Relativamente ao incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro, o José Manuel Oliveira deixou um comentário que ilustra a sua experiência pessoal, e que é bastante elucidativo:
Nasci na Travessa do Guarda Joias e estava lá aquando do "incêndio no Palácio de Ajuda, que fez desaparecer a galeria de pintura fundada por Dom Luís I, e que continha quinhentas telas pintadas por nomes famosos da pintura portuguesa e muitos móveis do século XIX". Alguns óleos foram encontrados mais tarde à venda no estrangeiro…
Eu, em 80/81, quando comandante da guarda à CHESMATI de Campolide, antiga Farmácia Militar (cal madeira e pedra…telhado podre!), com um anexo novo do Centro de Audiovisuais-Cinemateca, nas minhas 24 h de serviço calhou-me na rifa um incêndio que destruiu o edifício onde funcionava o departamento cinema do CAV. Fiquei sempre a duvidar se o fogo não visaria o arquivo proscrito da guerra do ultramar, mutilações, chacinas aos brancos pelos turras, ou pior? Pois ninguém tinha acesso a esse arquivo da Cinemateca do Exército onde trabalhei, nada ardeu do arquivo, anexo em betão com gavetas de ferro. Sá Carneiro e Amaral tinham morrido há poucos meses. Nesse dia do atentado de Camarate recolhi ao BC5 às 21h - com ordens para sairmos para as ruas, fazer face a uma guerra civil anunciada… que não aconteceu.Passados dois anos do incêndio da CHESMATI, já desmobilizado, fui convocado à P.J. do Estado Maior, notei um desinteresse total da investigação em apurar causas. Foi arquivado. Nem sei bem o que diz o relatório, só conheço o que participei - estranho fogo propagava-se através do interior das paredes das águas furtadas com a instalação elétrica desligada. Suspeitei de um adido (retornado) alojado nas águas furtadas dessa Farmácia Militar, pois pedia indeminização por roupas de marca, queimadas, quando antes vestia miseravelmente. O que é comum a estes fogos é que não se apuram as causas, nem os responsáveis, e toda a gente beneficia do prejuízo, excepto o povinho que se está nas tintas... “deixa arder que o meu pai é bombeiro”.
Destacamos então alguns incêndios que foram deixando imagens da devastação de uma boa parte do património nacional (felizmente são coisas do passado, e não há imagens recentes):
- Incêndio no Palácio de Queluz (16 de Outubro de 1934, Queluz)
- Incêndio da Igreja de São Domingos (13 de Agosto de 1959, Santa Justa, Lisboa)
- Incêndio do Teatro D. Maria II (14 de Dezembro de 1964, Lisboa)
- Incêndio no Palácio da Ajuda (24 de Setembro de 1974, Lisboa)
- Incêndio da Faculdade de Ciências de Lisboa (18 de Março de 1978, Lisboa)
- Incêndio da Cinemateca Nacional (23 de Abril de 1981, Lisboa)
De resto, cito o que escrevi em resposta a um comentário da Amélia Saavedra:
Li agora que arderam 7 museus no Brasil nos últimos 10 anos:
https://www.sabado.pt/mundo/america/detalhe/sete-museus-arderam-nos-ultimos-dez-anos-no-brasil
... um deles é exactamente a Cinemateca Brasileira, que já ardeu 4 vezes desde 1959, tendo-se perdido mais de 1000 rolos de filmes no último incêndio em 2016.Neste último incêndio creio que havia cópias digitais de tudo... mas mesmo assim havia quem não tivesse certeza (parece que estamos há 30 anos atrás).
Curiosamente os incêndios em museus são demasiado frequentes.
O Canadá em 1998 reportava uma média de 30 incêndios por ano (só destruição parcial):
https://www.canada.ca/en/conservation-institute/services/conservation-preservation-publications/canadian-conservation-institute-notes/museum-fires-losses.html
... e dizia-se que nos EUA e UK eram o dobro!
A percentagem de fogo posto era de 2 em cada 3 incêndios, suspeitando-se que se tratavam de incêndios para encobrir roubos (vá lá que há quem perceba a ideia)!Como não vejo mesmo o interesse de convidar os amigos para verem o novo quadro receptado após um roubo de museu (aliás quem serão os amigos que não se escandalizam por o quadro não estar num museu?), só entendo estes roubos por completa parolice, ou então por vontade de ocultação.
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