segunda-feira, 26 de outubro de 2020

dos Comentários (72) Magalhães e a carta Hazine

Este assunto foi trazido pelo Djorge em resposta a um comentário de João Ribeiro, e também por email.

A carta Hazine nº1825, está no Museu Topkapi, em Istambul, e é provavelmente de autoria dos Reinel, do pai Pedro Reinel, ou do filho Jorge Reinel. Na sua generalidade apresenta-se assim:


Mas interessa especialmente a parte em que tem o contorno sul americano, pois evidencia o conhecimento das Ilhas Malvinas (ou Falkland) aqui destacadas com um círculo vermelho (mapa do site Malvinas-Falkland.net)


Na Portugaliae Monumenta Cartographica (PMC) a atribuição é feita a Pedro Reinel, em 1521, na sequência das informações trazidas por Estevão Gomes, que havia desertado. No entanto, na PMC é mencionada outra hipótese de M. Destombes, que invocava a possibilidade de esta ser a carta do próprio Magalhães. Argumenta-se que o estreito não está completo, e o que está escrito a vermelho, ao longo da costa é
  • hesta terra descobrio fernãdo de magalhães
Poderá ser inscrição posterior, e D. Couto (Anais de História Além-Mar, XX, 2019) avança uma possibilidade de se tratar de carta feita por Jorge Reinel, levada por Magalhães, e que Antonio Pigafetta teria entrado ao serviço do Império Otomano!

(...) fut vraisemblablement fabriquée par Jorge Reinel en 1519 et apportée à Istanbul par Pigafetta, l’un des dix-huit survivants du voyage de Magellan. Pigafetta déserta le camp chrétien peu de temps après son retour en Espagne, le 18 octobre 1522 ; il gagna l’Empire ottoman probablement après août 1524 et alla offrir ses services à Soliman le Magnifique (...)" 

ver também de Dejanirah Couto Em torno do globo: Magalhães, Pigafetta e a carta Hazine 1825

Em opinião de poder ser mesmo anterior a 1519, está Djorge que adiantou:

A dificuldade em conseguir uma resolução suficientemente boa para ler a toponimia, tb corrobora com a duvida se ela não será até anterior a 1519. 

De facto, esta é uma observação importante, porque tem todos os nomes indicados até ao Rio da Prata, e a partir daí, ao longo da costa da Argentina não aparece um único nome, excepto a menção que já referimos sobre a descoberta de Magalhães, mas que parece ser adição posterior.

Ora, ainda que a hipótese na PMC faça sentido, pois as informações de Estevão Gomes seriam recentes, isso não justificaria que não soubesse ou mencionasse os nomes com que haviam designado os diversos sítios onde tinham estado, nomeadamente o Porto de S. Julião e o Porto de Sta. Cruz, onde tinham invernado durante longos meses.

Teria sido esta a carta que Fernão de Magalhães teria usado, e que depois ficou na posse de Pigafetta, indo parar a mãos turcas? Bom, aqui é de duvidar que fosse a que indicava o Estreito, porque nela não encontramos essa passagem, parecendo mais sugerir uma possibilidade de contornar o Cabo Horn.

Em postal anterior, onde em comentário, Djorge já tinha sinalizado esta carta Hazine, parece-nos claro que a chamada carta de Piri Reis, é muito parecida, com as cartas de Reinel ou Lopo Homem no Atlas Miller:

Acresce, no entanto que, ao contrário de Piri Reis, o Atlas Miller tem mesmo uma possível continuação por um estreito... mesmo estando numa cartografia deformada, alargada a um continente antárctico.

Parece-me que há múltiplos factores que apontam no sentido de não haver grande dúvida que os portugueses tinham chegado ao extremo sul do continente americano, muito antes de Magalhães, e segundo Pigafetta, Magalhães era o primeiro a reconhecê-lo.
O que os impediria? Continuo a pensar que poderá ter sido Diogo Cão com Martin Behaim, ou João Afonso do Estreito com Fernão Dulmo, a explorarem esta parte sul. Mas sem outros dados, essa nomeação concreta mantém-se uma simples suposição.

Ainda mais concreto, é a referência ao mapa que o Infante D. Pedro trouxe, cem anos antes, e que mencionava a "Cauda do Dragão", a tal Draco Cola, na versão mais popular, Coca Cola.


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