Após a leitura da última parte do Livro de Marinharia, convém corrigir/esclarecer o seguinte:
No capítulo "Livro Sumário e Repartidor" (pág. 64v) pode ler-se (ou quase...)
Inicia ali algumas páginas em que pretendendo falar de tudo, acaba por se dispersar rapidamente e termina ao fim de três folhas, ou pouco mais que seis páginas. Fala de Tubal, Noé, Júlio César, dos Godos, de Pelágio, da conquista aos mouros, dos cavalos da Andaluzia, pretendendo talvez fazer um resumo histórico incompleto. Parece terminar abruptamente, como se fosse tarefa incompleta. Nestas poucas páginas não menciona praticamente nada do que propõe, nem Guiné, nem Índia, nem Brasil.
- Se tal tivesse sido tirado por outra pessoa, que não o próprio, qual seria o propósito de inclusão?
Em suma, concluímos que este Livro de Marinharia é posterior a 1527, e ainda que João de Lisboa seja o seu autor provável, tem inclusões posteriores, até c. 1535, o que justifica toda a nomenclatura relativa ao "Estreito dos Franceses", já que a primeira viagem de Jacques Cartier à Terra Nova se deu em 1534... e havia uma necessidade de dar crédito a outros, desejosos de protagonismo (ou aqui "igualdade e fraternidade"), para depois ignorarem por completo o enorme mar português.
Continuo perfeitamente convencido de que a maioria dos mapas será c.1514 (ou anterior), mas que pode ter sido o próprio João de Lisboa a fazer algumas inclusões para se ajustar às vagas dos tempos.
- Na página 63v, a propósito de sondas, fala-se da viagem de Bartolomeu Dias até ao Rio do Infante. Portanto, pelo menos esta viagem precursora é assinalada, e isto contraria a ausência a estas referências, que tinha assinalado antes.
- No entanto, a propósito de sondas, que vão "do Cabo da Boa Esperança até Mogadoxo", parece algo estranho ignorar qualquer menção a D. João de Castro, já que estes baixos são sinalizados no mapa. Este é um problema da datação dos mapas, já que a referência a D. João de Castro, ou ao Japão, justificou transportar a execução dos mapas para as décadas de 1540-50.
- Aparece escrita a data de 1527 na frente e verso da folha 91, referindo a implantação de dois padrões. Um padrão foi erigido a 10 de Junho e outro a 13 de Agosto, ambos em 1527.
- Como João de Lisboa é dado como morto em 1525, isto levantaria um problema de execução pelo próprio. No entanto, recordamos que Varnhagen refere que em 1535 há um outro piloto (Heitor de Coimbra) que pede então para ser nomeado para o seu lugar de piloto-mor do reino. Portanto, será natural assumir que o cargo não esteve por preencher durante 10 anos.
No capítulo "Livro Sumário e Repartidor" (pág. 64v) pode ler-se (ou quase...)
Treslado de um livro que foi de João de Lisboa piloto que fala &(de) todas as coisas e partes que a ter provimento são descobertas e doutras que não o são como adiante longamente vai Assento. E este livro se chama sumário e repartidor das terras e províncias que são sabidas assim de Espanha como de França como de Alemanha como d'alevante e de Constantinopla e da terra de Jerusalém e da terra da Promissão e daí para a Costa. Da Guiné e Índia e do Brasil.
Inicia ali algumas páginas em que pretendendo falar de tudo, acaba por se dispersar rapidamente e termina ao fim de três folhas, ou pouco mais que seis páginas. Fala de Tubal, Noé, Júlio César, dos Godos, de Pelágio, da conquista aos mouros, dos cavalos da Andaluzia, pretendendo talvez fazer um resumo histórico incompleto. Parece terminar abruptamente, como se fosse tarefa incompleta. Nestas poucas páginas não menciona praticamente nada do que propõe, nem Guiné, nem Índia, nem Brasil.
- Se tal tivesse sido tirado por outra pessoa, que não o próprio, qual seria o propósito de inclusão?
Em suma, concluímos que este Livro de Marinharia é posterior a 1527, e ainda que João de Lisboa seja o seu autor provável, tem inclusões posteriores, até c. 1535, o que justifica toda a nomenclatura relativa ao "Estreito dos Franceses", já que a primeira viagem de Jacques Cartier à Terra Nova se deu em 1534... e havia uma necessidade de dar crédito a outros, desejosos de protagonismo (ou aqui "igualdade e fraternidade"), para depois ignorarem por completo o enorme mar português.
Continuo perfeitamente convencido de que a maioria dos mapas será c.1514 (ou anterior), mas que pode ter sido o próprio João de Lisboa a fazer algumas inclusões para se ajustar às vagas dos tempos.
------------- Tratado de Marinharia de João de Lisboa - Índice (3) ------------
58v. A Serra. Lombada. Ilhas
59. Terra dos Baixos de São Rafael
59. Baixos de São Rafael
59v. Ilhas
59v. Mombaça
60. Montes. Lombada. Barreiras
60v. Tocango. Rio
61. Árvore. Melinde
61v. Acabamento das Ilhas. O medão
62. Medão. Magadaxo
62v. Título. Das Rotas que há do Cabo de Boa Esperança até Magadoxo
63v. Título. Das Sondas que há do Cabo de Boa Esperança até Magadoxo
64. Rio dos Reis. Boa paz.
64v. Cabo de S. Sebastião
64v. Livro Sumário e Repartidor
69. Rota de Portugal para a Índia
70. Rota de Goa para o Cabo de Guardafuy e Mar Roxo: e do cabo de Guardafui para Ormuz e de Ormuz para Diu
72. D'Adém para Ormuz
72. Conhecença do Cabo de Farfaque
72v. Navegação de Ormuz para a Índia
73v. Navegação de Chaul para Ormuz: na monção de Março
74. Navegação de Ormuz para Mascate na entrada de Setembro
74. Navegação de Mascate para a Índia
75. Estes são os Rios que estão de Bremia até ao Cabo do Comorim & as rotas que há de uns aos outros.
76v. Navegação do Cabo do Comorim para Calecare e costa de Choromandel. Surgidouros do cabo para dentro.
78v. Navegação de Cochim para as Ilhas de Maldivas
79v. Como correm as águas nestas ilhas
80. Querendo passar os baixos para o Cabo do Comorim: terás a maneira seguinte
80. Viagem de Cochim para Bengala o porto de Chatigão
81. Viagem de Cochim para Bengala o porto de Chatigão
82. Rota de Negapatão para a Barra do Satagão
83v. Navegação de Negrões para Tanaçarim
83v. Estes são os rios com as alturas que estão de Bengala para Malaca
84. Regimento da Rota de Goa para Malaca
85v. Navegação de Cochim para Malaca
87. Navegação de Malaca para a Sunda
92v. Navegação de Malaca para a Jaoa & Banda: está Malaca em dois graus largos
100v. Rota para Singapura, Bornéu e Maluco
102. Navegação de Moçambique para a Índia
------------- Fim ------------
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