domingo, 9 de dezembro de 2018

Colete Amarelo, festa brava, Colete Vermelho (2)


Tanto podem bovinos ir com campinos a seguir, como campinos a manobrar e os bois a acompanhar. 

Matança na Galícia
Entre Fevereiro e Março de 1864, na Galícia (Polónia), ocorreram uma quantidade impressionante de assassínios de nobres polacos, estimada em mais de 1000 vítimas, feita por camponeses descontentes com a sua condição de servidão feudal. - Este é o lado em que se vê a manada a correr descontrolada, matando as famílias nobres que os oprimiam e deixando uma quantidade impressionante de órfãos.

No outro lado - a história registou que essa manada campesina que parecia correr descontrolada, era conduzida por "campinos" do império austríaco, que pagavam aos camponeses em troco das cabeças dos nobres, conforme cena ilustrada pela figura seguinte:
Austríacos pagam aos camponeses pelas cabeças, e ficam com os órfãos dos nobres polacos. (Quadro de Jan Lewicki)

O problema é que a Polónia estava repartida (p.ex. entre Áustria e Rússia), e a parte "galega" que correspondia a esta Galícia, tinha acabado de provocar uma revolta na capital Cracóvia (ver "Krakow uprising"), onde os nobres tentavam reclamar uma independência polaca. Tiveram pouco sucesso, com a intervenção russa e austríaca, mas o lado sinistro foi outro.

No campo da "grande coincidência", o movimento libertador dos povos ganhou um grande impulso com a chacina de mil polacos, senhores feudais que oprimiam os camponeses. Também favoreceu os austríacos, é claro... e esse foi o ponto ilustrado pelo pintor polaco, mas só mentes carregadas de teoria da conspiração poderiam pensar que os austríacos, no pico da civilização de Viena, no meio das valsas do Danúbio, iriam patrocinar uma Matança na Galícia

Revolta da Maria da Fonte
Ainda estavam mal secas as lâminas do sangue polaco e eclode, na Póvoa de Lanhoso, a revolta minhota. As comparações estão bem patentes no cartaz seguinte, onde é feita a invocação polaca:
Liberdade, Guarda, Nacional, 
15 de Março de 1846
Póvoa de Lenhoso, Princípio da Revolução

Guerra aos Tiranos. Paz ao bom Governo
Província do Minho. Nossa Polónia

De Grécia e Roma os feitos espantosos
O mundo conhecido acobardarão
Porém agora os feitos protentosos
São do Minho, que a Pátria, Libertarão.
Cabraes - víboras
Dedicado aos Heróis da Província do Minho
_________________________________________________

A descrição da revolta iniciada simbolicamente por uma Maria da Fonte Arcada, é dada pelo próprio ministro Costa Cabral, alvo da cólera popular, nas palavras que dirigiu um mês depois aos deputados:
 .... há uma conspiração permanente contra as instituições actuais, contra a ordem estabelecida, e mãos ocultas que manejam estas conspirações, [mas reconhece que a sublevação em curso no Minho] é uma revolução diferente de todas as outras, que até hoje têm aparecido, porque todas as outras revoluções têm tido por bandeira um princípio político, mais ou menos, mas esta revolução é feita por homens de saco ao ombro e de foice roçadora na mão, para destruir fazendas, assassinar, incendiar a propriedade, roubar os habitantes das terras que percorrem e lançar fogo aos cartórios, reduzindo a cinzas os arquivos! [e Costa Cabral continua, reconhecendo que é uma revolta sem chefe, na qual pontifica] a mais ínfima classe da sociedade, executada por um bando de duas mil e quatrocentas a três mil pessoas, armadas com foices roçadoras, alavancas, chuços, espingardas, com tudo quanto eles podem apanhar.
Costa Cabral (20 de Abril de 1846) - wikipedia

Assim, a moda da Polónia passou ao Minho como se a Galícia fosse a Galiza, e em Março de 1846,  se os camponeses da Galícia andavam a matar, os camponeses do Minho andavam a saquear.

A revolta em Portugal levou a uma pequena guerra civil entre cartistas (direita, no governo) e setembristas (esquerda) coligados a miguelistas (extrema-direita), guerra chamada Patuleia... que acabou em 1847 com uma intervenção externa no quadro da Quádrupla Aliança (Portugal, Inglaterra, Espanha, França) que condicionou a Península Ibérica depois de Napoleão. 

Primavera dos Povos
Com estes antecedentes, é convenientemente esquecida a Revolta da Maria da Fonte, no quadro das revoluções que despontaram em 1848, não porque as antecede, porque a Matança da Galécia também antecede, mas simplesmente porque sim... 

Afinal, o Manifesto do Partido Comunista surgiria logo em Fevereiro de 1848, publicado por Karl Marx e Friedrich Engels, que em 1847 tinham fundado na Alemanha a Liga Comunista. 
Já havia uma estrutura político-filosófica para enquadrar os movimentos de revolta popular, e para a narrativa da insatisfação popular, não interessavam nem os pagamentos austríacos aos camponeses, nem revoltas de minhotas religiosas desenquadradas do propósito. O manifesto comunista surgiu como legenda, para que depois se lessem as irrupções populares com o conveniente libreto.

É claro que desde o fio ao pavio, a chama que animou este protesto popular foi acesa pela maçonaria. Apagou e acendeu protestos, de forma mais ou menos atabalhoada, e tão coordenadamente quanto só conseguiria uma estrutura de poder internacional, já muito fortemente implantada.

Bom clima em Katowice
Katowice fica a pouco menos de 80 Km de Cracóvia, e a 172 anos da matança. 
Enquanto o clima em Paris aqueceu em pancadaria pelo aumento do combustível, realizava-se neste fim de semana, em Katowice, o Congresso das Mudanças Climáticas...

O frio não foi anti-climático nos protestos fantoches em Katowice. 

Festa brava, onde o frio animou a palhaçada natalícia, e ao mesmo tempo que se tiritava de frio, os coerentes manifestantes reclamavam contra o suposto/previsto/anunciado aumento de temperatura. Que se aumentem pois os combustíveis fósseis, que os manos do colete amarelo tratam do outro tratamento... Como sempre, um reino de caos para manipular mesquinhos interesses de sobrevivência no poder.

3 comentários:

  1. "Coletes amarelos: há mais polícia do que manifestantes".
    Numa caricata tentativa de seguir a última moda de Paris, chegou a Portugal a moda do colete amarelo.
    A maioria dos funerais reúne mais gente do que a que aderiu ao protesto... e é claro, havia muito mais polícias que manifestantes, e só não se viam mais porque foram desmobilizados.

    Produto de uma tentativa mal enjorcada de ingerência externa, todos os órgãos de comunicação social, mais obedientes que cachorrinhos ao dono, deram apoio ao ridículo.

    A organização exterior poderá remeter-se à CIA, que teria boas razões para ter feito o que fez em França, depois de Macron ter ameaçado com a criação do exército europeu, tendo os EUA como possível alvo.

    O absoluto ridículo e descrédito cai mais uma vez numa comunicação social, paga a soldo de mandantes externos, que continuam a agir em total impunidade.
    Alegadamente fazendo eco das instruções dos "organizadores", diziam na véspera que as pessoas deveriam parar os veículos e argumentar "ataque de pânico" ou "avaria" com o intuito de bloquear as vias de acesso a Lisboa.
    Tudo clarinho como a água...

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  2. Bom dia caro Da Maia,

    Em jeito de prenda de Natal, venho aqui deixar-lhe uma curiosidade que demonstra a força e coragem dos nossos líderes de outras épocas…

    Trecho retirado de uma carta de Afonso IV a Afonso onzeno de Castela devido aos impedimentos causados por este na vinda da nora, D. Constança ao nosso reino. "Crónica de Portugal de 1419".

    “… sabee sem duvida que tres cousas nunca portugueses reçearam, convem a saber, usar de luyta e averem guera com castelhanos e demandar de boa mente molheres. E certifico.vos que não ha muito tempo que mandei enforcar hum azemel de hum meu cavaleyro porque dormira com sua senhora, e não pasarom depois muytos dias quando outro homem de pequena conta a começava de demandar. E portanto os que gaboom os portugueses dizem deles que erom bõos de pee e de mãoo e de piça."

    Boas Festas!

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    1. Ora aí está um apontamento curioso... os portugas são bons de pé, mão e pinça, e o problema que D. Afonso IV tinha em mãos era mesmo para ser tratado com pinças e não com os pés.

      Não sabia desse episódio, mas a situação era curiosa.
      O rei Alfonso XI de Castela tinha casado com a D. Constança, mas mudou de ideias, e trancou-a num castelo em Toro, porque preferiu casar com a filha de D. Afonso IV.
      Então a D. Constança foi prometida em segundas núpcias ao filho D. Pedro, que se casou com ela, e depois andou enrolado com a Inês de Castro. Não teve pois sorte a Dona Constança.

      Ora, o curioso é que o casamento foi por procuração em 1336 e só em 1339 é que o rei de Castela decidiu libertar a D. Constança, e novo casamento se realizou com a presença dos dois.

      Essa carta deve pois remontar a esse período em que a nora estava ainda sob poder do genro...

      Caro João, seguem também os meus votos de Boas Festas. Abraço.

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