Augusto de Pinho Leal (1816-84) compilou a monumental obra corográfica Portugal Antigo e Moderno, terminada em 1890 pelo Padre Augusto Ferreira. Com este historiador, um miguelista influenciado por Pedro de Mariz, amigo de Camilo Castelo Branco (através do qual terá conseguido a permissão de publicação), vemos talvez os últimos apontamentos sobre as "estórias antigas" e a influência que ainda se manifestava nas diversas regiões portuguesas.
Quem quiser informações sobre uma determinada localidade, poderá encontrar nesta obra material interessante, incluindo assuntos doutras corografias que já fizemos referência. O quase desconhecimento desta grande obra é facilmente compreendido por quem segue este blog, e será mais um caso de memória danada subrepticiamente.
Augusto Pinho Leal
(por Rafael Bordalo Pinheiro)
Colimbria e Conimbriga
Lembramos, por exemplo, o texto de Pedro Mariz sobre a torre pentagonal de Coimbra - então atribuída a Hércules, e terraplanada à época do Marquês de Pombal.
Pinho Leal retoma o assunto, de forma ligeira, mandando uma ligeira piada ao facto do Observatório Astronómico estar agendado para as calendas gregas (recordamos que teria sido o motivo invocado para a terraplanagem, um complemento do terramoto pombalino). Acrescenta que a Torre teria a inscrição:
Quinaria turris Herculea fundata manu
atribuída a D. Fernando, aquando da reconstrução do Castelo de Coimbra. D. Fernando, que teria provavelmente já naus em todos os locais que seriam depois descobertos, mas sem autorização de Roma (notamos que a excomunhão foi frequente nos reis da Primeira Dinastia, dita de Borgonha, mas que aqui dizemos de Bolonha).
A esta manifestação de base "quinária", ou pentagonal, na torre de Hércules, Pinho Leal acrescenta a proximidade de outra torre muito alta (provavelmente a de D. Afonso Henriques). Nesse local fica agora o Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra (ver tese de doutoramento na FLUP, 2008, de Adriaan De Man, pág. 255). Depois da acção do Marquês e outros marqueses, restaram as torres do Anto e Almedina.
Pinho Leal menciona ainda a existência de duas "Coimbras", já reportada em 652 d.C. num concílio em Toledo do rei Recesvindo, onde haveria "dois bispos, cada um de sua Coimbra", reportando essa informação a João Vaseu (João Vaseo) e André de Resende. Haveria pois um "colimbriense" e outro "conimbricense", conforme os registos! Uma mudança de L para N faria aqui a diferença ou confusão.
Arrisca duas explicações para os nomes, que nos parecem pertinentes:
- Conimbriga, vai reportá-la aos Cónios, e à contracção Cuneu+briga, na menção externa de "povoação dos cónios", mas não deixa de mencionar algum consenso sobre a fundação em 308 a.C. pelos celtas da Gália, e descartar a hipótese de ter sido fundada pelo mítico Brigo.
- Colimbria, coloca-a fundanda por Hércules Líbio em 1788 a.C., e é original arriscando a contracção do nome em Herculíbia, de onde teria ficado só o Colíbia... que teria dado Collimbria.
Uma povoação ficaria na margem norte, e outra na margem sul do Mondego, mas devemos pensar na topografia à época e na possível grande entrada marítima que se estendia até à zona de Coimbra (ver mapa), e que pelo curso do actual Rio dos Mouros chegaria a Condeixa, e a Conimbriga... o posterior recúo marítimo levou ao progressivo abandono desta povoação que ficou como Condeixa-a-Nova (ver ainda o registo sobre o comércio de âncoras).
Mais curiosamente vai afirmar que Colimbria teria sido habitada antes por 9 nações bárbaras:
- egípcios, fenícios, gregos, celtas, romanos, suevos, alanos, godos, e mouros
A menção ao Egipto sai completamente do registo habitual, e é primeira que a vemos escrita, ainda que já tivéssemos arriscado isso no texto Egitânia. Porém, vai mais longe... conforme explica, sabe que está "fora da moda" dos "autores modernos" (como um Herculano, que suprime os campos Herculanos, quase renegando uma influência do seu próprio nome...), mas não quer atribuir fantasia aos mesmos "autores antigos" que depois servem de referência para outro material.
Concordamos plenamente, com a contradição assinalada a esses "modernaços"!
Perto de Condeixa: Buracas do Casmilo.
Ponte "Filipina" sobre o Rio dos Mouros (ou Rio Carália).
[As buracas são ditas "fenómenos geológicos naturais", e quanto à ponte...
chamar-lhe filipina... talvez, se o construtor se chamava Filipe!]
Lysia, Ulyssipo, Lisboa
No quarto volume, tem um longo texto sobre Lisboa, com uma breve exposição sobre a sua história...
Logo depois de divagar sobre a sua fundação por Elisas, Lysias, ou Luso, bisneto de Noé, que teria dado o nome Lysia, refere a lenda de Ulisses enquanto fundador de Ulyssipo ou Ulyssea. Parece não ser adepto dessa hipótese e refere a eventual confusão de Elisas com Ulisses.
O mais interessante será a parte seguinte... diz Pinho Leal:
Não se pode dizer ao certo quem foram os primeiros habitantes de Lisboa; mas segundo os melhores escritores, foram os caldeus e babilónios, ou iberos, que tinham fugido à tirania de Nemrod, rei da Babilónia, pelos anos 1900 do mundo [ou seja 2100 a.C.]
Nemrod, também bisneto de Noé, é o suposto construtor da famosa Torre de Babel, e ainda marido da rainha Semiramis.
Quase só faltaria uma ligação da Iberia aos caldeus e babilónios... ainda que já a tivéssemos aqui sinalizado pela via de Nabucodonosor. Porém, esta ligação é bem anterior! Se do Ebro falámos em Ebreus, já poderíamos ter ligado as diversas Caldas ibéricas aos Caldeus... porém seria gratuito, já que não havia nada de específico nesse sentido! Se esta confusão e acumulação na presença de vários povos pode parecer estranha a muitos, é menos incipiente do que resumir a presença na Iberia (ou noutras paragens europeias) a celtas, cartagineses e romanos.
Mas, também aqui Pinho Leal não avança mais do que isto... passa a Baco, que teria aportado em Lisboa, com uma colónia de gregos, que se juntaram aos caldeus e babilónios aí refugiados. Lísias sendo o futuro rei, filho de Baco, leva Pinho Leal a supor uma confusão com entre este e o Elisas, ou Lísias, bisneto de Noé, com uma diferença de 787 anos entre eles. Reconhecendo alguma inconsistência nos diversos escritos, reconhece uma grande mistura entre hipóteses e teses, passando à ocupação pelos celtas, que reporta a 1005 a.C., quase seguidos 50 anos depois pelos fenícios, por volta de 600 a.C. pelos cartagineses, e em 200 a.C. pelos romanos. Menciona então que Julio César recupera a cidade renomeando-a Felicitas Julia, e dando-lhe o estatuto de município romano.
A história continua, com um detalhe razoável, nomeando extensivamente os sismos e outras catástrofes que se abateram sobre a cidade.... Procurando fazendo uma descrição enumerativa, não deixa de apontar uma série de acontecimentos que serão novidade para uma larga maioria de leitores!
Mas, também aqui Pinho Leal não avança mais do que isto... passa a Baco, que teria aportado em Lisboa, com uma colónia de gregos, que se juntaram aos caldeus e babilónios aí refugiados. Lísias sendo o futuro rei, filho de Baco, leva Pinho Leal a supor uma confusão com entre este e o Elisas, ou Lísias, bisneto de Noé, com uma diferença de 787 anos entre eles. Reconhecendo alguma inconsistência nos diversos escritos, reconhece uma grande mistura entre hipóteses e teses, passando à ocupação pelos celtas, que reporta a 1005 a.C., quase seguidos 50 anos depois pelos fenícios, por volta de 600 a.C. pelos cartagineses, e em 200 a.C. pelos romanos. Menciona então que Julio César recupera a cidade renomeando-a Felicitas Julia, e dando-lhe o estatuto de município romano.
A história continua, com um detalhe razoável, nomeando extensivamente os sismos e outras catástrofes que se abateram sobre a cidade.... Procurando fazendo uma descrição enumerativa, não deixa de apontar uma série de acontecimentos que serão novidade para uma larga maioria de leitores!
Fiquei curiosa com a obra
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