Adiciono um comentário de David Jorge que nos chegou por email.
Recentemente adicionei mais um atlas "arabe" à biblioteca:
... etc. Até aqui não há nada de invulgar.
É uma bandeira com 5 besantes "azuis" sobre fundo vermelho.
Há semanas que procuro, sem sucesso, qualquer indicio histórico do império otomano que possa justificar esta bandeira.
Respeita a uma bandeira que se pode ver num atlas otomano de 1551, e onde figura bem destacada sobre Istambul. Curiosamente essa bandeira é muito parecida com o padrão português das quinas - talvez apenas com a diferença do uso das cores estar invertido.
Quinas habituais no Séc. XV
- vermelho circunda o fundo azul com as quinas (brancas ou pretas)
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Mais uma vez lhe escrevo para lhe divulgar um mistério que me deixou algo perplexo.Recentemente adicionei mais um atlas "arabe" à biblioteca:
1551 - Mohammmad, Ali ibn Ahmad ibn - Atlas Portulano do Mediterrâneo - الصفاقسى
A Galica coloca-o por meados de 1551.
A maioria das cartas estão orientadas por meio de setas que "tudo indicaria" apontam para Norte.
Como exemplo coloco as seguintes imagens:
... etc. Até aqui não há nada de invulgar.
A única carta que não tem a seta a apontar para Norte, apontando ela para ESTE, tem uma bandeira muitíssimo estranha sobre Istambul.
É uma bandeira com 5 besantes "azuis" sobre fundo vermelho.
Há semanas que procuro, sem sucesso, qualquer indicio histórico do império otomano que possa justificar esta bandeira.
Terá havido algum erro clínico na pintura desta bandeira especifica que levasse a uma má interpretação?
As restantes têm o mesmo padrão "entrelaçado" (desenhado muito fino talvez a lápis) no centro, no entanto apenas têm 4 pintas não 5 como esta.
As únicas bandeiras otomanas que encontrei até agora com a forma idêntica a esta são completamente vermelhas com texto a dourado, (o conteúdo é semelhante ao da bandeira antiga da dinastia Nasrid de Granada).
No entanto nenhuma destas bandeiras tem o que quer que seja a ver com a bandeira nessa carta.
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Email de David Jorge (21 de Abril de 2017)
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Ver também a misteriosa bandeira com 5 quinas apresentada em Jerusalém no Livro de Marinharia:
Caro Alvor,
ResponderEliminarTenho procurado bastante sobre este enigma, mas os resultados resultam, quase sempre em mais questões que respostas.
Começando:
1 - Datas.
As datas da "galica" ou do "autor do livro" ou maioria de registos, requerem sempre confirmação.
Assim, parti do principio que a data não seria o ponto de partida.
2- Símbolo.
O "símbolo", "emblema", "brasão", "bandeira" ou "estandarte", devem ser reconhecidos para significarem algo para o leitor.
Nos dias de hoje, poderia representar Portugal numa pintura com um rectângulo com partes "iguais" só a verde e vermelho, que o mensagem, representação da figura seria entendida pelo receptor da mensagem. No entanto, o mesmo não seria possível noutras épocas, ou mesmo se nos dias de hoje representasse por um outro "icone" qualquer, "um smile" por exemplo.
Dizer que o que está representado no estandarte são as "nossas" quinas, é tão possível como as quinas de qualquer outro, mas o facto é que parecem "quinas" ou "moedas" ou "cinco moedas" envolvidas por "algo" a que chamarei (por falta de outro termo)"palha".
3- Ponto de partida: Moedas ou "palha?
Dinheiro, poder, bancos, influência. São termos ligados à "moeda" que motivam guerras, ocupações, comercio e "des-cobrimento".
E a palha?
A palha, o trigo, o pão. Certamente seria um símbolo importante à altura da publicação do livro, talvez não seja palha, talvez seja "cestaria", talvez seja arquitectura, um motivo "mourisco" de padrão entrelaçado?
Na dúvida, pareceu-me um bom ponto de partida para investigar a moeda e a "palha" (ou a imagem que envolve as "moedas".
4- Nível 1
Caso os "pontos" azuis, sejam de facto "moedas", é possível, logo no amigo google, encontrar ligações ao local.
Uma simples busca por "imagens semelhantes", resultou no seguinte link:
https://www.bl.uk/catalogues/illuminatedmanuscripts/results.asp?OriginID=503
Cocharelli, Cuttings from a Latin prose treatise on the Seven Vices
Os 7 vicios, dinheiro, "moeda", está lá!
E a "palha"?
A Figura 8 (Avaricia) <-Interessante!
Link: https://www.bl.uk/catalogues/illuminatedmanuscripts/ILLUMIN.ASP?Size=mid&IllID=24279
Descrição: Detalhe de uma miniatura com cenas de banca e usura: de um homem que tira dinheiro de um baú, retratado dentro do Banco di San Giorgio, Génova.
Origem: Itália, NW (Gênova)
E lá está a "palha", ou agora, entendo como não sendo "palha", é agora o "nó" que prende o contracto bancário entre o depositante e o depositário, entre o "credor" e o "devedor", talvez para Cocharelli, entre o "avarento" e a "consciência".
Qual a ligação?
5- Nível 2
ResponderEliminarNa discrição da figura lê-se "retratado dentro do Banco de San Giorgio, Génova".
No link da wikipedia sobre o banco: https://en.wikipedia.org/wiki/Bank_of_Saint_George
Haverá uma ligação Génova <-> Otomana com importância tal que justificasse a colocação de um "símbolo" de "moeda" ou "banco" no mapa?
Tanto em inglês como em turco, o wikipedia não menciona especificamente que o banco existiu em território Otomanos, mostra as áreas de controlo num mapa da Crimea.
Menciona no entanto que muitos dos territórios Genoveses passaram para as mãos do Banco ou dos seus representantes.
5.1- Localização
Onde está localizado o ponto de partida do estandarte?
Um olhar passageiro diría, "Istanbul" ou admitiria na área de "Istanbul" talvez mais a norte?!
Uma localização por sobreposição ao google earth colocaria o septro do estandarte próximo de Rumelifeneri.
Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Rumelifeneri,_Istanbul
Uma certeza existe, o autor intecionalmente colocou o estandarte no lado Oeste do estreito e não no lado Este, oposto, por isso, a Constantinopla.
Pesquisando colónias Geonovesas de frente a Constantinopla, foi fácil encontrar uma ocupação Genovesa no local.
Link: https://en.wikipedia.org/wiki/Genoese_colonies#/media/File:Repubblica_di_Genova.png
5.2- Pera-Galata
Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Galata
No capítulo História, lemos sobre varias construções, povoções, que ocuparam Pera.
Não há texto aqui que descreva uma ligação ao Banco di San Giorgio, ou haverá?
O quinto paragrafo: "Designed as an identical copy of the 13th century Palazzo San Giorgio in Genoa,[10] the palace of the Genoese podestà of Galata, Montano de Marinis (which was known as the Palazzo del Comune (Palace of the Municipality) in the Genoese period and built in 1316),[11] partially stands in ruins on Kart Çınar Sokak;[11] a narrow side street that's parallel to the neighbouring Bankalar Caddesi (Banks Street) which was the financial center of the Ottoman Empire."
6- Factos
Haveria, em tempos, uma cópia do Palácio de San Giorgio (aka Banco de San Giorgio em Genova).
Terá sido construido em 1316, no local, onde, mais tarde viria a ser o centro financeiro do Império Otomano.
O ceptro do estandarte está localizado na área de Rumelifeneri. Um posto de vigia com um farol de saída do mar negro para o estreito.
7- Questões/Curiosidades
Será um marcador, um símbolo, do centro do poder financeiro do Império?
Se sim, qual o motivo de o indicar num mapa?
«in» Mapa da influência Genovesa: "forte penetração bancária" entre os séculos XVI e XVII.
No estandarte (símbolo) em questão, existem as 5 moedas.
Haverá ligação entre o Banco de San Giorgio e as 5 "moedas" no escudo de D. João II (1485)?
Cumprimentos,
Djorge
Caro David,
Eliminarvejo que entrou em bastante detalhe sobre o tema.
Uma grande vantagem disso é que permite trazer diferente informação relevante - por exemplo, desconhecia a influência genovesa na península da Crimeia.
Porém, por outro lado, acho que focar demasiado no detalhe pode ser meio frustrante, quando se chega a pontos dúbios - e há demasiada informação, por vezes contraditória.
Do que li, o Banco de San Giorgio foi um dos bancos cruciais à época dos descobrimentos, mas D. João II não se dava propriamente com os genoveses (ao contrário do Infante D. Henrique).
Curiosa, é a remissão a S. Jorge, e a cruz que faz parte da bandeira genovesa passou também pelos templários e depois ficou no estandarte inglês até hoje.
A própria lenda de S. Jorge, e a forma como se foi solidificando na Idade Média, após as Cruzadas, não deixa de ser intrigante.
Um abraço, e bom ano de 2018.