sábado, 30 de janeiro de 2021

dos Comentários (74) pedras cortadas

Em comentário de José Manuel Oliveira, foram sinalizadas duas formações rochosas interessantes.

Al Naslaa
Começo pela pedra em Al Naslaa, fracturada, havendo um bom apontamento em magnusmundi.com:
Al Naslaa Rock (ver Google Maps)

O problema como se verá, é que o enorme megalito apresenta uma fractura quase perfeita, dir-se-ia feita a laser, remetendo a questão logo de seguida, para quem a poderia ter feito?

Além disso, esta pedra tem um desenho invulgar, de data desconhecida, talvez com milhares de anos, e outras inscrições mais recentes. Mas podemos focar-nos no desenho do cavalo, que parece ser conduzido por um homem armado com uma espada, que tem inscrição (em língua desconhecida):

Ora corresponderá esta formação rochosa a um trabalho humano?
Apesar de considerar que em muitos casos se pretende iludir formações naturais, quando é mais natural que se tratem de formações humanas, neste caso parece-me o oposto. 

Para esse efeito, fui encontrar no Google Maps esta fotografia em pose, do verso da pedra:


Acontece que se nota uma outra camada também vertical, que apresenta alguma cisão, e poderá vir a cair. Portanto, se esta segunda camada é natural, a falha vertical perfeita também aparenta que o possa ser. Olhando noutras rochas da mesma zona, vêem-se mais pedras fracturadas na vertical, mas sem a falha tão exposta. 
Sendo assim uma estranha formação antiga, nada mais natural que alguém surpreendido com a formação tivesse aproveitado a superfície lisa frontal, para deixar aí algum graffiti rupestre que parece ser bastante antigo (podendo remontar a mais de dois milhares de anos).

Aproveito para deixar aqui outra formação natural conhecida, que é a Split Apple Rock (ou ainda  chamada Tokangawha) na Nova Zelândia, onde tudo indica ter havido uma origem natural na fractura da grande pedra redonda:
... ou um pouco mais perto, a 15 Km de Chaves, temos a chamada Pedra Bolideira:
... sendo talvez a mais conhecida, devido a ligação à passagem bíblica do Monte Horeb, no Sinai:

No entanto, o que me parece ser mais interessante, na pedra de Al Naslaa, é mesmo a inclusão rupestre, não havendo aí dúvida que se trata de inclusão humana antiga, talvez assinalando algum mito de que a pedra teria sido cortada pela espada do cavaleiro...

Hegra (Mada'in Salih)
Outra formação sinalizada por José Manuel Oliveira, e aqui não oferece dúvidas de ter sido cortada por mãos humanas, são as rochas esculpidas de Hegra, na Arábia Saudita, que são muito semelhantes às de Petra, na Jordânia, mas menos conhecidas que estas, sendo ambas remetidas à cultura Nabateia, que depois foi englobada no Império Romano:
Hegra - vestígios da cultura Nabateia na Arábia Saudita.
(31.01.2021) 
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Nota adicional (31.01.2021):
J. M. Oliveira faz ainda referência a um punhal de cristal, encontrado num Tolos de Montelirio, na província de Sevilha, a que se atribui mais de 5 mil anos, ou seja, c. 3000 a.C.

Mesmo sendo originário de rocha vítrea, como quartzo, o conjunto funerário tinha ainda pontas de setas cristalinas, algumas presas de elefante em marfim, e um ovo de avestruz, não sendo muito claro que tal fauna existisse na península ibérica naquela altura, podendo por isso suspeitar-se de algum comércio com paragens africanas no Neolítico ibérico.

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Nota suplementar (01.02.2021)
Carlos Figueiredo em comentário anexo, aponta o site Arabian Rock Art Heritage, em particular para o rochedo de Al Naslaa:
que tem excelentes fotografias das gravuras no deserto, permitindo zooms de grande qualidade.
Além disso faz referência à língua Safaítica, que era usada por populações nómadas no deserto, acrescentando:
  • Nesta página da Wikipedia é possível ver a lista de caracteres e vários correspondem exactamente ao que se pode ver inscrito no rochedo.

17 comentários:

  1. Boa noite. Não sou linguista nem nada que se pareça, sou apenas uma curiosa que lê umas coisas. Na foto (segunda foto a contar de cima) em que se vêm alguns sinais dentro de um circulo, parece-me algo semelhante ao alfabeto Russo ou cirilico. Ф ш д г у (F che d g u ) Na parte de baixo do monolito, há algo que talvez se assemelhe a um я (iá = eu). Em tempos já li algo interessante sobre a possibilidade de antepassados dos actuais Russos terem ocupado e vivido um pouco por toda a Europa. E o alfabeto Cirilico talvez não tenha sido "inventado" pelo simpático S. Cirilo e talvez seja bastante anterior.

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    1. Agora que fala no assunto, é uma hipótese interessante. O phi identifica-se bem, pelo que foi em grego que pensei, mas depois os outros caracteres é realmente mais complicado.

      Disse que a língua era desconhecida, com base neste link:

      https://scienceinfo.net/mysterious-cut-bisects-rocks-over-10000-years-old-in-saudi-arabia.html

      que diz

      No one understands the meaning of the mysterious drawings and characters on the surface of the rock. According to archaeologists, the oldest records of the Tayma oasis date back to the 8th century BC. The glyphs and hieroglyphs here can refer to Tayma as part of an important road route linking the Red Sea coast of the Arabian Peninsula and the Nile valley.

      Já agora, um outro link informativo é este:

      https://www.ancient-origins.net/unexplained-phenomena/it-looks-laser-cut-what-really-split-ancient-al-naslaa-rock-008512

      O processo de constituição do alfabeto cirilico e a sua disseminação pelo lado oriental da Europa, foi essencialmente resultado da divisão do império romano em duas partes, algo que foi uma constante durante os 2 mil anos que durou, de César até à queda de Constantinopla.

      O lado ocidental de Roma entreteve-se com os escandinavos, que apanharam com o alfabeto latino cheio de bolinhas nas letras. Já o lado oriental de Constantinopla, que falava grego, usou uma variação desse alfabeto para colonizar, aliás cristianizar, uma parte dos povos eslavos (Bulgaria, Sérvia, Rússia). A atribuição aos irmãos S. Cirilo e S. Metódio e à sua escola será inicial, mas o processo durou bastante tempo, como é claro.

      https://en.wikipedia.org/wiki/Cyrillic_script

      https://alvor-silves.blogspot.com/2016/12/sensabor-do-saber.html

      Obrigado pelo comentário.
      Cumprimentos.

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  2. Se considerarmos 3 palavras dentro do círculo, 2 nítidas e uma em baixo mais discreta, a do meio eu leio como "PONY" e até faria sentido uma vez que é a imagem de um cavalo. Parece mas não deve ser.

    Ab.

    JR

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    1. Ah ah ah, só se houvesse já aulas de inglês na Arábia Felix... ainda antes de haver ingleses.

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    2. :) Mas lá que parece , parece. A piada reside na coincidência de ter um cavalo na imagem.

      Realmente no link do wikipédia sugerido por Carlos Figueiredo consigo descortinar alguns caracteres.

      Ab.

      JR

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    3. Em alfabeto Russo a letra P do alfabeto Latino lê-se R e a letra Y lê-se U.

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    4. ;)
      eh eh

      O Y fez muitas vezes a função de Upsilon quando acentuado, ler-se-ia um pouco como os franceses ou açorianos fazem ao "u" em que lêem "iu".

      Essa é uma guerra antiga:
      - a guerra da distorção das palavras, e propositada milenar confusão.

      O primeiro registo que está documentado de deturpação propositada foi após a Guerra de Troia:

      https://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/o-espirito-da-letra.html

      ... em que houve um conjunto de letras gregas que apareceram sem trazerem variação de monta aos sons já existentes.

      Cumprimentos.

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  3. Certamente que existirão explicações geológicas para a fractura que se vê na rocha de Al Naslaa. Se corresponderão à verdade ou se serão apenas racionalizações para arredar algo inexplicável do caminho, provavelmente nunca saberemos.
    Neste site é possível ver, com muito boa qualidade, todos os petróglifos inscritos na rocha. Pode-se fazer zoom em qualquer secção da imagem, o que é óptimo para observar melhor as gravuras e os caracteres.
    http://saudi-archaeology.com/gigapan/al-naslaa-tayma/

    Quanto à linguagem, não sendo eu especialista em escrita ou epigrafia, tendo em conta a localização deste rochedo penso que poderá ser em safaítico, uma língua semítica pré-árabe que foi utilizada nas zonas desérticas do oriente próximo e médio (Jordânia, Síria, mas também na actual Arábia Saudita). Nesta página da Wikipedia é possível ver a lista de caracteres e vários correspondem exactamente ao que se pode ver inscrito no rochedo.
    https://en.wikipedia.org/wiki/Safaitic

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    1. Excelente informação, que irei adicionar como nota. Obrigado.

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  4. Olá, caro Alvor Silves:

    Dedicando-me ás minhas leituras relativas aos Visigodos após mais um terrível jogo do Benfica no contexto deste confinamento e desta peste que nunca mais acabam... deparei-me com isto que quer já saiba quer não creio que lhe vai levantar algum interesse:

    "The fourth council, held during the brief reign of Sisinand in 633, excommunicated and exiled the king, replacing him with Chintila (636–639). The church councils were now the most powerful institution in the Visigothic state; they took the role of regulating the process of succession to the kingship by election of the king by Gothic noble 'senators' and the church officials. They also decided to meet on a regular basis to discuss ecclesiastical and political matters affecting the Church. Finally, they decided the kings should die in peace, and declared their persons sacred, seeking to end the violence and regicides of the past. Despite all this, another coup took place and Chintila was deposed in 639, and King Tulga took his place; he was also deposed in the third year of his reign and the council elected the noble Chindaswinth as king."

    Da wikipedia, pois claro:
    https://en.wikipedia.org/wiki/Visigothic_Kingdom#Catholic_Kingdom_of_Toledo

    Com os melhores cumprimentos,
    IRF
    Li isto e pensei logo que o Alvor Silves acharia interessante, só isso...

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    1. Olá caro IRF,
      não, não percebo onde quer chegar com a citação.
      Além disso parece-me haver aí uma insinuação, porque Tulga era filho de Chintila, e não me parece que se fale aí de golpe na sucessão.

      Mas esse período tem outro interesse que comecei a aflorar aqui.
      Cumprimentos.

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    2. Temos aqui uma espécie de ascenção das cortes... ou umas proto-cortes em que os Nobres e o Clero fazem o Rei.
      Mais importante do que isso é a ascenção da Igreja Católica e dos seus concílios como fonte de legitimação (sine qua non) do próprio Rei.
      Isto relativamente pouco tempo depois da conversão ao Catolicismo...

      Não só isso. Temos aí uma espécie de monarquia electiva em que o clero é mesmo determinante, chegando mesmo a depôr Reis e a fazê-los, elevando entre os Nobres um para ser Rei.

      Digno de nota pareceu-me também ter de vir a Igreja sancionar os nobres ao declarar o Rei e ex-Reis como "santificados" ou "intocáveis" de maneira a limitar a violência.

      Cumprimentos,
      IRF

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    3. Ah, é preciso notar que as tribos "bárbaras" herdavam uma lógica mais tribal, que depois deixaram em corpo de lei visigótica.
      Esse acordo com a nobreza era para evitar guerras posteriores, e com o clero seria para manter o sistema de escutas e xanax a funcionar.
      Os visigodos foram rapidamente cristãos, demoraram mais a largar o arianismo.

      O clero influenciou mais a monarquia posterior do que a desta altura. Simplesmente nesta altura só o clero é que escrevia, pouco, e chegou ainda menos. Tem muita propaganda no meio das coisas.

      Cumps.

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  5. Parece-me que há uma clara dinâmica ascendente por parte do Clero.
    Parece-me até que a dado momento os próprios Visigodos e a sua Nobreza como que se submetem ao Clero.

    Mas vá,
    Cumprimentos,
    IRF

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    1. Obrigado pela sua concessão, IRF.
      Esse seu "Mas vá" tomo-o como apreciação de crítico exigente.

      Faço apenas notar que Clero está mal definido no contexto ibérico da Baixa Idade Média, porque durante bastante tempo, os Visigodos eram Arianos. Havia assim dois cleros, um ligado ao arianismo e outro obediente a Roma. O que fala como Clero é do obediente a Roma.

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  6. Quando me refiro ao Clero, refiro-me sempre aos Católicos porque eram quem estava realmente na estrutura do poder.

    Quanto ao Clero Ariano imagino-os como uns padres meio isolados e chegados ás elites Germânicas incapazes de perceber como a Igreja funcionava - ou sem grande vontade para tanto.
    Não me parece que os Arianos tenham tido alguma vez grande poder no Vaticano / Roma / Igreja enquanto organização estabelecida no que fora ou era o Império Romano.
    Mas se calhar estou enganado. Francamente não tenho certeza.

    Não sei de onde veio o "mas vá"... deve ser uma expressão de desagrado porque achei que o Alvor Silves fosse achar o tema mais interessante, si issol.

    Cumprimentos,
    IRF

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    1. Sim, e quando se refere a Católicos, refere-se aos que sempre se ligaram à hierarquia de Roma.
      Concordo com o que escreveu, com a ressalva de que dos Arianos nos chegou praticamente zero, pelo menos directamente. O que sabemos é por negação ou crítica do clero romano.
      Não é que o tema seja desinteressante, mas não estou a ver onde pode ir dar, para além do que está escrito.
      Eu pelo menos não estou com nenhuma ideia a esse propósito, ou aliás o que posso ter está ligado ao tal tema Cartago-Cartagena.

      Cumprimentos.

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