domingo, 12 de janeiro de 2020

A questão dos qu'estão (1)

Há duas perspectivas que se opõem relativamente à compreensão das coisas:
- Nada é acidental (holismo);
- Tudo é acidental (nihilismo).
Em que ficamos?
Essa é uma questão, e não vou seguir aqui a "via do meio", a minha resposta é a primeira.

Este pretende ser o primeiro texto de uma espécie de auto-entrevista.
Não irei tentar ficar pela objectividade, e darei a minha opinião actual, interesse ou não.

Para despoluir a informação com que fomos crescendo, e que nos foi fazendo acreditar em uma coisa ou noutra, procurarei justificar não apenas a minha opinião, mas também argumentar sobre outras que sei serem veiculadas.

Começo por este assunto, porque houve aqui uma grande inversão de mentalidades, que começou no Séc. XIX, e foi fazendo caldo cultural dominante no Séc. XX, e ainda hoje.

Imagem de imagens (daqui) - sobressaindo o Homem da criação (de Miguel Ângelo). 

A inversão ocorreu devido a uma eventual necessidade política de ir impondo um ateísmo militante, contra a filosofia religiosa que existia anteriormente.
O palco principal dos acontecimentos foi a Europa, com o desfalecimento completo do poder papal e com a ascensão meteórica da maçonaria e da sua máquina financeira, mas foi imposto praticamente sobre todas as religiões, mantendo um foco de resistência cultural no Islão.

A posição ateísta chegou assim ao ponto extremo do nihilismo, o que seria natural, pois sendo o Homem um acidente evolutivo, não se encontraria algo que tivesse um significado transcendente. Não havia razão superior para a sua existência ou para o significado dos seus pensamentos... 

A visão darwinista, do acaso evolutivo, beneficiaria um propósito sádico, que igualaria os homens aos demais animais (algo muito em voga actualmente). O propósito não é sádico quando se pretende que o tratamento animal seja semelhante ao humano, mas será quando isso implicar que o tratamento humano seja semelhante ao animal. O nihilismo encerra uma bomba moral letal, porque em última análise só advoga a moral enquanto esta vencer a imoralidade.

Pelo outro lado, quando se advoga que nada é acidental, a questão é sempre colocada no sentido teológico de uma entidade criadora. Ou seja, as pessoas acreditando em deuses remetem a razão das coisas a essas divindades.
Acresce que isso é visto modernamente como um pseudo-problema psicológico, em que o Homem seria uma criança órfã e sozinha, quando se via sem a protecção de uma divindade paternal. 
Nesse contexto, o ateísmo chega a considerar que essa procura de nexos transcendentes revela que ainda não se atingiu a maturidade adulta. De certa forma, foi pensado que "a morte de Deus" seria um luto que se teria que fazer como "um luto paterno" chegada a humanidade a um estádio adulto.

Não apenas isto... esta conversa da treta alarga-se, e é dito que as "teorias da conspiração" são uma necessidade holística, de horror ao acaso, ao que é acidental. Ou seja, seria uma versão moderna do "horror ao vazio" medieval. 
Mais uma conversa de psico-treta, que será sem dúvida útil de alimentar por todos os conspiradores.
Se o pessoal começar a acreditar que há algo estranho, e não acreditar nas patranhas como coincidências, então arrisca ser candidato ao diagnóstico de um problema psicológico, e o assunto fica resolvido de outra forma.

Não há nada "acidental"
Neste assunto não considero que seja opinião pessoal, tem mesmo que ser assim.
Porquê?
Escrevo aqui A, sem nenhuma razão aparente. Haveria imensas possibilidades para o texto, mas decidi escrever isto. Só muito parcialmente tenho um efectivo controlo sobre tudo o que faço. Há coisas que faço, que não sendo completamente acidentais, em grande parte são.
Em cima poderia ter escrito B em vez de A? Não!
É claro que é só chegar ali e mudar, mas a questão não é essa.

Se tivesse escrito B, teria ido parar a um universo diferente deste.
Alguns físicos dirão que isso seria perfeitamente possível, porque haverá "multiversos" e não apenas um "universo", e nós estamos neste... por acaso. Podem dizer isso ou estar calados, porque apenas poderemos ter informação de um único universo, de forma que tudo o resto é ficção.
Também podem dizer que será por razão das nossas escolhas... e isso já faz mais sentido, mas mesmo assim não faz nenhum, porque só temos noção do eu que ficou neste universo, por isso o restante será só um exercício inútil, bom para filmes da ficção.

Conclui-se assim que estamos num único universo e não há outros (ou é indiferente se existirem).
Agora, podemos pensar que quando os dados rolam numa mesa de um casino e sai 3+4, isso foi completamente acidental, e poderia ter saído 1+6, ou outra combinação.
Mas não é pelo facto de não conseguirmos perceber porque caiu 3+4 e não 1+6 que isso se torna num facto "acidental" ou "aleatório".
Seria aleatório se existissem ambos os universos - um em que os dados deram 3+4 e outro em que os dados deram 1+6. No entanto, como só há um universo e é nesse universo que estamos, o sair 3+4 foi um facto, e sair 1+6 ou outro, seria apenas uma das 36 possibilidades. Na prática, podemos ver a questão como aleatória, mas na realidade saiu aquele valor e não poderia ter saído outro.

Então, qual a razão de as coisas acontecerem de uma maneira e não de outra?
A primeira resposta é dada com outra pergunta:
- Quem quer estar num universo em que consegue prever tudo?
Já referi, e insisto, que a previsibilidade leva à ausência de imprevisibilidade, e a sede de imprevisibilidade é algo que garanto que ninguém vai querer passar.
O conhecimento de tudo, de tudo o que nos é exterior, seria quase equivalente a sermos fechados para sempre num quarto pintado de branco. Poderia ter o aspecto paradisíaco de uma ilha encantada cheia de pessoas que nos idolatravam, mas a partir do momento em que a atitude dos intervenientes passasse a ser previsível e repetida, o lindo colorido passaria a ter uma só cor - a cor de um eterno enfado, ou aborrecimento.

Isso responde parcialmente à questão.
Se ao lançar certos dados, antevíssemos que o planeta poderia colapsar, alguém os lançaria?
Por estranho que pareça, a resposta é sim... e diversas reacções em cadeia foram lançadas em experiências atómicas ou nucleares no Séc. XX.
O controlo da experiência, ou seja de que a reacção em cadeia e a explosão vai terminar, ocorre normalmente por falta de material para prosseguir. Mas os cuidados devidos, estiveram muito longe de ser acautelados. Ainda hoje em dia se fazem experiências com matéria, anti-matéria, e tentativas de criação de micro-buracos negros, como se estivéssemos a dar kalashnikovs às crianças no Natal.

Será sorte que as coisas não tenham saído fora de controlo?
Ou vendo a questão de outra forma... sabendo-se que certa experiência arrasaria o planeta, alguma vez ela poderia ocorrer?

Não é preciso ver a questão internamente... basta reparar no que aconteceu em 1994 com o cometa Shoemaker-Levy 9, que colidiu com estrondo contra Júpiter:
Parte do Shoemaker-Levy colide contra Júpiter em 1994 
À direita, igualmente brilhante, está Io, satélite de Júpiter.

Faltam-nos neste caso aquelas imagens espectaculares da NASA, que estaria distraída, e por isso temos apenas más imagens da colisão. O cometa tinha sido capturado pela órbita de Júpiter e por isso era alvo de bastante atenção, mesmo assim, estas são as melhores imagens da colisão (havendo outras, coloridas com mais ou menos arte)

Uma situação de colisão terrestre com um objecto da dimensão do Shoemaker-Levy, seria um evento catastrófico de aniquilação praticamente total.
Portanto, se isto fosse uma questão de jogar aos dados, a vida na Terra, e em particular o Homem, têm tido uma grande sorte ao jogo...

É isto "sorte"?
Se desaparecesse qualquer suporte para vida inteligente... ou seja, neste caso, se a humanidade desaparecesse e não fosse substituída por outra vida inteligente, quem poderia afirmar da existência do universo? - Ninguém.
O problema do universo é que é preciso existir vida inteligente para o universo existir.
Não são as pedras, os calhaus, as rochas, as árvores, ou o rato do campo que deambulam filosoficamente sobre a existência do universo, sobre o seu início ou o seu fim.
Por isso, o custo de existência, foi gerar vida inteligente.

Significa isso que antes de existir o Homem, não existia universo?
Se a vida inteligente não viesse a ser um produto do universo, então não existiria.
É preciso abandonar o conceito de causalidade, que é cego temporalmente, vendo apenas na direcção do passado para o futuro.
A causalidade não vem apenas do passado, vem do futuro.
O passado não pode determinar um mundo sem futuro, que cesse de existir!
Somos testemunhas de um universo que existe hoje, independentemente do que se passará amanhã.
Esse amanhã não pode anular o tempo passado. O término definitivo da vida inteligente significaria isso - que nunca no tempo futuro haveria possibilidade de testemunhar existência alguma, mas isso não apaga de nenhuma forma que este passado tenha existido.

O problema é todo esse - um universo desde que exista não pode desaparecer definitivamente, sob pena de contradição da sua existência.
É nesse sentido que acredito que, ao contrário do que nos é dado a pensar, todo o passado é arrastado para o futuro. Ou seja, que entre nós está todo o testemunho dos tempos passados. Obviamente que não seremos capazes de fazer essa arqueologia do passado, mas avançando cientificamente, poderemos fazê-lo cada vez melhor.
Simplesmente, não acredito que o tempo sirva de lixeira para destruir o passado.


(English translation 13.01.2020)

A quest for questions (1)

There are two opposing perspectives regarding the understanding of things:
- Nothing is accidental (holism);
- Everything is accidental (nihilism).
What to choose?
This is one question of the quest, and I will not go here along the "middle way". My answer is the first.

This aims to be the first text as a kind of self-interview.
I will not try to be the objective, and I will give my current opinion, being of interest or not.

To clean up the information with which we were growing up, making us believe one thing or the other, I try to justify not just my opinion, but also oppose other arguments that I know to be conveyed.

I start with this issue, because there was a great reversal in thinking that began in the 19th century, and was serving dominant cultural in the 20th century, and even today.
Picture with pictures (here) - projecting the creation of Man (by Michelangelo). 

The reversal was due to a probable political need to impose a militant atheism, against the religious philosophy that existed previously.
The main stage of events was Europe, with the complete breakdown of papal power and the meteoric rise of Freemasonry and its financial machine, but it was practically imposed on all religions, maintaining a cultural focus of resistance in Islam.

The atheist position arrived to the extreme point of nihilism, which would be natural, as being the man an evolutionary accident, and since nothing had a transcendental meaning. There was no superior meaning for the existence of Man or of his thoughts... 

The Darwinian vision, claiming evolution by chance, would benefit a sadistic purpose, equalling men to other animals (something very much in vogue at the present). The purpose is not sadistic when you want the animal treatment to be similar to the human, but it will be when this imply humanes being treated like animals. The nihilism holds a letal moral bomb, because ultimately it only advocates moral as a winner to immorality.

On the other hand, when stating that nothing is accidental, the question is always placed in the theological sense of a creative entity. That is, people believing in gods transfer the reason of things to these deities.
Moreover, it is seen as a modern pseudo-psychological problem, when Man became an orphan child alone being deprived of the protection of a paternal deity. 
In this context, atheism comes to believe that a quest for transcendent nexus is held by the ones that did not reach adult maturity. In a way, it was thought that "the death of God" would be a needed grief as "a father mourning" to lead humanity to an adult stage.

Not only that ... this crap talk widens, and it is said that the "conspiracy theories" are a holistic need, due to a sort of "void horror" of Man to anything that is accidental. It would be a modern version of the medieval "horror vacui". 
Another psycho-crap talk, which will be useful to all the conspirators.
If people begin to believe that there is something strange, and do not believe in coincidences, then they risk becoming candidates for the diagnosis of a psychological problem, and the issue is resolved in a different way.

Nothing is "accidental"
On this subject I do not consider it to be personal opinion, it has to be this way.
Why?
I write here A for no apparent reason. There would be a lot of possibilities for text, but I decided to write this. Only partially I have effective control over everything I do. There are things I do, that are not completely accidental, but largely they are.
On top I could have written B instead of A? No!
Of course, I would go there and change it, but that is not the point.

If B had be written, I would have ended up in a different universe from this.
Some physicists say that it would be perfectly possible, because there will be "multiverse" and not just a "universe", in which we are in... by chance. They can say this, or shut up, because we only have information from a single universe, so everything else is fiction.
They can also say that is because of our choices ... and that already makes more sense, yet makes none because we only have notion of the self that is in this universe, so the rest will be useless, a good exercise for science fiction movies.

The conclusion is thus that we are in a unique universe and there is no other (or it is indifferent anyway).
Now, we may think that when dice roll on a casino table and give 3 + 4, this was accidental, and we could have 1 + 6, or any another combination.
But it is not because we fail to understand why 3 + 4 roll and not 1 + 6, that a fact becomes "accidental" or "random".
It would be random if there were both universes - one in which 3 + 4 roll and another in which 1 + 6 roll. 
However, as there is only one universe, the universe that we are in, and seeing 3 + 4 is a fact, while 1 + 6 or other value would be just one of the 36 possibilities. In practice, we can see the it as random, but in fact the value that came out could not have been other.

So what's the reason things happen one way and not the other?
The first answer is given with another question:
- Who wants to be in a universe where everything can predict?
I said, and I repeat, that the predictability leads to the absence of unpredictability, and the thirst of unpredictability is something that I guarantee that no one will want to experience.
Knowledge of the whole, of all things outside, it would be almost equivalent to being locked forever in a room painted white. Could have the appearance of a heavenly enchanted island full of loving people, but from the moment the attitude of the whole were to become predictable and repeated, the gorgeous colorful world would have a single color - the color of an eternal boredom or annoyance.

This partially answers the question.
If by rolling some dice, we foresee that the planet could collapse, would someone cast the dice?
Oddly enough, the answer is yes ... and several chain reactions were launched in atomic or nuclear experiments in the 20th century.
The control of the experiment, meaning to ensure that the chain reaction and explosion would end, normally occurs due to lack of material to proceed. But a proper care was far from being ensured. Still nowadays experiments with matter, antimatter, and attempts to create micro-black holes, are being made as if we were giving kalashnikovs to children at Christmas.

Were we lucky that things have not gone out of control?
Or seeing the question in another way ... knowing that certain experience would devastate the planet, could it happen?

No need to stay inside Earth... just notice what happened in 1994 with comet Shoemaker-Levy 9, which collided in a crash against Jupiter:
Part of the Shoemaker-Levy collides against Jupiter in 1994 
( Infrared image of the Max-Planck Institute )
On the right, equally brilliant, it is Io, Jupiter's satellite.

We lack spectacular images from NASA, probably distracted in this case, and so we only have bad images of the collision. The comet had been captured by the orbit of Jupiter and it was the subject of much attention. Even so, these are the best collision images (here are other, some touched by NASA artists).

An Earth collision situation with an object of the size of Shoemaker-Levy comet, would be a catastrophic event, perhaps of total annihilation.
So if this has been a matter of playing the dice, life on Earth, and particularly human life, we have been lucky...

Is it "luck"?
If all support for intelligent life disappears... that is, if humanity was not replaced by other intelligent life, who could affirm the existence of the universe? - No one.
The problem of the universe is that there must be an intelligent life to assess its existence.
There are no stones, rocks, trees, or a mouse that philosophically wonders about the existence of the universe, about its beginning or its end. Thus, a cost of existence, was to create intelligent life.

This means that before Man, there was no universe?
If intelligent life did not come to be a product of the universe, then it would not exist.
We need to abandon the concept of causality, which is temporally blind, seeing only from the past towards the future.
Causality does not come only from the past, it also comes from the future.
The past can not determine a world with no future, a world that would cease to exist!
We are witness to a world that exists today, regardless of what will happen tomorrow.
Tomorrow can not undo the past. The end of intelligent life would mean that - ever in the future no one would be able to witness some existence, but that does not erase in any way that we had been here.

The problem is this - if exists, a universe can not disappear definitely, as this would be a contradiction of its existence.
That is why I believe that, contrary to what we are supposed to think, all the past is drawn into the future. 
The testimony of ancient times is within us. Obviously we will not be able to perform this archeology of the past, but scientifically we will be able to do it much better.
I just do not believe that time serves as a trash can to destroy the past.


4 comentários:

  1. Boa noite, de acidental ou não (holismo/ nihilismo) não me convence, ainda nada me convenceu totalmente, há uns anos li um dos Philip K. Dick (1) onde o personagem principal queria eliminar outra que criava o tempo para que não se expandisse mais, já não me lembro os benefícios propostos no romance, talvez a vida eterna, nem nas filosofias nem nos romances de ficção que para mim é tudo igual, ideias, umas mais uteis que outras, não encontrei a que me satisfaça, por isso não parei de observar comparar assimilar informação ao longo da minha vida, estou intimamente convencido que o cérbero humano não tem capacidade para assimilar a informação que o ou os universos lhe proporcionam, nem de assimilar nem de conceber, talvez o computador quântico dê à humanidade essas resposta (2) o homem é uma mistura de animal básico com algo de extraordinário, filho dos Deuses?, talvez, sei que se nasce com informações e raciocínio capacidade de discernimento, sei por experiência e memória própria, o que (me) confirma a “filosofia” budista do Tibete, já fiz acender lâmpadas, estalar madeiras, com menos de seis anos foi iniciado como “médium, “pergunta lá a Deus isto ou aquilo” e depois tinha que dar resposta com sim ou não, era cansativo, nem me traumatizou nem me deu poderes… mas sem isso talvez estivesse agora a ver a SIC e RTP’s e não a ler e escrever no blog do caro Alvor Da Maia, bom, falta de melhor terei que concordar no “Simplesmente, não acredito que o tempo sirva de lixeira para destruir o passado”.

    Cumprimentos de partida para Genebra

    (1) https://observador.pt/2015/12/27/um-escritor-do-mundo/
    (2) https://veja.abril.com.br/tecnologia/google-confirma-fabricacao-de-1o-computador-quantico-util/

    P.S. peço desculpa mas não é na Revista da Associação Portuguesa de Arqueólogos n° 58/59, 2006-07 que trata do tratamento dado aos cristãos quando da invasão de Lisboa pelos mouros… vou continuar a procurar.

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    1. Caro José Manuel,
      sou também fã do PKD, mas não estou a ver qual é o romance que refere (será o Stability?).
      É mais ou menos claro que o cérebro humano fica aquém da múltipla informação para assimilar, compreendendo apenas uma pequena parte. Mas também é devido a essa dificuldade de memória que sente a necessidade de classificar tudo, dando origem a noções abstractas.
      Por exemplo, sendo certo que todas as maçãs são diferentes entre si, ninguém se preocupa com isso, e classifica tudo como maçã. Não tem a capacidade do detalhe, mas tem a capacidade de abstrair, e essa é bastante potente.

      Quanto ao computador quântico, ainda nada vi que o faça muito diferente do que já existe. Aliás, já se simulavam computadores quânticos nos computadores normais... sem acrescento nenhum de qualidade. Podem pensar que conseguem usar processamento paralelo, usando os "multiversos", mas creio que isso vai redundar em nada.

      Quanto às outras questões, não consigo perceber bem o que me diz. Essas capacidades mediúnicas, nunca as associei a nada de concreto, ou pelo menos não fui presenteado com experiências desse tipo. No máximo, fiquei surpreendido com truques de mágicos, sem conseguir descortinar como havia sido feito. Depois quando se sabe, tudo parece simples... mas não é fácil, e nem sempre se percebe como foi montado.

      Conforme vou dizendo, não é meu objectivo convencer ninguém, tirando eu próprio.
      Estas coisas vão sendo escritas, também para me forçar a levantar as questões, e verificar as respostas que vou formulando para elas.

      Abraço,
      da Maia.

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    2. Boa tarde,

      De PKD guardei Blade Runner-Perigo Iminente, tinha acabado de comprar e devorar o livro e eis que sai o filme no Castil em Lisboa, foi logo a correr ver, muito diferente do livro. Dele guardei tambem Ubik em memória, trata do tempo, duma entidade presente em todo o lado e devoradora, onde a personagem principal não sabe que morreu, e vai-se dar conta disso pelos indícios dum painel publicitário com o nome de Ubik, essa identidade devora a segunda existência das pessoas, estão fisicamente mortos em sarcófagos criogénicos, mas mantêm uma existência noutro mundo não físico, quando a entidade se lhe revela, a personagem dá-se conta então dos espaço tempo onde viveu e vive, acaba a historia com a luta pela sobrevivência nessa segunda dimensão, mas na realidade quando a energia for desligada tudo se acaba para o pensamento humano… os sarcófagos são desligados…

      vou procurar mais sobre o livro que perdi de PKD, penso não ser o Stability, pois não era uma short story, talvez esse corredor do tempo onde a personagem tenta aniquilar o criador para parar a espanação desse universo seja do Isaac Asimov.

      Não fiquei com a impressão que o Alvor Da Maia esteja a querer convencer alguém com algo pelo que escreve em “A questão dos qu'estão”, quando eu digo “não me convence, ainda nada me convenceu totalmente” é pensamento meu do francês que domina o meu raciocínio,

      pois no final sou eu que me tenho que convencer de algo para o aceitar,

      assim sendo, no fim, só posso concluir que cada individuo nasce com uma certa base de conhecimentos, a tentativa de ser convencido de algo por outrem só vai desencadear uma resposta inconsciente dessa base, se o individuo a tiver (herança genética/reencarnações e etc. prováveis nesse sentido) desencadeia o seu livre arbítrio, quando não a tem fica geralmente confuso perdido ou aliena-se, ou resigna-se a ser formatado (reeducado mas sem saber o porquê das coisas),

      há quem chame essa certa base de conhecimentos inata de aptidão a isto ou aquilo, predisposição a isto ou aquilo, vocação, creio que ou se vem com ela à nascença ou não, sou por pensamentos simplistas, certamente algum douto filosofo chegou a uma conclusão igual, eu cheguei lá sozinho sem os ler, muito de menos sou de atribuir tudo a um hipotético Deus criador que nunca me deu respostas, deixei de o questionar com menos de seis anos de idade,

      os xamanes, os xamanes são sempre os mesmos, mudaram de nome segundo as civilizações que controlaram, foram druidas/sacerdotes/imperadores romanos católicos/padres etc. atualmente são Doutores-Professores com linguagens opaco-elitistas, ou seja uma seita de ressabiados que controlam uma manada de carneiros idiota desprovida da tal certa base de conhecimentos… formatáveis sem capacite de discernimento inata,

      o Alvor Da Maia para contradizer os que dizem que “não podemos reflectir em aspectos sobre-humanos, porque está para além das nossas capacidades”, diz que “podemos trabalhar com noções muito acima de qualquer correspondente material conhecido. Podemos manipulá-las com certeza matemática”, mas está trabalhar com a tábua e números que criou, nada lhe garante que existam outras diferentes,

      “A questão dos qu'estão” devia ser PORQUÊ ? … mas como o bilhete era que “pretende ser o primeiro texto de uma espécie de auto-entrevista” eu acabei de dar a minha a quem a tiver lido.

      Cumprimentos

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    3. Caro José Manuel,
      obrigado pelo comentário.

      Começo por comentar a questão pertinente que levantou, dizendo:
      "está trabalhar com a tábua e números que criou, nada lhe garante que existam outras diferentes"

      É curioso, porque isso relaciona-se com o assunto da existência de uma inteligência diferente e já tinha falado nisso aqui:
      https://alvor-silves.blogspot.com/2016/08/dos-comentarios-23-criacao-porque-o.html#c4194737615708477848

      ... e comecei a preparar um postal, mas ficou em rascunho lá por Março de 2018.
      Rapidamente, porque irei voltar ao tema, creio que as "nossas" noções não nossas, são universais, e nesse sentido haverá sempre correspondente e tradução.

      Sem dúvida que nascemos com uma certa base de conhecimentos... aliás, nem é tanto à nascença que ela ser forma, é durante a infância. Só quando conseguimos falar, é que assimilamos conhecimentos, e aí já passámos pelo processo de aquisição de palavras, que tem origem misteriosa.
      Há quem acredite que o nosso pensamento é formatado pela nossa cultura, e certamente é, mas não é nos aspectos mais abstractos, que nos fazem justamente questionar a cultura anterior. A disposição para questionar ou para aceitar é algo mais próprio da confiança que a sociedade permite que o próprio indivíduo desenvolva.

      Há de facto uma herança cultural que, de xamânes passou para sacerdotes ou professores, e não há dúvida que em parte dessa elite há alguma vontade de secretismo, mas também funciona no sentido oposto. A questão é saber se houve mesmo um secretismo com conhecimento herdado, vindo dos tempos paleolíticos. E que nos chegou sob forma de algumas fábulas, ou mitos, isso parece claro. No entanto, parece que só uma parte muitissimo pequena resistiu, e falta tudo o resto.

      Cumprimentos.

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