sexta-feira, 12 de outubro de 2018

dos Comentários (43) - escaravelhos egípcios no Alentejo

Este tema foi aqui colocado num comentário há 8 anos, pela Maria da Fonte, e depois mencionei-o no postal sobre Egitânia, também em Outubro de 2010. 

Retomo este tema porque encontrei material bibliográfico que não estava acessível na altura (ou pelo menos, eu não encontrei). Em particular, os seguintes textos:
É especialmente interessante o último título que remete o assunto para escaravelhos "fenícios", em vez de egípcios, mesmo que identifique a maioria como tendo sido fabricada no Egipto, e coloque apenas 3 em 18 com uma duvidosa proveniência de Cartago. 

Do artigo [A3] retirei algumas imagens, relativas à distribuição geográfica (que estranhamente aparece restrita ao território português), e algumas imagens dos escaravelhos. 
O escaravelho do faraó Psamético I (663 a.C - 609 a.C.), referido no comentário de Maria da Fonte, é o último e dele aparece apenas um desenho!

 
Localização dos 18 achados e um dos escaravelhos como rotativo em bracelete - imagens no artigo [A3].

Dois exemplos de escaravelhos encontrados, imagens no artigo [A3].
O da Fig. 5, segundo [A2], é relativo ao faraó Psamético I, representando um sol com asas, 
a deusa Sokmit (leoa) ou Bastet (gata), aludindo ao faraó como: Hórus O-ib "grande de coração".



Os escaravelhos
Escaravelhos sagrados empurrando uma esfera.
A associação egípcia do ciclo solar aos escaravelhos, em particular ao escaravelho sagrado negro, também dito "rolabosta", tem sido frequente por uma associação do transporte de excrementos em forma esférica. 

O deus Khepri teria assim função semelhante, no rodar do Sol ao longo do dia, de Oriente para Ocidente. Ora, como o sítio mais Ocidental do mundo antigo era justamente a faixa costeira lusitana, não parecerá desapropriado encontrarem-se aqui alguns artefactos relacionados com o assunto... porque, no final de contas, era na paragem mais ocidental que o Sol se escondia para reaparecer no próximo dia.

O deus egípcio Khepricom cara definida 
pela carapaça do escaravelho.
Tanto mais que o processo de reprodução do escaravelho coloca os ovos dentro da esfera de excremento, afinal nutrientes para as larvas, que eclodem depois, renovando a espécie, tal como Sol se renovava no ciclo diário.

Acontece que os Coleopteros, insectos onde se incluem os escaravelhos e besouros, ou ainda os percevejos (Heteropteros), têm uma particularidade notável de poderem reproduzir padrões variados, inclusive caras, na sua carapaça... palavra que pode significar "cara-passa", no sentido que "por cara passa".
Scutelleridae - percevejo com uma carapaça que por cara passa (imagem)
A etimologia da palavra escaravelho remete normalmente para o latim scarabaeus, ou ainda ao grego karabeos, mas não deixa de ser interessante decompor "escaravelho" como "es-cara-velho", o que nos remete de novo para cara, neste caso és cara velho, ou no latim parecendo mais és cara feio. Mesmo a designação "carocha" como uma variante de cara (como o é careta), se aplica aos Coleopteros. Ou ainda, em "percevejo" entendendo como "per se vejo" obteremos o mesmo tipo de variante. 
Alguns dos Coleopteros parecem mesmo pequenas jóias, dado o tom metálico das suas cores espampanantes, onde se incluem os besouros, e ainda aqui podemos ver uma variante de "bês ouros", num sentido em que brilhavam como ouro.
Alguns insectos da família Coleoptera, que inclui os escaravelhos. (imagem)
Incluem formas brilhantes quase como pequenas jóias, e nalguns casos sugerem caras humanas. 

Nalgumas religiões era frequente procurar ou ver significados transcendentes em pequenas coisas... por exemplo, lembramos os augúrios gregos com os voos dos pássaros, ou com as entranhas. Não passaria despercebido encontrar alguns insectos deste tipo com inscrições a que dessem significado.
Mesmo o escaravelho sagrado, que era negro, tinha algumas inscrições ou alterações na carapaça, a que os egípcios davam importância e significado.

Escaravelhos gregos, persas e etruscos
Esta moda dos escaravelhos passou por várias culturas, e tal como os animais traziam associados padrões na sua carapaça, surgiu a moda dos "selos". 
A ideia é praticamente a mesma - o que por cara passa, é o sê-lo
Se a pessoa ali não era, com o selo passava a sê-lo. A cara passava pelo selo.

No reverso de uma pequena escultura de escaravelho, apareciam inscrições que já não seriam egípcias, eram adequadas a cada cultura. 
Temos assim escaravelhos numa vertente grega, noutra vertente persa, ou ainda etrusca.
Surgem assim exemplares notáveis, que certamente fazem a delícia dos leilões:

Escaravelhos fenícios (ou cartagineses)
A situação é razoavelmente diferente no caso fenício, já que aparentemente os fenícios copiavam as inscrições egípcias, inclusive os hieróglifos (mesmo sem os entenderem), com o único propósito de servirem o comércio. Faziam assim concorrência a Naucratis, a cidade egípcia que mais se dedicava a este tipo de manufactura.

A menção a estes escaravelhos alentejanos é quase sempre feita no contexto fenício/cartaginês, já que não é aceite, ou pelo menos não é "bem visto" que houvesse qualquer contacto ibérico directo com a civilização egípcia. Assim, parece que para evitar "problemas de convivência" com os dogmas que se vão estabelecendo na comunidade científica, os arqueólogos remetem o assunto com uma simples explicação de que cartagineses/fenícios traziam os objectos do Egipto e trocavam-nos com os indígenas ibéricos... neste caso, alentejanos. Os espanhóis tentam ainda remeter à cultura Tartéssica, como intermediária, já que essa teria maior ligação aos fenícios, por via de Cadiz, a antiga Gades, ou Tartasso.

De facto, pelo aspecto que a comercialização de escaravelhos foi assumida pelos fenícios, parece claro que usavam as peças com um simples intuito comercial, o que lhes era típico. Mesmo que a manufactura tenha sido a cidade egípcia de Naucratis, como parece ser atestado nalguns casos, parece aceitavelmente provável que os objectos possam ter chegado ao Alentejo por intermédio dos fenícios.

Parece afastada a hipótese de que os escaravelhos tivessem qualquer origem interna, até porque não fariam qualquer sentido as inscrições egípcias. Não estamos numa situação semelhante a gregos e etruscos, que foram influenciados pela moda, mas que optaram por decorá-los com temas seus.

No entanto, permanecem "pequenas" grandes dúvidas...

- O faraó Tuntankhamon tinha haplogrupo R1-M269 (ou seja R1b1a1a2), o que dá as maiores probabilidades daquela linhagem de faraós ter ancestrais tipicamente ibéricos.

- O primeiro fenício a quem foi identificado o DNA, por azar, calhou logo a ter um mt-DNA também tipicamente ibérico. O seu mt-haplogrupo era o U5b2c1, exactamente o mesmo que foi encontrado numa escavação arqueológica em La Breña, nas Astúrias.
[Informação dada por MBP num comentário passado]

Ou seja, e esta é a pequena grande dúvida "Egitana" que mantenho:
- Será que os descendentes dos habitantes pré-históricos ibéricos, responsáveis por pinturas rupestres sem precedentes, não continuaram eles a influenciar o curso histórico na Antiguidade?
- Não poderiam ser eles a determinar a linhagem de faraós que veio a governar o Egipto?

... é que estes dados do DNA podem apontar nesse sentido, mas o registo material que nos chegou é tão escasso, ou pobre, que aponta num sentido completamente oposto.

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13.10.2018

4 comentários:

  1. ficam aqui uns considerados pelo establishment de “perigoso absurdo” :

    (…) “Grupo de investigadores diz que estudo sobre genética dos homens da península ibérica é “fake news”
    https://observador.pt/2018/10/04/grupo-de-investigadores-diz-que-estudo-sobre-genetica-dos-homens-da-peninsula-iberica-e-fake-news/
    Há 4.500 anos uma invasão acabou com os homens da Península Ibérica
    Invasão de yamnayas, um grupo vindo do Leste Europeu, levou a que quase todos os homens da Península Ibérica fossem apagados do mapa. Mulheres foram poupadas e isso influenciou código genético”

    (…) “Tout le fer utilisé par l'homme à l'âge du bronze était d'origine extraterrestre
    Les hommes n'ont pas attendu l'âge du fer (entre 1200 et 800 ans avant J-C en fonction des régions) pour fabriquer des objets en fer. Les archéologues ont retrouvé au moins une centaine d'artefacts forgés dans ce métal plusieurs siècles avant qu'il ne devienne commun. Les hommes maîtrisaient-ils donc déjà des techniques primitives d'extraction du fer à partir de son minerai à l'âge du bronze?”

    punhal de Tuntankhamon é feito disto, não enferruja, o escravelho amarelo é de silício de meteoritos,
    Tuntankhamon não cabia dentro do sarcófago de pedra, teve de ser alargado cortado abruptamente, o seu corpo foi queimado, ou autocombustão dos óleos das ligaduras mau embalsamamento, enfim muito ainda para descobrir,

    bom eu já não acredito no haplogrupo ibérico, isto de quererem dar origens de grupos a regiões fixas do planeta é treta, cheio de lacunas, pouco credível, tal como os Celtas pouco credível, invenção romana certamente,

    a ver pelo estado da camara funerária desse Tuntankhamon, arrumação pinturas embalsamação, agora só me ocorre um troglodita que veio aproveitar-se dos restos duma civilização superior que não criou, suponhamos que a Europa atualmente é afetada por uma pandemia derivada dum fungo que só ataca os brancos, toda a população desaparece, que fazem os milhões de negros de África? vêm-se instalar na tecnologia do europeus, que não vão conseguir igualar, é o que se constata no Egipto dos Faraós, os mais antigos eram os construtores os que encontramos como Tuntankhamon os usurpadores.

    recuando muito mais:
    (…) 5.7 Million Years Old Unmistakable Human Footprints Found in Greecee
    https://www.youtube.com/watch?v=le4dHnjKDag

    Cumprimentos de Genebra
    José Manuel

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    1. Caro José Manuel,
      por acaso o JR deu-me conta da notícia anterior "sobre a invasão dos yamnas", e a minha resposta então foi esta:

      Não, não tinha lido e parece-me tanga, porque há registos de DNA que seguem...
      Não sei, é muito cedo para dizer qq coisa.


      Por isso, não me estranha que os arqueólogos portugueses e espanhóis tenham reagido, já que esse anúncio "não científico" vai contra aquilo que foi publicado antes.

      Esse anúncio é "não científico" porque ninguém de boa fé anuncia uma coisa dessas sem mostrar os dados em que se baseia. É natural que eu não tenha acesso, mas já me parece muito estranho que os arqueólogos ibéricos não tenham ainda acesso.
      Portanto, até outras novidades, eu daria crédito zero a isso, para já...

      Quanto aos estudos dos haplogrupos, eles foram de facto algo inconvenientes para as verdades que o establishment gosta, mas parecem-me bastante convincentes, de modo geral. Não coloco a mão no fogo, mas não deito fora sem razão.

      Acho curioso que tendo dito que o DNA de Tuntankhamon é ibérico, venha agora o José Manuel lembrar-se que ele seria um troglodita, que se aproveitava de uma civilização superior...
      Eu só gostaria de lembrar, a esse propósito, que nunca os egípcios tiveram a mais pálida capacidade de se assemelhar à arte rupestre dos trogloditas de Altamira.

      Abraço.

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  2. Re: "um troglodita, que se aproveitava de uma civilização superior..." na minha ideia todos os que saíram das grutas depois da era glacial eram trogloditas que foram ocupar as construções dos que partiram para fora deste planeta, e cada vez mais esta tese tem adeptos, mas eu cheguei la sozinho, sim Tuntankhamon pelo menos usurpou o sarcófago pois tinha sido cortado feito para outra pessoa mais pequena e outros indícios que apontam para o mesmo, usurpação, quanto à "arte rupestre dos trogloditas de Altamira" era global e mais antiga... e mundial, ver novos métodos de datação e descoberta,https://img.aws.la-croix.com/2018/11/09/1200982027/paleo_0_729_567.jpg Lubang Jeriji Saléh, na ilha de Bornéu

    mas como para o establishment catedrático moribundo não se podia navegar à quarenta mil anos…o barco fica aparentemente sem datação, só que faltam muitas cavernas para explorar e acredito que venham a ter surpresas,
    a opinião pública está preparada para isso.

    Cumprimentos de Genebra
    José Manuel

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    1. Caro José Manuel,
      não questiono acerca da arte rupestre ter origem anterior, remontando às ilhas da Melanésia, porque já por várias vezes aqui deixei escrito da migração indo-europeia ter tido origem justamente nas paragens de Java - Nova Guiné:

      https://alvor-silves.blogspot.com/2013/07/pontas-da-lingua-3.html
      https://alvor-silves.blogspot.com/2014/02/lemuria.html
      https://alvor-silves.blogspot.com/2014/03/haplogrupo-e-ha-pelo-grupo.html

      ... ou ainda, referindo material seu
      https://alvor-silves.blogspot.com/2015/08/estado-da-arte-3.html
      https://alvor-silves.blogspot.com/2014/10/temor.html

      De qualquer forma, o nível de desenho na Melanésia não atingiu a mesma sofisticação de traço verificada depois nas cavernas de França e Espanha.

      Quanto a usurpação do sarcófago, creio que 1.88 metros para dimensão do caixão de ouro onde estava o corpo, não é certamente para pessoa pequena.
      A única coisa pequena era a dimensão da tumba.

      Cumprimentos.

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