domingo, 14 de abril de 2019

Tribus centum annorum

A maçonaria comemorou 300 anos em 2017, já que a 24 de Junho de 1717, dia de S. João Baptista, foi formalmente constituída Grande Loja de Londres. A comemoração decorreu no Royal Albert Hall, com alguma pompa e mais exposição pública do que é habitual:
Comemorações dos 300 anos da Maçonaria de Londres em 2017 (vídeo curto, vídeo longo).

Como previsto, as comemorações foram presididas pelo Duque de Kent, grão-mestre e primo da rainha Isabel II, e acima mostra-se foto do espectáculo associado, e do estilo variedades ligeiras, uma coisa entre o popularucho e o rude, que nos é trazida pelo vídeo longo.
Talvez haja comemorações mais dignas aos 303 ou 333 anos, já que há uma certa obsessão pelo número 3, ou mais em concreto, pela tribus. Dei conta destes 300 anos, quando vi que os coletes amarelos tinham saqueado um templo maçónico em Paris. Sem querer falar muito do assunto, a contribuição portuguesa para a maçonaria inglesa será tão grande e quase equivalente à aniquilação do país com a submissão à guarda do poder real inglês, que despontaria nos Séc. XVII e XVIII.

Barrete de Hefesto
Interessa aqui uma compreensão do enquadramento maçónico no contexto mediterrânico.
Por isso continuamos com uma moeda ibérica, de Málaga (Malaka), e que é algo diferente.
- Invoca o deus Hefesto (ou Vulcano) na face, e tem Hélios (ou Sol) no verso:
CoinArchives: IBERIA, Malaka. 2nd century BC. Æ Unit (25mm, 14.19 g, 11h). Bearded head of Hephaistos left, wearing conical cap; tongs to right; all within laurel wreath / Radiate facing head of Helios. ACIP 790. EF, dark green patina with light earthen dusting.
Olho radiante e pirâmide,
no Great Seal da nota de 1 dólar.
São especialmente curiosos os desenhos do verso, ao acompanhar a divindade solar Hélios, de face radiante, no topo do que parecem ser mais duas pirâmides. Ou seja, vendo uma moeda destas, seria difícil não lembrar o verso de outra moeda, o dólar, com a sua icónica nota...


A referência a Hefesto é clara por ter atrás da sua cabeça uma tenaz, um símbolo próprio, bem como por usar um barrete cónico, o pileus, a que estava associado.



Esse barrete cónico foi usado como símbolo da liberdade dos escravos, desde o tempo dos romanos.
Moeda de Brutus - "idos de Março".
Por exemplo, Brutus manda cunhar uma moeda "Idos de Março" (EID:MAR), após assassinar Júlio César, onde coloca justamente esse barrete cónico entre 2 punhais, procurando enfatizar que o motivo do homicídio era restaurar a república e a liberdade dos cidadãos romanos face a um ditador.
Este barrete "pileus" não tinha o formato frígio, conforme se veio a adoptar depois, especialmente no republicanismo do Séc. XIX.

Curiosamente o uso deste tipo de barretes é até remetido à cultura Bell-Beaker, sem que se perceba muito bem o suporte desta hipótese. Numa versão mais curta e mais reduzida ao coruto da cabeça, temos o barrete de velha tradição judaica - o quipá.

Na moeda ibérica não há nenhum nome associado, e assim não podemos ver qual seria a designação local de Hefesto, ou seja, talvez um nome Hé-festa fosse mais apropriado, já que a tradição helénica deixou o deus metalurgico na pouco simpática lembrança de marido traído, pela festa das escapadelas de Afrodite com Ares. Noutras moedas com invocação ao mesmo deus podem aparecer diferentes nomes, talvez invocando apenas a menção enquanto patrono do rei.

Hefesto, estando ligado à produção metalúrgica, teria ficado ainda associado ao avental de couro do ferreiro, e não tanto ao avental de pano do cozinheiro.
Em ambos os casos tratava-se de assar, num caso o aço, noutro caso um assado.
Seria uma alquimia de altas temperaturas, em que era invocado o Sol, ou Hélios.
De transformar chumbo em ouro, à poção da eterna juventude, haviam objectivos icónicos, que variavam entre a figuração de despiste, e alguma experimentação especulativa.

Três pontos fulcrais terão preocupado os detentores do poder efectivo.

  • O primeiro e mais antigo, de que se perdera a talvez a memória, seria a transição para o arco e a flecha, e cavalaria associada. Esse momento marcou um problema de equilíbrio de poder entre o indivíduo isolado e a sociedade. Uma pequena horde de cavaleiros seria capaz de destruir num ápice qualquer aldeia não fortificada.
  • O segundo momento terá sido o uso dos metais, inicialmente do cobre, e logo de seguida do bronze, numa alquimia entre o cobre e o estanho. Este terá sido um momento prolongado, de definição de algumas das antigas civilizações conhecidas. Um período de estabilidade onde a troco da protecção da estrutura social com exército próprio, algumas civilizações floresceram.
  • O terceiro momento foi o colapso da Idade do Bronze, e o advento das civilizações que baseavam o seu poder no ferro temperado, no aço. Os Assírios, com Sargão, terão sido dos primeiros a usar o ferro, mas talvez o momento crucial de transição tivesse sido definido pela Guerra de Tróia. Essa transição entre a Idade do Bronze e a Idade do Ferro, terá sido particularmente brutal e cruel.
Os poderes que perduraram foram aqueles que resistiram e definiram a transição, da Pedra ao Cobre, entre o Bronze e o Ferro. 

Sendo, mais ou menos claro que, aqueles que combatiam não eram os mesmos que produziam o material de guerra, a sociedade só era minimamente funcional quando os mestres profissionais, como os ferreiros ou os pedreiros, eram cooperantes com o poder existente, permitindo que o poder fosse efectivo.

Nenhuma eleição muda o poder existente.
Os eleitos limitam-se a sentar-se nos lugares, nas cadeiras, a eles destinadas, e a fazer como poucas variações os papéis para si previstos. Numa eleição, o povo não dá uma nova estrutura de poder, simplesmente mete novas caras na hierarquia de poder pré-existente. A maior variação que existe é na coexistência de duas máquinas operacionais concorrentes - uma ligada a um partido e uma outra ligada a outro. Mesmo em revoluções, é raro ver uma completa substituição do anterior poder, até porque o novo poder é sempre ignoto em múltiplas matérias. Um caso típico é a manutenção da máquina judicial anterior, quase sem alteração significativa face à nova.
Por isso, as repúblicas passaram a definir um poder próprio inerente e imutável, submerso numa ideia de mudança de cara, que raramente trazia qualquer mudança de política.

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