Continuamos aqui com o índice do Livro de Marinharia, e será ainda necessário outro postal para o completar...
Em comentário Djorge avançou a hipótese relativamente à designação "Estreito dos Magalhães".
O nome poderia referir-se aos pinguins magalhanicos e não ao nome do explorador.
Dito de outra forma, tal como Alberico Vespúcio passou a Américo para conformar a Améxica, também se os pinguins fossem "magalhães", o nome Magalhães seria apropriado ao explorador nomeado. João de Lisboa usa a expressão plural "dos Magalhães", e é só a vermelho que aparece já fora da página uma pequena menção a dizer "estreito de fern magalhãis".
Convém relembrar que João de Lisboa terá participado como piloto na viagem de Magalhães, e ainda que se possa admitir um erro do uso do plural, não parece ser o caso. E, sim, estamos fartos dos erros como explicação para tudo.
Agora, porque razão "magalhães"? Agora, em espanhol diz-se "ahora", e isto é ilustrativo de que por vezes o "g" veio substituir o "c" ou coisa nenhuma. Em italiano "magiore" é "maior", e eu arriscaria que o nosso "magala" aplicado aos soldados vem de uma palavra perdida entre nós - "maiala", que em italiano ainda significa porco castrado, normalmente sacrificado à deusa romana Maia (ou Maga). Portanto, o termo poderia referir-se popularmente a porcos domésticos, e não seria de descurar que pudesse ser usado depois para alcas ou pinguins. A palavra pinguim pode até resultar do latim, mas o latim não seria a primeira opção dos marinheiros... Quem achar isto estranho, pode procurar a razão pela qual Câmara de Lobos, na Madeira, se refere a "lobos marinhos", ou seja focas, e não a lobos canídeos!
Na folha 31 aparece um título muito interessante:
Aliás, logo de seguida, João de Lisboa refere: "... estão per portos e lugares e fundos e sinais que em os ditos portos e a dita costa toda de longo a longo há".
É nesta página que vemos referência à ilha das Maidas, à ilha de São Brandão, e a outras, que nunca terão passado de sinais nas cartas de navegação.
Da folha 32 para a frente, aparece uma descrição da Rota de Lisboa à Índia, sem mencionar as viagens de Bartolomeu Dias ou de Vasco da Gama ou outra "viagem pioneira" anterior.
Com efeito, uma particularidade que temos é uma completa ausência de referência a esses navegadores na nomenclatura deixada. É veiculado que o Rio do Infante teria razão em João Infante, piloto de Bartolomeu Dias, que teria assim dado aquele nome em sua honra (enquanto nada ficou associado a si - uma grande atitude altruísta).
Já vi desculpas com mais consistência... até porque não havia problema em dar dois nomes - temos na descrição por exemplo o Rio de Fernão Veloso e não o Rio de Veloso.
Se há algum infante conhecido como "Infante" era justamente o Infante D. Henrique, e conforme já disse há quase dez anos atrás, ali poderia ter sido o ponto de paragem do contorno africano, como "talant de bien faire", até que D. João II levou as explorações muito mais longe.
Incluo ainda algumas figuras que vão ilustrando o tratado.
Seria bom ter o texto transcrito para poder ser lido, mas parece que tal propósito escapou às diversas gerações de historiadores que temos tido - que não encontraram tempo, ou motivação, para o fazer.
Em comentário Djorge avançou a hipótese relativamente à designação "Estreito dos Magalhães".
O nome poderia referir-se aos pinguins magalhanicos e não ao nome do explorador.
Dito de outra forma, tal como Alberico Vespúcio passou a Américo para conformar a Améxica, também se os pinguins fossem "magalhães", o nome Magalhães seria apropriado ao explorador nomeado. João de Lisboa usa a expressão plural "dos Magalhães", e é só a vermelho que aparece já fora da página uma pequena menção a dizer "estreito de fern magalhãis".
Convém relembrar que João de Lisboa terá participado como piloto na viagem de Magalhães, e ainda que se possa admitir um erro do uso do plural, não parece ser o caso. E, sim, estamos fartos dos erros como explicação para tudo.
Agora, porque razão "magalhães"? Agora, em espanhol diz-se "ahora", e isto é ilustrativo de que por vezes o "g" veio substituir o "c" ou coisa nenhuma. Em italiano "magiore" é "maior", e eu arriscaria que o nosso "magala" aplicado aos soldados vem de uma palavra perdida entre nós - "maiala", que em italiano ainda significa porco castrado, normalmente sacrificado à deusa romana Maia (ou Maga). Portanto, o termo poderia referir-se popularmente a porcos domésticos, e não seria de descurar que pudesse ser usado depois para alcas ou pinguins. A palavra pinguim pode até resultar do latim, mas o latim não seria a primeira opção dos marinheiros... Quem achar isto estranho, pode procurar a razão pela qual Câmara de Lobos, na Madeira, se refere a "lobos marinhos", ou seja focas, e não a lobos canídeos!
Na folha 31 aparece um título muito interessante:
Travessias das ilhas não descobertas
Ou seja, corresponde a assumir a existência de terras não descobertas, ou pelo menos de sinais que representariam essas terras que ainda estariam encobertas.Aliás, logo de seguida, João de Lisboa refere: "... estão per portos e lugares e fundos e sinais que em os ditos portos e a dita costa toda de longo a longo há".
É nesta página que vemos referência à ilha das Maidas, à ilha de São Brandão, e a outras, que nunca terão passado de sinais nas cartas de navegação.
Da folha 32 para a frente, aparece uma descrição da Rota de Lisboa à Índia, sem mencionar as viagens de Bartolomeu Dias ou de Vasco da Gama ou outra "viagem pioneira" anterior.
Com efeito, uma particularidade que temos é uma completa ausência de referência a esses navegadores na nomenclatura deixada. É veiculado que o Rio do Infante teria razão em João Infante, piloto de Bartolomeu Dias, que teria assim dado aquele nome em sua honra (enquanto nada ficou associado a si - uma grande atitude altruísta).
Já vi desculpas com mais consistência... até porque não havia problema em dar dois nomes - temos na descrição por exemplo o Rio de Fernão Veloso e não o Rio de Veloso.
Se há algum infante conhecido como "Infante" era justamente o Infante D. Henrique, e conforme já disse há quase dez anos atrás, ali poderia ter sido o ponto de paragem do contorno africano, como "talant de bien faire", até que D. João II levou as explorações muito mais longe.
Incluo ainda algumas figuras que vão ilustrando o tratado.
Seria bom ter o texto transcrito para poder ser lido, mas parece que tal propósito escapou às diversas gerações de historiadores que temos tido - que não encontraram tempo, ou motivação, para o fazer.
------------- Tratado de Marinharia de João de Lisboa - Índice (2) ------------
21. Rotas de ponentes do estreito de Gibraltar...
22. Sorlimgua Lõ de Rotas de Inglaterra (ilhas Sorlingas - Scilly)
22v. De rotas de Irlamda
22v. De rotas do canal S do Estreito diante dobra S Caliz
23v. Travessas de Flandres (Framdes) para Ponente ...
24v. Sondas de ponentes
24v. Sondas de Flandres (frandes)
25. Sondas de Bordéus (Bordeos)
25. Marés de Irlanda
26. Longaneos com suas marés
26. Léguas de ponente S do Estreito de Gibraltar
26v. Léguas de Inglaterra
27. Marés de Espanha
27v. Pousos de Inglaterra
28. De rotas de levante do estreito de Gibraltar até camudia
29. Léguas de levante de Calez
30. De rotas de Guiné S de Calez...
31v. Travessas das ilhas Não Descobertas
(32- Folha fora do sítio - aparece depois da 42)
32. Este Livro é das Rotas de Lisboa até a Índia & as ilhas dos Açores & assim de todas as outras que neste caminho estão per portos e lugares e fundos e sinais que em os ditos portos e a dita costa toda de longo a longo há. Assim que com este livro podes navegar fazendo todos estes caminhos segundo diz adiante.
33v. Titulo da Canagua
34. Cabo Verde
34v. Titulo do Cabo dos Mastos
41. Angra de Santa Helena
41v. Angra de Santa Helena
42. O pracel.
42. Cabo de boa esperança
42v. Cabo das agulhas
43. Cabo das agulhas
43. Alta de Viana
43. A lombada dos chados
43v. Chadas
43v. A ponta da aguada de S. Brás
44. Cabo da aguada de S. Brás
44. Aguada de Sam Brás
44v. Angra da Serra da Estrela
44v. Ponta de Pescaria & Lago Cerrado (çarrado)
44v. Conhecença do Cabo Talhado
45. Cabo Talhado
45. Terra dos Montes
45. Rio das Vacas
45. Cabo do a Recife
45v. Ilhéus da Cruz
45v. Ilhéus Chãos
46. Ilhéus Chãos
46. Ponta do Carrascal
46v. Ilhéu do Padrão de São Gregório
46v. Ilhéus de Montes Claros (mõtes craros)
46v. Ilhéu de São Cristovão (Sam Xpvão)
47. Ilhéus de São Cristovão
47. Ilheu Xo de(?)
47. O penedo das fontes
47v. Avante deste penedo a ponta
47v. A ponta
48. Rio do Infante (Yfamt&)
48. Do rio do Infante
48. Cabo das areias (areas)
48v. O monte que parece ilhéu
48v. A ponta primeira
48v. A mata primeira
49. A mata segunda
49. O Rio da mata. Riacho
49v. Riacho
49v. Cortada
49v. O morro
49v. Terra do Natal
50. O morro
50v. Sinais do morro.
50v. As barreiras.
50v. Terra da pescaria
50v. Ponta de Santa Luzia
51. O morro preto
51v. Ponta de Santa Luzia
51v. As barreiras
51v. Os medaos do ouro
52. Os medaos do ouro
52v. Terra dos fumos
53. Terra dos fumos
53. Angra da Lagoa
53v. Fim da Angra. Manchas. Montes
54. Cabo de São Sebastião
54. Rio de São Vicente
54. Rio dos Bons Sinais
54v. As ilhas primª
54v. Ilhas primeiras
54v. Moçambique
55v. De Moçambique ao Rio de Fernão Veloso
55v. Rio de Fernão Veloso
56. Ponta do Rio de Fernão Veloso
56v. Tanto Avante como Este Rio de Fernão Veloso
56v. Ilha do Açoutado
57. Ilhéus de São Lázaro
57. Ilhas Rastas
57v. Ilhas derradeiras
Nota: (12.02.2019)
Há algumas fotografias desta região de Moçambique - Fernão Veloso e ilhas Quirimbas, que nos permitem complementar eventual o significado destes esboços de João de Lisboa.
Praia de Fernão Veloso (Moçambique)
Praia de Quilalea (Quirimbas, Moçambique)
É ainda interessante notar que, como marca habitual francesa, a Ilha de João da Nova, e a Ilha da Judia (entretanto renomeada pelos franceses de "Ilha Europa") mantêm-se como posse francesa, entre Moçambique e Madagáscar. É claro que Madagáscar reclama a posse, mas será algo inútil, tendo em conta a velha tradição moral francesa - liberdade (de extorquir os outros), igualdade (quando reclamam algo alheio), e fraternidade (para enganar os manos).
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