quarta-feira, 10 de março de 2021

King Kongo (1)

Na literatura inglesa, rei do Congo é designado "King of Kongo". Estas eram as suas armas reais, onde se lê Rei de Mani Cõgo:


D. João II sempre se orgulhou de ter conseguido a conversão do primeiro rei do Congo à religião cristã, baptizado em 1491, e que adoptou o mesmo nome, João.
A partir daí todos os reis do Congo usaram nomes portugueses, até hoje.
Franceses, belgas, etc, usam por vezes um nome indígena, para evitarem ter que explicar que os reis do Congo prezavam a sua ligação a Portugal, e o nome português. Mesmo outras casas dinásticas que governaram o Congo usaram o símbolo das Quinas, como a Casa de Coulo (em francês, inglês Kwilu):
D. Álvaro I, rei do Congo em 1568.

De certa forma, os reis do Congo mantinham um controlo sobre os locais, e dominavam o comércio de escravos. Para evitarem que fossem os seus a serem usados como escravos, fariam guerra às tribos vizinhas, e vendiam os prisioneiros aos negreiros portugueses. 
O problema começou logo com D. João I do Congo, que assim que morreu D. João II, abandonou a religião católica. Os portugueses apostaram na sucessão, e quando este morreu em 1506, provocaram uma guerra cívil, apoiando D. Afonso I, o irmão que iria garantir que o Congo seria sempre católico, e até com embaixador em Roma.
O rei D. Afonso I protestou contra o comércio de escravos, que ia já além do seu controlo, e começava a haver transacção com pessoas livres, vendidas como escravos. Apesar de estar sujeito às "ordenações manuelinas", perante tal lista diz-se que ironizou, perguntando ao embaixador português, Rui de Aguiar:
  • Qual é então a punição por pôr um pé no chão?
Este reino do Congo foi varrido da memória nacional, mesmo que todos os seus reis continuassem a usar nomes portugueses. Os portugueses estavam de certa forma confortáveis com o controlo que Francisco de Almeida propusera na Índia - sempre que o governante começasse a ter ideias próprias, era mudado, por golpe palaciano ou efectiva disputa com irmãos mais obedientes.
Claro que Francisco de Almeida não imaginaria que 500 anos depois Portugal seria sujeito ao mesmo, quando cedesse a sua independência (por exemplo, a Bruxelas, ou ainda antes ao FMI).

Indo directamente ao assunto.
Com o crescimento do Império Alemão, Bismarck começou a fazer birra pelo facto de não estar a calhar nada à Alemanha como potência colonial, e promoveu a Conferência de Berlim (1884-85), que foi especialmente apadrinhada pelo rei Leopoldo II da Bélgica, visando ficar com o Congo, em nome de uma "sociedade internacional", de que por acaso era dono. Da rainha Victoria de Inglaterra, sua prima, Leopoldo recebeu o turista Stanley, muito promovido (ainda hoje), por ter andado a mapear uma África que os portugueses conheciam há séculos...

Nestas coisas, os facínoras movem-se sempre pelo "progresso da humanidade civilizada". 
Usaram ideais anti-racistas, quando queriam efectivamente dominar outras "raças", argumentando que existia escravatura em África, nos territórios islâmicos e sob controlo indígena... o facto desse comércio de escravatura existir umas décadas antes, promovido pelos próprios, não interessava nada.
Não usaram ideais libertadores, porque a contrario iam efectivamente colonizar, isso só seria usado depois da 2ª Guerra Mundial. 
Não usaram ideais de uma cândida verdura, porque iam efectivamente explorar a selva, e porque as agendas do clima, LGBT, etc... eram coisa para ficarem de molho, para cozinhar agora.

No Congo, que Leopoldo tanto queria, havia um problema:

King Kongo, D. Pedro V:

Sejamos claros, nesta conversa toda, que sabemos ser conversa para crianças numa loja de doces, havia um reino que era cristão, que tinha uma história muito mais antiga que a da Bélgica (que nem sequer tinha um século), que nunca se recusara a usar costumes europeus, que não apreciava o uso de escravos, e onde não era propriamente fácil usar de qualquer argumentação LGBT (liberdade, garantia, bonomia, e trabalho), para chegar lá e cortar como se não existisse...

O que é que isso interessou? Nada!
O rei do Congo teve que ficar sob o protectorado português de Angola, e o resto do território, foi para belgas e franceses. 

Portugal estava numa posição complicada, porque se via ameaçado por todos os lados, e só encontrou como aliado a Inglaterra, para evitar que o Congo entrasse por metade de Angola. Depois pagou isso, porque a Inglaterra achou que a ambição de Portugal ligar Angola a Moçambique, era demasiada.

O rio Congo seria um rio internacional, e através dele, Leopoldo teria acesso ao mar.
Leopoldo depois pode explicar os seus ideais progressistas ao reinar sobre o Congo, a escravatura passou a chamar-se trabalho (forçado), e outros requintes de civilização, ou seja, atrocidades, com estimativas que variam entre 1 e 15 milhões de mortos. Vivam os ideais progressistas!

Para percebermos como Portugal é que era uma nação racista, que espezinhava os negros, ao contrário das outras sofisticadas e progressistas nações europeias, veja-se esta pequena diferença, em que Rafael Bordalo Pinheiro apresenta a rainha do Congo, D. Amália, dando um sermão ao emissário que a iria representar na conferência:


Bordalo Pinheiro, que dedica uma série de números ao assunto, comenta:
  • A rainha do Congo, D. Amalia, que é incontestavelmente a pessoa mais interessada na questão que se está discutindo na conferencia de Berlm, acaba de investir de poderes de accessor pratico em aquela conferencia ao popular Zé Augusto que vae encarregado de pregar sobre a morte do Congo o mesmo sermão de lagrimas que costuma pregar por occasião do enterro do bacalhau.
Irei dedicar mais uns números a este assunto, porque isto tem pano para mangas...

Por isso, quando ouvimos a malta da nossa praça falar de "racismo" em Portugal, convém fazer notar que os únicos a invocar a questão racial são na esmagadora maioria auto-denominados "anti-racistas".
Também nenhum careca gosta de ser chamado "careca", e não é por isso que vou classificar comentários como carequistas, ou fazer a apologia do anti-carequismo
A maioria dos "anti-racistas" são brancos que querem chamar "pretos" a quem não pertencer ao seu clube de ignorantes. Ou seja, querem ser racistas à sua maneira. Como a maioria, estão-se totalmente a borrifar para os negros, mas usam esse pretexto para censurar pessoas e opiniões, como qualquer inquisidor medieval.
Na quase totalidade, desconhecem os contornos manipulatórios onde são usados como marionetas.
Já agora, quero ver aparecer o primeiro anti-racista militante, que mencionou, ou sequer conhecia os reis do Congo com nome português.
Haja paciência, porque falta paciência para tanta estupidez militante...

6 comentários:

  1. Afonso III de Portugal, Madragana Ben Aloandro e Margarita de Castro y Sousa, Madragana moira encantada dos Algarves teve filhas ilegítimas do rei, que por sua fez se casaram com outros e tiveram descendência como os quinze filhos de Margarida, donde descendem uma carrada de monarcas "branquelas de sangue negro", assim o quer a história atual, de querer misturar à força o preto com a branca.

    Mas conseguiram agora verdadeiramente com Meghan Markle’s, agora sim têm negros na famelga e já não precisam de retratá-los mais brancos ou negros como quando da Margarita. Mas tudo isto é nojento para mim, pois são lutas pelo poder e subordinação dos povos que não escolhem nem a quem se vão sujeitar nem a cor da pele quando nascem. Afonso III de Portugal um Rei insubmisso ao Vaticano e só por isso tem a minha estima, mal visto na época por ter tido filhos duma moura encantada, agora bem visto por ter introduzido a mestiçagem em muitas famílias reais europeias, esperemos que não venha aí um era de caça ao homem branco feita por brancos que só gostam de negros!

    Sou contra a mistura de raças, contra a mistura de etnias, e ainda contra a mistura de religiões, todos humanos mas diferentes, cada macaco no seu galho, impérios caíram pelo passado por quererem fazer coabitar etnias e raças diferentes, o mesmo acontecerá com a União Europeia.

    Do comércio da escravatura feita pelos vikings a homens e mulheres brancas não falam… na historia universal Portugal fica como "esclavagista" mais humanista de sempre, quer o Rosas do Bloco de esquerda queira ou não!

    Cumprimentos
    José Manuel

    P.S. gostei de ler, está bem escrito, faltava falar de D. Sebastião que deu Brasão e reconheceu o Reino do Grande Zimbabwe…

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Quem procura diferenças, sempre as encontrará.
      De mesma forma quem procura semelhanças, também as vai encontrar.
      Quando faz alguns milhares quilómetros na China, vai encontrar diferenças entre os chineses, que para eles são razoavelmente óbvias, mas para o nosso olhar é mais difícil olhar para um grupo de chineses e recordar o rosto.

      Isto apenas para referir que se um isolamento leva a
      - características físicas muito semelhantes aos originais,
      enquanto uma grande mistura leva a
      - características físicas muito semelhantes na mistura.

      Uma mistura entre europeus e asiáticos é engraçada de se ver no Cazaquistão.

      Mas, o que interessa é que as diferenças físicas são essencialmente uma questão de gosto, gosto esse que tem um toque natural, mas a principal prevalência nem sequer é cultural, é mesmo de uma moda, que se instala ou é instalada.

      Não me choca nenhuma opção desde que seja livre... e informada.
      O que vemos cada vez mais é uma pressão de impor uma moda "politicamente correcta" absolutamente acéfala e desinformada.

      O racismo anti-racista que vemos, vem do mesmo tipo de pessoas que gozam com os "parolos", porque não estão na moda, não sabem o "dress code".
      São normalmente "parolistas", que é uma forma de racismo, que existe também nos EUA, onde o pessoal dos estados do interior são chamados "rednecks".
      No entanto, não vê nenhum movimento de proteção aos rednecks, nem há nenhuma lei que proíba a discriminação a "parolos" ou "bimbos".

      Cumprimentos.

      Eliminar
  2. Vamos lá com calma...

    O caro Alvor Silves deve investigar mais a fundo não o que se passou no Congo mas sim o que se passou em Portugal nesse período. Quando me debrucei sobre isto cheguei ás seguintes conclusões:

    1) Numa fase inicial os direitos de Portugal sobre o "Reino do Congo e/ ou aquilo que hoje é a República Democrática do Congo, a República do Congo e o Gabão" eram respeitados e até a Inglaterra queria que Portugal continuasse a dominar essa área.

    2) Curiosamente a fase 1820-1870 em Portugal não é brilhante. Nesses tempos houve até liberais maçónicos que venderam território Português à Holanda - a Ilha das Flores e outras, perto de Timor... creio que também a parte Ocidental da Ilha de Timor, embora já não tenha a certeza...

    3) Numa fase intermédia houve grandes tensões entre as potências Europeias porque era difícil manter o equilíbrio da balança de poder oferecendo a região que descrevi no número 1 a qualquer poder.

    4) Os Maçonzinhos Portugueses, sem dúvida para acomodar pretensões Francesas, preferem teimar contra Inglaterra que o que hoje é Zâmbia e Zimbabwe deveria ser nosso - o tal mapa cor de rosa - quando a Inglaterra já tinha deixado claro - até ás maiores potências - que tudo entre o Cairo e o Cabo seria Inglês.

    5) Os resultados são aqueles que se conhece.
    Diria até que o Reino de Congo "se lixou" por ser Católico... pois esta foi altura em que tudo o que era Católico foi demolido. Até em África!

    Ah! E essas cenas do anti-racismo faz todo o sentido. É o marxismo do dia! A luta de classes do futuro!
    Eventualmente, quando se importar um número suficiente "deles" certamente que os iluminados poderão alcançar a nova ditadura do proletariado!

    Faz todo o sentido.

    Cumprimentos,
    IRF

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Vamos com calma, começando por si. Discorda, concordando?

      IRF, quando escrevi "... a Inglaterra achou que a ambição de Portugal ligar Angola a Moçambique, era demasiada."
      Foi justamente no sentido que entendeu, por isso não vou discordar comigo.

      Junta os itens 4 e 5, com que "alinho"... mas não tenho material suficiente para concordar.
      Do meu lado aí só tem uma "linha", de "alinhar", ou um "fio" de "confiar", mas não tenho uma "corda" para "concordar".

      - Em Berlim, todos concordaram que a ligação Angola-Moçambique seria portuguesa, excepto os ingleses. Já havia a ligação feita em 1806 (pelo menos):

      https://alvor-silves.blogspot.com/2011/01/de-luanda-e-de-angola-contra-costa.html

      e depois Capelo e Ivens repetiram em 1885, pós-efeitos da conferência.

      Cumprimentos.

      Eliminar
  3. O problema é que a Conferência de Berlim - que passou a ser o consenso ou acordo - ditava a necessidade de ocupar físicamente os territórios. Coisa que Portugal à época não tinha capacidade de fazer nem sequer em Angola e Moçambique. Especialmente no interior.

    O facto de todas as potências concordarem que Portugal deveria ficar com os territórios do mapa cor de rosa, a confirmar-se, mostra-se apenas como uma boa jogada de pôr o aliado de Inglaterra contra Inglaterra, numa tentativa de a enfraquecer.

    Nós tivemos o que merecemos. E pouco depois passámos a merecer ainda mais coisinhas do género.
    Isto porque a Inglaterra já tinha dito e era a potência dominante... e nós não íamos enfrentá-la em guerra.

    Cumprimentos,
    IRF

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Claro, e partidos tipo BE comportam-se como se Portugal tivesse uma esquadrilha de submarinos nucleares, ao mesmo que tempo que são pela desmilitarização.

      Como os putos são educados para um mundo cor-de-rosa, desconhecem que:
      - montes de idiotas foram desarmados para negociar com o inimigo, tipo bandeiras brancas e tal, tendo sido logo mortos mal saíram da barricada.

      Não dá um filme jeitoso, porque tem um final triste, mas aconteceu várias vezes.
      Voltará a acontecer, se não for sabido.

      A maneira mais fácil de arrasar um país é convencê-lo de que não precisa de se defender.

      Cumps.

      Eliminar