, Charlestown, foram feitas escavações sobre a existência de um forte. A área poderia ter sido habitada pela população indígena, mas depois nota-se uma clara  presença europeia.
A hipótese de ter sido presença portuguesa, é abordada no site (indicado por J.M. Oliveira):
In 1812 a large study was conducted by archaeologist H.H. Wilde and he found many artifacts of Dutch origin. The Dutch in the 1500s were based in New York and could have built a trading post here but there is another intriguing possibility.
Archaeologist William Goodwin, excavating at the fort, found a piece of blue pottery with the letter “R” on it. Some experts believe this might have been the logo belonging to two Portuguese brothers, the explorers Gaspar and Miguel Corte-Real.
In 1500, King Manuel of Portugal encouraged Gasper Corte-Real, the younger brother, to search for lands in America for which he would be granted extended rights. Unfortunately, Gasper disappeared in 1501 while on his voyage. A year later Gasper’s older brother, Miguel Corte-Real, set out to search for his missing brother but he also disappeared.
Fort Ninigret’s mystery deepened in 1921 when an ancient cannon and rusted sword were discovered not far from Fort Ninigret. Along with the cannon several skeletons were also discovered, at least one of which was headless. The cannon identifies as a “cão” meaning dog and was only made by the Portuguese and dated from the 1500s. The sword was of Spanish origin and dated to the late 1400s.
De facto, a semelhança entre o canhão encontrado e os canhões portugueses é grande:
Canhão encontrado em Charlestown (esquerda) e canhão no Museu da Marinha (direita).

Acresce que não haveria razão para um canhão antigo (séc. XVI) ser encontrado em escavações do tempo da presença holandesa ou inglesa (séc. XVII). A espada sendo considerada portuguesa, pode ter tido fabrico espanhol.

Assim, o caso do Forte Ninigret e do canhão encontrado na sua proximidade, é substancialmente diferente dos casos da Torre de Newport e da Pedra de Dighton. Neste caso existe uma possibilidade assinalável de ser um registo português na América do Norte.

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Comentário resposta de José Manuel Oliveira (3.12.2019):
A Torre de Newport com os seus oito arcos e um nicho interior, sem janelas para o exterior, lembra algo idêntico feito em Portugal, as análises à argamassa das pedras prova ser anterior à ocupação inglesa (1500+- 50 anos), fica por se saber quem a construiu, mas que não serve para moinho isso está provado, e é bem diferente da Chesterton que tem seis arcos e várias janelas.
Esse Chesterton com seis arcos, certamente não foi construído para ser um moinho, ambos têm aspeto de miradouros, para mim foram o início dum templo religioso do género de Tomar, ou dum forte militar que não acabaram,
Dighton Rock esteve centenas de anos dentro de água, as inscrições foram quase apagadas pela subida das águas, o que é que hoje pode lá ver claramente? pouco ou nada, mas na época de Delabarre era clara a gravura de: MIGUEL CORTEREAL v[oluntate] DEI hic DUX IND[iorum] 1511, para mim não será uma prova cabal da presença portuguesa na América do Norte, há outras melhores…

8 comentários:

  1. A Torre de Newport com os seus oito arcos e um nicho interior, sem janelas para o exterior, lembra algo idêntico feito em Portugal, as análises à argamassa das pedras prova ser anterior à ocupação inglesa (1500+- 50 anos), fica por se saber quem a construiu, mas que não serve para moinho isso está provado, e é bem diferente da Chesterton que tem seis arcos e várias janelas:
    https://en.wikipedia.org/wiki/Chesterton_Windmill

    esse Chesterton com seis arcos, certamente não foi construído para ser um moinho, ambos têm aspeto de miradouros, para mim foram o início dum templo religioso do género de Tomar, ou dum forte militar que não acabaram,

    Dighton Rock esteve centenas de anos dentro de água, as inscrições foram quase apagadas pela subida das águas, o que é que hoje pode lá ver claramente? pouco ou nada, mas na época de Delabarre era clara a gravura de: MIGUEL CORTEREAL v[oluntate] DEI hic DUX IND[iorum]1511, para mim não será uma prova cabal da presença portuguesa na América do Norte, há outras melhores…e antes de Colombo lá chegar,

    sobre o Forte Altena pode bem ter sido trocada a possessão portuguesa por esse navios de guerra suecos…
    (têm um magnifico num museu, estava submerso).

    vou responder a IRF mais tarde com a fonte e transcrição da inquisição,

    Cumprimentos

    P.S.
    Aqui dá para ver a planície envolvente de Chesterton, para moinhos de vento são geralmente escolhidos pontos mais altos…
    https://www.youtube.com/watch?time_continue=177&v=5xBX3MEAdNQ&feature=emb_logo

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    1. Re: “E depois ficaria a questão, para quê toda a bonecada indecifrável ao lado dos nomes dos navegadores portugueses? ... simplesmente parece fazer muito pouco sentido.”

      E não faz mesmo sentido nenhum a bonecada com as gravuras índias e as que negam ser do Corte Real, pois são “vandalismo” posterior,

      desde a gravura de Miguel Corte Real na mal amada pedra de Dighton, mal amada pelos portugueses de Portugal! até ser retirada do rio, passaram quantos anos ? mais de quatrocentos! Com tanto calhau para se fazerem rabiscos porque diabo tinha de ser só naquele? O médico luso-americano que conseguiu aprovar na assembleia do Estado a remover este calhau não teve a diplomacia suficiente para atrair investigadores creditados a estudar os rabiscos e ao avançar que via lá cruzes da ordem de Cristo portuguesa estragou tudo…

      os estudos que faltam vão ser feitos graças à comunidade portuguesa deste Estado dos USA ter comprado o terreno e lá ter feito o “museu”, seja o calhau gravado ou não pelo Corte Real, há ADN português nos índios de lá e vocábulos que usam…

      Re: “Sobre Dighton Rock, acho que Delabarre leu o que quis ler”
      Não foi bem assim… há quem tenha feito o contrário e não quis ver o que lá estava!
      https://www.harvardartmuseums.org/article/tracing-inscriptions

      não podem estar à espera que os americanos reconheçam “sim isto estava tudo cheio de portugueses quando os britânicos cá chegaram”, pois para isso acontecer tinham que ser os portugueses a o reivindicar, coisa que o Establishment da República Portuguesa recusa, assim sendo a haver mudança ela virá dos luso-americanos, e hispânicos que não se conformam que lhes cuspam encima, coisa que o português de Portugal não se importa que lhe façam,

      acredito tanto em a pedra de Dighton ter sido gravada por Corte Real como na Stonehenge ter tido sempre o aspeto que lhe querem dar hoje,

      os moinho holandeses são cónicos as torres em questão cilíndricas, não são comparáveis em nada, e os seus arcos só poderiam ser feitos para passagem de barcos de fundo chato se a zona fosse inundável, há imagens do interior da torre que os britânicos transformaram em moinho, quase não cabe lá dentro a roda dentada! Nem eles sabem ao certo quem a planeou…

      Cumprimentos

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    2. "seja o calhau gravado ou não pelo Corte Real, há ADN português nos índios de lá e vocábulos que usam…"

      Fontes, por favor. Também quero ser convencido...

      "não podem estar à espera que os americanos reconheçam “sim isto estava tudo cheio de portugueses quando os britânicos cá chegaram”"

      Da Virginia para cima, e é essa a região em questao, o ódio aos próprios Americanos é tanto que mais depressa inventariam isso que reconheceriam a presença e a colonização inglesa...
      Eu só não me parece que aquilo estivesse assim tão cheio de Zé Tugas...

      Cumprimentos,
      IRF

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    3. José Manuel, estamos de acordo quanto ao desprezo que esta 3ª República votou a história nacional, e também por isso não leu nada da minha parte que desvalorizasse os esforços do médico Luciano da Silva, ou outros similares.
      No entanto, nunca a pedra de Dighton me convenceu, e achei por bem dizê-lo.

      Quanto ao livro de Manuel Mira, acho que faz bastante sentido a pesquisa feita na comunidade dos Melungos. Além disso há uma linhagem de haplogrupo R1 na América do Norte que está por explicar.

      Quanto aos moinhos, só mencionei os holandeses pela altura, o moinho de Chesterton também é cilindrico, e rodas dentadas haverá de todos os tamanhos.

      Estaremos de acordo no assunto, simplesmente eu não creio que Dighton e Newport sejam pistas claras a favor da presença portuguesa.

      IRF, o "X marks the spot" do David Jorge, está excelente, já me tinha esquecido desse mapa.

      Aliás, há um outro, que coloquei aqui no início:
      https://alvor-silves.blogspot.com/2010/03/presenca-islamica-na-america.html
      que me parece ter bandeiras portuguesas e islâmicas.

      Convém não esquecer que além de portugas e espanhóis, os turcos também andavam a navegar no Atlântico e reclamam presença na América.

      Creio que há ainda mais mapas, com bandeiras portuguesas na zona dos EUA... é uma questão de procurar.

      Cumprimentos,
      da Maia

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    4. Caro Alvor, o mapa que me indicou não é muito legível, realmente...
      E quanto aos mouros na América, já ouvi falar, parece-me interessante mas não me convence...

      Porque diz que os Turcos navegavam no Atlântico?

      Cumprimentos,
      IRF

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    5. »» Porque diz que os Turcos navegavam no Atlântico?

      The Turkish president, Recep Tayyip Erdogan, has claimed that Muslim sailors reached the Americas more than 300 years before explorer Christopher Columbus.

      Speaking on Saturday at a gathering of Muslim leaders from Latin America, Erdogan said contact between Islam and Latin America dated back to the 12th century.

      It is alleged that the American continent was discovered by Columbus in 1492,” Erdogan said. “In fact, Muslim sailors reached the American continent 314 years before Columbus, in 1178.”

      “In his memoirs, Christopher Columbus mentions the existence of a mosque atop a hill on the coast of Cuba,” Erdogan said, adding that he’d like to see a mosque built on the hilltop today.



      »» The Guardian 16/11/2014: Muslims discovered America, says Turkish president

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  2. Já tinha conhecimento do livro. Mas como nao o li, vou ficar calado a respeito dele.
    Mesmo que admitamos uma mesmo que parcial origem Portuguesa dos "Melungos", há várias fases da "etnogenese" dos Melungos actuais... de tal forma que não creio que por aí cheguemos a algum lado.
    É isso e certos preconceitos que tenho relativamente ao senhor Mira... e pelo que me foi dado a conhecer do livro não carrega muito na tónica dos descobrimentos...

    Leu o livro?

    Cumprimentos,
    IRF

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  3. Folgo em saber dessa sua colaboração.
    Agradeço-lhe pela disponibilidade mas já estou a ler muita coisa e não tenho mesmo tempo por agora.
    Mas aguçou-me a curiosidade e penso em ler esse livro "um destes dias"...

    Cumprimentos, meu caro.
    IRF

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