No 2º livro da sua História Natural, Plínio refere vários fenómenos "naturais", alguns que têm explicação conhecida, outros nem tanto.
Um desses fenómenos é conhecido como parélio, e manifesta-se no ocasional avistamento de 3 ou mais sóis - devido a uma refracção da luz em camadas de gelo na estratosfera, na zona onde se formam os cirros, é assim causada uma ilusão óptica.
Refracção por parélio provoca a ilusão de 3 sóis.
Parece estranho que Plínio não considere essa explicação, e vai falar ainda do avistamento de 3 ou mais luas, a que diz chamarem "sóis nocturnos". Se a ilusão óptica do Sol é conhecida, já é muito mais difícil de ter ocorrido com a Lua, no entanto acaba por ser essa a tentativa de explicação dos tradutores, J. Bostok e H. Riley, em 1855.
Há vários outros fenómenos que Plínio descreve, e que podem ser entendiveis pelo título do capítulo:
- Luminosidade diurna à noite
- Estrelas que se movem em várias direcções
- Eclipses especialmente longos
... etc.
As tentativas dos tradutores, para interpretar naturalmente aquilo a que Plínio não dá aparente explicação, e assume apenas como fenómeno estranho, são esforçadas, mas não são minimamente convincentes! É tão ilusória a tentativa de explicação, quanto ilusória parece a descrição do fenómeno.
As tentativas dos tradutores, para interpretar naturalmente aquilo a que Plínio não dá aparente explicação, e assume apenas como fenómeno estranho, são esforçadas, mas não são minimamente convincentes! É tão ilusória a tentativa de explicação, quanto ilusória parece a descrição do fenómeno.
Sobre os eclipses longos, refere que teriam ocorrido aquando do assassinato de César, e também durante quase um ano, aquando das guerras entre Octávio e Marco António, o Sol teria "ficado fraco", razão atribuída a um eclipse.
É interessante, a associação que Plínio faz ao partido de César e Marco António, porque mais do que uma observação natural, parece ser uma opção política. Lembramos que Plínio, que morre na erupção do Vesúvio em Pompeia, e por isso não sendo contemporâneo de César, mostra ainda uma influência clara das opções políticas de uma época que seria mais dos seus avós, mas que marcou as gerações vindouras.
Ao falar sobre o Oceano que rodeava a terra habitável, Plínio fala numa expedição ao tempo de Augusto que teria chegado ao Promontório Cimbri, mas que não teria ido mais longe no enorme Oceano pelo frio. Normalmente Cimbri é associada à Dinamarca... porém esses frios glaciais seriam aí bizarros numa altura em que a temperatura do planeta justificava as vestes ligeiras de gregos e romanos, habitualmente representados em "trajos de Verão" - com as togas ligeiras dos seus senadores e filósofos, ou com as pernas descobertas dos seus exércitos.
Parece-nos bem mais provável que este promontório Cimbri estivesse na zona da Noruega, seguindo os argumentos apresentados no post Alemanha Escandinava.
Entre os vários tópicos interessantes nos relatos de Plínio há dois que merecem desde já a nossa referência:
1º) Quando refere que segundo relatos antigos e ruínas, o mar teria atingido Menfis, que teria sido um porto, e que já à época de Plínio estava bem no interior do Egipto. Ou seja, as pirâmides podem ter sido construídas à beira-mar...
É aliás natural pensar que a descida do centro decisor no Egipto esteve justamente relacionada com este afastamento da orla costeira. A tradição associa Tebas como primeira capital. Depois há uma descida no Nilo para Menfis, onde se encontram as pirâmides de Gizé. Finalmente, já no tempo de Alexandre, é decidida a nova transferência, a jusante, para a foz onde ficaria Alexandria. A Tebas inicial foi recuperada no significado religioso, como é ilustrado depois pelo complexo monumental de Carnac e Luxor, mas essa já não será a Tebas original, a de Ogyges.
Atendendo ao mito do Dilúvio de Ogyges, e à primeira cidade numa Tebas egípcia, o nível marítimo pode ter sido ligeiramente superior ao apresentado neste mapa, conforme já apresentado num post anterior.
2º) Plínio refere ainda que numa expedição levada a cabo na época de Augusto, indo para além da Mauritânia (portanto em zonas tropicais do Golfo da Guiné), teriam sido encontrados ainda vestígios de navios hispânicos naufragados/encalhados nessas paragens. Refere depois o relato de viagens, de Hanno, Himilcon, Eudoxo, etc... que já mencionámos a propósito da obra de António Galvão, que cita Plínio entre outros.
É especialmente curioso notar que Plínio fala em tentativas de circum-navegação, mantendo sempre o mesmo paralelo, mas que estas tentativas não teriam sido concretizadas por falta de empenho, de persistência, de mantimentos, etc...
Ou seja, notamos que 2000 antes, partiam expedições sistemáticas da Hispânia na direcção de África, conforme o registo de navios naufragados dado por Plínio, e provavelmente seguiriam para a América.
Nessa altura eram já feitas tentativas de circum-navegação... pelo que o cenário de exploração não era muito diferente do que veio a repetir-se na época dos descobrimentos quinhentistas. O mecanismo de Anticitera já existiria como auxiliar de navegação, mostrando como seria possível empreender grandes viagens com conhecimento adicional de longitude.
Ao falar sobre o Oceano que rodeava a terra habitável, Plínio fala numa expedição ao tempo de Augusto que teria chegado ao Promontório Cimbri, mas que não teria ido mais longe no enorme Oceano pelo frio. Normalmente Cimbri é associada à Dinamarca... porém esses frios glaciais seriam aí bizarros numa altura em que a temperatura do planeta justificava as vestes ligeiras de gregos e romanos, habitualmente representados em "trajos de Verão" - com as togas ligeiras dos seus senadores e filósofos, ou com as pernas descobertas dos seus exércitos.
Parece-nos bem mais provável que este promontório Cimbri estivesse na zona da Noruega, seguindo os argumentos apresentados no post Alemanha Escandinava.
Entre os vários tópicos interessantes nos relatos de Plínio há dois que merecem desde já a nossa referência:
O Mediterrâneo com um nível do mar elevado.
Menfis cidade portuária, pelo registo dos antigos, segundo Plínio.
É aliás natural pensar que a descida do centro decisor no Egipto esteve justamente relacionada com este afastamento da orla costeira. A tradição associa Tebas como primeira capital. Depois há uma descida no Nilo para Menfis, onde se encontram as pirâmides de Gizé. Finalmente, já no tempo de Alexandre, é decidida a nova transferência, a jusante, para a foz onde ficaria Alexandria. A Tebas inicial foi recuperada no significado religioso, como é ilustrado depois pelo complexo monumental de Carnac e Luxor, mas essa já não será a Tebas original, a de Ogyges.
Atendendo ao mito do Dilúvio de Ogyges, e à primeira cidade numa Tebas egípcia, o nível marítimo pode ter sido ligeiramente superior ao apresentado neste mapa, conforme já apresentado num post anterior.
2º) Plínio refere ainda que numa expedição levada a cabo na época de Augusto, indo para além da Mauritânia (portanto em zonas tropicais do Golfo da Guiné), teriam sido encontrados ainda vestígios de navios hispânicos naufragados/encalhados nessas paragens. Refere depois o relato de viagens, de Hanno, Himilcon, Eudoxo, etc... que já mencionámos a propósito da obra de António Galvão, que cita Plínio entre outros.
É especialmente curioso notar que Plínio fala em tentativas de circum-navegação, mantendo sempre o mesmo paralelo, mas que estas tentativas não teriam sido concretizadas por falta de empenho, de persistência, de mantimentos, etc...
Ou seja, notamos que 2000 antes, partiam expedições sistemáticas da Hispânia na direcção de África, conforme o registo de navios naufragados dado por Plínio, e provavelmente seguiriam para a América.
Nessa altura eram já feitas tentativas de circum-navegação... pelo que o cenário de exploração não era muito diferente do que veio a repetir-se na época dos descobrimentos quinhentistas. O mecanismo de Anticitera já existiria como auxiliar de navegação, mostrando como seria possível empreender grandes viagens com conhecimento adicional de longitude.
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