O alfabeto, uma organização fonética de escrita teve a sua origem atribuída a Agenor, de acordo com a mitologia grega, um lendário rei fenício. Nascido em Memphis, no Egipto, filho de Poseidon e Lybia, estava ainda ligado a Cartago, de acordo com Virgílio, que colocava Dido como sua descendente.
Heródoto considera que Agenor viveu antes de 2000 a.C., e sendo comum considerar Europa como sua filha, na Ilíada é também considerada como neta, filha de Fénix.
Na procura de Europa, raptada por Zeus sob forma de touro, Agenor enviaria os filhos Fenix, Cadmus e Cilix. Para a história grega interessa especialmente Cadmus, que iria fundar a Tebas grega e passar o alfabeto fenício aos gregos.
Europa raptada por Zeus, na forma de um touro (terracota, séc V a.C., e fresco de Pompeia).
Um aspecto interessante coloca uma origem e a procura fenícia por Europa, talvez querendo reflectir uma primeira exploração sistemática da Europa por parte dos fenícios. O irmão de Cadmus que participa na busca de Europa é Fenix, que fixará uma Fenícia em África (Cartago?) e que vemos aqui representado com um barrete frígio:
Fenix, irmão de Europa
(também considerado pai de Europa, na Ilíada)
Para além desta ligação recorrente à Frígia, também o irmão Cilix acabará por fundar a Cilícia, sempre na Ásia Menor, onde a confusão e aglomeração de reinos é bem ilustrada nesta imagem da wikipedia:
A complexidade de reinos na Ásia Menor, na Antiguidade,
não estando representados Hititas e ainda outros povos...
Cadmus, o irmão mais velho, ajudado por Atena irá fundar Tebas semeando homens com dentes de um dragão, após ter tido aprovação dos deuses no casamento com Harmonia em Samotrácia. A referência à ilha de Samotrácia é também aqui colocada como pretexto para lembrar a Nike, talvez a estátua mais bela alguma vez esculpida. Sendo também de notar que o templo de Samotrácia estava ligado a cultos antigos da terra, de Démeter e da filha Perséfone, raptada por Hades.
Nike, Vitória de Samotrácia
O alfabeto fenício acabou por estar na origem de vários outros alfabetos, em particular o hebraico. Na Monarquia Lusitana, Fr. Bernardo de Brito em 1596 apresenta duas sequências de letras, as primeiras correspondentes a um alfabeto mais antigo que era encontrado em textos hebraicos, e as segundas na ortografia do alfabeto hebraico moderno (já à sua época):
Uma boa correspondência entre os diversos alfabetos pode ser encontrada aqui:
É fácil verificar que houve uma transformação significativa dos símbolos, sendo curioso que nalguns casos o proto-hebraico se assemelhava mais com a grafia latinizada, ou com o fenício.
Podemos ver numa comparação como o tetragrama YHVH (Jeová)
(a leitura é feita de nascente para poente)
A forma dos símbolos é semelhante entre o aramaico e hebraico moderno, tal como o proto-hebraico se assemelha ao fenício, mas sendo bastante diferentes entre si.
Relativamente ao "tetragrama sagrado" convém notar que a sua leitura, como Jeová ou Javé, é estranha no sentido em que há uma repetição do E.
A fazer-se alguma leitura seria mais lógico JEVE... porém devemos reparar que os gregos não faziam distinção entre o F e o V (ou melhor, o V não existiria), e no hebraico nota-se a falta antiga do F (aliás nos nomes hebraicos antigos é raro, talvez Jafet seja o mais conhecido, e desconheço se haveria algum nome começado por F).
Por outro lado, a pronúncia da letra J leva a uma semelhança fonética curiosa entre
JEFE ~ CHEFE
que pode ser quase imperceptível. Aliás, em espanhol, Chefe escreve-se exactamente Jefe...
Isto nada tem de extraordinário, a forma usual de tratamento como Senhor terá sido equivalente à forma antiga de Chefe. A diferença de tratamento, e de actual entendimento, considerará o Senhor numa posição de condição superior, enquanto o Chefe é alguém semelhante colocado em posição de liderança. Na concepção teológica cristã, sendo essa semelhança humana enfatizada, a palavra Chefe seria mais adequada... não fosse o sentido algo pejorativo que foi tomando, ao longo dos tempos.
Não deixa de ser notável que apesar das 2 letras serem iguais, se insista numa reinterpretação fonética, conduzida de forma a considerar natural interpretar uma letra como A e outra como E, no caso de Javé, ou a ainda mais estranha colocação de um EO e A final, no caso de Jeová.
Etimologicamente creio que o nome Chefe é uma designação tipicamente ibérica, e não é de excluir que haja uma associação - num sentido ou no outro.
Falando do duplo E, não deixo de lembrar uma imagem de uma pedra antiga que se encontra na povoação do Carvalhal, no concelho de Sátão, junto à Capela da Srª. do Barrocal:
Imagens em patrimoniosustentavel.blogspot.com
No mesmo sentido de leitura fonética, na semelhança entre o Ch e o J, poderia falar-se na derivação de Jave para Chave. Isso talvez fosse mais adequado para o filho de Noé, Jafé, mas não é aí consistente com o espanhol Llave.
ResponderEliminarPela forma latina "Iapetus" para Jafé, a semelhança ocorrerá na forma Japeto ou Gepeto... já que como dissemos o F não deveria constar diferenciado na língua primitiva.
Na minha opinião cada palavra tem a sua própria história e a sua forma mais apropriada de se chegar a conclusões mais objetivas da sua origem e relação com outras de outras linguas mas primeiro teriamos de rever o seu respetivo percurso temporal e espacial.
ResponderEliminarPor exemplo, Qual a origem da palavra chefe? Eu relaciono-a por causa da provável semelhança fonética com os saefes, do mesmo modo que alguém relacionou os cempsios com Sesimbra e Beja com a desaparecida Conistorgis dos cónios.
Ou seja, só depois de se refazer a "história" da pré história da penunsula ibérica relacionando a origem comum das linguas celtas e semitas assim como da própria escrita que teve origem no sul de Portugal com os cónios é que podemos andar, por enquanto apenas gatinhar e escaver a origem das palavras e das letras.
Caro Cirilo,
Eliminarestamos completamente de acordo com a metodologia. Há que perceber as várias possibilidades, e não embarcar na primeira que dá jeito. Mas também acho que isso passa justamente por enunciar as possibilidades, sem ter medo que estejam erradas. Uma das coisas que me irrita no método científico actual é que só se publica o que corre bem... não se dá igual conta do que corre mal, e por isso mesmo há algumas vezes falsificações ou enganos propositados.
O que interessa é tomar uma linha de pesquisa e segui-la até que algo mostre que ela não se sustenta. E devemos assinalar por que razão não se sustenta... porque por vezes o que poderia estar errado era a que invalidava.
Independentemente do resto, o que apontei aqui, e me parece difícil de me convencerem o contrário, é que o mesmo símbolo teria duas leituras diferentes. Não é que isso não ocorra hoje, mas foi por evolução... acho que nas línguas mais primitivas não fazia nenhum sentido dar o mesmo símbolo a sons muito diferentes.
Por isso, há quatro letras, mas apenas três sons... o resto parece-me ser confusão posterior.
Seguindo a sua sugestão creio que isso poderia levar eventualmente a RÁBÁ, indo não tanto à cidade marroquina de Rabat, cujo nome recente surge de Ribat (fortaleza), mas muito mais a uma forma de JAVA.
Ora JAVA vai parar nas designações estranhas que os portugueses colocaram no sudeste asiático:
http://alvor-silves.blogspot.pt/2013/08/siao-ou-nao.html
... ou seja, Sião com a capital Judea, e as ilhas Salomão.
Como é óbvio, é tudo muito especulativo, mas acho que não devemos deixar de falar sobre o assunto.
Obrigado,
da Maia