domingo, 4 de outubro de 2020

Descobrimentos em diversos anos e tempos (6)

Em 2016 comecei a transcrever o tratado dos descobrimentos de António Galvão, com a intenção de fazê-lo até à parte «Descobrimentos das Antilhas & Indias pelos Espanhóis feitas», o que aconteceu, porque então me interessava essa primeira parte. 

Entretanto o tema dos descobrimentos repetiu-se e voltei a pegar no manuscrito, porque mesmo quando Galvão segue a versão oficializada, ele consegue juntar sempre alguma matéria de interesse. 
Ainda que escreva longe do período da expansão, 1480-1520, teria tido informações do pai, o cronista Duarte Galvão, para além da capitania das ilhas Molucas que exerceu em 1536, recheada de actos de grande heroísmo, sendo nesse caso um relato em primeira mão.

Por exemplo, Galvão dá nomes alternativos a todas as ilhas que os espanhóis "descobriram", para bom entendedor perceber que as ilhas tinham outros nomes, ou dos nativos, ou colocados pelos portugueses. 
  • Por exemplo, Porto Rico era Boriquem (ou talvez Boliqueime...), nome dado pelos nativos.
  • A descoberta de Colombo, deixou os espanhóis em alvoroço, ao ponto de quererem ir a nado...
  • Dá conta que a viagem de Caboto terá explorado a costa da América, desde 70ºN (Labrador) até à zona de Washington (38ºN), ou mesmo até à Flórida.
  • Fala de vários bichos, p.ex: um marsupial, que será o gambá, no monatim, etc.
  • É ainda curioso falar no Amazonas como rio das Mazonas.
  • Conta de uma exploração em 1501-02 que chegou a 32ºS, limite do Brasil, já perto do Uruguai.
  • É interessante que Isabel de Castela só permitisse o descobrimento por castelhanos.
  • Em 1506, na expedição de Tristão da Cunha, separou-se Álvaro Teles de tal forma, que terá sido o primeiro a atingir a ilha de Sumatra.
  • Em Sumatra usava-se moeda, "dracmas", que diziam vir do tempo do Romanos (ou gregos?).

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DESCOBRIMENTOS 
em diversos anos & tempos, 
& quem foram os primeiros que navegaram.
por António Galvão (1563)

continuação de (5) e (4) (3) (2) (1)
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Descobrimentos das Antilhas & Indias pelos Espanhóis feitas

No ano de 1492, estando el rey D. Fernando de Castela sobre a cidade de Grada [Granada], despachou Christovam Colom italiano, com três navios ao descobrimento da nova Espanha; o qual primeiro viera a Portugal a el rey D. João, e o não quis aceitar. Partiu da vila de Pallos a três de Agosto levando consigo por capitães e pilotos Martim Alonso Pição [Pinzón], e Bartolomeu Colon seu irmão, e 120 pessoas. E querem dizer alguns que fossem os primeiros que navegassem por alturas; nas ilhas Canárias tomaram refresco, daí foram na volta do Sagarço [sargaço]: e vendo o mar dele coalhado ficaram espantados e com grande arreceu chegaram às Antilhas a dez dias do mês de Outubro.
E a primeira ilha que viram se chamava Greinani [Guanahani (Galvão usa um nome diferente!)], saíram em terra e tomaram posse dela, puseram-lhe nome Sam Salvador: depois viram muitas a que chamaram as princesas, por serem as primeiras por eles vistas, mas os da terra lhes chamam os Lucayos, ainda que todas têm nomes separados, e estão na parte do norte, quase no Trópico de Cancro, da parte do Norte de 16 graus até 17, que é a ilha de Santiago.

Daqui foram à ilha a que os da terra chamam Cuba, e os castelhanos puseram o nome Fernandina, por el rey D. Fernando, a qual está em 22 graus, donde os índios os levaram a outra que eles chamam Ahyti [Haiti], e os castelhanos Isabela, em memória da rainha de Castela: e também a Espanhola [Hispaniola].
Aqui se perdeu a nau capitã, e da madeira dela fizeram uma tranqueira, onde deixaram 38 homens, e capitão deles Rodrigo darena [de Arena], para aprenderem a língua e costumes da terra, de onde trouxeram mostras de ouro, papagaios e outras coisas que lá havia, e 10 índios de que se escaparam 6 que se cá baptizaram. E pôs isto em tão grande alvoroço e desejo aos Espanhóis, que a nado queriam ir àquela terra; e na volta vieram pelas ilhas dos Açores. E a 4 de Março do ano de 493 entraram pela barra de Lisboa: de que el rey D. João lhe pesou tanto que teve diferença sobre estas terras com o de Castela.

Tanto que Christovam Colon chegou a Castela com esta nova, e de como el rey D. João lhe pesava ela, el rey D. Fernando e dona Isabel, mandaram logo ao Papa Alexandre Sexto, da qual nova ele e todo o povo ficaram maravilhados haver terra que os Romãos [Romanos] não tiveram notícia, havendo-se por senhores da redondeza, e fez logo doação delas aos reis de Leão e Castela, com tal condição que trabalhassem como se a idolatria desarreigasse, e a nossa santa fé multiplicada. Chegada esta resposta, tornou el rey D. Fernando mandar Christovam Colon ao descobrimento, já Almirante com outras honras, mercês e insígnias, e derredor das suas armas uma letra que dizia, por Castela & Leon novo mundo achou Colon.

No ano de 493, aos 25 do mês de Outubro, tornou Christovam Colon às Antilhas, e da barra de Calez [Cádis] tomou sua derrota, levando 17 velas e 1500 homens nelas, e seus irmãos, Bartolomeu Colon e Diogo Colon, e outros fidalgos, cavaleiros, e letrados, e religiosos com calezes, cruzes, e ricos ornamentos de grande poder do Papa Alexandre. E aos 10 dias chegaram às Canárias e delas a 25 ou 30 dias às Antilhas. A primeira ilha que viram está em 14º da parte norte lestoeste com o cabo Verde, diz que haveria dela às Canárias 800 léguas, puseram-lhe o nome a Desejada, pelos desejos que levavam de ver terra, e logo viram muitas outras, a que puseram o nome de Virgens: ainda que os da terra lhes chamem Quiribas, por ser de homens guerreiros e bons flecheiros, atiram com erva tão peçonhenta que quem morre dela morde a si mesmo, como cão danado.

Destas ilhas em outras foram ter à principal delas, a que os da terra chamam Boriquem [Porto Rico], e os castelhanos São João, de onde chegaram à Espanhola ou ilha Bela [Hispaniola ou Isabela], e acharam todos os homens mortos, que nela deixaram, por ofensas que aos da terra fizeram; aqui deixou o Almirante a maior parte da gente para povoá-la, e seus irmãos governadores dela; e embarcou em dois navios, foi descobrir a costada da ilha de Cuba, e daí a Iamaica [Jamaica], que agora se chama Santiago, todas estas ilhas estão de 17 até 20 graus de altura da parte do norte. E enquanto lá andou o Almirante, seus irmãos com os que ali ficaram passaram assaz trabalhos e desventuras por se alevantar a terra; tornou Christovam Colõ outra vez a Castela, a dar conta a el rey e à rainha do que lá passara.

No ano de 1494 e mês de Janeiro se averiguaram as diferenças que entre estes dois reis havia: e foi a isso Rui de Sousa e dom João seu filho, e o doutor Aires de Almada; e da parte de Castela, dom Anrique Anriquez, dom Iorge de Cardines, e o doutor Maldonado, ajuntaram-se todos em Tordesilhas e partiram a redondeza de Norte a Sul por um meridiano que está a poente das ilhas do Cabo Verde 370 léguas, e que a metade que ficasse ao Levante fosse de Portugal, e Ocidente de Castela, e o mar e terra para caminhar fosse a todos igual. No ano seguinte de 95 faleceu el rey D. João, e começou a reinar D. Manuel seu primo.

No ano de 1496 achando-se um veneziano por nome Sebastião Gaboto [Caboto] em Inglaterra, e ouvindo nova de tão novo descobrimento como este era: e vendo em uma poma [bola] como estas ilhas acima ditas estão, quase num paralelo, e altura, e muito mais perto de sua terra uma a outra, que de Portugal nem Castela; o amostrou a el rey D. Anrique sétimo [Henrique VII], do que ele ficou tão satisfeito, que mandou logo armar dois navios, partiu na primavera com 300 companheiros, fez seu caminho a loeste à vista de terra, e 45º de altura da parte do norte, foram por ela até 70º, onde os dias são de 18 horas, e as noites muito claras e serenas.
Havia aqui muita frialdade e ilhas de neve, que não achavam fundo em 70, 80, 100 braças, mas achavam grandes gelos [regelos], de que também receavam. E como daqui por diante torna-se a costa ao levante, fizeram-se na outra volta ao longo dela, descobrindo toda a baía, rio, enseada, para ver se passava da outra banda, e foram assim diminuindo de altura até 38º, de onde se tornaram a Inglaterra.
Outros querem dizer que chegassem à ponta da Florida, que está em 25º.

No ano de 1497, tornou el rey D. Fernando a mandar às Antilhas Christovão Colõ com 6 navios, ele armou 2 à sua custa,  mandou seu irmão à frente: partiu ele da baía de Calez [Cádis] levando consigo dom Diogo Colon, seu filho. Diz que foi tomar a ilha da Madeira, com receio dos franceses, de onde mandou 3 navios, outros querem dizer das Canárias; como quer que seja, ele e três foram à ilha do cabo Verde, e correu ao longo da linha, em que achou grande calmaria e chuveiros. E a primeira terra que viram das Antilhas foi uma ilha que está em 9º Norte, pegada com a terra firme; puseram-lhe o nome a Trindade: entraram no golfo de Parca, e saíram por uma boca a que chamam do Drago, tomaram na mão a costa, e acharam 3 pontas, a que puseram o nome: Testigos, e adiante a ilha Cubaga [Cubagua], que é grande pescaria de aljofre.
Também dizem que tem fonte de azeite, e mais adiante viram as ilhas de Paragry, Roques, e Heruma: e o Coraceo [Curaçao], e outras pequenas ao longo da praia. Chegaram à ponta que se chama da Vela, descobriram por costa 150, ou 200 léguas, onde atravessaram a Ilha Espanhola, e houveram vista da que se chama Beata.

Há nestas ilhas e terras uns bichos ou pássaros a que chamam Cocoyos, têm quatro estrelas, duas nos olhos, e as outras debaixo das asas, dão claridade como candeias: podem escrever ou fiar, cozer e tecer com elas, e as levam para alumiarem, e se untam as mãos, e rostos com estas estrelas, parece que ardem em fogo. Há outro bicho que chamam Nigu, salta como pulga, é muito mais pequeno, mete-se entre unha e carne, e põem ali de improviso tanta lêndea, que se não lhe acodem logo multiplicam de maneira que perdem os dedos, e ficam aleijados, alguns a vida.
Há também nestas partes outro bicho do tamanho de um gato, anda pelas árvores, dependura-se dos ramos pelo rabo, e depois que pare os filhos, tornam-se a meter por um buraco que tem junto da natura: neste entreolho da barriga tem uma mama com que o cria, por onde parece que anda prenhe até ser de idade que a natureza o despede, e vai buscar sua vida.
Galvão descreveu aqui um marsupial, que será o gambá, também dito opossum.

Há nestas ilhas muitos, e diversos pescados, e um que se não entende se é alimária se peixe, tem pés, e mãos como lagarto, focinho, e rabo como galgo, cria-se na água, e na terra pelas árvores, põem ovos como de galinhas, de que se geram, tem a casca delgada, se os fritam não se coalham com azeite, nem manteiga, senão com água: em quanto estes bichos são pequenos, passam por cima da água com tanta presteza, que se não vão ao fundo, mas parece que correm por terra até certo tempo, dali por diante andam por baixo de água ao longo da areia por não saberem nadar, nem tem para isso maneira, comem-nos no carnal [carnaval], e Quaresma.     [desconheço o bicho aqui tratado]

Galvão descreve de seguida o manatim.

Há lá um peixe que se chama Monatim [Manatim], é grande, e de coiro, tem a cabeça e rosto de vaca, e também na carne parece muito a ela, tem uns braços junto dos ombros com que nadam; o mais de seu comer é erva que nasce ao longo da água é muito saboroso, tem umas pedras na cabeça que são proveitosas para a dor de pedra, e a fêmea tem tetas nos peitos com que criam os filhos que nascem vivos.
Há outro pescado a que chamam Reverso pouco maior de um palmo, tem espinhos como ouriço cacheiro, criam-nos no mar em um covão, atam-nos num cordel comprido, tomam com eles monatins, e outros grandes pescados, e trazem-nos como furões aos coelhos; aqui há muitas sardinhas, estes bichos pescados se vêem em Maluco, e naquelas Ilhas, e a gente se parece com a da nova Espanha, e assim comem alguns lá carne humana.

No mesmo ano de 497, a vinte dias do mês de Julho, partiu Vasco da Gama por mandado del rey D. Manoel, de Lisboa para a India com três velas, iam por capitães Vasco da Gama, e Paulo da Gama seu irmão, e Nicolau Coelho, e cento e vinte homens nelas; ia mais um navio com mantimentos, e em treze dias foram ao Cabo Verde à Ilha de Santiago a tomar refresco, e daí foram ao longo da terra: e além do Cabo de Boa Esperança puseram padrões nela. Chegados a Moçambique, que está em 13º da parte do meio-dia [ou seja, sul], fizeram aí pouca detença: foram a Mombaça e a Melinde, el rey dele lhe deu pilotos, que os puseram na India, na qual travessia descobriram os baixos de Padua [em Cananor].

No ano de 1498. no mês de Maio, surgiram na cidade de Calecut, e Panane, e estiveram todo o Inverno, e o primeiro de Setembro se fizeram à vela, e foram contra o Norte descobrindo aquela costa até a ilha d'Angediva que está daquela parte em 15º de altura, onde surgiram na entrada do mês de Outubro; partiram de Angediva, e no de Fevereiro do ano de 499 houveram vista da terra de África, acima de Melinde contra o Norte 3º ou 4º: daí foram àquela cidade, e dela a Moçambique, e ao Cabo de Boa Esperança, e tomaram na mão a costa, e vieram às ilhas do Cabo Verde, e à cidade de Lisboa na entrada do mês de Setembro, e puseram 26 meses neste caminho.

No ano de 499, a treze dias do mês de Novembro, partiram de Palos, Vicente Anez Piçã, e seu sobrinho Aires Piçam com quatro navios que armaram à sua custa, para descobrimento do novo Mundo, com licença del rey de Castela, e regimento que não tocasse no que o Almirante Colon tinha descoberto, pelo que foram às ilhas do Cabo Verde, e passaram a Linha da outra parte do Sul, e descobriram o Cabo de Santo Agostinho que está daquela banda em 8º de altura, e escreveram em troncos de árvores, e penedos o nome del rei e rainha com alguns deles, e o ano e dia que ali chegaram; pelejaram com os Brasis, e não guardaram nada.
Tomaram na mão a Costa contra o Poente, e no rio Maria, Tambal, cativaram neste tempo trinta e tantos índios, tomaram o cabo primeiro, Angra de sam Lucas, a terra dos Fumos, o rio Maranhõ, e o das Mazonas [Amazonas], e rio Doçe, e outras partes ao longo da costa chegaram à Paria em 10º de altura da parte do Norte, perderam dois navios e gente. Puseram na viagem e descobrimento dez meses e meio.

No ano de 1500 e entrada de Março, partiu Pedralvarez Cabral com treze velas, com regimento que se afastasse da costa Dafrica [d'África], para encurtar a via. E tendo uma nau perdida, em sua busca perdeu a derrota, e indo fora dela, toparam sinais da terra, por onde o capitão mór foi em sua busca tantos dias que os da armada lhe requereram que deixasse aquela profia: mas ao outro dia viram a costa do Brasil. E mandou o capitão mór um navio apalpar se achava porto, tornou dizendo que achava bom, e seguro, e assim lhe puseram o nome, e dizem que está da parte do Sul em 17º de altura.
Daqui se fizeram à vela na volta do Cabo de Boa Esperança, e de Melinde, e atravessaram à outra banda, e no rio de Cochim que se ainda não sabia, e carregaram de pimenta. E à tornada Sancho de Thovar descobriu a cidade de Çofala [Sofala].

Neste mesmo ano de 500 diz que pediu Gaspar Corte Real licença a el Rey D. Manoel para ir descobrir a terra Nova. Partiu da ilha Terceira com dois navios armados à sua custa, foi àquele clima que está debaixo do Norte em 50º de altura. É terra que se agora chama de seu nome, tornou a salvamento à cidade de Lixboa. Fazendo outra vez este caminho, se perdeu o navio em que ele ia, e o outro tornou a Portugal. Pela qual causa seu irmão Miguel Corte Real foi em sua busca com três navios armados à sua custa. Chegados àquela costa, como viram muitas bocas de rios e abras, entrou cada um pela sua, com regimento que se ajuntassem todos até vinte dias do mês Dagosto [d'Agosto]: os dois navios assim o fizeram. E vendo que não vinha Miguel Corte Real ao prazo, nem depois algum tempo, se tornaram a este reino, sem nunca mais dele se saber nova, nem ficar outra memória, se não chamar-se esta terra dos Corte Reais ainda agora.

No ano de 1501 e mês de Março, partiu João de Nova com quatro velas da cidade de Lisboa, e além da Linha da parte do Sul em 8º de altura descobriram a ilha a que puseram nome da Concepção [Ascensão], e foram a Moçambique, e de Melinde atravessaram a outra banda, tomando carrega se tornaram, e dobrado o Cabo em 17º de altura, acharam a ilha a que puseram nome de Santa Elena [Helena] cousa pequena, mas muito nomeada.

Neste mesmo ano de 1501 e mês de Maio partiram três navios da cidade de Lisboa por mandado del rey D. Manoel, a descobrir a Costa do Brasil, e foram a ver vista das Canárias, e daí o Cabo Verde, tomaram refresco em Beziguiche [perto do cabo verde], passada a linha da parte do Sul, foram tomar terra no Brasil em 5º de altura, e foram por ela até 32º pouco mais ou menos, segundo sua conta, de onde se tornaram no mês de Abril por haver já lá frio e tormenta, puseram neste descobrimento, e viagem quinze meses, por tornarem a Lisboa na entrada de Setembro.

Neste ano, ou no seguinte, foram ao descobrimento da nova Espanha Alonso de hijada [Hijeda], e trouxe sua derrota até reconhecer a Provincia de Sinta. E no ano seguinte partiu Rodrigo de Bastidas de Sevilha, com duas caravelas armadas à sua custa, e a primeira terra que das Antilhas tomaram foi uma Ilha a que puseram nome Verde, que está junto da Guadalupe contra a terra, e tomada na mão a volta contra o Poente a Santa Marta, e a Cabo da Vela, e ao rio Grande, e descobriram o porto de Zamba, os Coroados, Cartagena, e as ilhas de S. Bernardo de Baru, e as áreas, foram diante à Ilha Forte, e à ponta de Caribana, que está no cabo do Golfão de Uraba, viram os Farelones, que estão da outra banda junto Dariem [d'Ariem], e do Cabo da Vila até esta enseada há trinta léguas, está em nove graus e meio de altura. Daqui atravessaram a ilha de Zamayca [Jamaica], onde tomaram refresco, e na Espanhola deram com os navios à costa pelo gusano que há muito, levaram quarenta marcos de ouro que por esta terra regataram, ainda que a gente da terra é mais guerreira que há na Nova Espanha, e atiram com erva [ou seja, com veneno nas setas].

No ano de 502 tornou Christovam Colom a quarta vez a este descobrimento com quatro navios por mandado del rey D. Fernando a buscar o estreito, que diziam cortar a terra à outra banda, levava consigo D. Fernando seu filho: foram ter à Ilha Espanhola, e de Iamaica, e ao rio Nheser [em Nicaragua?], e ao cabo de Figueira, e às ilhas dos Gamares, e ao porto das Fonduras [Honduras?]: e daí contra o Levante ao Cabo de Graças a Deos, e descobriu a província, e Rio Veraga, e o rio Grande, e outros que os da terra chamam Hievra, E daí foi ter ao rio dos Lagartos, que se agora chama Chegres [Chagres], que tem seu nascimento ao mar do Sul, e sai ao do Norte, passa de Panamá quarenta léguas, e foi à Ilha que pôs nome dos Bastimentos, e ao porto Bello, e a Nombre de Dios, e ao Rio Francisco, e ao porto do Retrete, e ao Golfão de Secativa, e às Ilhas de Caparrosa, e ao Cabo de Marmol, que são duzentas léguas de costa, donde começaram, tornou à Ilha de Cuba, e daí a Iamaica, onde acabou de dar com os quatro navios à costa por serem já mui gastados do gusano.

No ano de 502 tornou D. Vasco da Gama já Almirante à Índia, levou 19 ou 20 caravelas: partiu de Lisboa a 10 de Fevereiro, na fim dele surgiu no Cabo Verde, donde foi a Moçambique, e o primeiro que desta ilha atravessou para a Índia, e descobriu outra em quatro graus de altura, a que pôs nome a do Almirante, tomou carrega de pimenta, e drogas, e deixou lá por guarda da costa da India com cinco velas, Vicente Sodré. Estes foram os primeiros Portugueses que d'Armada correram a costa de Arábia, a que chamam Felix, ela é tão estéril que não se mantêm os gados, e camelos senão em peixe seco que do mar lhe levam, e serão eles tantos que os gatos os tomam. E no ano seguinte segundo dizem descobriu Antonio de Saldanha a ilha que se chama Dioscorodis, e agora Socotorá, e o Cabo de Guarda foy [Guardafui] com aquela terra.

No ano de 504. armaram João de Cosa, vizinho de Santa Maria del Puerto, e o piloto Rodrigo de Bastidas, com ajuda de Ioam de Ledesma, e outros de Sevilha, com licença del Rey D. Fernando quatro caravelas, e foram a descobrir a terra nova onde se chama Cartagena, que está em dez graus e meio da parte do Norte, e diz que acharam ali o Capitão Luis da Guerra, e juntos todos saltaram [assaltaram] na ilha do Codego, tomaram nela seiscentas pessoas, foram por aquela costa, e entraram no Golfão de Uraba: e na areia acharam ouro misturado com ela, e foi o primeiro que se dali trouxe a El Rey D. Fernando, onde foram à cidade de Sam Domingos carregados de escravos sem resgate nem mantimento: porque os da terra não quiseram contratar com ele e lhe fizeram muito dano. E no fim deste ano de 504 faleceu a Rainha Dona Isabel de Castella, e enquanto foi viva não consentiu que fossem do descobrimento da Nova Espanha, Aragões, Catalões, Valencianos, nem nenhuns do património del Rey D. Fernando seu marido, salvo se fosse seu criado, ou por especial mandado; somente Castelhanos, Galegos, Biscaínhos, e os de seu senhorio que esta terra descobriram.

No ano de 505. dia de Nossa Senhora de Março, partiu D. Francisco Dalmeyda [de Almeida], Viso Rey [vice-rei] da India com vinte e duas velas, fez seu caminho na volta do Brasil, como se já costumava. Chegado à cidade de Quiloa, assentou fortaleza, capitão dela Pero Ferreira, e além de Melinde atravessou a Ilha d'Angediva, onde fez Capitão Manoel Paçanha [Pessanha]. Em Cananor edificou outra, deu a capitania a Lourenço de Brito. Em Cochim o mesmo, e capitão D. Afonso de Noronha. Neste ano fez Pero danhaya [de Anaia] a fortaleza de Sofala, de que teve a capitania. 
No fim deste ano, ou na entrada do outro, mandou o Viso Rey a D. Lourenço seu filho às ilhas de Maldiva, e com tempo contrário, arribou às ilhas, a que os antigos chamaram Tragana [Taprobana?], e os Mouros Itterubenero, e nós agora Ceilam [Ceilão], onde saiu em terra, e assentou paz com os de ali, tornou a Cochim ao longo da costa, deixando-a toda sabida. No meio desta ilha está hum pico de pedra mui alto, e uma pegada de homem, e na sumida dele que dizem ser do nosso pai Adão, quando subiu aos Céus, têm-no os Índios em grande veneração.

No ano de 506, depois da Rainha Dona Isabel falecer, veio El Rey Felipe, e a Rainha Dona Joana sua mulher a Espanha tomar posse, El Rey D. Fernando se foi a Aragão por ser seu património: e neste meio ano faleceu El Rey Felipe, e tornou governar Castela El Rey D. Fernando, e deu licença aos Espanhóis que pudessem ir à terra nova e Antilhas salvo os Portugueses. E neste mesmo ano, e mês de Maio faleceu Christovam Columbo, e sucedeu em seu lugar seu filho dom Diogo Columbo.
Neste mesmo ano de 506, e entrada do mês de Março, partiu Tristam da Cunha, e Afonso Dalburquerque para India, e quatorze velas em sua companhia, foy surgir em Bezeguichi, pera refrescarem, e antes que chegassem ao cabo de Boa Esperança em trinta e sete graus daltura acharam umas ilhas, que se agora chamam de Tristam da Cunha, onde lhe deu tão grande tormenta, que se espalhou toda a frota. Tristam da Cunha, e Afonfo Dalbuquerque que foram ter a Moçambique, Alvoro Telez, correu tão largo, que foi à terra de Samatra [Sumatra], donde se tornou ao Cabo de Guardafui deixando descuberto muitas ilhas, mar, e terra, nunca até àquele tempo por Portugueses vista. 
Manoel Telez de Menezes também varou por fora daquela gram ilha de sam Lourenço, e correu toda sua costa, foi ter a Moçambique com Tristam da Cunha, que foi o primeiro capitaõ que ali invernara, e por lhe dizerem que nesta ilha havia muito gengibre, cravo, e prata, tornou a descobrir muita dela pela parte de dentro, e não achando nada se tornou a Moçambique, donde partiram pera Melinde, correram aquela costa, saíram em Brava, e daí passaram à ilha de Sacatorá, onde fizeram Fortaleza, capitão dela dom António de Noronha.

No ano de 1507, no mês d'Agosto partiu Tristão da Cunha para a India e Afõso Dalbuquerque que ali ficava com cinco, ou seis navios para guarda da costa, e boca daquele estreito, não se contentando disto se passou Arabia, e correndo-a toda, dobrou o Cabo de Rosalgata, que está no Trópico de cancro. 

No ano de 1509 partiu Diogo Lopez de Seqyra [Sequeira] de Lisboa com quatro velas para a ilha de sam Lourenço, andou derredor dela quasi um ano, e no 19 do mês de Maio chegou a Cochim, o VisoRey lhe deu mais um navio. E na entrada do mês de Setembro, partiu para Malaca, passou por entre as Ilhas de Nicobar, e outras muitas: e foy à terra de Samatra às Cidades de Pedir, e Pacem: e por toda essa costa até à Ilha da Polvoreira, e baixos de Capacea: e daí se passaram a Malaca, que esta em dois graus d'altura da parte do Norte, e por lhe matarem, e cativarem nesta cidade gente, se tornou para a India deixando quinhentas léguas descobertas. 

Esta ilha de Samatra [Sumatra] é a primeira terra que lá sabemos, em que se come carne humana, umas gentes que vivem nas serras que se chamam Bacas, douram os dentes, dizem que a carne dos homens pretos é mais saborosa que a dos brancos: e assim as bufaras [bufalas], vacas, galinhas que há naquelas partes, são de carnes tão pretas como esta tinta. Diziam haver aí homens a que chamam Dara que dara, que têm rabos como carneiros, aqui há azeite que tiram de poços: El Rey de Pedir me disse que por sua terra corria um rio dele; não se deve de haver por muito, pois se acha escrito, que na Batriana há uma fonte de óleo: e assim contam haver aqui uma árvore que o çumo [sumo] dela é forte peçonha, e se toca em sangue logo a pessoa morre, e bebendo-o é coisa muy provada contra ela, assim que dá morte e vida: bate-se aqui moeda d'ouro a que chamam dragmas, dizem que os Romãos a trouxeram a esta terra, parece alguma coisa, porque daqui por diante não se bate moeda d'ouro, mas corre-se ele por mercadoria.

No ano de 1508 armaram à sua custa com licença del Rey D. Fernando, Alonso de Hijada, e Diogo de Recusa, para ir povoar, e conquistar a rovincia Doriem, e descobrir a terra firme, onde se chama Uraba que puseram nome Castella do Ouro, pelo que acharam na areia ao longo da praia, e foram os primeiros Castelhanos que isso fizeram: porque um tinha a governança de Uraba, e outro de Beraga. Partiu primeiro Alonso de Hijada da Ilha Espanhola, e cidade de Santiago com quatro navios, e trezentos soldados, deixando o bacharel Ansiso, que depois fez um livro deste descobrimento, para ir atrás dele num navio com mantimentos e munições, e cento e cinquenta Espanhóis: Chegou Alonso de Hijada a Cartagena, onde tomou terra, e os dela lhe mataram, e comeram oitenta soldados, de que ficou muito agastado. 

Neste mesmo ano de 508 armou Diogo de Nequisa no porto de Beata sete velas para ir a Beraga, e levou nelas perto de oitocentos homens. Chegado a Cartagena, achou aí Alonso de Hijada assaz agastado pelo que lhe sucedera, saíram ambos em terra, tomaram vingança, e se foram cada um à sua governança, Diogo de Necusa foi descobrindo a costa que é de Nombre de Dios aos Roquedos [Rochedos] de Dariem chamou porto de Misas ao rio Pico: chegado a Beraga deu com a armada à costa, por os soldados perderem esperança de tomarem a Espanhola: e ainda que este ardil de guerra tivesse depois Fernam Cortez, não foi ele primeiro naquela terra (como alguns têm, e cuidam) Alonso de Hijada começou uma Fortaleza em Caribana Solar dos Caribas, e foi a primeira vila que os Castelhanos em terra firme fizeram, e assim em Nombre de Dios, cidade de Nossa Senhora del Antiga, e a Villa de Uraba, donde deixaram por capitão, e teniente Francisco Piçarro [Pizarro], que levou aí assaz trabalho, (e descobrirá depois a de Peru). E assim fizeram outras que não nomeio, porque estes capitães não tiveram tão bom sucesso como cuidavam, e isto abasta a meu propósito.

No ano de 1509 chegou o segundo Almirante dom Diogo Colom à ilha Espanhola, com sua mulher, e casa, e como era nobre, e fidalga, levou muitas mulheres, e de boa casta que lá casaram, e começaram de Castelhanos de encher a terra, porque el Rey D. Fernando tinha dado licença que pudessem lá ir descobrir, povoar, todos os povos de Espanha, por onde aquela terra foi mais enobrecida, e frequentada e também este Almirante deu ordem como se povoasse a ilha da Cuba, que é cousa grande, e pôs nela para isso por seu adiantado a Diogo Valhasquez que fora com seu pai na armada segunda.

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15 comentários:

  1. "ajuntaram-se todos em Tordesilhas e partiram a redondeza de Norte a Sul por um meridiano que está a poente das ilhas do Cabo Verde 370 léguas, e que a metade que ficasse ao Levante fosse de Portugal, e Ocidente de Castela, e o mar e terra para caminhar fosse a todos igual."

    Não resisti...

    Cumprimentos,
    IRF

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    1. Há muito a dizer sobre António Galvão.

      https://alvor-silves.blogspot.com/2010/07/cola-do-dragao.html

      É um herói português de proezas militares ímpares em Maluco que acaba desgraçado num Hospital durante 17 anos... Não é acidental a conotação Maluco, pois isto é um jogo mental que é levado às últimas consequências.

      O prefácio que lhe faz Francisco Sousa Tavares, que era seu amigo, é merecido:

      Se ocupou este verdadeiro Portuguez contra os infortunados, e tristes tempos em que se via (como tudo passou ante nossos olhos, & tempo) porque entregando-lhe a Capitania, e Fortaleza de Maluco com todos os Reys, e Senhores de todas as Ilhas juntos, e conformes a fazer a guerra aos Portuguezes até os deitar de todo fora da terra, pelejou com todos eles com só cento e trinta Portuguezes, estando todos juntos, e fortes em Tidore, e os desbaratou, e matou a El Rey de Ternate principal autor da guerra, & lhes tomou a Fortaleza: com a qual vitoria logo se renderam, & vieram à obediencia, e serviço del Rey nosso Senhor.

      Duas cousas sucederam aqui de grande admiração; a primeira, serem todos os Reys, e Senhores de Maluco juntos, e conformes contra nós (cousa que nunca aconteceu, nem se crê que possa acontecer, por quão diferentes sempre são entre si). A segunda, o Capitão de Maluco com só a gente ordinária, haver vitória de todos eles juntos, que por vezes aconteceu que alguns Capitães de Maluco com muita gente extraordinária, além da sua ordinária , e com todos os Reys, e Senhores de Maluco em seu favor, e ajuda , foram sobre um só Rey deles, e vieram de lá com muita quebra.

      Que se pode dizer, que três feitos grandes se fizeram na India, digo em qualidade (que de mais importância, e de maior quantidade houve outros), os quais são:
      - a tomada de Muar por Manoel Falcão,
      - a de Bitaó por Pedro Mascarenhas,
      - e este de que tratamos,
      porque todos estes três feitos parecia impossivel haverem os Capitāes vitórias com a gente com que os cometeram: e com a ordem; ou modo que todos cuidavam , por onde a cousa se havia de cometer, assim dos amigos, como dos inimigos: e não se acabaram por outra nenhuma cousa, senão porque os Capitāes os cometeram por lugar e ordem, que nem dos Portuguezes, nem dos mesmos inimigos foi nunca cuidado, nem pensado. E além disto sendo seu pai, e quatro irmãos seus todos mortos em serviço del Rey: e sendo ele já o derradeiro de sua linhagem, e levando consigo fazenda a Maluco que valia dez mil cruzados, de contratos que com partes fez, e empréstimos, e ordenados, que lhe pagaram, tudo empregou em Dio: e os gastou, não em jogos, nem em outros maus modos, senão só em trazer muitos Reys, e inumeráveis Povos à nossa Santa Fé, como em seu tempo fez, e na guerra, e em conservar Maluco, e em trabalhar, e per todas suas forças, para que todo o cravo viesse à mão de Sua Alteza, com que Maluco lhe renderia cada ano mais de quinhentos mil cruzados, e sendo tudo em grão prejuizo seu: porque fazendo cravo para si, como fizerão, e fazem todos os Capitães de Maluco, viera muito rico. Oh grão fraqueza da nossa natureza humana , que vindo ele a Portugal com grão confiança, que pelo que tinha feito havia de ser mais favorecido, e honrado, que se trouxera cem mil cruzados, se achou muy enganado, porque nele não achou outro favor, ou honra, senão o dos pobres miseráveis, quero dizer o do Hospital: onde o tiveram dezassete anos, até que nele morreu, e dele lhe deram o lençol para o amortalhar
      (...)

      Lendo isto, e vendo como a memória de Galvão continua enterrada, foi sempre minha opinião, que um verdadeiro Português deve recusar o que esta escumalha quiser dar, até que a memória destes heróis esquecidos se honrar.

      Cumprimentos

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  2. Re: " um verdadeiro Português deve recusar o que esta escumalha quiser dar, até que a memória destes heróis esquecidos se honrar"

    Pois, mas a maioria dos portugueses são essa escumalha... e a prova tem-na pouca riqueza pública atual em relação à faraónica fortuna que teve o reino português à disposição, tanto ouro do Brasil para onde foi? para uma mísera basílica...

    Onde está a riqueza da pesca do bacalhau desde 1500 no mínimo?
    Onde está a riqueza da pimenta cravo e canelas desde 1500 no mínimo?
    Onde foram parar 300 anos de fortuna do reino de Portugal?
    Porquê nem de Angola se tirou proveito durante a república portuguesa? a maçonaria tem as costas largas, o povo português é foi e será, na sua maioria, UMA GRANDE ESCUMALHA!

    Cumprimentos

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    1. Estou de acordo, mas é bom não esquecer que esse povo é uma criança que faz o que lhe ensinam fazer, e pensa o que lhe ensinam pensar.
      O povo é chamado "demo", mas fica tão surdo que nem percebe que é a mesma palavra que usa para "demónio", e é adormecido com a canção de que "demo" é povo em grego.

      Mas no que diz respeito à fortuna que foi entrando nos Séc. XV e XVI, é preciso primeiro perceber que o valor intrínseco não era grande, ou não era grande coisa.
      Podemos estar numa ilha cheios de ouro, e se o ouro não servir para coisa nenhuma, reduz-se a isso mesmo, a nada.
      O valor do ouro, ou do comércio, nos Séc. XV e XVI, reduzia-se a compras limitadas, por trocas feitas com o estrangeiro. Permitiu a D. Manuel levar uma política de construções razoáveis, mas nada de espectacular, excepto a Torre de Belém e Jerónimos.
      Provavelmente grande parte do ouro obtido, passava a terceiros, por comércio ineficiente.
      Havia investimento na empresa marítima, mas era algo muito localizado em torno de Lisboa.
      O resto do país vivia como antes, talvez alguns com novo sonho de ir para novas paragens, mas tudo isso era muito limitado, e a característica nacional foi sempre conseguir fazer muito com poucos... quando havia uma direcção inteligente.

      A chegada de ouro, o que dava era uma motivação extra para produzir novas coisas.
      Porquê? Porque o ouro tinha crédito na população.

      Um país pode estar na completa penúria, mas se a população tiver fé no rumo de um ditador, esse país dá-lhe um crédito imenso, trabalhando com vontade a custo zero.
      A Alemanha em 1919 estava de rastos, e durante 14 anos, até Hitler chegar, era um país enxovalhado, destroçado. Ele não tinha ouro, não tinha coisa nenhuma, mas conseguiu reunir a fé de um bando de fanáticos, e 3 anos depois tinha o país a produzir a um ritmo alucinante, e ao fim de 6 anos estava em condições de humilhar toda a Europa.

      Essencialmente, o que Hitler mostrou foi uma receita para a riqueza de qualquer nação, desde que seja organizada, tecnológica, e se borrife por completo no exterior.
      Trump actualmente estava a conseguir fazer o mesmo, de novo, nos EUA, até que apareceu o vírus...
      A Europa desde formou a UE está condenada a bloquear-se burocraticamente, uns contra os outros, e este tipo de mecanismo, que é implementado a nível mundial, desde que há história, de bloquear iniciativas, de criar corrupção, desmotivar os competentes, promovendo os incompetentes, etc... é um processo que não é apenas natureza humana, é estimulado por processos tradicionais, a que chamamos "status quo", e que é uma forma da elite permanecer como elite, mesmo que o regime mude.

      Por isso, concordo com a irritação sobre o povo que temos, mas não sobre o povo que poderíamos ter... esse já deu mostras em diversas situações, de poder estar à altura, mas é de facto minado por bicho interno, difícil de combater. Como diria D. Carlos, é a "piolheira", só que se ia esquecendo que a sua corte era a fonte dos piolhos.

      Cumprimentos.

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  3. Realmente, faz confusão e como diz o outro 'com toda aquela riqueza do império, pra onde foi o dinheirinho'.
    Sabemos que a seguir à Restauração, com a nossa frota reduzida a meia dúzia de "barquinhos", foi com a ajuda dos navios ingleses que se foram transportando as riquezas do Brasil e parece que passavam ao largo ou deixavam por cá alguma coisinha.
    Depois, foram-se alterando as percentagens dos carregamentos e chegou-se ao D. João V com ouro para dar e derreter em Palácios, Igrejas e Conventos, e lá se foi o ourinho.
    E os nossos amigos ingleses sempre a ajudar.
    Não me recordo como, lembro-me de ouvir uma versão interessante sobre os "amigos de Peniche", que na altura das invasões napoleónicas, eram o exército inglês sedeado na Fortaleza de Peniche. Contava-se que eles teria negociado com as autoridades portuguesas uma grande ajuda militar para expulsar os franceses definitivamente do nosso país, trazendo toda a comitiva portuguesa radicada no Brasil e repondo a Corte e o Rei em Portugal. Parece que o acordo era o casamento da D. Maria Teresa, primogénita de D. João VI, com Guilherme IV, da Grã Bretanha, e o dote da D. Maria Teresa seria o Brasil para os ingleses. Grandes amigos aqueles ingleses estacionados em Peniche.
    Cumprimentos
    Valdemar Silva

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    1. Portugal para nascer, o mundo para viver

      Há quem torça por franceses (a maioria do tuga), outros pelos ingleses (os pró monárquicos), e ainda os adeptos da união ibérica (os saudosistas do califado), há quem considere Portugal um país de sol em que não faz frio e que somos povo de dieta mediterrânica (os mouros de Lisboa), e depois há os verdadeiros portugueses que se piram de Portugal pois não resistem ao “chega para lá” dos descendentes dos almorávidas (sempre sempre fizeram tudo para que Portugal não vingue).

      Para refletirem dos males dos portugueses, mesmo que nunca deem a mão à palmatória, toda a gente se pira dos mouros de Lisboa, os descendentes dos governantes almorávidas (atualmente PCP e Bloco):

      O DN dedica hoje uma atenção especial ao emigrante. Com reportagens em terras que deram e dão gente para a emigração e também com uma recolha de depoimentos de compatriotas espalhados pelo planeta. Descobrimos portugueses em cem países do mundo. Temos a certeza de que haverá gente a trabalhar em alguns outros ainda, talvez até dezenas mais. O que faz voltar ao sermão do padre António Vieira e à frase "para nascer, Portugal; para morrer, o mundo". Talvez hoje seja, antes: Portugal para nascer; o mundo para viver.

      https://www.dn.pt/opiniao/editoriais/portugal-para-nascer-o-mundo-para-viver-1940081.html

      Nem com todo o ouro do mundo se conseguiria fazer vingar Portugal, o “bichinho” do mal do povo português é a descendência almorávida, essa é a piolheira de Lisboa que sempre dominou, erro de D. Afonso Henriques de não seguir o desejo dos cruzados dinamarqueses.

      Cumprimentos

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    2. Ora bolas, só faltou mesmo nomear os adeptos dos marcianos...

      Ainda assim tivemos império coisa que muitos dos países dos loirinhos do norte sem "adn almorávida" nunca conseguiram ter. De resto a economia é flutuante, hoje estamos em baixo amanhã estaremos em cima, é preciso é lutarmos por isso.

      Ab.

      JR

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  4. Com diria o outro: a maioria dos tugas + outros pelos ingleses + saudosistas do califado + mouros de Lisboa + os que se piram de Portugal + descendentes dos almorávidas que devem ser 800.000.. 835.000, ...para 10.871.000 é... é só fazer as contas.
    E quanto à piolheira, conta o Osborne que o D. Afonso teria respondido aos cruzados dinamarqueses
    'e depois quem é fica cá a trabalhar?'. E parece que vem daí aquela do trabalha que nem um mouro.
    Cumpts.

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  5. Bom, já disse por várias vezes que me parece que a influência árabe que restou em Portugal, está apenas na imaginação de alguns académicos, talvez haja uma coisa aqui e ali em Mértola, mas acima do Tejo, acho que encontrar um mínimo vestígio de tradição árabe, nem sequer na região saloia.
    Não sei que estrutura social eles impuseram, mas seja o que fosse, não restou sequer uma sombra.
    Talvez nuns doces algarvios... vejo mesmo muito pouca coisa. As palavras de origem "árabe" são na maior parte uma invenção.
    Temos bastante mais influências africanas, que restam da presença recente... estas coisas desaparecem em poucos séculos.

    Os ingleses viram Portugal como uma porta aberta para os assuntos europeus, tal como usaram depois a Holanda para o mesmo efeito, e esse será o país preferencial que eles tomam agora.
    Tirando o caso de Beresford, e toda a influência maçónica que foi por cá enxertada, especialmente na altura da Quadrupla Aliança, a sua presença efectiva nunca foi vista como intrusiva, e foram bem recebidos no cultivo das vinhas ao longo do curso do Douro.
    A pior influência, mais intrusiva, que recebemos, foi através da maçonaria francesa... especialmente com a chegada dos generais de Napoleão, é claro, mas depois também durante o Séc. XIX e XX.
    Com os espanhóis, se temos alguma semelhança é mais aparente do que real. Algumas tradições espanholas nada têm a ver com costumes portugueses e vice-versa. Aí talvez tenha havido uma maior influência árabe, na Andaluzia, mas mesmo assim é reduzida. Eles ainda têm mesquitas que sobreviveram, nós nem isso...

    Agora, como é natural, estivémos sempre expostos a todo o tipo de ladroagem, como todos os outros.
    Mas a principal fonte de falta de riqueza foi a mentalidade tacanha e parasita, de uma grande parte da nobreza portuguesa, e depois de uma burguesia que nem isso é, porque está bloqueada ainda pelos sectores remanescentes da pequena nobreza.
    Ninguém traça a sua origem para saber que teve antecedente árabe, mas muito malta gosta de exibir um nome estrangeiro, que vai ficando, porque é chique... enfim, uma tristeza. Por exemplo, no Brasil, será mais chique ter nome português mesmo.

    Os portugueses pelo mundo... há de tudo. Mas ao contrário dos italianos, ou judeus, nunca criaram massa crítica para influenciar outros países. Se estavam isolados em Portugal, também não me parece que tenham contornado isso migrando para fora de portas. O único sucesso relativo de emigração portuguesa, foi mesmo o Brasil, e não se pode dizer que seja um exemplo que hoje em dia, vejamos como bom... aliás temos agora mais imigração brasileira, o que prova o contrário.

    Mas não me parece que este tipo de discussão chegue a nenhuma conclusão especial.
    Em muitos aspectos, temos características de país pequeno, com um potencial grande, mas que não é claro se foi circunstancial, ou se representou mais que isso.

    Cumprimentos.

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  6. E pronto...
    porque gosto de seguir os últimos comentários deste blogue, vim dar com isto.
    Apesar de estar na dúvida se devo ou não comentar... optei por comentar mesmo.

    E então é assim...
    Não se pode falar de Portugal sem se ter noção das tendências maiores na Civilização Europeia como um todo. E aí podemos falar de Portugal quando estas são divergentes.
    A História não poupa ninguém e quando uma massa crítica se inclina para um lado, arrasta os outros...

    Mas, sinceramente, entre Brasileiros e Emigrantes não podemos esperar grande inteligência. Ou capacidade para analisar os mais simples processos.
    Uns porque são os monstros, a cloaca do mundo, aberrações genéticas cujo o destino no futuro nunca mudará e continuará a ser o mesmo que tem sido desde a sua concepção: para servirem da forma mais abjecta: Seja a tirar o minério de Minas Gerais, seja a lavar as sanitas públicas dos subúrbios de Lisboa. E sem capaz ficam ainda pior... e parem Piauís onde uma das maiores fontes de riquezas é o arrendamento de crianças para satisfazer as intenções pedófilas de turistas...
    Outros porque são criaturas patéticas que tiveram - ou quiseram - sair de onde estavam porque eram simplesmente incapazes de fazer alguma coisa por si e pelos seus. Enfim... as mais baixas classes fogem daqui - quer para o Brasil quer para a Suiça - e de repente convencem-se que a sua 4ª classe se tornou num doutoramento porque passaram a ganhar mais uns trocos.
    Mas a sua situação é sempre a mesma: O fundo da sociedade. Só mudam de patrões.
    Mas como agora não estão no seu meio, acham-se superiores... porque alguém lhes disse que o Francês é uma língua muito chique, ou assim...

    A influência Árabe em Portugal é virtualmente nula, como em Espanha.
    Só que os Espanhóis ainda herdaram alguns belos palácios já que todas as grandes capitais do mundo islâmico foram no Sul de Espanha. E Portugal era geralmente governado pela capital provincial de Badajoz... que nem em Portugal fica.
    Já para não falar que só na cidade de Granada é que houve alguma presença islâmica (nem árabe... islâmica...) de monta. Mas quem gosta de inventar há de arranjar por onde inventar, por mais ridículo que seja...

    Não creio que os Ingleses tenham tido essa relação tão superficial com Portugal.
    Portugal era uma nação Atlântica.
    A França não era. A Espanha não era. A Irlanda era Inglesa.
    Portugal e Inglaterra estiveram juntos contra os tiranos e os desígnios imperiais que emanavam do centro da Europa... a começar em Madrid e Paris, lol.
    Ver as coisas de outra maneira requer uma grande dose de indoutrinação e propaganda.
    Portugal só se tornou irrelevante a nível internacional com a tomada do Brasileiro em 1834.

    A maçonaria francesa não é só intrusiva em Portugal.
    É também intrusiva na própria França e em toda a Europa.
    Infelizmente, a França tornou-se nisso, da mesma maneira que o pessoal da reforma tinha triunfado nas suas terras no Norte.
    Infelizmente, estes dois acontecimentos passaram a ser vistos como normais, tendo envenenado todo o continente e o mundo.

    (1)
    IRF

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  7. Não sei onde vai tirar essa ideia da pequena nobreza ser tacanha e parasita.
    Não sei também como pode ver assim as coisas...
    A história de Portugal em grande medida terminou com D. Sebastião.
    Desde aí que nos temos focado em assuntos menores, mas de extrema importância:
    A Guerra da Restauração 1640-1668 foi vencida e foi um feito só de si extra ordinário.
    O século XVIII até nos correu bem, mas vimo-nos envolvidos em guerras enormes no continente Europeu (e Americano, talvez?) e tivemos o terramoto de Lisboa quando esta era uma das 5 maiores cidades Europeias, com o que também lidámos bem...
    Depois no século XIX não houve hipótese porque desde cedo tivémos de lidar com o Napoleão (1807).

    E depois acabou também grande parte da História de Portugal com a tomada do país pelo Brasileiro em 1834.

    Desde 1834 até hoje, apenas Salazar conseguiu alguma coisa no que toca a levantar o país.
    E mesmo assim ele, ou melhor, o seu regime, perdeu o seu grande eixo de sustentação que eram as colónias.

    Portanto, meu caro, a nossa decadência, apesar de longa, ainda é uma coisa muito recente...
    Só Salazar fez alguma coisa, e ainda estamos na ressaca da sua "eliminação" pelo que tudo vai contra os seus preceitos (de Salazar).

    Portugal tem tudo para ser muito, muito melhor e para ser o país do seu tamanho mais influente do mundo.
    Agora, o grande risco é a submersão quer face à imigração de terceiro mundo, quer face a instituições "globalistas" como a União Europeia e outras - como a influência Americana castradora na Europa - que não toleram o normal desenvolvimento das Nações.

    Mas como tudo isto se aplica aos outros países Europeus, nem é sequer um exclusivo Nacional...

    O problema não parece que seja a pequena nobreza... o problema são os competos ignóbeis que nos têm governado. Bem como a ideologia dominante(?) do Socialismo.
    Não durarão para sempre.
    Os incompetentes para governarem precisam de uma sustentação externa.

    (2 e FIM)
    Cumprimentos,
    IRF

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  8. Também me parece que '...este tipo de discussão chegue a nenhuma conclusão especial', por isso desculpem-me aqueles comentários mais ligeiros.
    Mais ponderado, excluindo a CGD, embora não pareça, todas as grandes (a riqueza da país), as médias e as pequenas empresas são de capitalistas portugueses ou estrangeiros, não se vendo o socialismo da ideologia dominante (?).
    Também, medindo o recente em 50 anos, podemos consultar as estatísticas do ano de 1970:
    - 36% da população sem electricidade
    - 42% da população sem esgotos
    - 53% da população sem água canalizada
    - 26% dos homens e 35% das mulheres analfabetos.
    Vá que até gostassem de viver pobrezinhos (genética incutida) e os analfabetos serem os velhotes, cerca de 50% (49,8%) com 14 ou mais anos não tinha a instrução primária.
    Evidentemente que os 'números' destas estatísticas não duraram sempre

    Cumpts.
    Valdemar Silva

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    1. Re: "Evidentemente que os 'números' destas estatísticas não duraram sempre";
      Sim sim, veja se escapam em 2020 aos cerca de 70% de iletrados, doutorados inclusive, e aos cerca de 60% de todos confundidos com problemas do forro psiquiátrico, emigras com 4a classe e mui doutos licenciados residentes em Portugal. "covidado+abracelos ou abraçovelos" a linguagem típica a achincalhar dos grandes doutores portugueses.

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  9. Pois, estas conversas têm o condão de ser simultaneamente sobre tudo e nada...
    Eu também tive a minha parte de tolices, mas acho que não indo parar a lado nenhum, por aqui fico.
    Abraços.

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  10. Vá que ainda se pode ir escrevendo estando ou não covidado, por isso também abracelos ou abraçovelos, que cotoveladas não são o melhor tratamento.

    Valdemar Silva

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