sábado, 27 de janeiro de 2018

Indica! Índico. Orienta! Oriente.

Índia foi um topónimo grego relativo à região do rio Indo, até porque em sânscrito a palavra para rio era "sindo", e portanto, era praticamente a mesma (ainda hoje usada na região).
Do grego, é suposto ter passado igualmente ao latim.

Por outro lado, "indicar" tem no latim a forma "indicare" que resulta da concatentação do prefixo "in" com "dicare", que é uma forma de dizer, ditar, proclamar. Talvez devesse ser escrito em português como "inditar", e ganhou outra forma em "indigitar". Em "indigitar" vemos a raiz no digitar, no "dígito", significando "dedo". Ora, quem aponta usa a ponta do dedo "indicador".

De forma aparentemente ocasional, vemos como desde os tempos romanos havia na linguagem uma indicação que remetia a indicar o oceano Índico, ou indo para o rio Indo, a Índia de outrora, hoje Paquistão.

Noutro ponto, a ponta em apontar apontava provavelmente para Ponto, o mar, que tanto serviu como divindade marítima, precedente a Poseidon, primeiro referindo o Mediterrâneo, e especialmente o Mar Negro (Pontus Euxinus)... onde na costa norte da Turquia, se definiu o Reino do Ponto. Foi nessa direcção que partiu Jasão com os seus Argonautas, numa pretensa viagem à Pontica Cólquida que seria mais famosa na Antiguidade, quanto foi a viagem de Gama no estabelecimento da ligação à Índia, e depois a todo o Oriente.

Rosa dos ventos em Reinel -  flor de lis azul para
Norte e uma cruz apontada para Oriente (Jerusalém).
Quanto à palavra "orientar", dá a indicação do Oriente como direcção a tomar. A razão para essa orientação tem explicação numa razão de construção -  as igrejas deveriam estar dirigidas ao oriente, ao nascer do Sol, à direcção da alvorada, da aurora (assunto que já abordámos).

Neste aspecto, mistura-se com essa indicação de oriente com uma cruz nas rosas-dos-ventos, por referência a Jerusalém, indicação que passou a ser apresentada nos mapas, a partir do Séc. XVI, por directiva papal.

Oriente resulta do nominativo latino "Oriens", palavra associada a "origem", a "nascente", pelo nascimento do sol. Mas a partícula "ori" é similar a "auri", tal como em "aurora", sugerindo o elemento "ouro", do dourado brilhante das alvoradas. É natural que originalmente "hora" se referisse a essa "aura" matinal, e só depois fosse optado como medida do tempo, por divisão do dia. Fazendo notar que "aura" enquanto "ao Rá", reportaria directamente ao nome egípcio para o Sol.
Especulamos assim que, como nome mais adequado, seria "auriente".

Independentemente das razões, propositadas ou ocasionais, não deixa de ser curioso que na história nacional o verbo "indicar" indicasse o Índico, e que a orientação marítima fosse o Oriente. As palavras têm mais ligação latina, já que "nascente"/"poente" seriam palavras mais comuns, tal como "apontar" versus "indicar". Existindo já em tempo romano, essa vocação de direcção oriental estaria já estabelecida na Antiguidade.

2 comentários:

  1. (...) Os bombardeamentos aéreos turcos no nosrte da Síria destruíram parcialmente o templo neo-hitita Ain Dara, com três mil anos. De acordo com informação fornecida pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos, o local foi atingido na sexta-feira.

    “O alcance das destruições é de 60%. Três mil anos de civilização destruídos”, disse o diretor desta organização à agência de comunicação APF.
    [ver pegadas de "gigantes"]
    https://es.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Ain_Dara
    Cpts José Manuel CH-GE

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    1. Muito interessante, esse esculpir de pegadas gigantes... há também a tradição de se considerar a "Pegada de Adão" no templo de Kerala, no Ceilão, mas estas são mais próximas do que é esperado.
      Não conhecia esse registo, e parece-me singular dentro daquilo que se conhece na Antiguidade. É ainda curiosa a figura do Leão, porque é uma escultura com traços orientais... os leões seriam representados de forma bastante distinta, no ocidente, no médio-oriente e no oriente!

      Quanto à devastação dos bombardeamentos... só saberemos bem o que restou, depois de todo o conflito terminar, mas é claro que nestas alturas os registos arqueológicos são a menor das preocupações para o pragmatismo militar.

      Obrigado pelo comentário, José Manuel.
      Abraços.

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