quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Raczynski: Les arts en Portugal (1846)

Conde Atanazy Raczynski
Os condes Raczynski foram considerados uma das famílias mais influentes na Polónia, até pelas ligações que teriam aos Habsburgos, que dominavam o Império Austro-Húngaro. Como em toda a boa família aristocrata, um aspecto muito relevante é a sua capacidade serpentina, ou seja, a faculdade de se tornarem praticamente invertebrados, ou vertebrados altamente flexíveis, o que no caso significou colaborar com a ocupação prussiana da Polónia no Séc. XIX.

O conde Atanásio Raczynski serviu o consulado do governo prussiano em Portugal, durante 1842-48, e aproveitou a sua estadia nestas paragens bárbaras para relatar (em francês) o "estado da arte" em Portugal, num conjunto de 29 cartas compiladas sob o título "Les arts en Portugal".

O relato acaba por ser importante, porque só uns 20 anos antes é que Cirilo Machado, em 1823, tinha compilado sistematicamente um registo de pintores, gravadores, escultores e arquitectos que tinham trabalhado em Portugal, com o título: 


... sendo por isso considerado o primeiro historiador da arte portuguesa. 
Aliás Cirilo Machado nem sequer teria publicado a obra, foi por iniciativa do seu editor (da Impressora de Victorino Rodrigues da Silva), que a obra saiu sob a forma de livro, e viu a luz do dia.
Como estas coisas tendem a apagar-se de novo, porque afinal as sombras vivem do ocultar da luz, estive entretido a colocar estas menções na Wikipedia em português, onde praticamente não havia qualquer referência ao assunto. Mas quero destacar especialmente as palavras do editor ao publicar a obra de Cirilo Machado:
"Julgamos fazer à Pátria, e à Glória Nacional algum serviço publicando estas Memórias, que seu Autor recolheu com sumo trabalho, e que a sua modéstia, e natural encolhimento não ousou publicar em sua vida. Ninguém poderá duvidar que são muito escassas, e até inéditas as notícias de todos aqueles Artistas, que enobreceram a Nação por meio de suas Obras, quando os Vasaris, Rafaeis Sopranes, Rossis, Leonardos da Vinci, e Palominos se ocuparam em deixarem à posterioridade um monumento precioso, tem havido entre nós o mais ingrato silêncio, não perpetuando a memória de muitos Portugueses nelas insignes."
No entanto, como seria de esperar, o impacto desta obra foi reduzido, e só tive conhecimento dela notando o nome de Cirilo Machado como título da 27ª carta de Raczynski. Mesmo o relato de Raczynski, apesar de extensamente divulgado à época, teve um impacto europeu reduzido, e a arte portuguesa continuou como uma pequena nota de rodapé europeia, escrita em francês.

No entanto, Atanásio Raczynski vai começar por apresentar uma tradução de um texto notável de Francisco de Holanda, resultado da sua estadia em Roma, onde este teve a oportunidade de travar extensas conversas pessoais, acerca de pintura, com o famosíssimo Miguel Ângelo. Um livro com esses diálogos está disponível em português:

de Francisco de Holanda (1546)

É sobre esses diálogos que me interessa fazer uma pequena consideração, porque Francisco de Holanda diz o seguinte no prólogo:
Mas de uma coisa é infamada Espanha e Portugal, e esta é que em Espanha, nem em Portugal, não conhecem a pintura, nem fazem boa pintura, nem tem sua honra a pintura; e vindo eu de Itália há pouco tempo trazendo os olhos cheios da altura do seu merecimento e os ouvidos dos seus louvores, conhecendo nesta minha pátria a grande diferença com que esta nobre ciência é tratada, determinei-me bem, e como fez César ao passar do rio Rubicão, o qual era muito vedado com armas aos romanos, assim eu (se me é licito comparar, sendo pequeno, com homem, tamanho senhor) me ponho como verdadeiro cavaleiro, e defensor da alta princesa pintura, oferecido a todo o risco por defender o seu nome, com minhas poucas armas e possibilidade.
.........................
Isto é especialmente curioso, porque dificilmente vemos hoje que a Espanha tenha tido um problema de pintura (o mesmo não se passando em Portugal). Contudo, basta reparar que a sucessão de grandes vultos da pintura espanhola, de El Greco e Velasquez a Picasso, passando por Goya e tantos outros, toda essa sucessão é posterior ao reinado do imperador Carlos V, que aliás escolheu o italiano Ticiano como retratista.
À data em que escreve Francisco de Holanda (1546), Doménikos Theotokópoulos estava numa Creta ocupada por Veneza, tinha 4 anos, e estava ainda muito longe de se tornar conhecido como "El Greco". Portanto, a frase justifica-se por não terem ainda aparecido os primeiros grandes vultos da pintura espanhola.
Mas a frase de Holanda ainda surpreende, por revelar que o impacto de Nuno Gonçalves, ou mesmo Grão Vasco, entretanto falecidos, se tinha havido algum, teria sido puramente nacional, e muito circunscrito. Com efeito, nem o trabalho de Grão Vasco, desenvolvido especialmente em Viseu, teria merecido a fama cortesã lisboeta. Quando D. Manuel tomou posse do reinado, os Painéis de S. Vicente teriam desaparecido do olhar público, e provavelmente só terão sido brevemente desenterrados durante a posterior "reinação" de D. Sebastião. Como essa obra, tantas outras, inconvenientes às mitologias manuelina e bragantina, terão sido varridas para debaixo do tapete.

Finalmente, com a descoberta das pinturas rupestres em Altamira, e em tantas outras cavernas  e grutas espanholas, ficou bastante caricato ver-se escrito que, em Espanha, "não conhecem a pintura, nem fazem boa pintura". É claro que tal conhecimento antigo, pré-histórico, estaria afastado de Francisco de Holanda, e do comum cidadão renascentista, mas não estaria fora do conhecimento de alguns círculos próximos do poder de Roma, não se resumindo aí a uma academia de jogos florais.

Para terminar, ainda com uma referência a Raczynski, Joaquim de Vasconcelos que, em 1896, edita a obra ("Quatro diálogos da pintura antiga..."), diz o seguinte:
Finalmente, abonam a boa educação literária do Holanda, as precoces relações com André de Resende, uma celebridade peninsular, que tinha regressado em 1533 a Portugal com relações universais, europeias. A amizade entre os dois é anterior à saída do Holanda, que partiu aos 20 anos. Raczynski, que quasi nada sabia da história da Renascença literária em Portugal, e ainda menos da história dos humanistas portugueses, avaliou mal a posição do nosso pintor na corte e na sociedade do seu tempo, antes da viagem à Itália. Não percebeu como Holanda, educado nos paços de dois Infantes, e pensionista d’El-Rei, pôde entrar facilmente nas relações de Miguel Angelo, o qual sabia muito bem que atrás do Rei de Portugal estava seu omnipotente cunhado, o César [Carlos V]. Vittoria Colonna sabia-o igualmente; não ignorava que os Colonnas tinham parentes em Portugal, os Sás Colonnezes, uma numerosa e ilustre família. Não estava em Roma o Cardeal D. Miguel da Silva, amigo de Castiglione, e certamente da Marquesa, para lho lembrar?
............ 3/08/2017

13 comentários:

  1. "Como estas coisas tendem a apagar-se de novo, porque afinal as sombras vivem do ocultar da luz, estive entretido a colocar estas menções na Wikipedia em português, onde praticamente não havia qualquer referência ao assunto."

    Obrigado por isto caro Da Maia.

    Cumpts

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    1. Caro João,
      uma boa parte dos artigos da wikipedia portuguesa resulta de traduções, muitas vezes mal feitas. A wikipedia inglesa também usa traduções, mas é bastante mais fiável, dado que se trata da "linguagem internacional".

      Vendo (por exemplo) o excelente artigo:
      https://en.wikipedia.org/wiki/Les_Demoiselles_d%27Avignon
      nota-se que uma boa parte da pintura moderna, no início do Séc. XX, deveu muito a El Greco, em particular Picasso e os espanhóis reconheciam essa influência, com trezentos anos de distância.

      Nesse artigo, repare neste quadro:
      https://en.wikipedia.org/wiki/Les_Demoiselles_d%27Avignon#/media/File:Saint_Martin_and_the_Beggar_(c1597-1600)_by_El_Greco_-_Chicago.jpg

      ... concorda ou não comigo, se lhe disser que El Greco parece ter querido representar D. Sebastião, passados 10 anos da sua morte?

      Abraços.

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  2. Boa tarde Caro Da Maia,

    Só agora li o post. Gostei bastante das "coincidências" que descobriu nos vários quadros. Acho incrível como descortina estas coisas! É entusiasmante ler e por outro lado frustrante não ter essa capacidade de "descobrir". Bem, se qualquer pintor podia pintar D. Sebastião só porque sim, então não vejo qual a finalidade de o pintar dissimulado. Agora, como o Sebastianismo e o nacionalismo Português eram na altura censurados, logo existia repressão contra a reprodução artística de D. Sebastião. Até ver, não tenho como não concordar, porque não tenho nada em contrário excepto o argumento (que não é argumento nenhum) da coincidência.

    Ab.

    JR

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    1. Caro João,
      obrigado pelo comentário.

      Sim, houve uma censura incrível ao que se passou em Alcácer Quibir, não apenas a "natural" que ocorreria na época de Filipe II e sucessores, mas muito depois.
      Não apenas em Portugal e Espanha, mas também fora de portas.

      Aliás, basta reparar que no assunto da ópera "Dom Sébastian" de Donizetti, ela não tinha nada na wikipedia portuguesa... apesar de haver 12 outras óperas, que em nada diziam respeito a Portugal. Bom, agora já tem:
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Dom_Sébastien_(ópera)

      ... e não deixa de se juntar ao rol de "coincidências", ter sido a última de Donizetti, antes de manifestar sinais de loucura, que começaram nas discussões que teve com o argumentista da ópera.

      É apenas um detalhe. O teatro inglês que começou no tempo da rainha Isabel I teve peças representadas várias vezes, mas ainda hoje o "autor" permanece anónimo sendo atribuída a George Peele:
      https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Battle_of_Alcazar

      Uma outra peça (que ainda não traduzi na wikipedia) foi censurada:
      https://en.wikipedia.org/wiki/Believe_as_You_List

      ... o autor (Ph. Massinger) foi obrigado a mudar o enredo.

      Massinger substituiu D. Sebastião por Antíoco III, colocando a peça na Antiguidade, após a derrota deste frente aos Romanos. Já não existia Filipe II, mas os Filipes continuavam em Portugal, e a Inglaterra tinha assinado a paz - o que dificultou também a Restauração portuguesa, que não teve ajuda explícita britânica.

      O uso da "alegoria" teria sido uma abordagem comum para quem queria ver o seu trabalho publicado, e não censurado. Daí o uso e abuso de temas da Antiguidade, da mitologia, etc.
      Lope da Vega também tem uma peça de nome D. Sebastian, que não foi publicada.

      A lista parece-me extensa, porque o "sebastianismo" era assunto sério, mesmo depois para a dinastia de Bragança, já que D. João IV teve que prometer renunciar se aparecesse D. Sebastião.

      Em suma, tudo junto, o assunto de D. Sebastião creio que só voltou a ser mencionado em Portugal, já com Almeida Garrett, em "Frei Luís de Sousa" e depois com Fernando Pessoa. Como Pessoa seria um sebastianista, ao mesmo tempo que cresceu em fama, após o 25 de Abril, também se tratou logo de dar eco em 1990 ao filme de Manuel de Oliveira "Non ou vã glória de mandar", que tratava a figura de D. Sebastião conforme conveniente - louco ou fanático religioso.

      Quem tiver dúvidas sobre isso, não vê o seu trabalho ir muito longe... e só para confirmar, fui ver o link sobre o Elmo de D. Sebastião:
      http://tvl.pt/2012/10/28/perspectivas-o-elmo-de-dom-sebastiao-rainer-daehnhardt/
      ... e de novo desapareceu o vídeo!
      - Bom, pelo menos alguém deixou no Youtube:
      https://www.youtube.com/watch?v=8WB2cEBnAyM

      Claro que mexer neste assunto chateia... até porque a história dos "amigos de Peniche" é a história de uma Lisboa a proteger o domínio filipino, e a recusar D. António como rei, apesar deste ter conquistado a porta do Alto de Santa Catarina.
      Norris cumpriu a parte dele, Drake é que deixou o D. António a ver navios.

      Abraços

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    2. Muito bom caro Da Maia, o Wikipédia da ópera está 5 estrelas! Isso é serviço Pátrio!
      Aquela história da Zayda é ficção ou tem algum fundamento? Nunca li nada sobre D. Sebastião em que aparecesse tal personagem. A mim remeteu-me à paixão de Afonso VI de Leão e Castela, por Zaida e cujo fruto foi o Infante Sancho.
      Também desconhecia o impressionante facto da cláusula de renúncia de D.João IV no caso do regresso de D. Sebastião.
      Pois, a história dos "amigos de Peniche" é algo confusa. A mim parece-me um pouco uma tentativa pouco esforçada dos ingleses. Sempre ficaria para a posteridade que tentaram "ajudar". Não sei bem é se uma Inglaterra que pouco mais é que uma colónia Germânica(Anglos, Saxões e mais tarde os Hanoverianos) estaria tão interessada assim em desmembrar parte do Império Habsburgos). Enfim.

      Ab

      JR

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    3. LOL, obrigado João... mas basicamente apenas traduzi, e depois adicionei a parte que constava do site da Antena 2, que é bastante informativa!
      Lá está, virtude sua... não me lembrei de associar o assunto à Zaida do Afonso VI leonês, mas faz todo o sentido essa sua associação! Até porque esse Infante Sancho, morto em batalha contra os mouros, seria meio-irmão de D. Teresa, e assim tio de Afonso Henriques. Uma possível ligação entre o início e o fim da monarquia.

      Quanto aos "amigos de Peniche", ao fornecer 140 navios e mais de 20 mil homens, não se poderá dizer que Isabel I não estaria interessada no sucesso da contra-ofensiva, como retaliação à "Armada Invencível". Antes disso, Isabel I não estaria de boas relações com D. Sebastião, mas era diferente poder colocar um rei no trono, com apoio inglês. Do francês Henrique IV, D. António não conseguiu nada.
      O mais caricato é D. António nem sequer constar da lista de reis, quando foi aclamado em Santarém com formalidades, e depois igualmente em Lisboa.
      Das duas, uma... ou os Filipes eram aceites, e D. João IV foi um usurpador, ou D. António seria aceite, e os Filipes foram usurpadores.
      Os historiadores nacionais sempre se colocaram do lado filipino, porque essa foi a posição da casa de Bragança, que só se rebelou muito depois.
      Os mesmos historiadores não têm problemas em tomar partido de D. João I, que fez o mesmo ou pior que D. António... com a diferença de não ter tantos inimigos internos na nobreza e na burguesia.
      Os "amigos de Cascais" facilitaram a vida à entrada das tropas do Duque de Alba, e tudo o resto são variações da história que levou à derrota na batalha da ribeira de Alcântara.
      Isabel I era suficientemente despótica e independente, e certamente que entre ela e Filipe II não houve amores, até porque recusou a proposta de se casar consigo, quando lhe morreu a esposa, a irmã rainha Maria Tudor.

      Abç

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    4. E já é bastante trabalhoso, nem todos o fariam!
      Continuo é pouco convencido das intenções inglesas, por exemplo, aquando do teatro de guerra Napoleónico já se mostraram bem mais aguerridos. Seja como for, esforçada ou não, não soubemos aproveitar a sua ajuda. Tem razão quanto a D. António dever figurar como o último Rei antes dos 3 Filipes Austríacos e repulsa-me o desdém dos historiadores que o recusam ver como tal. O seu critério é o da eleição em cortes gerais de Filipe o que faltou na eleição de D. António. A pergunta é, quão legal terá sido essas mesmas eleições em cortes gerais onde não faltou subornos e ameaças ao invés de uma eleição de vontade popular por D. António? Quanto à Casa De Bragança também não estou de total acordo uma vez que uma candidata ao trono e logo concorrente de Filipe seria uma Bragança, D. Catarina. Ui os amigos de Cascais, pois têm toda razão.

      Ab

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    5. Bom, isso é verdade. Há pouco mais de 5 mil pessoas activas na wikipedia portuguesa (Brasil, Portugal, Angola, etc...) - uma edição por mês, pelo menos. Já chegou a ser das mais produtivas, agora não o é. Mas há sempre engraçadinhos que escrevem lá asneiras, etc...

      Quanto ao resto, grosseiramente eu diria:
      - a maioria do povo estaria por D. António,
      - a maioria da nobreza por D. Catarina,
      - a maioria da burguesia por Filipe II.

      A burguesia foram os "amigos de Peniche" para os ingleses... o resto são desculpas esfarrapadas de quem fez esta recepção ao Filipe seguinte:
      https://alvor-silves.blogspot.pt/2011/04/monumentalia-filipina-lisboeta.html
      ... porque um objectivo sempre foi tentar convencer os Filipes de pôr a capital em Lisboa, o que daria o maior lucro.

      Sem revolta interna, se os ingleses insistissem mais estariam mesmo a fazer uma invasão, e não a "ajudar".

      Para Filipe II ter o apoio silencioso de Catarina de Bragança, bastou o facto dela ter negociado o resgate do filho através dele. Porque D. Sebastião levou D. Teodósio, que teria à época uns 10 anos, e este ficou preso dos mouros sob resgate, pago através de Filipe II.
      Assim, é ainda claro que os Bragança fizeram sempre tudo para bloquear D. António, porque nesse caso perderiam a oportunidade de invocar o direito ao trono. Por outro lado, os Filipes alargaram imenso o ducado de Bragança, usando territórios régios.

      Quando os Bragança se lembraram de reclamar o trono, a Espanha tinha a Guerra dos Trinta Anos perdida, e já não estava na mó de cima para as negociatas.
      Depois, vendo Miguel de Vasconcelos arrastado pelas ruas, já ninguém queria ser "amigo dos Filipes". Mas, de tempos a tempos, quando a Espanha está melhor, há muita gente que se manifesta pela união ibérica. Ainda há pouco tempo fartei-me de ouvir isso, sem qualquer pudor de traição nacional.
      Enquanto uns querem a independência da Catalunha, outros querem reintegrar Portugal... e só não percebo por que não imigram para Espanha.

      Abç

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    6. Bom dia caro Da Maia,

      Podemos não estar de acordo em alguns aspectos, por exemplo, a questão dos Ingleses que na segunda invasão napoleónica (se tivermos em conta que a primeira terá sido a Guerra das Laranjas) pouco ou nenhum apoio nacional tiveram e ainda assim "expulsaram" os franceses com direito a armas e bagagens e mais o que houvesse. Também penso que a Casa De Bragança não teria problemas económicos para pagar o resgate nem obter vantagens da coroa Portuguesa como tinha feito desde sempre. Mas enfim no que verdadeiramente interessa estamos do mesmo lado. Acho caricato esses iberistas ficarem-se pela união a Espanha. Ora bolas se é pelo síndroma de inferioridade, ou por aspectos económicos ou até supostamente históricos sendo cada um destes aspectos mais ridículo que o outro e revelador do carácter dessas tais pessoas, então porque não unirmos-nos também à França? E já agora à Alemanha? Ou então vamos levar isto mais longe, à própria Europa! Temos um passado comum, seríamos poderosos e a pilinha iria parecer maior. E porque não ser o Mundo um único país e sermos todos cinzentos e falarmos todos inglês? Poderia era acontecer que os certos regionalismos se acentuassem tanto que certos povos iriam adquirir impulsos independentistas sobre os povos vizinhos e seria uma chatice. Começaria tudo de novo.

      Ab

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    7. Sim, mas no caso das invasões napoleónicas, os ingleses estavam já na fase em que se preocupavam com o seu próprio destino... usar Portugal como desembarque era o mais simples, porque esperavam ser bem recebidos.
      Também é de questionar como apesar de vencerem Junot, o deixaram partir com "armas e bagagem"... e até com o ouro, na famosa Convenção de Sintra:

      https://alvor-silves.blogspot.pt/2012/05/caricaturas-revolucionarias.html

      Mas, sim, de um modo geral, não há propriamente nenhuma grande discordância, é apenas uma troca de opiniões informativa. Obrigado por isso.

      Abç

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  3. O encobrimento já vem de longe...
    https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Castelo_de_Guimar%C3%A3es,_Portugal.jpg

    http://youtube.gs/watch/-e3paZPwVYU

    Cumprimentos

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    1. Caro José Manuel,
      a sua foto da porta vedada ao Castelo de Guimarães está excelente! Creio que isso deve ter resultado de obras de restauro, durante o Estado Novo... tal como as mais malogradas na Anta do Zambujeiro (no vídeo).

      Sobre o Castelo de Guimarães, em

      http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=1060

      ... há uma relação da "Intervenção Realizada" desde 1936:

      DGEMN: 1936 - Início do recalçamento e consolidação da muralha, do ângulo S., restauro da porta primitiva e substituição de grande parte das cantarias, que se achavam salitradas e esmagadas pela torre arruinada que lá havia; demolição de uma escada que tinha sido construída para facilitar o acesso à primitiva escada da porta principal; demolição completa de dois anexos de pedra, edificados sobre as torres da porta O., os quais tinham sido usados como sanitários; demolição de uma capela e seu anexo, existente na praça de armas, ficando o lanço de muralha a descoberto; rebaixamento de todo o pavimento da praça de armas; demolição de um anexo junto à torre do ângulo NE., ficando a descoberto a porta de acesso à torre; demolição dos pavimentos e escadas interiores da torre de menagem; demolição das ramadas de ferro, com videiras, que existiam na praça de armas; demolição de várias paredes de alvenaria que tinha sido construídas na praça de armas, que estavam a encobrir os alicerces da antiga alcaçova; reconstituição da escada e da larga soleira da porta principal, bem como da escada de acesso à porta da traição; reconstituição e regularização, com cantaria rusticada do pavimento dos caminhos de ronda e das respectivas escadas; reconstrução e consolidação do troço de muralha do ângulo NO., compreendendo o caminho de ronda, os parapeitos e os merlões; consolidação e reconstrução da torre do ângulo NE., inclusivé a armação e cobertura do telhado, caminhos de ronda, parapeitos e merlões; reconstrução dos caminhos de ronda, parapeitos, merlões e seteiras das duas torres da porta da traição; consolidação e construção de parte do pavimento, parapeitos e merlões da torre N. e reconstituição da escada de acesso; apeamento e reconstrução de alguns panos da muralha, que estavam arruinados; reconstrução da parte da cerca que se ligava ao castelo e que circundava o povoado; consolidação e limpeza dos restos da primitiva muralha, existentes no interior do castelo, na parte SE.; reconstrução completa de todos os pavimentos, bem como da escada de madeira da torre de menagem, substituição total da armação do telhado e consolidação do caminho de ronda através de um anel de betão; limpeza geral e tomada de juntas, com argamassa hidráulica, de todos os panos da muralha, interiores e exteriores; construção e colocação de merlões novos nas muralhas e torres; colocação de novas portas de carvalho nas duas entradas do castelo, na torre de menagem e nas torres NE. e S.; consolidação de de uma das paredes da alcaçova e reconstrução parcial da respectiva chaminé; 1958 - reparação de um adarve e execução da ponte de ligação da muralha à porta da torre de menagem; 1960 - fornecimento de um cofre antigo destinado a ser colocado numa torre do castelo para recolha de terras das Províncias Ultramarinas; 1962 - em colaboração com a autarquia local prossegiu-se a iluminação exterior; 1971 - obras de conservação: restauro da porta principal, colocação de vitrais na torre do lado N, colocação de caixilhos de rede na torre de menagem, reconstrução dos soalhos desta e da escada de acesso ao adarve da torre de menagem; 1971 - reparação dos madeiramentos; (...)

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    2. IPPAR: 2003, Novembro / 2004 - realização de escavações no interior do castelo;
      DRCNORTE: 2015 / 2016 - beneficiação das condições de acessibilidade e segurança do castelo, orçada em 430 mil euros, no âmbito de um protocolo de mecenato entre a Direção Regional da Cultura do Norte e a Fundação Millennium bcp, e financiada pelo QREN, no âmbito do ON.2 - O Novo Norte; as obras incluíram a melhoria das condições de acessibilidade e segurança dos visitantes, instalação de uma nova área de receção dos visitantes e montagem de exposição nos três pisos da torre de menagem.

      ... portanto, não sei bem se alguma destas intervenções levou ao fecho dessa porta, mas não me admiraria que o seu fecho pudesse ter razões mais simples, como fossem evitar o uso do espaço como latrina - o que parece ter acontecido... infelizmente, a visão de preservar o património é recente, e as necessidades básicas são antigas.

      Quanto ao caso do Zambujeiro, o vídeo é bastante interessante, e acho que realmente o monumento deveria ter um "monte" que o cobria, como acontece em tantos outros casos. Ter decidido retirar a areia do monte foi um erro, e agora parece que a engenharia nacional não tem vontade ou meios, de fazer subsistir uma construção feita há muitos milénios. Não deixa de ser caricato!

      Abraços.

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