Num email enviado no início deste mês de Setembro, David Jorge, fazia menção de um notável mapa existente na Biblioteca do Vaticano.
O manuscrito tem a referência Urb.lat.274, e está disponível para consulta em:
David Jorge salientou alguns tópicos:
(1) A menção a Antília já como parte do continente e não como ilhas.
(2) A presença de Sete Cidades, ou 7 castelos, na parte da América do Norte.
(3) A menção do Regno Patalis (Regio Patalis) numa região que seria australiana, poderia indicar que o nome "Patalis" se poderia referir a animais de grandes patas - ou seja, cangurus.
O manuscrito tem a referência Urb.lat.274, e está disponível para consulta em:
https://digi.vatlib.it/view/MSS_Urb.lat.274 (página 72 e seguintes)
David Jorge salientou alguns tópicos:
(1) A menção a Antília já como parte do continente e não como ilhas.
(2) A presença de Sete Cidades, ou 7 castelos, na parte da América do Norte.
(3) A menção do Regno Patalis (Regio Patalis) numa região que seria australiana, poderia indicar que o nome "Patalis" se poderia referir a animais de grandes patas - ou seja, cangurus.
Acrescentava que uma representação dos patagões - referindo as suas grandes patas - poderia ter sido erroneamente remetida à localização sul americana, evitando a nomeação australiana. Além disso, David Jorge apresentava uma imagem cartográfica dos patagões, que teria pouco de humana:
Tratando-se de uma região associada aos antípodas, surgiu em conversa uma figura típica sobre isso.
Monsters of the Antipodes. (From Margarita philosophica, 1517.)
disponível em Sacred Texts, Book of Earth, de Edna Keaton (1928), que diz:
The Osma Beatus map (Plate XXXIV), although one of the latest (1203), is regarded as one which is in many of its important features most like its prototype. It gives, for instance, alone of all the copies, the pictures of the Twelve Apostles in the regions over which they ruled. It also gives a realistic picture of the inhabitants of the Southern continent or Antichthones, still unknown--those monstrous beings known as Skiapodes or Shadow-footed men, who must always lie or sit in such fashion that their great feet were as umbrellas shading them from the otherwise deadly Sun. There were other fabulous races of this austral land; one whose huge lips, instead of feet, protected them from the scorching fire of the Sun; another whose heads had sunk to a plane almost level with their shoulders; and still another whose heads had sunk quite below the shoulders and had become absorbed in the trunk of the body.
Ao argumento adicionava-se a figura direita, em que a representação de um "homem com cabeça canina", poderia ser uma fantasiosa ideia antiga que via esse habitantes australianos com cabeça de canguru (e com grandes patas). Associar homens a essa descrição seria já uma efabulação própria do contexto medieval.
Não fiquei muito convencido, e disse que, para prosseguir na associação deveria haver uma explicação para as outras figuras, e não apenas para aquelas que se ajustavam à suposição.
David Jorge enviou então, logo de seguida, as três figuras africanas seguintes:
O desenho que mostrava uma cabeça no tronco estava quase perfeita face à mascara africana tribal. Não estava à espera de uma resposta que se ajustasse tão bem às três imagens desenhadas no efabulamento medieval, e declarei-me convencido com a sua contra-exposição.
Poderá dizer-se que neste caso já não estamos a falar de tribos australianas, são tribos africanas, mas como o texto inglês indica, são habitantes do "Southern continent or Antichthones", e poderemos encarar a representação medieval englobando uma descrição da parte africana.
Caro Alvor,
ResponderEliminarObrigado pelo post, confesso que poderia ter-lhe sido mais prestável no auxilio de uma compilação dos varios emails que lhe enviei, mas acho que fez um excelente trabalho a juntar as várias ideias que trocamos.
Só para georeferenciar, também existem tribos "lá em baixo" mas "do outro lado", com este tipo de tradição.
Um exemplo são os Asaro:
https://www.google.pt/search?q=asaro+tribal+mask&client=opera&hs=weH&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=2ahUKEwjy4uLE8OTdAhWLwAIHHaLnCWcQsAR6BAgAEAE&biw=1600&bih=1090
Cumprimentos,
Djorge
Já agora, e aproveitando essa ligação à Nova Guiné, ao lado, na ilha indonésia de Bali há uma figuração de uma máscara com um olho central (ciclópica), que se ajustará mais ao segundo desenho - ver aqui (é a 8ª máscara):
EliminarOne-eyed Witch mask from Bali - Leyak Mata Besik Mask
http://orangeumber.com/archive/view_masks.php?cat=C&cat_title=Bali%20and%20Java
Trata-se de uma máscara de bruxa, relacionada com fecundidade e magia negra... mas curiosamente a segunda figura do desenho parece ser também feminina.
Interessa que o seu argumento abre a possibilidade da explicação dos desenhos bizarros remetidos aos Antípodas poderem resultar de observações reais, depois alteradas com uma distorção própria de serem desenhadas por quem nunca as tinha visto.
Que coisas bizarras, em especial essas máscaras dos Asaro!
ResponderEliminarÉ impossível não pensar logo nos nossos Caretus que não se ficam atrás.
http://videos.sapo.pt/A1jnHcY08nFJgywQlVQJ
Uma coisa curiosa é que se Patagões nos remetem a "grandes patas" então teremos de pensar nos "Bigfoot", também chamados de "Sasquatch" e olhando para imagem 4, fica-se a matutar em alguma ligação.
Cumpts aos dois.
JR
Caro JR,
EliminarSim claro que essa associação tem vindo a ser propagada há vários séculos. A minha dúvida é se não terá sido resultado do relato de Pigafetta, que, por sua vez, não se sabe se lhe foi induzido.
A questão que levantei, foi que os "cangurus" se enquadram da discrição que Pigafetta deu: pés grandes, quase o dobro da altura de um homem, rosnavam, etc.
Tendo em conta que o continente Austral contem fauna completamente única e diferente da maioria encontrada no resto do globo "hoje" (digo hoje porque no que toca aos dormedários, no Atlas Valard de 1547, eles estão claramente desenhados e montados pelos, supostamente, locais) faria todo o sentido não reconhecer as formas à distância e fantasia-las como povos e gente-meia-humana.
Cumprimentos,
Djorge
Sim, João, quanto aos Caretos,
Eliminaraté porque a tradição é supostamente celta... e na definição de celtas cabe uma origem bem primitiva que poderia remontar aos mesmos tempos e às mesmas paragens - ou seja, já aqui deixei a suposição da origem indo-europeia ter raízes na região da Indonésia - Nova Guiné. Isto devido aos traços do DNA poderem apontar nesse sentido.
Há toda uma tradição de máscaras que depois também passou para os teatros gregos e romanos, mas também existe na China... por acaso parece-me bem menos frequente na Índia.
Por exemplo, já não diria o mesmo relativamente aos Cabeçudos, que me parecem ser uma construção mais recente do Carnaval. Isto para dizer que também o Sasquatch ou Bigfoot, parecem-me coisas demasiado recentes para precisarem de explicações tão longe.
Abç
Olá a ambos,
ResponderEliminarTerão provavelmente razão mas o desenho do homem peludo pareceu-me demasiado com a figura a que normalmente se associa o "bigfoot" para não ser mencionado. Depois a questão da tradução à letra pés grandes - bigfoot/feet.
Caro Da Maia, a génese deste bigfoot americanizado https://en.wikipedia.org/wiki/Bigfoot
virá daqui:
https://en.wikipedia.org/wiki/Wild_man
Outra aspecto engraçado mais uma vez relacionado com "pés" é o seguinte:
"Antípodas veio de uma expressão grega significando literalmente "pés opostos" (as pessoas que habitariam nos antípodas caminhariam "ao contrário")."
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%ADpoda
Cumpts,
JR
Ah! Está a referir-se à primeira figura, logo a seguir às 3 imagens do mapa.
EliminarSim, nesse aspecto tem razão, há mesmo ali um "Bigfoot" selvagem, e a observação é pertinente, sem dúvida.