O valor da moeda reside numa fé de que ela será reconhecida como troca em qualquer transacção social. Serve razoavelmente as pretensões materiais, mas tem ainda como ameaça os valores espirituais ou morais, embebidos na sociedade, através da cultura e religião. Não é aí capaz de servir como moeda eficaz, vai contando apenas com a progressiva menorização desses valores, ao edificar uma sociedade materialista.
Estando os aspectos materiais indexados a um valor, a omnipotência material será efectiva através da moeda... Quais são as restrições?
- a maior restrição prática é que a lógica pragmática de que "tudo tem um preço" não é ainda universal...
Quando os indivíduos duma sociedade aceitarem que todos os seus bens e actos são contabilizáveis economicamente, através do dinheiro, então quem estiver capacitado de cunhar moeda pode agir quase como semideus, omnipotente material.
Acaba por deter não apenas a possibilidade de adquirir qualquer bem, mas também a possibilidade de seduzir qualquer vontade, pelo preço exigido.
Só que esta lógica de transformação de alguns homens em semideuses sociais conta com um pequeno detalhe - é necessário criar uma desigualdade económica de grandes proporções. Ou seja, é preciso ter cidadãos em situação económica instável... já que doutra forma, socialmente protegida, dificilmente aceitarão reduzir a sua personalidade ou vontade numa troca comercial.
No estado actual do desenvolvimento tecnológico seria possível, de forma concertada, ter basicamente toda a população mundial com um nível de vida próximo da classe média portuguesa... e falamos de forma ecologicamente sustentada, com o trabalho de menos de 10% da população mundial.
Como é natural, as classes mais abastadas dificilmente estariam dispostas a abdicar do seu nível actual de vida, para se moverem no sentido desse equilíbrio.
Não queremos ser completamente triviais acerca deste assunto... na prática uma situação de equilíbrio pode ser muito instável. Ou seja, as hierarquias, quando não existem, desenvolvem-se naturalmente pelo espírito competitivo, que é inato, e que educacionalmente é incentivado numa economia de mercado. A maioria das pessoas acaba por formar um modelo em que é de alguma forma "o protagonista" e não apenas "um figurante", igual a tantos outros. Como é óbvio, numa sociedade equalitária em que não há protagonistas, quebra-se essa motivação individualista...
Não queremos ser completamente triviais acerca deste assunto... na prática uma situação de equilíbrio pode ser muito instável. Ou seja, as hierarquias, quando não existem, desenvolvem-se naturalmente pelo espírito competitivo, que é inato, e que educacionalmente é incentivado numa economia de mercado. A maioria das pessoas acaba por formar um modelo em que é de alguma forma "o protagonista" e não apenas "um figurante", igual a tantos outros. Como é óbvio, numa sociedade equalitária em que não há protagonistas, quebra-se essa motivação individualista...
Se isto é natural, é igualmente perigoso... no sentido em que, num estado equalitário, novos grupos poderiam surgir organizados para tomar controlo sobre uma sociedade resignada.
O perigo é mais sério, perante a possibilidade humana de convencer grandes massas, criando ilusões de superioridade que arrastam violência e destruição. Ou seja, é necessário ter sob algum controlo as manifestações de superioridade individual, que são assim mais facilmente detectáveis pelo desejo inato de ascenção social.
Analogamente, uma das formas da sociedade combater o crime, estando ciente da incapacidade da sua erradicação completa, é controlá-lo, aceitando manifestações que previnam atempadamente o desenvolvimento de outras formas incontroláveis. Os jovens infractores são conduzidos a uma competição com velhos instalados, sendo normalmente anulados por esses "conhecidos" do sistema. A sociedade pode assim esconder uma faceta de actuação ilegal, tendo como objectivo a prevenção descontrolada de manifestações mais graves...
Há ainda uma outra razão para algum desequilíbrio social e que será simples... a necessidade de incutir um objectivo à generalidade da população, que se irá manifestar pela condução desse objectivo no sentido da posse individual e reconhecimento comunitário.
Esta dissertação anterior pressupõe um controlo efectivo, justificável por "boas intenções globais", detido por uma certa elite, quase incógnita, que retiraria os frutos da sua prevalência económica como efeito lateral da sua missão. Essa necessidade de prevalência económica começa a ficar completamente injustificada quando as diferenças se vão acentuando, em vez de diminuirem, criando focos de perturbação social... o que mais parece justificar os interesses privados, do que acautelar qualquer "boa intenção global".
A situação torna-se ainda mais implosiva, quando em vez de se colocarem objectivos além da Terra, por exemplo, numa exploração espacial, esses são reduzidos ou quase anulados.
A Libra é nome de moeda antiga, cuja designação permanece nalguns países, sendo mais conhecida a inglesa. A Libra é ainda uma unidade de pesagem material, associada à palavra latina "balança", representado o equilíbrio, e o signo de transição, após o equinócio de outono (seria o sétimo mês pela tradição astrológica, que mantém Peixes como último signo)... Foi também a divisa adoptada pelo Infante D. Pedro:
A moeda, sob qualquer forma, transformou-se num símbolo de fé estável, pelo exacto valor material que esperamos obter com ela. A redução de valores a essa quantificação monetária reflecte o sucesso de harmonização financeira, e da redução da maioria dos valores numa tradução em expectativa material.
No entanto, convém notar que mais do que o número afixado, é a informação que define o seu valor.
Não sendo sempre de ouro, cada novo rei, ou imperador, tinha a necessidade de afirmar uma independência política cunhando a sua moeda... foi por exemplo o caso de D. António, Prior do Crato, que cunhou ainda moeda própria. Tivesse havido harmonia entre os portugueses para aceitar apenas essa moeda, e de pouco teria valido o ouro filipino. A falta de fé na moeda de D. António foi reflexo da submissão voluntária dos portugueses a uma lógica global protagonizada por Filipe II, com todo o exagero de manifestações bajulatórias, conforme as ocorridas em Lisboa, a que se somou a falha dos "amigos de Peniche".
Mais do que instrumento para uma simples troca comercial, na sua manifestação em comunidade a moeda reflecte ainda a adesão ao modelo social instituído, que faz fé nessa aceitação.
Na situação de duas moedas a circular, representando projectos políticos diferentes, caberia aos cidadãos optar pela escolha do modelo em que fariam fé, funcionando para as suas trocas... e já sabemos o que aconteceu com o Prior do Crato!
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