Para entendermos melhor a diferença entre o que se passa do lado de cá da fronteira (onde são raros os vestígios rupestres), e o que se passa do lado espanhol (onde abundam), basta atender ao que se passou em Ribeiro das Casas.
Resumindo a história (que se encontra descrita num artigo de M. V. Gomes e N. Neto de 2010)... em 2002 foi reportada a seguinte pintura rupestre, do que aparentava ser um cavalo em corrida:
Poucos anos depois, a pintura foi destruída, conforme explicado pelos autores:
A destruição da pintura zoomórfica que referimos, ocorrida em 2009, dada a completa indiferença demonstrada perante o seu achado, tanto pelos órgãos de poder local como pela tutela do património, deu então lugar a diversas notícias na imprensa regional e nacional, tendo mesmo chegado aos jornais televisivos, onde ingloriamente se atribuiu significativa importância àquele testemunho arqueológico, apesar de sem quase se dizer porquê, ou só porque teria cerca de 5.000 anos.
(...)
Muito próximo dos painéis com pinturas existe exploração de pedra, que tem aberto extensas crateras no terreno e em muito alterado a paisagem, conferindo-lhe aspecto desértico.
Segundo se julga, foi no intuito de não prejudicar aquela actividade económica que a principal imagem pintada ali existente foi irremediavelmente destruída, sendo primeiro esfregada, com gasóleo (?), e depois bujardada.
Portanto, para além de outras razões, menos claras, há o simples interesse económico de particulares, que vêm nestes achados milenares um possível empecilho para a sua negociata desregrada.
Se for para desaparecer "antes elas que o meu..." é a lógica que tem prevalecido no espaço nacional, com toda a complacência e desinteresse, dir-se-ia mais que suspeito, dos poderes, locais e centrais.
Dado que neste país o poder judicial condena mais facilmente quem acusa eminências pardas, do que quem destrói património histórico, a situação aconselha que quem descobrir alguma coisa faz melhor em guardar a descoberta para si... ou especialmente, a não revelar o local onde encontrou, sob pena de alguns anos depois nada restar... seja pelo método de esfregar com gasóleo e bujardar, seja por outro método qualquer.
O referido artigo ainda revela outras inscrições, não apenas as de Ribeiro das Casas, mas também alguns petróglifos da zona do Vale do Tejo. Para esse efeito, ver por exemplo o site:
Petroglifo circular no topo da rocha, em São Simão - Vale do Tejo. |
Melhor sorte parece ter tido Anta Pintada de Antelas (indicada em comentário do José Manuel), cuja inscrição rupestre terá aguentado milénios sem nenhuma ordem destruidora, e apresenta até um bom estado de conservação
Anta pintada de Antelas - pintura rupestre num dolmen em Portugal. |
Neste caso de Antelas, e ao contrário de Ribeiro das Casas, voltamos a ver os motivos geométricos, e não a representação de figuras animais. Nestes casos é ainda mais difícil uma possível interpretação do significado, ainda que não seja de excluir de novo a hipótese de poder ser um mapa local.
Igualmente significativo, e também pouco conhecido, é o caso da Lapa dos Louções, que tal como a Lapa dos Gaivões está situada em Arronches:
Lapa dos Louções em Arronches |
Há uma pequena catalogação de diversos locais com pinturas rupestres, num total de 65, a maioria dos quais descobertos nos últimos 20 anos (ver publicação de Andrea Martins), o que mostra que apesar de todas as bujardas e gasóleo, não são assim tão escassos os vestígios que se conseguiram encontrar.
No final de contas, dada a má vontade dos poderes centrais, e de alguns poderes locais, o que será talvez mais notável é que ainda existam pinturas rupestres e petróglifos para serem vistos...
Talvez com a moda do interesse turístico, e dada a pobreza nacional comparada com Espanha, se vislumbre futuro numa negociata mais virada para a preservação das pinturas do que para a sua destruição corriqueira.
Talvez com a moda do interesse turístico, e dada a pobreza nacional comparada com Espanha, se vislumbre futuro numa negociata mais virada para a preservação das pinturas do que para a sua destruição corriqueira.
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